4.7. SÉTIMA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELA FORÇA MESMA DAS COISAS
(PROGRESSO REGULAR, LENTO E DISCRETO)
4.7.1. CONCEITUAÇÃO
a) Entende-se,
várias vezes1, nesta dinâmica histórica, como força mesma das
coisas, “aquele progresso regular, constante, muito lento, discretíssimo. O
qual escorre1 subterraneamente e por isso indetectável; só
percebível no devido e longo tempo algumas vezes de gestação. Abastecido por
fatos e acontecimentos secundários. Podendo-se mesmo conceitua-lo, numa
interpretação mais livre, como sendo subliminar (abaixo da linha de
consciência) para a maioria do povo, mas detectável às mentes mais argutas e de
profundidade. Progresso esse que independe da vontade humana. E cujas fontes
primordiais situam-se na ordem física da natureza (fenômenos), ou na área
social, ou no organismo do homem, e vínculado ao seu espírito, no impulso
incontido de evoluir na demanda da felicidade pessoal.
b) Essas
idéias novas e sedutoras surgem muito limitadamente, discretíssimas; e assim
não provocam reações prematuras violentas, repressões e repugnâncias. E podem
ir subsistindo e deslizando através dos tempos, quase invisíveis, e muito
sutilmente, mansamente, dissimuladamente, e até, às vezes, clandestinamente.
Para despontassem bem mais adiante no seio de um povo já então “vacinado”
contra reações e resistências mais vigorosas.
1Em textos doutrinários.
c) E
quando não podem mais ser obstruídas, empolgam os pensamentos e convicções
coletivos, e se impõem aos costumes, às legislações, formas de governo,
instituições, invenções, tecnologias e aos formadores de opiniões e a grande
parte da média.
d) Muitas
desses progressos concorreram no processo evolutivo de espiritualização de
alguns povos, estruturando uma dinâmica histórica de desenvolvimento da
espiritualidade que na Codificação Espírita recebeu o nome de “força mesma das
coisas”.
4.7.2. HISTÓRICO
a) Essa
força tem atuado com variável freqüência em todos os períodos, históricos, mas
com maior incidência a partir do século XVIII. O iluminismo parece ter sido o
movimento desbravador, deste processo. Pois ele também é um exemplo da fonte
que resultou no maior acontecimento histórico da Idade Moderna, a Revolução
Francesa. Praticamente, um produto final da força mesma das coisas que se vinham
acumulando desde quase 2 séculos atrás, desde a primeira convocação dos Estados
Gerais (o que incluía, o 3º Estado (o povo) em 1614. (175 anos antes da
Revolução quando o rei Luiz XVI novamente convocou o clero, a nobreza e o povo
(os três estados) para decidirem um novo lançamento de impostos.
b) Além
desse exemplo tão trágico da Grande Revolução, outros exemplos históricos da
“força mesma das coisas” que se podem listar:
— O
avanço lento mas constante e discreto (nem sempre) do movimento feminista,
desde o século XVIII (o 1º manifesto – 1792) até o século XX/XXI (gestação de
dois séculos);
— A
relativa e crescente liberação sexual, durante todo o século XX;
— A
liberdade religiosa, cuja gestação culminou no Pontificado do Papa João XXIII,
proclamando-a no fim do século XX;
— A
condenação consensual, objetiva e legal do racismo e da escravidão;
— As
formas de governo republicano e liberal, iniciado no século XVIII, culminando
na derrubada de várias monarquias após o fim da 1ª Guerra Mundial (séc. XX).
— A
visão constitucionalista empolgando vários sistemas político-sociais apresentou
um longo histórico desde a época do absolutismo (séc. XVII;XVIII).
— A
luta pelo divórcio de longa gestação, e hoje incorporado aos códigos civis da
maioria das nações ocidentais.
4.7.3. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a) (LE
– Q.783, p.2): “O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância,
porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se
instrui pela força mesma das coisas.
b) (LE
– Q. 663, no final): “Julgais, de ordinário que Deus não vos ouviu, porque não
fez a vosso favor um milagre, enquanto, que vos assiste por meios tão naturais
que vos parecem obra do acaso ou da força das coisas”.
c) (LE
– Q.783): “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas”.
d) (LE
– Q.797): “P – Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis?”
R – Isso ocorre naturalmente pela
força mesma das coisas”.
e) (LE
– Concl. IV, p.3): “Sendo a geração atual mais adiantada do que a anterior,
porque não o será mais do que a presente a que lhe há de suceder? Sê-lo-á pela
força mesma das coisas”.
f)
(LE – Q.259): “Os acontecimentos secundários se
originam das circunstâncias e da força mesma das coisas. Previstos só são os
fatos principais, os que influem no destino”.
g) (LE – Concl. IC, p.5):
“Segurança nas relações sociais que somente no progresso moral lhe será dado
achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio (o homem) dirigirá o
progresso para essa senda”, e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa
alavanca para alcançar tal objetivo.
h) (LE – Intr. VII, p.5):
(...) os sábios se renderão à evidência (das crenças espíritas). Lá chegarão
individualmente, pela força das coisas”.
ANÁLISE
— pelo
texto a), o homem pode instruir-se pela f m d c1
— pelo
texto c), a f m d c provoca o progresso regular e lento;
— pelo
texto d), a f m d c pode levar o homem a reformar suas leis;
— pelo
texto e), uma geração pode superar a anterior pela f m d c;
— pelo
texto h), os sábios chegarão a aceitar o Espiritismo pela f m d c;
— pelo
texto f), a f m d c, não influi nos acontecimentos principais, mas sim nos
secundários;
— por
outro, a f m d c independe da vontade;
— por
outro, a f m d c, parece um dos meios naturais pelos quais Deus nos assiste;
— pelo
texto nº g), o homem pode dirigir o progresso pela f m d c.
1Abreviatura de “força mesma das coisas”.
ENTENDIMENTO. A força mesma das coisas seriam fatos
provocados pelas forças naturais independentemente da vontade humana. Mas que
delas pode o homem se aproveitar para instruir-se, reformar suas leis e
progredir. Distinguem-se das conseqüências naturais dos atos humanos que são
livres: as “forças mesmas das coisas” parecem não ser conseqüências de atos
livres dos homens da sua vontade, apesar de serem naturais, como, por exemplo:
— na
ordem da natureza: fenômenos meteorológicos, geológicos, climáticos, flagelos
naturais;
— na
ordem social: convulsões sociais espontâneas, crises econômicas imprevisíveis;
lutas de classes; guerras, revoluções;
— na
ordem orgânica humana: disfunções fisiológicas casuais, cura natural de moléstias,
lesões corporais em acidentes casuais;
— na
ordem científica: as descobertas casuais, como, por exemplo, da penicilina, da
dinamite, da radioatividade, da gravitação universal.
4.7.4. EFICÁCIA (espiritualizante)
a) Essas
forças mesmas das coisas têm podido fazer a humanidade progredir lentamente (Q.
783); e a reformar suas leis (Q. 797); promover o progresso entre as gerações
que se sucedem (Concl. IV). E levarão até à aceitação do Espiritismo pelos
sábios (Intr. CVII); e reduzir a ignorância (Q. 783). Face a essas observações,
não se pode duvidar de que essas forças também têm concorrido no
desenvolvimento da espiritualização. As formas de progresso (material,
científico, social, intelectual, moral e espiritual) são interativas (reagem
umas sobre as outras), isto é, mútuas, recíprocas: qualquer avanço numa forma
de progresso produz efeitos em todas as demais formas. Logo, o desenvolvimento
espiritual também se vale dos outros progressos provocados pelas “forças mesmas
das coisas”, embora não imediatamente. E não poucas vezes, até longinquamente,
tanto no espaço geográfico quanto no tempo.
— Todavia,
a eficácia dessas forças não pode ser superestimada. Primeiro, por serem muito
indiretos e de lenta gestação. Segundo, porque originárias muitas vezes de
causas materiais, e não diretamente da mesma natureza (espiritual). Terceiro,
porque são, em regra, de gestação subliminar1 (abaixo da linha
limite de consciência), e subjacente(1).
1Vide significados destas palavras no vocabulário
auxiliar ano fim desta dinâmica.
— Estimativa
(presumida) da eficácia espiritualizante desta Dinâmica Histórica da “força
mesma das coisas”, é de difícil aplicação.
— Em
geral e em tese não se pode reconhecer um efeito intenso das forças das coisas
sobre a espiritualidade, por serem esses resultados muito indiretos, de teor
diferente do da espiritualidade e remotos no tempo (lentos) e/ou no espaço
(distantes).
CONCLUSÃO. As denominadas “forças
mesmas das coisas” realmente podem ser catalogadas no conjunto das dinâmicas
históricas que têm assegurado um progresso muito relativo da espiritualidade
humana até o presente momento (final do século XX depois de Cristo).
4.7.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta
pedagogia da Dinâmica Histórica espiritualizante da “força mesma das coisas”).
— Verificam-se
várias diferenças fundamentais entre essa dinâmica e a Pedagogia da
Espiritualidade:
DINÂMICA PEDAGOGIA
DA
HISTÓRICA ESPIRITUALIDADE
(pela força mesma das coisas) (específica para
desenvolvimento
da
espiritualidade)
— Os resultados são muito —
Os resultados não finais podem
remotos aparecer
em curto ou
médio
prazo.
— O processo caracteriza-se —
O objetivo é acelerar o
pela lentidão processo
de espiritualização
— O processo se realiza e —
Todo o processo se
desliza na camada desenvolve
na plenitude da
subjacente do povo consciência
do educando
(subliminar)
— O processo não é O
processo é dirigido pelo
direcionado por ninguém e educando,
assistido este pelo
segue à revelia de qualquer seu educador
vontade objetiva
— Princípio motor e dinâmico —
Princípio motor e dinâmico
do progresso: a “força do
progresso: as perfeições
mesma das coisas” espirituais
e potenciais, e
estas
devida e
pedagogicamente
ativadas
— O objetivo final só é —
Objetivo final é bem
conhecido quando termina conhecido
e conscientemente
o processo (depois de procurado.
longa e secular gestação)
— CONCLUSÕES:
1ª - Com tantas diferenças
fundamentais, não se pode afirmar familiaridade de processos, meios, métodos e
objetivos entre a dinâmica histórica das “forças mesmas das coisas” com a
estrutura pedagógico-científica da Pedagogia da Espiritualidade.
2ª - Apesar da 1ª conclusão
acima, essas duas dinâmicas produzem o avanço espiritual da humanidade. A força
das coisas, aleatoriamente; a pedagogia intencionalmente.
— A “FORÇA DAS COISAS” E
ESPIRITUALIDADE
Se essas “forças mesmas das
coisas” podem fazer a humanidade progredir lentamente, reformar suas leis e
reduzir a ignorância; se Deus mesmo pode delas se servir para ajudar, assistir
o homem, Q.663 não se ode duvidar de que essas forças concorrem com outras
dinâmicas para o desenvolvimento da espiritualidade (vide LE – Q.737, 740). As
formas de progresso (material, científico, social, intelectual, moral e
espiritual) são interativas, mútuas, invariavelmente recíprocas: qualquer
avanço numa forma de progresso produz efeito em todas as demais formas. Logo, o
desenvolvimento espiritual também se vale dos progressos material, social, e
intelectual provocados pelas “forças mesmas das coisas”. Embora mediatamente;
e, até, algumas vezes, de repercussão longínqua, tanto no espaço quanto no
tempo.
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