segunda-feira, 25 de abril de 2016

Textos 4-7

4.7. SÉTIMA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

PELA FORÇA MESMA DAS COISAS
(PROGRESSO REGULAR, LENTO E DISCRETO)

4.7.1. CONCEITUAÇÃO
a)       Entende-se, várias vezes1, nesta dinâmica histórica, como força mesma das coisas, “aquele progresso regular, constante, muito lento, discretíssimo. O qual escorre1 subterraneamente e por isso indetectável; só percebível no devido e longo tempo algumas vezes de gestação. Abastecido por fatos e acontecimentos secundários. Podendo-se mesmo conceitua-lo, numa interpretação mais livre, como sendo subliminar (abaixo da linha de consciência) para a maioria do povo, mas detectável às mentes mais argutas e de profundidade. Progresso esse que independe da vontade humana. E cujas fontes primordiais situam-se na ordem física da natureza (fenômenos), ou na área social, ou no organismo do homem, e vínculado ao seu espírito, no impulso incontido de evoluir na demanda da felicidade pessoal.
b)       Essas idéias novas e sedutoras surgem muito limitadamente, discretíssimas; e assim não provocam reações prematuras violentas, repressões e repugnâncias. E podem ir subsistindo e deslizando através dos tempos, quase invisíveis, e muito sutilmente, mansamente, dissimuladamente, e até, às vezes, clandestinamente. Para despontassem bem mais adiante no seio de um povo já então “vacinado” contra reações e resistências mais vigorosas.


1Em textos doutrinários.




c)       E quando não podem mais ser obstruídas, empolgam os pensamentos e convicções coletivos, e se impõem aos costumes, às legislações, formas de governo, instituições, invenções, tecnologias e aos formadores de opiniões e a grande parte da média.
d)       Muitas desses progressos concorreram no processo evolutivo de espiritualização de alguns povos, estruturando uma dinâmica histórica de desenvolvimento da espiritualidade que na Codificação Espírita recebeu o nome de “força mesma das coisas”.

4.7.2. HISTÓRICO
a)       Essa força tem atuado com variável freqüência em todos os períodos, históricos, mas com maior incidência a partir do século XVIII. O iluminismo parece ter sido o movimento desbravador, deste processo. Pois ele também é um exemplo da fonte que resultou no maior acontecimento histórico da Idade Moderna, a Revolução Francesa. Praticamente, um produto final da força mesma das coisas que se vinham acumulando desde quase 2 séculos atrás, desde a primeira convocação dos Estados Gerais (o que incluía, o 3º Estado (o povo) em 1614. (175 anos antes da Revolução quando o rei Luiz XVI novamente convocou o clero, a nobreza e o povo (os três estados) para decidirem um novo lançamento de impostos.
b)       Além desse exemplo tão trágico da Grande Revolução, outros exemplos históricos da “força mesma das coisas” que se podem listar:
      O avanço lento mas constante e discreto (nem sempre) do movimento feminista, desde o século XVIII (o 1º manifesto – 1792) até o século XX/XXI (gestação de dois séculos);
      A relativa e crescente liberação sexual, durante todo o século XX;
      A liberdade religiosa, cuja gestação culminou no Pontificado do Papa João XXIII, proclamando-a no fim do século XX;
      A condenação consensual, objetiva e legal do racismo e da escravidão;
      As formas de governo republicano e liberal, iniciado no século XVIII, culminando na derrubada de várias monarquias após o fim da 1ª Guerra Mundial (séc. XX).
      A visão constitucionalista empolgando vários sistemas político-sociais apresentou um longo histórico desde a época do absolutismo (séc. XVII;XVIII).
      A luta pelo divórcio de longa gestação, e hoje incorporado aos códigos civis da maioria das nações ocidentais.

4.7.3. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a)       (LE – Q.783, p.2): “O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força mesma das coisas.
b)       (LE – Q. 663, no final): “Julgais, de ordinário que Deus não vos ouviu, porque não fez a vosso favor um milagre, enquanto, que vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do acaso ou da força das coisas”.
c)       (LE – Q.783): “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas”.
d)       (LE – Q.797): “P – Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis?”
R – Isso ocorre naturalmente pela força mesma das coisas”.
e)       (LE – Concl. IV, p.3): “Sendo a geração atual mais adiantada do que a anterior, porque não o será mais do que a presente a que lhe há de suceder? Sê-lo-á pela força mesma das coisas”.
f)        (LE – Q.259): “Os acontecimentos secundários se originam das circunstâncias e da força mesma das coisas. Previstos só são os fatos principais, os que influem no destino”.
g)       (LE – Concl. IC, p.5): “Segurança nas relações sociais que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio (o homem) dirigirá o progresso para essa senda”, e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo.
h)       (LE – Intr. VII, p.5): (...) os sábios se renderão à evidência (das crenças espíritas). Lá chegarão individualmente, pela força das coisas”.

ANÁLISE
      pelo texto a), o homem pode instruir-se pela f m d c1
      pelo texto c), a f m d c provoca o progresso regular e lento;
      pelo texto d), a f m d c pode levar o homem a reformar suas leis;
      pelo texto e), uma geração pode superar a anterior pela f m d c;
      pelo texto h), os sábios chegarão a aceitar o Espiritismo pela f m d c;
      pelo texto f), a f m d c, não influi nos acontecimentos principais, mas sim nos secundários;
      por outro, a f m d c independe da vontade;
      por outro, a f m d c, parece um dos meios naturais pelos quais Deus nos assiste;
      pelo texto nº g), o homem pode dirigir o progresso pela f m d c.

1Abreviatura de “força mesma das coisas”.


ENTENDIMENTO. A força mesma das coisas seriam fatos provocados pelas forças naturais independentemente da vontade humana. Mas que delas pode o homem se aproveitar para instruir-se, reformar suas leis e progredir. Distinguem-se das conseqüências naturais dos atos humanos que são livres: as “forças mesmas das coisas” parecem não ser conseqüências de atos livres dos homens da sua vontade, apesar de serem naturais, como, por exemplo:
      na ordem da natureza: fenômenos meteorológicos, geológicos, climáticos, flagelos naturais;
      na ordem social: convulsões sociais espontâneas, crises econômicas imprevisíveis; lutas de classes; guerras, revoluções;
      na ordem orgânica humana: disfunções fisiológicas casuais, cura natural de moléstias, lesões corporais em acidentes casuais;
      na ordem científica: as descobertas casuais, como, por exemplo, da penicilina, da dinamite, da radioatividade, da gravitação universal.

4.7.4. EFICÁCIA (espiritualizante)
a)       Essas forças mesmas das coisas têm podido fazer a humanidade progredir lentamente (Q. 783); e a reformar suas leis (Q. 797); promover o progresso entre as gerações que se sucedem (Concl. IV). E levarão até à aceitação do Espiritismo pelos sábios (Intr. CVII); e reduzir a ignorância (Q. 783). Face a essas observações, não se pode duvidar de que essas forças também têm concorrido no desenvolvimento da espiritualização. As formas de progresso (material, científico, social, intelectual, moral e espiritual) são interativas (reagem umas sobre as outras), isto é, mútuas, recíprocas: qualquer avanço numa forma de progresso produz efeitos em todas as demais formas. Logo, o desenvolvimento espiritual também se vale dos outros progressos provocados pelas “forças mesmas das coisas”, embora não imediatamente. E não poucas vezes, até longinquamente, tanto no espaço geográfico quanto no tempo.
      Todavia, a eficácia dessas forças não pode ser superestimada. Primeiro, por serem muito indiretos e de lenta gestação. Segundo, porque originárias muitas vezes de causas materiais, e não diretamente da mesma natureza (espiritual). Terceiro, porque são, em regra, de gestação subliminar1 (abaixo da linha limite de consciência), e subjacente(1).


1Vide significados destas palavras no vocabulário auxiliar ano fim desta dinâmica.


      Estimativa (presumida) da eficácia espiritualizante desta Dinâmica Histórica da “força mesma das coisas”, é de difícil aplicação.
      Em geral e em tese não se pode reconhecer um efeito intenso das forças das coisas sobre a espiritualidade, por serem esses resultados muito indiretos, de teor diferente do da espiritualidade e remotos no tempo (lentos) e/ou no espaço (distantes).
CONCLUSÃO. As denominadas “forças mesmas das coisas” realmente podem ser catalogadas no conjunto das dinâmicas históricas que têm assegurado um progresso muito relativo da espiritualidade humana até o presente momento (final do século XX depois de Cristo).

4.7.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta pedagogia da Dinâmica Histórica espiritualizante da “força mesma das coisas”).

      Verificam-se várias diferenças fundamentais entre essa dinâmica e a Pedagogia da Espiritualidade:

DINÂMICA                                                                        PEDAGOGIA DA
HISTÓRICA                                                                      ESPIRITUALIDADE
(pela força mesma das coisas)                                       (específica para desenvolvimento
                                                                                              da espiritualidade)

— Os resultados são muito                                              — Os resultados não finais podem
remotos                                                                               aparecer em curto ou
                                                                                              médio prazo.

— O processo caracteriza-se                                           — O objetivo é acelerar o
pela lentidão                                                                       processo de espiritualização

— O processo se realiza e                                                — Todo o processo se
desliza na camada                                                            desenvolve na plenitude da
subjacente do povo                                                          consciência do educando
(subliminar)

— O processo não é                                                          O processo é dirigido pelo
direcionado por ninguém e                                              educando, assistido este pelo
segue à revelia de qualquer                                              seu educador
vontade objetiva

— Princípio motor e dinâmico                                        — Princípio motor e dinâmico
do progresso: a “força                                                      do progresso: as perfeições
mesma das coisas”                                                           espirituais e potenciais, e
                                                                                              estas devida e
                                                                                              pedagogicamente ativadas

— O objetivo final só é                                                    — Objetivo final é bem
conhecido quando termina                                                             conhecido e conscientemente
o processo (depois de                                                        procurado.
longa e secular gestação)

      CONCLUSÕES:
1ª - Com tantas diferenças fundamentais, não se pode afirmar familiaridade de processos, meios, métodos e objetivos entre a dinâmica histórica das “forças mesmas das coisas” com a estrutura pedagógico-científica da Pedagogia da Espiritualidade.
2ª - Apesar da 1ª conclusão acima, essas duas dinâmicas produzem o avanço espiritual da humanidade. A força das coisas, aleatoriamente; a pedagogia intencionalmente.

— A “FORÇA DAS COISAS” E ESPIRITUALIDADE

Se essas “forças mesmas das coisas” podem fazer a humanidade progredir lentamente, reformar suas leis e reduzir a ignorância; se Deus mesmo pode delas se servir para ajudar, assistir o homem, Q.663 não se ode duvidar de que essas forças concorrem com outras dinâmicas para o desenvolvimento da espiritualidade (vide LE – Q.737, 740). As formas de progresso (material, científico, social, intelectual, moral e espiritual) são interativas, mútuas, invariavelmente recíprocas: qualquer avanço numa forma de progresso produz efeito em todas as demais formas. Logo, o desenvolvimento espiritual também se vale dos progressos material, social, e intelectual provocados pelas “forças mesmas das coisas”. Embora mediatamente; e, até, algumas vezes, de repercussão longínqua, tanto no espaço quanto no tempo.

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