segunda-feira, 10 de junho de 2013

O ESPLENDOR DE UM SUBLIME GESTO DE AMOR A QUATRO CRIANÇAS DESVALIDAS E INOCENTES – UMA SINCERA E RESPEITOSA ROGATIVA AO NOBILÍSSIMO PODER JUDICIÁRIO DO NOSSO PARANÁ

O Professor Ney Lobo, exerceu a função de Diretor do Colégio Lins de Vasconcelos por mais de uma década. É autor de diversas obras de educação e filosofia e escreveu o texto a seguir, como uma rogativa, ao estilo jurídico antigo, uma súplica à "Casa da Suplicação", Tribunal ligado ao poder imperial de Portugal que distribuía a Justiça no Brasil Colônia, tendo ainda como paradigma texto do escritor Francês Émile Zola, figura importante na liberalização política da França e na exoneração do falsamente acusado e condenado oficial do exército, Alfred Dreyfus, no renomado jornal manchete J'Accuse.

PRELIMINARES

Há gestos humanos, simples e até triviais, de amor ao próximo que faíscam fugazes no firmamento das santas emoções nossas. E nem por essa sobriedade e parcimônia deixam de nos comover e cintilar na mesma cadência pulsante de nossos corações enternecidos.

Há outros gestos mais marcantes, mais luminescentes que testemunhamos nos panoramas cotidianos e seqüenciais no dia-a-dia de nossa vida, que nos empolgam pela beleza moral e espiritual que nos fixam em mantida atitude contemplativa.

Porém, agora estamos presenciando a fulguração, o esplendor de um majestoso e singularíssimo gesto de sublimado ato de amor a quatro crianças abandonadas e rejeitadas por um destino cruel, ou ingrata sorte e cruciante desdita. Em hábil tempo, acolhidas ao regaço amoroso e extremamente caritativo de um casal como é o casal ALBERTO/ARISTÉIA MORAES RAU, com desvelo e inusitado carinho tão humano e cristão.

ESTUDO SOBRE CLASSES SOCIAIS I - PARTE II

ESTUDO SOBRE CLASSES SOCIAIS I - PARTE III


ESTUDO SOBRE CLASSES SOCIAIS I - PARTE IV

ESTUDO SOBRE CLASSES SOCIAIS I - PARTE V




quarta-feira, 5 de junho de 2013

NOTA DE FALECIMENTO

 Desencarnou dia 28 de agosto de 2012, às 20h, em Curitiba (PR), aos 93 anos de idade, o escritor Ney Lobo. Nascido em Curitiba, em 1919, foi militar e escritor. Dedicou-se à pedagogia espírita assumindo, em 1967, a diretoria do Instituto (depois colégio) Lins de Vasconcellos, construindo a cidade-mirim e realizando um dos mais marcantes feitos da Pedagogia Espírita, no Brasil. Escreveu livros como Filosofia Espírita da Educação, em cinco volumes, pela FEB Editora e outros com foco na Educação Espírita
 
Na página no facebook da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita encontramos texto em homenagem a Ney Lobo, recentemente falecido e aqui reproduzimos:
Faleceu esta noite do dia 28 ao dia 29 de agosto, em Curitiba, o professor Ney Lobo, um dos grandes pioneiros da Pedagogia Espírita no Brasil. Submetido a uma angioplastia, aos 93 anos, não resistiu à cirurgia. Ney Lobo dirigiu no final dos anos 60 e início dos 70, uma fantástica experiência pedagógica no Instituto Lins de Vasconcellos, tendo criado uma cidade mirim, onde as crianças elegiam seu prefeito, tinham uma agência bancária, comércio, ruas, casa de oração - para que pudessem exercitar de forma prática a cidadania.

Ney Lobo manteve com a ABPE sempre as mais cordiais e amistosas relações, e marcou presença em todos os congressos que fizemos (2004, 2006, 2008, 2010). Autor de importantes obras sobre Educação e Espiritismo (inclusive um livro assim chamado), "Filosofia Espírita da Educação" (5 volumes), "Escola Espírita" entre outros. Já há vários anos estava trabalhando num livro em vários volumes também, intitulado "Pedagogia da Espiritualidade", do qual apresentou algumas conclusões em nosso 4º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita e 1º Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade, em setembro de 2010.

Querido Prof. Ney Lobo, leve nosso sentimento de gratidão, nosso carinho e nossa vibração de paz!
Dora Incontri e Equipe da ABPE
Associação Brasileira de Pedagogia Espírita


 [fonte: http://www.espiritualidades.com.br/NOT/Not_2012/2012_08_31_ney_lobo_falecimento.htm]

quarta-feira, 29 de maio de 2013

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 6

7.1.8 – Teoria do Paralelismo Psicogenético.

“René Hubert (1885 – 1954) lançou a concepção psicogenética da hierarquia de valores. A evolução das preferências aos valores se processaria, segundo ele, de acordo com a sucessão das faixas etárias, da infância até a juventude, dos valores puramente materiais até os espirituais.
A Doutrina Espírita em (EE – XI, 8) também proclamou uma ordem preferencial dos Espíritos em evolução, um ordenamento axiológico que se inicia igualmente nos valores materiais e culminando nos de natureza espiritual. As palavras são outras e sem a precisão axiológica de Hubert, na plenitude do séc. XX e do desenvolvimento da Psicologia Genética. Mas os significados se correspondem e o sentido do movimento para o espiritual é comum às duas concepções.141
Nesse quadro, indicamos que a Doutrina traça a linha psicogenética (instintos sensações sentimentos amor), tanto na direção do desenvolvimento físico quanto no do espiritual global. Mas a função da evolução psicogenética vital (física) é a de antecipar a nível físico, iterativamente (em muitas encarnações), o desenvolvimento espiritual, e no mesmo sentido dele:
Psicogênese Vital infância → adolescência → juventude → madureza
Psicogênese Espiritual infância → adolescência → juventude → madureza
Entendemos que o fato desse sentido da série evolutiva ser o mesmo da série de desenvolvimento espiritual não seja aleatório. Está conforme os desígnios da Providência, justamente para propiciar a evolução maior. Talvez também seja para apontar ao Espírito, enquanto jungido à matéria, a linha e sentido que deve seguir no seu desenvolvimento espiritual:
Psicogênese Vital madureza → juventude → adolescência → infância
Psicogênese Espiritual infância → adolescência → juventude → madureza
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141 Ver quadro p. 53.

142
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142 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 273.

Nessa hipótese, os seres humanos renasceriam adultos e desencarnariam quando chegassem à infância. Nesse caso, seria irrecusável a idéia de que as reencarnações sucessivas, ao invés de facultarem a evolução espiritual, a retardariam ou até a estancariam. Daí, a conclusão de que a evolução física corre no mesmo sentido da espiritual global, para incrementá-la, antecipando-a muitas e muitas vezes no nível físico.
A idéia de atribuir aos estágios das culturas e das civilizações a nomenclatura dos estágios etários do homem, também a encontramos em Gilberto Freire. Comparou o nosso consagrado sociólogo o grau social dos nossos ameríndios entre si e com o dos europeus colonizadores. Estes últimos estariam na fase da maturação espiritual. Os incas do Peru, bem como os astecas do México e os Maias da América Central, estariam na adolescência civilizatória. Quanto aos silvícolas do Brasil [...] classificou-os como bando de crianças grandes; uma cultura verde e incipiente, ainda na primeira dentição; sem os ossos nem o desenvolvimento nem a resistência das grandes semicivilizações americanas143”.144

7.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

7.2.1 – Retomada do Nível Espiritual.

“As conclusões anteriormente expostas da Filosofia Espírita da Educação indicam à Pedagogia Espírita o aproveitamento mais planejado e intenso da plasticidade do educando durante a infância e adolescência. Ao reassumir sua própria natureza, no final da adolescência (idade axial), o Espírito reencarnado deve estar em condições de progredir a partir do nível que atingiu na existência anterior. Esse primeiro período denominamos de estágio da graça educativa. Já apresentamos a interpretação espírita para a limitação desse período, ao final do qual vai desmaiando a maleabilidade do Espírito ao esforço heteroeducativo, externo, pelo afloramento da carga genótipoespiritual soprada das remotas posições das vidas passadas, como irradiação tardia delas.
Essa irradiação de aproveitamento mais extenso, intenso e enérgico desse estágio, reforça a proposição de regimes escolares mais abrangentes, como o de tempo integral, o internato-lar e a comunidade-escola. Mas não é só. A atividade do Espírito do educando deve ser fomentada.
A assistência disciplinar e a orientação educacional devem recobrir com a sua presença a maior parte da vida escolar. Enfim, toda a presente obra pretende também ser uma resposta orgânica a este apelo da Filosofia Espírita: a exploração intensiva da plasticidade efêmera da criança e do adolescente
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143 FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, 1º tomo – p. 126 – Liv. José Olympio Editora – RJ, 1950. 9ª edição brasileira. (Nota do autor)
144 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 271 - 272.


antes que renasça neles o homem feito, do passado, ancestral arquetípico quase impermeável à heteroeducação”.145

7.2.2 – Redução do Estágio Infantil.

“A Psicologia Educacional Espírita deverá subsidiar e assessorar a Pedagogia para levar em conta, num futuro indeterminado, o encurtamento natural, lento e muito progressivo do período infantil segundo a linha de evolução da Humanidade, o que causaria o recuo da idade axial, com todas as suas consequências psicogenéticas. Talvez, a apreensão desse abreviamento seja ainda muito improvável e o fenômeno intangível, indetectável. Sua fundamentação doutrinária se assenta em (LE – Q. 188, nota 1 – 4), (LE – Q. 183) e (EE – III, 9 - 2). Há indícios e suspeitas que sugerem o início discretíssimo dessa redução. Segundo revela o Prof. Walter Bloise, da cadeira de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, os casos de puberdade precoce, tão raros no passado, estão acontecendo com muito mais freqüência. O assunto é tema de congresso científico. As causas são desconhecidas. Lembra aquele professor que, há cem anos, a puberdade se manifestava na idade de 17 anos e, hoje, em média aparece aos 12,5 anos. Presume-se, porém, sem nenhuma prova, que um dos fatores seja a alimentação mais rica e balanceada. Os sinais até agora detectados são puramente biológicos e os efeitos não são os desejáveis, pelos distúrbios de crescimento e pelo choque psicológico.
A precocidade na área psíquica, também admitida e estudada por alguns autores, tem sido atribuída aos meios de comunicação de massa [...]. A criança hoje é bem mais precoce do que aquela de 50 anos atrás. Sabemos que tais aceleramentos não são feitos de amadurecimento espiritual, que é bem mais lento, trabalhado e regular, produto de ingente esforço e disciplina muito pessoais. A redução do período juvenil de que cogitamos, tratado na codificação, tem outra causa: é o resultado seguro da evolução espiritual, que reduz o guande e o bloqueio da matéria sobre o Espírito. Este se liberta mais cedo do condicionamento corporal e orgânico infantil: „A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância‟ (EE – III, 9 – 2)”.146

7.2.3 – Adolescência Espiritual Como Idade e Sensações Como Móveis Dominantes das Ações da Atual Humanidade.

“A Psicologia Educacional Espírita, em primeiro lugar como pesquisadora, e a Pedagogia como braço executivo, deverão considerar que a criança – educando (como os adultos) é, ao mesmo tempo, de modo muito geral, e espiritualmente, um adolescente no qual dominam as sensações e corporalmente, uma criança que age pelos instintos.
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145 Idem, p. 274.
146 Idem, p. 274 - 275.


Alguns princípios da tendência ao realismo sensorial em educação ( séculos XVIII e XIX) permanecem incólumes até hoje, desde que dinamizados pela atividade e pelo interesse. Assim reconhecemos, apesar do surgimento de outras tendências educativas, a naturalista no séc. XVIII, a psicológica nos séculos XVIII e XIX, e as tendências modernas, a sociológica, a científica e a econômica, hoje predominantes. E permanecem os princípios sensoriais como lugar comum em todos os movimentos educacionais. Não sem razão. A Humanidade percorre a idade espiritual de sua adolescência, na qual as sensações são o nível dominante das ações e do comportamento, conforme se pode deduzir de (EE – XI, 8), (CI – VIII, 11), (LE – Q. 607ª)”. 147

7.2.4 – A Educação dos Sentidos e da Sensibilidade.

“À Pedagogia Espírita compete, pois, zelar pelo aprimoramento dos sentidos físicos, nos quais se inicia o processo das sensações. E esta é a base do método intuitivo, tão prestigiado por Pestalozzi. „Fala-se muito na educação dos sentidos, mas, de fato,não se lhe tem prestado a devida atenção. No entanto, a importância dessa educação é enormíssima como salienta Herment: Uma vez que os sentidos são, por assim dizer, as portas da alma, abrindo-lhe o caminho dos conhecimentos, toda a educação depende dos valor e atenção que se lhes preste. Levar os sentidos a notar as semelhanças e diferenças, cada vez mais insignificantes, significa aperfeiçoar a inteligência [...]. Interessa, portanto, [...] desenvolver, mediante um treino constante,a capacidade dos diversos sentidos, tomando em linha de conta as percepções respectivas. Evitar as interpretações falsas das sensações colhidas pelos diversos sentidos, obrigando a criança a penetrar no fundo das coisas e a não se contentar com a observação superficial, característica da infância e da ignorância. Ensinar as crianças a não se deixarem dominar pelos sentidos. Convém pô-las de sobreaviso contra a afetividade deformadora e contra os fatores que prejudicam a visão objetiva da realidade: imaginação desordenada, paixões não dominadas, irreflexão, precipitação, ilusos dos sentidos, etc.’148
René Hubert insiste no mesmo ponto: „É mister admitir, pois, que há também uma educação da intuição sensível. Não basta fazer ver, é mister ensinar a ver. A observação deve ser exata, precisa, ordenada. É mister que vá ao importante, ao típico, que a criança não sabe julgar no começo [...] Daí se segue que a observação deve ser ativa. E o que esta observação comporta de atividade, mais do que contém de dados sensíveis, é o que constitui o valor do método intuitivo‟.
Para Pestalozzi, „a impressão sensorial da natureza é a única base da instrução humana, porque é o único alicerce verdadeiro do conhecimento humano [...]. Acho que fixei o mais alto, o supremo princípio de instrução no reconhecimento da impressão sensorial como o alicerce absoluto de todo
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147 Idem, p. 275.
148 GONÇALVES VIANA, Mário. Pedagogia Geral, 3ª edição - p. 231 –232, 1955. Editora Figueirinhas, Porto, Portugal. (nota do autor)


o conhecimento‟. Pestalozzi já percebera com muita acuidade que a intuição devia ser dinamizada pela atividade. Como observa Frederick Eby, „uma razão mais importante está no discernimento de Pestalozzi de que a experiência sensorial é um processo ativo. A mente não é passiva, ou meramente receptiva como Locke declarara. Toda a mente está comprometida na experiência sensorial [...]. Por esta interpretação, Pestalozzi mostrou que as forças internas ativas estão relacionadas com o funcionamento dos órgãos sensoriais‟.149
É bem verdade que se reconhece hoje, e de há muito, aliás, que o conhecimento dispõe de outras vias que não exclusivamente a sensorial como pareceu a alguns pretender Pestalozzi. Conhecimentos mais elevados podem ser atingidos sem o concurso das coisas sensíveis.
Apesar dessa restrição, não podemos despedir a idéia que nos invade de que os métodos intuitivos, baseados na intuição sensorial, mantêm alguma forma de relação com o estágio de adolescência espiritual da Humanidade terrena, cujas ações são movidas predominantemente pelas próprias sensações (EE – XI, 8), (LE – Q, 607ª). Pergunta-se: a grande maioria dos homens não se utiliza quase exclusivamente do conhecimento intuitivo pelas sensações ou de conhecimento que por ela é iniciado? Os que se valem de vias superiores aos sentidos, os filósofos, cientistas, artistas, paranormais, etc., constituem uma minoria na extensa massa dos conhecentes na Terra”. 150

7.2.5 – Educação dos Sentimentos.

“Na consequência anterior, foi recomendada a educação dos sentidos, por corresponder ao estágio psicológicomoral da adolescência espiritual pelo qual transita a Humanidade terrena atualmente.
No entanto, o presente estágio é, ao mesmo tempo, a preparação da juventude espiritual, para a fase seguinte, na qual o móvel dominante das ações será o sentimento. Por isso mesmo, a par da educação dos sentidos, deverá desenvolver-se a dos sentimentos.
Em várias passagens anteriores, esse tema já foi tratado, no ponto de vista curricular, no aspecto metodológico, no enfoque disciplinar e, ainda, como fim dos fins da educação, etc. Agora, pela visão da interação sinérgica espiritossomática, colocamos em linha mais um argumento em favor da educação dos sentimentos: propiciar o advento da futura era da humanidade terrestre: a era do sentimento. ”151

7.2.6 – Percepção Extrasensorial e Educação
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149 EBY, Frederick. História da Educação Moderna, p. 389 -390. Editora Globo – Porto Alegre/RS. (nota do autor)
150 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 276 - 277.
151 Idem, p 277.


“Qual a relação psicopedagógica entre a educação dos sentidos e a percepção que se processa independente deles? A educação dos sentidos concorreria para o desenvolvimento da percepção extrassensorial? Ou teria de haver uma técnica específica para o despertamento dessa capacidade? Mas, haverá real necessidade de impulsioná-la? Qual seria? Para a educação, qual a necessidade?
Temos que considerar as duas teorias sobre o sentido do desenvolvimento da EPS (extra sensory perception). Alguns admitem que ela seja um resíduo ancestral em processo de desaparecimento, porque já esgotou a sua função necessária em passado remoto da raça humana. Vamos denominá-la de teoria regressiva. Outros teorizam, ao contrário, que se trata de uma faculdade que tende a desenvolver-se, porque necessária no futuro. Denominamo-la teoria progressiva. Somente segundo essa última a sua ativação seria justificada.
Ora, os Espíritos, quanto mais evoluídos, mais dotados são desses poderes inabituais152. Verificar-se-ia, então, a segunda teoria: a capacidade estaria em evolução, portanto suscetível de ativação pela educação. Mas, para nossa desorientação, esses mesmos dons que deveriam ser apanágio dos Espíritos de escol são ostentados por pessoas que não estão no mesmo grau de evolução superior. A correlação paranormalidade – moralidade ainda não foi verificada. Não seriam esses poderes provas reencarnatórias das quais fracassaram os superdotados? Vamos alinhar corretamente o nosso pensamento, exemplificando. Determinado Espírito atingiu certo grau de desenvolvimento espiritual que o capacitou à extra sensibilidade (teoria progressiva). Reencarnado, foi submetido à prova da utilização dessa energia, ao serviço do Espírito, na assistência caridosa ao próximo. O Espírito capitula ante a prova. Existe, então, o descompasso entre a evolução espiritual e o amor, o que é inconsistente. O descompasso só pode ser aparente. O Espírito não pode retrogradar (LE – Intr., VI), (LE – Q. 118, 193, 194a, 178a, 398a, 778). (GE – XI, 48). Apenas não passou pela nova prática. Como o estudante que domina determinada matéria de seu curso, mas não conseguiu provar esse domínio em exames formais, por razões que escaparam ao seu controle.
É verdade, estamos apenas conjecturando – com alguma racionalidade e observação da vida, todavia. Se corretas essas considerações, justificada está a educação para estimular a percepção extrassensorial nos educandos”.153
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152 Termo referido por CHARLES RICHET. (Nota do autor)
153 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 277 - 278.

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 3

i) Por contato dos perispíritos, de Espírito emancipado a pessoa viva: “É o mesmo caso anterior, mas em sentido inverso: o Espírito de uma pessoa viva em estado de emancipação exercendo ação educativa sobre o Espírito de pessoa viva em estado de vigília. Teríamos nesse canal o Espírito emancipado de uma pessoa viva, como educador, influindo sobre o Espírito de outra pessoa viva acordada (educando). Atualmente, a ciência passou a interessar-se vivamente sobre a ciência do sono e do sonho. Inúmeros centros de pesquisas em universidades americanas e européias já têm liberado valiosas conclusões que irão lançar novas luzes sobre o conhecimento da alma em estado de emancipação”.65 (LE – Q.455 -3, 9 e 17).
j) Por contato dos perispíritos, de Espírito desencarnado a Espírito de pessoa viva emancipado: “O Espírito na erraticidade aproveita a ocasião do sono ou do estado sonambúlico da pessoa viva para atuar com mais facilidade sobre seu Espírito sob a forma de influência geral, instrução, conselhos, etc.” 66
(LE – Q. 402 -1; 408, 410, 431, 455); (OP – p.51 a 52, 62); (LM – XIV, 172-1).
k) Por contato dos perispíritos, de Espírito emancipado de pessoa viva a Espírito desencarnado: “O sentido desse canal é recíproco ao do canal anterior. O Espírito emancipado, se superior a um desencarnado, poderá influir beneficamente sobre ele através da doutrinação, ou de outros processos educacionais”.67 (LE – 402, 3 e 455,79).
l) Por contato dos perispíritos, de Espírito desencarnado de um mundo superior a Espírito emancipado desse mundo: “Se os Espíritos podem ser degredados para um mundo inferior, punitivamente, também podem, em missão elevada, entrar em contato com Espíritos deste mundo em estado de emancipação”.68 (LE – 402,1; 440; 455).
m) Pelo fluído universal, de Espírito desencarnado de outro mundo, superior, a Espírito desencarnado deste mundo: “Este canal extrapola os dois planos da vida terrena, o material e o espiritual. O princípio da solidariedade entre as diversas categorias de mundos, desde os primitivos até os mundos celestes, já aponta para a admissão de um canal de comunicação intermundos. Temos de admitir a plena realidade de uma Educação Interplanetária. Um dos processos pelos quais se efetiva essa solidariedade pedagógica é a descida de Espíritos purificados a mundos inferiores para instruírem os Espíritos atrasados aí situados”. (LE – Q. 113, 188, 233, 282, 455, 495).
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65 Idem.
66 Idem, p. 171
67 Idem.
68 Idem.


3.5.2 – Monumentalidade e Funcionalidade da Rede de Canais de Comunicação:

A sua monumentalidade e estrutura de liames ligando educadores a educandos formam um imenso mecanismo docente discente, “reunindo todos os níveis da vida desde os físicos e terrenos até os da mais elevada espiritualidade. Seus alicerces são os processos sensoriais da educação convencional, mas sobre os quais se elevam outros níveis”.69
“Se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes interligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal”. (OP – p. 118).

3.5.3 – Doutrinação de Espíritos como Processo de Educação:

“Apesar de só encontrarmos duas passagens na Codificação sobre essa prática, de há muito que as sessões mediúnicas receberam a sua carta de licenciatura e encontraram sua razão de ser que não a mera curiosidade ou passatempo inconseqüente. E foi no mister educativo que o mediunismo assumiu o seu mais nobre e verdadeiro papel: o mediunato pedagógico, apesar de haver muito ainda a explorar e orientar nesse sentido”.70
(LM – XXIII, 254,5); (LM –XXIII, 249); ((CI – 1º, XI,15).

3.5.4 - Desobsessão de Obsidiados, Encargo da Educação:

“Eis aqui uma outra classe de educandos: de um lado, o Espírito obsessor e, de outro, sua vítima. Situam-se eles numa relação pedagógica sui generis : cada um deles, surpreendentemente, concorre para a reeducação do outro, apesar de inimigos vindos do pretérito espiritual em verdadeiro exercício dialético educativo redutor, através das vidas sucessivas, no decurso das quais as posições (algoz/vítima) se alternam. A cura da obsessão depende, principalmente, para ser permanente e radical, do aperfeiçoamento moral de ambos os pólos da oposição obsessor/obsidiado. E este é um mister da ação educativa: a) de um terceiro com ascendente moral e energia de vontade sobre ambos; b) da ação recíproca e menos primária e perversa, de um sobre o outro.”71 (LM – XXIII, 249; 252; 254); (GE – XIV, 46); (LE – Q796; 912).
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69 Idem, p. 172.
70 Idem, p. 173 -174.
71 Idem, p. 175.


3.5.5 – A Vida Terrena e Espiritual Como Dois Momentos Recíprocos e Consecutivos da Educação:

“Podemos considerar que, pedagogicamente, as atividades educacionais terrenas são uma preparação para a vida espiritual subseqüente; e que a educação entre os Espíritos é, da mesma forma, a preparação para a vida material: são dois condutos recíprocos e consecutivos. [...] Esta é a visão da Filosofia Espírita da Educação. Qual o valor dela para o pedagogo e o educador? Primeiro, eles saberão que o educando, mesmo uma criança, nos seus primeiros passos escolares, já foi mais ou menos trabalhado pela educação, na vida espiritual que antecedeu ao seu renascimento. Esses valores e conhecimentos que dormitam no âmago do perispírito (inconsciente) cumpre ao educador tentar identificá-los e reconhecê-los, porque, de alguma forma velada, ou metamorfoseados em idéias, ideais, objetivos, tendências, intenções, etc., eles sempre se apresentam. Segundo, levará em conta também o educador espírita que a formação do seu discípulo prosseguirá, mesmo além do termo da vida física. Quanto ao pedagogo espírita, em análise atenta, não mais poderá visualizar a educação por compartimentos estanques e descontínuos, limitada ao estágio berço-túmulo, como quem se dispusesse a compreender toda a história de uma nação estudando apenas um episódio.”72

3.5.6 - Educação de Adultos, Nova Dimensão:

“Num enfoque pedagógico espírita, a educação de adultos [...] ostenta novos contornos, adquire novas dimensões, assume múltiplas expressões. Se o adulto, em qualquer idade, é também um educando, a morte desveste-se do seu sentido trágico de termo final da vida e da educação. [...] Nos países mais desenvolvidos, a educação de adultos visa à capacidade das pessoas a adaptarem-se ao meio social em contínua mudança. Num estágio mais ambicioso, a finalidade é dar consciência crítica desta mesma sociedade para transformá-la. Nos países em desenvolvimento, a alfabetização tem prioridade absoluta. [...] Sem desprezar os objetivos mais fundamentais, a educação espírita de adultos visaria também a uma integração de criatividade e afetividade, de amar o bem e a beleza, sabendo senti-los; a aceitação de si mesmo e a convivência com o próximo; relação entre pais e filhos e entre os cônjuges. Focalização das vivências das últimas fases da vida material: aprender a envelhecer, o valor da velhice, a preparação para o desencarne e aprender a morrer. Mas, principalmente, preparação para a vida espiritual consecutiva: processo desencarnatório, o estado agônico, as primeiras impressões após o desenlace, as relações com os outros Espíritos, as atividades no plano espiritual, as comunicações com o plano material, a tomada de consciência da nova situação como desencarnado, o desvalor da matéria uma vez deixada para trás, atitude ante a parentela, a família e amigos separados no plano físico, etc.” 73
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72 Idem, p. 176-177.
73 Idem, p.177.


4 – COMO É O EDUCANDO?

“A pergunta como é o educando pretende apontar para a natureza moral do homem. Será o ser humano, intrinsecamente, mau ou bom? A maldade é apenas acidental ou integra a natureza humana? A criança é congenitamente boa, como proclamava Rousseau, ou já nasce pervertida, como propuseram Spencer, Schopenhauer, Freud e os reformadores religiosos Lutero, Calvino, Melanchton e Zwinglio? Estará correto o realismo cristão que admite no homem apenas uma ligeira inclinação para o mal com suas raízes no pecado original? Locke não estaria com a razão ao anunciar que a alma da criança ao nascer é como uma tabula rasa ou uma folha em branco, portanto, sem nenhum vestígio nem de maldade nem de qualquer bondade? [...] A resposta a essa fascinante indagação irá conformar os respectivos sistemas disciplinares. Indicará a atitude do educador ante os discípulos. Imprimirá contornos aos princípios de seleção dos conteúdos formativos e, ainda, determinará a organização das classes e o reconhecimento da individualização do ensino.” 74

4.1 – SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:

4.1.1 – Relativismo:

“A solução espírita pode ser chamada de RELATIVISTA, porque o estado ou nível moral do nascituro é relativo ao progresso já realizado em vidas anteriores, portanto, nem necessariamente bom, nem necessariamente mal.” 75

4.1.2 – Duas Origens do Espírito:

“É preciso distinguir duas origens. Primeira (absoluta e única), a da criação do Espírito por Deus; segunda (relativa, recorrente, múltipla), a dos inúmeros renascimentos físicos desse Espírito, na alvorada de cada encarnação.” 76

4.1.3 – A Origem Absoluta do Espírito:

“Na primeira origem, a propriamente dita e primordial, em época e modo desconhecidos, os Espíritos foram criados simples e ignorantes, isto é, sem o conhecimento do bem e do mal, mas com aptidão para tudo conhecerem e para progredirem em virtude do seu livre arbítrio. Nessa condição, são eles, eticamente falando, como uma folha em branco, virgens de maldade ou bondade. Portanto, não são nem bons nem maus (não confundir com espíritos neutros, que já evoluíram, mas oscilam entre o bem e o mal). Todavia, já começa o recém criado Espírito a distinguir, muito confusamente, o bem do mau e a sentir um mínimo de responsabilidade. Inicia-se muito incipientemente a vida moral. (LE – Q. 607ª); (GE – XI, 23 -4).” 77
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74 Idem, p. 181.
75 Idem, p. 195.
76 Idem.
77 Idem.


4.1.4 – A Origem Recorrente do Espírito:

“Na segunda origem (recorrente), na qual (ou nas quais) o princípio espiritual se une ao material pela participação dos pais biológicos, o Espírito reencarnante já está agravado ou atenuado pelo seu pretérito, pelos seus atos livres – bons ou maus – cuja responsabilidade tem que carregar. Já não se pode dizer que não é bom nem mau. Agora, ou ele é mau, diga-se melhor, imperfeito ou atrasado, se as imperfeições preponderam na sua economia moral íntima; ou ele é bom, ou melhor, evoluído, se no balanço dos pesos e contrapesos éticos o bem é dominante.” 78

4.1.5 – Aperfeiçoamento Progressivo:

“Através das sucessivas reencarnações vai-se processando um aperfeiçoamento progressivo e lento para o equilíbrio ético e, ulteriormente, para um predomínio do bem, cada vez mais acentuado.” 79

4.1.6 – A Transitória Inclinação para o Mal:

“A natural inclinação para o mal resultante da falta original não é aceita, pelo menos como estado permanente. A inclinação para o mal é transitória, embora de longa duração num primeiro ciclo de numerosas encarnações e não é comum a todos os encarnados.” 80

4.1.7 – A Perfeição Relativa:

“O Espírito humano está endereçado pelo Criador à perfeição relativa e à fruição da felicidade correspondente, sem que essa intenção divina esteja dimensionada pela fatalidade cega, a qual apenas é pertinente apenas ao gênero de provas, expiação ou missão que o Espírito escolhe antes de encarnar. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral (LE – Q.872). O Espírito progride pela sua vontade e não fatalmente contra ela e, por isso, cabe-lhe o mérito do progresso conquistado (CI – IX,21).”81

4.1.8 – Do Estado Aético à Perfeição Ética:

“Essa progressão moral do Espírito desde a sua criação até a perfeição poderia ser balizada didaticamente por estágios, nem estanques nem compartimentados, mas sim interpenetrados:

a) Estágio ético inicial: Espírito em embrião – nem bom nem mau – estado aético.
b) Estágios éticos intermediários:
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78 Idem, p. 195 -196.
79 Idem, p. 196.
80 Idem.
81 Idem.


Espírito mau – mais (mau) do que bom – estado de desequilíbrio ético negativo;
- Espírito neutro – tanto mau quanto bom – estado de equilíbrio ético;
- Espírito bom – mais (bom) do que mau – estado de desequilíbrio ético positivo;
- Espírito superior – quase totalmente bom – estado de quase perfeição ética.
c) Estágio ético final: Espírito puro – totalmente bom – estado de perfeição ética.” 82

4.1.9 – Os Espíritos Neutros: Educandos por Excelência:

“Para o filósofo espírita, na Humanidade terrena convivem, nos dois planos da vida, espiritual e carnal, Espíritos em graus diversos de bondade e de perversidade. Mas, entre eles predominam os Espíritos Neutros, isto é, tanto maus quanto bons. Condicionados, assim, pelo equilíbrio ético. (LE – Q.872). [...] Em que pese o disposto em (EE –III, 4), como pedra de tropeço, por capitular a Terra como mundo onde domina o mal confirmado em (LE – Q.872 -11), ainda assim mantemo-nos em nossa tese: 1º) porque o Espírito neutro, na Terra, podendo pender tanto para o mal quanto para o bem, só poderia equilibra-se ou mesmo inclinar-se para o bem pela força da Educação. Se assim não acontece é porque a Educação é uma das maiores carências da Humanidade, a par da alimentação.[...] Daí a maior tendência dos neutros para o mal; 2º) a timidez dos bons e a audácia e arrogância dos maus (LE –Q. 932).
Dispomos para nossa tese de incontestável e decisivo aval do próprio Kardec: Entre os maus [da Terra] muito há que apenas o são por arrastamento e que se tornariam bons, desde que submetidos a uma influência boa (OP – p.243). Infere-se dessa conjuntura da nossa Humanidade, o extraordinário valor da educação.” 83

4.1.10 – Terra, o Planeta da Educação.

“Podemos asseverar que o nosso mundo terreno, no seu atual grau coletivo de evolução, é o planeta dos Espíritos Neutros e, como tal, e por isso mesmo, é o planeta da Educação, porque esses Espíritos Neutros são educandos por excelência. [...] Por isso, o maior esforço do homem deve ser direcionado para a educação. Ao contrário, seria desprezar ou postergar a feliz oportunidade que o equilíbrio ético, justamente por instável, manifesta e oferece. Pode apresentar oscilações mais freqüentes para o lado negativo. A atual onda de violência e de conflitos é o sinal e a advertência perversa do desprezo pela educação. É a frustração da vocação planetária, da oportunidade cósmica da evolução oferecida pelo Universo à Humanidade terrena. Qual o fator gerador mais profundo, anímico, do terrorismo, por exemplo? Não seria a insegurança existencial de Espíritos Neutros instáveis?
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82 Idem, p. 196 -197.
83 Idem, p. 197- 198.


Desprovidos por isso mesmo da autoconfiança, projetam a sua instabilidade ética sobre as sociedades organizadas e passam a agredi-las nas suas personalidades e instituições mais representativas. Por todas essas razões, a Doutrina Espírita exclui qualquer outro fator para o aperfeiçoamento e o progresso do homem que não seja a educação, e sentencia: Só a Educação poderá reformar os homens (LE – Q. 796). [...] É pela Educação mais do que pela instrução que se transformará a Humanidade (OP – Credo Espírita). A Educação convenientemente entendida constitui a chave do progresso moral (LE – Q. 912).” 84

4.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

4.2.1 – Classes Homogêneas.

“Se há acentuada variação entre os graus de evolução dos educandos, é recomendável a constituição de classes homogêneas no âmbito da mesma série, tanto quanto possível. A presença dos mais atrasados frearia o progresso dos mais adiantados. Os Espíritos também se reúnem de acordo com seus níveis espirituais. Os mais elevados só convivem com os inferiores para instruí-los, ou em cumprimento de missão. O princípio da homogeneidade [...] penetra toda a Codificação, inclusive na doutrina das migrações coletivas de um mundo para outro.
A homogeneidade intelectual, em parte é assegurada nas escolas pelo sistema de seriação e promoção. Em parte, dissemos, porque a Filosofia Espírita da Educação recomenda compartimentação bem mais acentuada. Mais problemática do que essa dificuldade, no atual panorama educacional do mundo, será a implantação do mesmo princípio quanto aos níveis espiritual e moral dos educandos. Essa dificuldade poderá, em termos administrativos, ser bastante atenuada se levarmos em conta a possibilidade de que essa homogeneidade tenha por âmbito não a unidade escolar e sim um sistema escolar comunitário, regional, estadual ou nacional. Enfim, ao questões [para o futuro].”85

4.2.2 – Ensino Individualizado.

“Nos distanciamentos de graus evolutivos mais extremos, a educação deverá ser individualizada, através de técnicas próprias, visando atender às diferenças pessoais mais acentuadas. [...] Em que pese estar a maioria dos Espíritos encarnados na Terra em geral situados na faixa de Espíritos neutros, apresentam matizes e graus bem diferenciados, como nos indica (LE – Q.97).

4.2.3 – Controle Disciplinar.

“Para as classes dos pouco evoluídos e endurecidos, deve-se usar de toda a autoridade possível, a par de um sistema de disciplina preventiva, sem recusar o repressivo, se necessário; mas aplicá-lo com bondade. Tal preceito é uma
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84 Idem, p. 198 -199.
85 Idem, p.200


consequência da índole rebelde dessas classes, sem o qual não se efetivaria o processo educativo.
Um sistema disciplinar espírita deve, porém, ser definido segundo seis coordenadas:
1ª) „a subordinação não se achará comprometida quando a autoridade for deferida à sabedoria‟ (LE – Q. 878a);
2ª) „a autoridade [...] está subordinada à superioridade moral‟ (OP – p.70);
3ª) „punição temporária e proporcional à culpa e recompensa graduada segundo o mérito‟ (CI – 1ª,V,9);
4ª) „a responsabilidade é proporcional ao grau de adiantamento‟ (GE – III, 10 -2);
5ª) „a obediência é o consentimento da razão‟ (EE – IX, 8);
6ª) „o dever é o mais belo laurel da razão:descende desta como de sua mãe, o filho‟ (EE – XVII, 7 – 4).”

5 – O HOMEM É EDUCÁVEL?

“Toda educação, todo esforço pedagógico carrega, é evidente, o pressuposto de que o ser humano seja educável. [...] O historicismo dos fatos educativos postula a plasticidade humana, sensível à influência e à ação aperfeiçoante dos educadores. [...] As barreiras naturais opostas à educação, vistas pelo filósofo espírita, são bem mais altas do que quando olhadas ilusoriamente por outros pensadores, considerados os limites estreitos de apenas uma vida. Mas, também é verdadeiro que as fronteiras se ampliam quase ao infinito, divisada a existência total do Espírito.
Confluem nesse problema as fascinantes questões do inatismo, empirismo, determinismo, hereditariedade, ação do meio físico e social, as quais exigem respostas do arsenal doutrinário espírita”.86

5.1 - SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:

5.1.1 – Nem Otimismo, nem Pessimismo.

“A Filosofia Espírita da Educação não pode aderir ao otimismo pedagógico, [segundo o qual o homem seria integralmente formado pela ação educativa, uma vez que nenhum de seus predicados seria inato87] por incorporar o princípio das vidas sucessivas e, por essa via, as idéias inatas. Também não pode avalizar o pessimismo pedagógico [segundo o qual a educação não
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86 Idem, p. 205.
87 Idem, p. 206.


poderia vencer o bloqueio da hereditariedade e do meio físico e social88] porque reconhece a enorme eficácia do poder da educação no aperfeiçoamento do homem e por não consagrar a idéia da fatalidade nos atos da vida moral, tão vinculados à educação”.89

5.1.2 – Tendência para o Realismo Pedagógico.

“A Filosofia Espírita da Educação aproxima-se do realismo pedagógico [segundo o qual a criança é educável, mas não pode transpor certos limites impostos pelos seus condicionamentos psicológico e biológico hereditários90] que representa um meio termo entre as duas posições radicais anteriores. Entretanto, a solução espírita participa das duas posições, polarizadas por motivos diferentes do realismo, por uma cosmovisão muito original e exclusiva”.91

5.1.3 – Posição Singularíssima.

“A posição espírita, no ponto de vista da educabilidade do educando, é singularíssima. Participa do pessimismo pedagógico, quando confina a sua visão aos limites estreitos de uma única encarnação. Surpreendentemente, mantém alguma afinidade com o otimismo, quando vislumbra não determinada encarnação, mas a evolução total do Espírito. Em suam, a Filosofia Espírita da Educação tem um componente otimista, um componente pessimista e, ainda outro, realista”.92

5.1.4 – Educabilidade Integral.

“À luz da romagem do Espírito para a perfeição, a educabilidade do homem é integral, completa e garante, com o aval divino, a sua realização final como puro Espírito. Essa educabilidade total é uma inferência:
a) da natureza invencivelmente progressiva do imbatível Espírito humano, aberto, receptivo em menor ou maior grau, às transformações educativas. É um estado de permanente abertura a todo o processo cumulativo de perfeições escalonadas no decurso de sua longa e sofrida rota. É como se fora um estado de graça;
b) da condição interior de perfectibilidade que acompanha o Espírito desde a sua criação como uma estrutura ou enteléquia psíquica submersa na sua mais recôndita intimidade;
c) do dever de progredir: se todo Espírito tem o dever de progredir incessantemente até atingir a meta (GE – XI, 9), então, esse dever imposto pelo Criador deverá, por um mínimo de princípio de justiça e mesmo de
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88 Idem, p. 208.
89 Idem, p. 218.
90 Idem, p. 210.
91 Idem, p. 218.
92 Idem, p. 218.


coerência exigível, corresponder a uma possibilidade real [...] e ainda a um poder interno”.93

5.1.5 – Os Limitadores da Educabilidade.

“A educabilidade, mesmo assim, só a vemos como total na visão amplíssima do roteiro espiritual e pousada no ponto em que atinge a perfeição. Contudo, enfocando cada posição intermediária, a educabilidade é reduzida pelos fatores de limitação abaixo distribuídos e classificados em esquema.


5.1.6 – Educabilidade Progressiva.

“A própria educabilidade é também progressiva: vai-se ampliando na proporção em que o Espírito avança na senda do seu aperfeiçoamento. Assim considerada, é ela imanente ao processo educativo, numa relação de causalidade bilateral, isto é, participa ao mesmo tempo da causa e do efeito da educação. È uma consequência da aceleração evolutiva.” 95

5.1.7 – Prova, Hereditariedade e Educabilidade.

“O instituto espiritual e doutrinário da prova, que o Espírito escolhe livremente antes de reencarnar, vincula-se à educabilidade porque lhe imprime contornos definidos previamente, na própria escolha livre, temperando a tirania da hereditariedade e o guande do meio físico e social”.96
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93 Idem, p. 219.
94 Idem, p. 221.
95 Idem, p. 219.
96 Idem, p. 219.

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 5

A organização das classes de aula por equipes de cinco alunos, preconizada pela Filosofia Espírita da Educação, já representa intenso fomento da interação sócioescolar (vide Cooperação ou Individualismo – Filosofia do Método Pedagógico)”.119

6.2.6 – Aproveitamento do Fator Meio Social.

“Na educação é preciso considerar que o fator meio social exerce mais intensamente sua ação sobre o educando nos estágios intermediários da vida, enfraquecendo nas primeiras e últimas fases da existência. O pedagogo, o didata e o educador devem, por isso mesmo, utilizar este período intermediário para amortecerem nos seus educandos os ímpetos antissociais e fomentar os naturais predicados de socialidade humanos”.120

7 - O QUE SÃO A CRIANÇA E O ADOLESCENTE?

“[...] A infância nem sempre foi compreendida do mesmo modo. O entendimento que se tem tido dela tem variado no tempo e no suceder das escolas filosóficas, como também de acordo com a antropologia cultural de cada povo.
Dentro deste quadro de tantas variáveis, o que significam a infância e a adolescência para a Doutrina dos Espíritos? A criança realmente é inocente? Para que a sua fragilidade? O conceito de infância é unívoco, equívoco ou análogo, para o pensador espírita? O que vem a ser infância do Espírito na extensão de sua existência total?
Pretendemos, antes, exumar a soterrada controvérsia do ser ou não ser a criança um adulto em miniatura. Pô-la novamente em causa, em face das novas luzes que a Doutrina dos Espíritos poderá lançar sobre ela, num enfoque que as filosofias da educação anteriores jamais poderiam imaginar”. [...]121
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119 Idem, p. 250 -251.
120 Idem, p. 251.
121 Idem, p. 255.


7.1 - SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:

7.1.1 – Os Dois Sentidos da Condição de Adulto.

“A questão de ser ou não ser a criança um adulto em miniatura pode ser desenvolvida de modo muito surpreendente e original pela Filosofia Espírita da Educação, que nela introduz algumas variáveis.
O conceito de adulto, para o filósofo espírita, tem dois sentidos: Espírito adulto e corpo físico adulto. Conforme se verifica em (LE – Q. 191ª -2): „a vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que, para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que sua vida, que teve um começo, não terá um fim; que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita para o completo desenvolvimento [...]’. Em (LE – Q. 607a) descortinamos todo o panorama dos estágios do Espírito: infância – adolescência – juventude e madureza. As questões (LE – Q. 127 e 790) citam as fases de infância e madureza; e infância e adolescência em (CI – VIII, 11). As passagens (LE – Q. 115ª, 189, 190 e 564) insistem em destacar a infância do Espírito logo após a sua criação. E, antes dessa infância, o Espírito estaria em estado de embrião, conforme (LE – Q. 191ª – 2) e (CI – 1ª, IX, 20).
Não se trata de linguagem figurada, como se poderia pensar. Basta reler com atenção (LE – Q. 191ª -2). Entre outras razões, porque em ambas as infâncias – a biológica e a espiritual (LE – Q.189 e 564) - predominam os instintos; e, ainda, pela ignorância e imperfeições (LE – Q. 115ª). Há, porém, uma diferença fundamental entre os dois perfis evolutivos. O Espírito nunca é submetido à velhice, ao depauperamento, com é o corpo físico. A madureza é o estágio final e permanente do Espírito imortal, conservando toda a perfeição relativa penosamente conquistada.
Em princípio, pode um Espírito adulto abrigar-se num envoltório físico infantil (LE – Q. 379), desde que ainda se ache submetido à corrente das encarnações. Em contrapartida, também é possível que a veste somática envelhecida contenha um Espírito infantil. Talvez não no nosso planeta, cujos habitantes são Espíritos que já alcançaram um certo grau evolutivo além do da infância espiritual (vide LE – Q. 190).
Se, por um lado, a educação moderna, mais nitidamente a partir de Rousseau, não considera a criança um adulto em miniatura, por outro lado, a educação espírita terá que admitir que determinadas crianças sejam adultos. “Isto é, Espíritos evoluídos inscritos temporariamente em organismo infantil”.122
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122 Idem, p. 261 – 263.

7.1.2 – Relação Ser – Criança / Ser – Adulto (Relação Vitoespiritual)123.

“A Filosofia Espirita da Educação introduz um sério complicador no problema da relação ser - criança / ser - adulto, transbordando – ou pelo menos amplificando – o campo da Psicologia Genética ou Evolutiva, dando-lhe uma terceira dimensão. Estamos diante de um fato fulgurante, até agora despercebido ou desprezado pela Psicologia Educacional, mas que ela terá de enfrentar mais cedo ou mais tarde. Somente incorporando ao seu domínio essa relação vitoespiritual, com seus fascinantes parâmetros, poderá a educação atingir patamares superiores de compreensão da criança e, por via de consequência, sair do imobilismo em que se cristalizou”124.


“Terá, para isso, que estudar as consequências pedagógicas dessa relação, estabelecendo uma teoria e, no campo prático, no campo prático, determinar,
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123 “O ser, em ambos os membros da relação, deve ser considerado como verbo e não substantivo”. (Nota do autor).
124 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 263.
125 Idem, p. 262.


por processos técnicos, para cada educando, a composição etária físicoespiritual com o seu efeito multiplicador.
Justamente nesse encargo, a Filosofia de Educação e Pedagogia Espíritas, pelas suas credenciais de legatárias da Terceira Revelação nessa área, dela recebem a outorga e a investidura para iluminarem a senda a ser percorrida pela Psicologia Educacional Espírita. Rasgam, assim, juntas e promissoramente, horizontes muito mais longínquos para a educação”.126

7.1.3 – Manifestação Física da Idade Espiritual.

“O Espírito, adulto, jovem ou criança, em regra, só se apresenta na vida física, no seu verdadeiro grau ou idade espiritual, a partir daquele ponto da existência que denominados idade axial. É o que nos indicam as passagens da Codificação (LE – Q. 385 – 1, 2 e 4), (EE – VIII, 4 – 2 e 4).
Nesse ponto crítico, em torno de 15 a 20 anos de idade física, a idade espiritual do encarnado se manifesta em quase toda a sua autenticidade. Mostra a sua alma como é verdadeiramente: criança, adolescente, jovem ou adulto espirituais. Assim acontece porque é nessa linha eixo que aflora do perispírito a massa crítica arcaica até então reprimida das virtualidades relativas, das insuficiências e das imperfeições.
Ao mesmo tempo, nessa transição ou estágio, é retomado o processo de redução, muito lento, aliás, das virtualidades absolutas. Estas se atualizam pela sua transformação em relativas para, como tais reaparecerem na encarnação seguinte, já incorporadas definitivamente, porque atualizadas, ao patrimônio anímico consolidado.
Em cada experiência ou vida física, seu houver um mínimo de progresso espiritual, seguramente se processou também um mínimo de conversão de virtualidades absolutas em relativas. É uma pequena atualização do potencial total do Espírito. Ambas são transformações ou reduções. Duas faces do mesmo passo dado adiante no prosseguimento da marcha ascensional do Espírito. É o próprio processus educativo em marcha”.127

7.1.4 – Funcionalidade Espiritual da Infância.

1ª) Infância como Transição.

“A infância para o espírita é transição; o vau de passagem de uma para outra existência física. As outras correntes religiosas e filosóficas consideram a infância como um estado inicial absoluto do ser humano e, por isso, jamais poderão entendê-la. Ficam perplexos diante da diversidade de formas, de interesses, graus de inteligência, de bondade ou maldade, de qualidades e pendores com que se apresentam as crianças. Em (LE – Q. 199ª – 3), o Codificador pergunta: „Donde, porém, provirão instintos tão diversos em
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126 Idem, p. 263 -264.
127 Idem, p. 264.


crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências?‟ Mesmo valendo-se da hereditariedade biológica, do meio doméstico e social como fatores diversificadores e modeladores da individualidade, não conseguem explicar o mistério da puerícia – pueri misterium, quase ininteligível, „fascinans, numinoso‟128 - por ultrapassar a ciência oficial e transcender à sua visão meramente terrena.
“A Filosofia Espírita encara-a como um estágio intermediário, in transitu, de passagem, a cujos condicionamentos o Espírito em sua marcha progressiva foi submetido um sem número de vezes”.129

2ª) Infância como Repouso do Espírito Reencarnante.

“Poderíamos até expressar que a infância seja uma convalescença do transtorno, da árdua travessia do Espírito, da espiritualidade para nova investidura na carne; do mergulho na matéria. O nascimento implica num traumatismo, conforme estudo psicanalítico de OTTO RANK130. A gestação seria a fonte derradeira do inconsciente psíquico e o fenômeno traumático do nascimento, o „último substrato biológico concebível da vida psíquica, o núcleo mesmo do inconsciente” 131. Assim mesmo, RANK foi o psicanalista que remontou mais profundamente na busca das fontes profundamente na busca das fontes primordiais do inconsciente. Mais um passo e teria alcançado as verdadeiras matrizes: as vidas pretéritas e o perispírito.
O renascimento é traumático. O Espírito reencarnante é submetido a vários processos de magnetização, de contração do perispírito (GE – XI,18), de esquecimento do passado. Uma verdadeira lavagem mental, resultando na perturbação de que é acometido (LE – Q. 382). , (LE – Q. 380), (EE – VIII, 4 – 2). Por isso mesmo, requer um período transitório de repouso (LE – Q. 382). Aí está a primeira função da infância: „Esse estado corresponde a uma necessidade, está na ordem da Natureza e de acordo com as vistas da Providência. É um período de repouso do Espírito’.

3ª) Plasticidade à Educação.

“A maleabilidade à ação educativa dos pais, dos primeiros mestres, é a segunda função, de conformidade com aquela ordem da natureza: „Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante este período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo‟ (LE – Q. 383).
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128 “Adaptação dos qualificativos de RUDOLF OTTO, aplicados ao sagrado e a Deus” (Nota do autor).
129 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 264 – 265.
130 Otto Rank (1884-1939) era um estudante de 21 anos quando encontrou Sigmund Freud. Rank seguiu adiante para fazer um doutorado em psicologia e por fim tornar-se par de Freud. Ele via cada pessoa como um artista cuja tarefa final é a criação de uma personalidade individual. Para Rank, o neurótico é um artiste manque, uma pessoa cujo forte impulso criativo é frustrado pelo uso negativo da vontade. Disponível em: http://www.psiquiatriageral.com.br/psicoterapia/otto.html. Acesso 03/10/2011.
131 RANK, Otto: “O Traumatismo do Nascimento”, p. 11. (Ed.Marisa, RJ – 1934) - Nota do Autor.


A (LE – Q. 385 – 7) vem em reforço desse esclarecimento, com mais detalhes: „[...] a delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-lo progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores‟. Observe-se no final dessa questão o verbo reformar como adequa-se corretamente à idéia de educação espírita: não formação, mas reforma, dada a preexistência do Espírito. A (LE – Q. 798) confirma o pensamento: „Só a educação poderá reformar os homens‟.
A plasticidade do Espírito na puerícia é ainda confirmada em (LE – Q. 582) e (EE – VIII, 4 – 3); „[...] durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele, o Espírito, é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais‟.” 132

4ª) Atratividade.

“Se só o amor reconstrói e edifica, a criança, desde o início, deve ser amada e, para isso, necessita atrair esse desvelo e ternura dos seus pais. A fraqueza do ser juvenil e a sua aparente inocência são os recursos eminentes da Providência. Segundo „as leis que regem o Universo‟, a captação desse amor é indispensável ao progresso do Espírito recém encarnado. É para esse mesmo efeito que o reencarnante entra em perturbação, perde a consciência de si mesmo e esquece o seu passado e, ainda, desce à carne em corpo físico transitoriamente minúsculo e frágil. É o que nos esclarece (EE – VIII, 4): „P – Pois que o espírito da criança já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? R – Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse para lhe cativar a solicitude. Ela na houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as idéias de um adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado‟; e mais adiante, „o Espírito, pois, enverga temporariamente a túnica da inocência [...]‟. Imobilizando-se a carga negativa genótipoespiritual contida na auto-herança, o Espírito encarnado, nas primeiras idades, vai progredindo an passant.
A forma aparente da inocência das crianças é reiterada em (LE – Q. 385 – 1 e 4): „Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acariciais como se fossem parcelas de vós mesmos [...]; as crianças são seres que Deus manda a novas existências. Para que lhes possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobre-se-lhe as más ações com a capa da
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132 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 265 – 266.

inocência. Essa inocência não constitui superioridade real em relação ao que eram antes, não [...]. Não foi, todavia, por elas somente, que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e, sobretudo, por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que a caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e as cercam dos mais minuciosos cuidados‟.
Em (LE – Q. 199a – 3) deparamos novamente com a inocência putativa ou suposta da criança: „[...] não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem tantas crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia a perfpidia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhe dão?‟.
Reitera ainda a Codificação: „[...] já a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura‟ (EE – VIII, 3 – 2).
Essas passagens da Codificação informam a idéia que Humberto Mariotti denominou de teoria aparencial da criança: „A Filosofia Espírita da Educação afirma, como premissa fundamental pedagógico educacional, a teoria aparencial da criança, visto que por trás de cada criança encontra-se o ser com todos os seus graus de evolução palingenésica. Para a educação espírita, a infância é apenas uma etapa fugaz e cambiante e não uma condição estável, espiritualmente considerada‟.133
„A teoria aparencial da criança rasga o último véu da Psicologia Infantil e da Adolescência, revelando que precisamos enfrentar essas criaturas inocentes com maior realismo. Porque, se elas são inocentes apenas na aparência e escondem sua realidade íntima nas formas físicas em desenvolvimento, manda a boa lógica que as tratemos com mais desembaraço. [...] A teoria aparencial é evidentemente a base sobre a qual devemos desenvolver a Psicologia Evolutiva da Criança e do Adolescente e a Psicologia Espírita da Educação. Partindo do que podemos chamar o fato aparencial, que decorre da lei da reencarnação, temos que encarar o desenvolvimento infantil como um processo psicológico de afloramento, não só de disposições culturais, mas também de conteúdos. Por trás da aparência de tabula rasa, de mente desprovida de qualquer conhecimento – pretensiosa herança do empirismo inglês – sabemos que existem profundezas da memória espiritual, da consciência subliminar de que tratou Frederic Myers. E, apoiados no trabalho modelar de Myers e nas conquistas da Psicanálise e da Parapsicologia, podemos, adicionado a essas contribuições o instrumental espírita, aplicar na educação um novo tipo de maiêutica socrática para arrancar a verdade do fundo do poço‟.134
_______________________
133 Mariotti, Humberto, in revista Educação Espírita, nº 4, p. 22 - 23 – EDICEL Editora, São Paulo, 1973.
134 Simonetti, J. Amaral, in revista Educação Espírita, nº 5, p. 70 - 72– EDICEL Editora, São Paulo, 1973.


Alinhamos as seguintes Expressões encontradas na Codificação para a aparência da criança: túnica da inocência (EE – VIII, 4, todo); capa de inconsciência (LE – Q. 385, 2 – 4); aspecto da inocência (Idem); imagem da inocência (EE – VIII, 3 -2).
Concluindo: „A infância não é só útil, necessária e indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo‟ (LE – Q. 385. 8)”.135

7.1.5 – Funcionalidade Espiritual da Adolescência.

“O conceito espírita de adolescência é extraído de (LE – Q. 385). A adolescência é o período de desenvolvimento orgânico e mental do Espírito encarnado, que segue ao da infância e, após o qual, esse „Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era‟ na encarnação precedente. Surge o seu „caráter real e individual em toda a sua nudez‟. A adolescência encerra-se em torno da idade axial, iniciando a juventude e o estágio de abertura do Espírito, quando se manifesta a carga auto-hereditária.136
Na adolescência, a plasticidade à heteroeducação vai decrescendo; o floramento das virtualidades relativas se consuma para a apresentação do Espírito no palco da vida despido dos véus da inocência e da fragilidade. Portanto, para o Espírito,a adolescência é o progressivo e indispensável desvelamento daquilo que foi oportuna e zelosamente encoberto pela Providência no período da infância, em conformidade com „as leis leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo‟ (LE – Q. 385. 8). Enquanto a infância é opaca, o final da adolescência é luminoso, transparente, em relação à condição do Espírito reencarnante. ”137

7.1.6 – Redutibilidade do Período de Infância e a Educação Libertária.

“Já desenvolvemos essa teoria, devidamente fundamentados na Codificação Kardeciana: (LE – Q. 188, nota 1 – 4), (EE – III, 9 – 2).
Eminentes pedagogos têm-se pronunciado a favor da educação libertária. Assim, TOLSTOI, HELLEN KEY, GURLITT e A. S. NEIL, expoentes da liberdade total do educando.
Vamos, aqui, lançar uma hipótese que alguns podem considerar como arrojada. O pensamento que acometeu esses pedagogos não seria a
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135 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 266 – 268.
136 Ver quadro p. 38.
137 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 268.


antecipação, um eco em sentido contrário, a premonição das condições da criança nos mundos superiores? (LE – Q. 188, nota 1 – 4) e (EE - III, 9 – 2). Não seria a visão do reduzido período da infância nesses mundos, nos quais as crianças não são mais obtusas como no nosso orbe (LE – Q. 183) e, por isso mesmo, mais responsáveis e conscientes? A educação radicalmente libertária não seria, portanto delírio de pedagogos, mas se sentiram eles invencivelmente atraídos pela antevisão de um futuro, infelizmente ainda remoto. A liberdade interior, facultada pela elevação do Espírito naqueles mundos, possibilita e recomenda a concessão de maior liberdade em matéria de educação, a limites que jamais poderíamos imaginar no nosso planeta. O império do Espírito sobre a carne, impulsos, instintos e paixões [...] mesmo na idade infantil, credencia a educação libertária (mas só nesse caso), sem nenhum receio dos discutíveis resultados que ela tem causado no nível terreno, em quase todas as suas aplicações, conforme nos tem informado a literatura pedagógica.
A esse raciocínio poder-se-ia objetar que é justamente nas raças e povos menos evoluídos, como os primitivos, que se verifica a precocidade biológica e mental das crianças e adolescentes. Poderia esse fato antropológico vulnerar a nossa propositura? Respondendo: a Natureza, sábia como é, atende às necessidades deles mais cedo porque vivem principalmente para assegurar a sobrevivência e perpetuação da raça. A civilização, diferentemente, cria novas necessidades (LE – Q.795 – 2) que vão se acumulando: os imperativos morais, culturais, políticos, econômicos, profissionais, etc. Para essas necessidades, a precocidade dos povos primitivos é quase nula. É o que nos informa (EE – XXV, 2 -2): „na infância da Humanidade o homem só aplica a inteligência à cata do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos‟.
Por esse lote de suportes doutrinários, entendemos que a Codificação Espírita pode absorver a nossa tese: de que as tentativas pedagógicas de educação libertária são premonições da liberdade desfrutada pelas crianças nos mundos superiores”.138

7.1.7 – Idade Espiritual da Humanidade.

“Confrontando algumas alusões da Codificação Espírita, podemos concluir que a Humanidade terrena transita pela faixa etária espiritual da adolescência. Vejamos. Esse estágio situa-se entre a infância e a juventude espirituais. Ora, não poderíamos estar na juventude porque nessa idade já os Espíritos não estão sujeitos à roda das reencarnações: „a união da alma com o corpo, em ser necessária aos seus primeiros progressos, só se opera no período que poderemos classificar como de sua infância e adolescência, atingido, porém, que seja, um certo grau de perfeição e desmaterialização, essa união é prescindível, o progresso faz-se na sua vida de Espírito [...]‟ (CI – 1ª, VIII, 11).
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138 Idem, p. 268 -269.

Ora, a humanidade terrena também não está na infância espiritual; „A superioridade da inteligência, em grande número de seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado \á encarnação de Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador‟ (EE – III, 13).
As almas dos selvagens da Terra já emergiram da infância pura e alcançaram um grau intermediário entre ela e a adolescência denominado infância relativa (LE – Q. 191).


Certos indicadores nos levam a admitir que nessa idade de adolescência, em que se acha a humanidade terrena, as almas estejam de um modo geral, dominadas pelas sensações que, geradas pela transformação ou abrandamento de alguns instintos, ordenam-se, num futuro ainda longínquo, a se sublimarem em sentimentos puros: „Em sua origem o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor [...]‟ (EE – XI, 8).
„A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar esses últimos, sufocando os germens latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho‟ (EE – XI, 8 – 3)”.140
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139 Idem, p. 170.
140 Idem, p. 269 - 271.


ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 4

5.1.8 – Núcleo Rígido do Espírito.

“Em cada encarnação, a educabilidade é restrita à parte dúctil do Espírito. A educação, entretanto, não pode vencer o núcleo ainda rígido, endurecido, desse Espírito. A imagem material que podemos apresentar dessa condição é a de uma massa de argila plástica envolvendo um núcleo de granito que se mantém resistente aos apelos da educação durante todo o transcurso de uma existência física”.97

5.1.9 – O Espírito com Herdeiro de Si Mesmo.

“O Espírito é herdeiro de si mesmo. Mais do que dos seus genitores biológicos, porque ao reencarnar traz uma alentada bagagem de idéias inatas, experiências e pendores, em proporções definidas de virtudes e imperfeições. É um legado de si próprio, de suas remotas lutas, vitórias e fracassos”.98

5.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

5.2.1 – Expectativa Limitada.

“O educador espírita deve estar prevenido de que não deve esperar demasiado de seu educando em resultados manifestos na encarnação considerada, para não se impacientar nem se frustrar. Antes, deve perseverar e considerar, no amplíssimo espectro do roteiro espiritual, a sua valiosa e irrecusável contribuição na construção das almas imortais e perfeitas”.99

5.2.2 – Exigências Proporcionais.

“Nem o educador espírita, nem a instituição educacional, podem exigir do educando o que está fora do seu programa reencarnatório. Por isso, todo educador espírita deve ser dotado de grande sensibilidade e profunda intuição espiritual para identificar, em cada aluno, aquele núcleo rígido e resistente presumido pela Filosofia Espírita da Educação”.100

5.2.3 – Preparação do Educador.

“O mestre espírita não pode ser formado pelos atuais padrões adotados pelas nossas faculdades de filosofia e [pedagogia]. Não seguem elas nenhuma filosofia da educação e muito menos a espírita.O educador espírita só poderá sê-lo se receber uma formação especial pelo menos em um curso de pósgraduação que lhe [habilite a reconhecer e lidar com] as realidades e condições do Espírito do educando. Os seus poderes intuitivos, e quiçá até mediúnicos, terão que ser muito bem desenvolvidos para, de um certo modo e
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97 Idem, p. 219.
98 Idem, p. 220.
99 Idem, p. 222.
100 Idem, p. 222.


num certo grau, poder o educador considerar e intuir objetivamente – e não apenas como uma tese – o [reencarnado] em cada um de seus discípulos individualmente considerados”.101

5.2.4 – Identificação dos Pendores Inatos.

“Com o auxílio da Psicologia, Biologia e Sociologia Educacionais [...] o educador deverá esforçar-se para assinalar as tendências inatas desejáveis de cada educando, para dinamizá-las e ativá-las, trazendo ao nível da consciência. Ao revés, tratamento diferente para as tendências que representarem inferioridade, cujas expressões devem ser reduzidas”.102

5.2.5 – Sistema de Avaliação.

“Abolição de qualquer sistema de avaliação escolar (intelectual, disciplinar ou moral) com base na heterossuperação. A Filosofia da Educação Espírita demonstrou-nos, à saciedade, a extensa e variada gama de níveis espirituais. Seria tão aberrante julgar um educando pelo outro quanto confrontar um aluno do curso (fundamental) com outro de grau universitário. Somente a autossuperação e o seu vetor, a autoemulação, poderão fundamentar um sistema de avaliação escolar espírita”.
O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porém uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar (EE – III, 10).103

5.2.6 – Profilaxia Pedagógica do Orgulho e da Vaidade.

“Esses traços da natureza humana obstruem o progresso do Espírito, porque comprometem a educabilidade. São barreiras dispostas entre o educador e a plasticidade do educando. Cumpre removê-las ou reduzi-las. Técnicas deverão ser inovadas e instauradas, não frias e materiais, mas tendo sempre por suporte o amor e a caridade sempre existente no âmago do homem [...] À Psicologia Educacional Espírita cabe instrumentar-se para estudar a gênese psicológicoespiritual do egoísmo, oriundo do instinto de conservação através do orgulho e cujos últimos efeitos são estas suas expressões tangíveis: a miséria, os conflitos sociais e o estacionamento espiritual pela atrofia do Espírito. O vislumbre do panorama das vidas sucessivas é um poderoso redutor na profilaxia do orgulho e provoca fissuras no seu complexo estrutural.
Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso (OP – p. 228).
Em todo o capítulo 23 (O Egoísmo e o Orgulho) de Obras Póstumas, encontrarão o didata e o educador espíritas magnífico catálogo de sugestões e
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101 Idem, p. 223.
102 Idem, p. 223.
103 Idem, p. 223.


de idéias condutoras. Nessa mesma obra, encontrará o leitor a esperança de um redutor pedagógico do egoísmo, ou seja, a cooperação em trabalhos escolares. Por isso, a cooperação deverá elevar-se a um eminentíssimo status no âmbito da educação espírita. ”104

5.2.7 – Teoria da Maturação Espiritual.

“Se a natureza não dá saltos, o Espírito também não. Não é exigível do educando, agora considerado na perspectiva de toda sua existência espiritual, procedimentos, valores, conhecimentos, virtudes, para os quais ainda não amadureceu. [...] É a maturação que cadencia o desenvolvimento do Espírito e se manifesta sob a forma de gradação que limita (programa) a educabilidade. Essa teoria é a contrapartida, a nível genéticoespiritual, da teoria da maturação ontogênica do ser humano reencarnado, devida a Gesell105, Piaget e outros”.

6 – O QUE EDUCA O EDUCANDO?

Filósofos, pedagogos e psicólogos, têm polemizado sobre os fatores que mais atuam sobre o educando [...] Fatores internos, hereditários e psicológicos? Ou externos, como o meio físico, ambiente social, experiências e educação?
“Podemos classificar em três grupos os pensadores que elaboraram teorias sobre o desenvolvimento mental do homem: 1º) os inatistas, com suas idéias do primado dos fatores internos; 2º) os empiristas, defensores dos fatores externos; 3º) os partidários da interação ou convergência dos fatores internos e externos”. 106

6.1 – SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:

6.1.1 – Convergência e Interação dos Três Fatores.

“A Filosofia Espírita da Educação recolhe a idéia de que, na formação humana, concorrem com o educador (sua ação e influência pessoais) os fatores impessoais: herança, meio e educação (como processo). [...] O meio físico e o ambiente social exercem forte pressão sobre a personalidade e caráter do educando, uma vez que não pode ele, nem deve, viver no insulamento (LE – Q 766 a 772): a vida social é indispensável ao seu aperfeiçoamento. Apesar de o Espírito encarnado estar submetido a essa trama de vetores, não está a ela subjugado inexoravelmente. Sofre-lhe a influência, por vezes penosa, para poder desenvolver a sua capacidade de resistência, numa ascese espiritual, até o domínio total do Espírito sobre a matéria. Nesse exercício, despoja-se de suas imperfeições e, por isso, a prova cármica oferecida pelos meios físico e social assume papel de alta relevância educativa”. 107
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104 Idem, p. 224.
105 Idem, p. 224 -225.
106 Idem, p. 229.
107 Idem, p. 241.


6.1.2 – A Auto-hereditariedade.

“A herança do passado pessoal (de si mesmo), imanente, manifesta-se nas idéias gerais, nos valores e comportamentos do educando sob a forma de tendências, intuições e consciência, formando o que se poderia chamar de personalidade arcaica, de penas e alegrias constituídas. Além dessa herança espiritual, o Espírito encarnado recebe o influxo da carga genética orgânica que pode facilitar ou embaraçar sua manifestação”.108

6.1.3 – A Ontogênese Psíquica Recapitula a Espiritogênese.

“O termo recapitulação nesse estudo é adotado no sentido particular de reação do passado anímico sobre o presente, despontando gradativamente sob formas esvaziadas de conteúdos materiais. É o conjunto das tendências, intuições, resoluções e experiências do pretérito; metamorfoses dos atos, fatos e episódios de outras encarnações. Como nos indica (EE – VIII, 4 - 3): A partir do nascimento, suas idéias [Espírito encarnado] tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem. Equivale a dizer que a ontogênese recapitula a espiritogênese já realizada. Mas, uma vez completada a reminiscência espiritual e inconsciente, ultrapassa-a, aditando em cada existência alguma perfeição que o Espírito não havia conquistado. Completa, assim, ao termo da evolução, o ciclo: instintos + sensações + sentimentos+ amor (EE – XI, 8), através dos estágios infância + adolescência + juventude + madureza (LE – Q. 607a). Mas, o ser encarnado não recapitula mentalmente os estágios psíquicos da espécie, como pretendiam os partidários da lei biogenética. Nem recorda, o que é óbvio, os estágios que o Espírito ainda não vivenciou. A extensão da recapitulação é , assim, proporcionada à extensão da existência (espiritogênese) que o Espírito já percorreu”.109

6.1.4 – Convergência dos Fatores Internos e Externos.

A Filosofia Espírita da Educação resiste em reconhecer o primado de qualquer um desses fatores de modo permanente e para todos os Espíritos. “A predominância deste ou daquele fator é transeunte. Em certos Espíritos, em determinadas encarnações, e, nestas mesmas, em determinados períodos, pode atuar de modo mais decisivo um determinado fator”.110

6.1.5 – Períodos de Predominância de Cada Um dos Três Fatores.

“Nos primeiros anos de vida, até o desenvolvimento integral do seu organismo, o educando recapitula e atualiza (potência ato)111 as perfeições já realizadas em outras encarnações, até o grau que alcançará na última vida terrena (LE –Q.218ª, final), (EE – V ,11 – 4)”.
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108 Idem.
109 Idem, p. 242.
110 Idem.
111 Segundo o autor, “estamos adaptando ao nosso estudo a teoria aristotélica do ato e potência”. Nota de rodapé, p.242.


“Nessa primeira fase, é mais preponderante o fator educação (LE – Q. 383), porque a carga autogenética espiritual está latente. Numa segunda fase, no fim da adolescência, a potência passa ao ato e o „Espírito retorna à natureza que lhe é própria e se mostra tal qual era‟ (LE – Q.385). A partir desse ponto, as suas virtualidades até então reprimidas passam a atuar vigorosamente, igualando a força da educação e tendendo a sobrepujá-la. O ambiente social também passa a atuar desde que a criança toma consciência dele e de seus influxos. Temos aqui uma regra muito geral, um esquema sujeito a constantes oscilações e defasagens particularíssimas de cada educando”.
“Explicando: o Fator Educação é dominante desde o nascimento, quando a plasticidade da criança é mais acentuada (LE – Q. 385, 7), (LE – Q. 582), (EE – VIII, 4 - 3); essa receptividade, com o avanço dos anos, tende a reduzir-se, amortecendo a força da educação. O Fator Hereditariedade – deve ser tomado aqui segundo a concepção espírita, como herança de si mesmo – na fase infantil e da adolescência, permanece em estado de latência, para aflorar e preponderar após a adolescência (LE – Q. 385) e até o final da existência física. O ambiente social, por sua vez, no início pouco influi; depois disso é bastante atuante e termina por se enfraquecer; o fator social requer consciência dele para produzir efeitos mais acentuados no educando, o que não se dá na primeira infância. Por outro lado, na velhice, pela adaptação ao meio presumida como total, o fator social não produz mais modificações acentuadas”.
“Esta é uma conclusão privativa da Filosofia Espírita da Educação, comportando, contudo, análises muito atentas e cautelosas [...]”.112

6.1.6 – Virtualidades Absolutas e Virtualidades Relativas.

“Podemos distinguir dois tipos de virtualidades: as absolutas e as relativas. As absolutas são as que ainda, em nenhuma encarnação, foram realizadas; as relativas são as que já foram realizadas em anteriores encarnações, mas que, na presente, aguardam, em latência, o desenvolvimento orgânico para se manifestar. Um exemplo dessas virtualidades, encontramos em (EE – XIX, 7 – 2), relativamente à conquista da fé; e também em (GE – I, 38 -2) sobre qualidades tanto morais quanto intelectuais”. 113

6.2 – CONSEQUÊNCIAS DA SOLUÇÃO DA ESPÍRITA:

6.2.1 – Idade Axial (mais diretamente endereçada à Psicologia Espírita da Educação). Acompanhar pelo quadro, página38.
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112 Idem, p. 242-243.
113 Idem, p. 244.


“Esta faixa etária poderia também ser chamada de idade eixo (porque nela se engrazam dois sistemas ou estágios), ou ponto morto (porque nela se processa uma mudança de marcha), ou, ainda, área de afloramento (porque nela afloram os predicados até então subjacentes ao Espírito, ou encerra-se esse afloramento). Este eixo baliza o final da adolescência, entre os quinze e vinte anos de idade normalmente (LE –Q.385, 1-4) e inaugura a juventude. Constitui-se uma idade crítica para a Pedagogia e, particularmente, para a Psicologia Educacional Espírita. Este eixo assinala:
- a retomada do Espírito de sua verdadeira natureza (LE – Q. 385), no nível que atingiu na encarnação anterior;
- o encerramento da recapitulação da espiritogênese no subconsciente;
- o fechamento do estágio ou idade da graça educativa;
- a abertura do Espírito à incorporação de novas perfeições e aprimoramento das já conquistadas;
- o início da manifestação consciente da carga autohereditária;
- o aparecimento de mais um limitador da educabilidade constituído pela carga genótipoespiritual na autoherança.
A idade axial, como causa final, atrai e determina todo o desenvolvimento anterior; como causa inicial, condiciona os estágios posteriores. A rigor, não é um eixo, mas antes, uma faixa de transição da adolescência para a juventude, com um eixo central meramente convencional.
A idade axial nem sempre tem uma posição fixa. Varia de indivíduo para indivíduo, de encarnação para encarnação e, até, de um mundo para outro (EE – III, 9 – 2). Esse fenômeno psicogenético poderíamos denominar de deslocamento ou oscilação do meridiano psicopedagógico. Pode situar-se aquém da posição normal (mais ou menos entre quinze e vinte anos) por uma antecipação ou recuo. Também pode posicionar-se além dela por um avanço ou adiamento”.

6.2.2 – Redutibilidade do Período de Infância.

“Todo o cuidado deve ter o pedagogo espírita com suas normas; o didata com suas técnicas; e o educador espírita com sua intuição, improvisação e espírito prático e criador, para evitar avançar o meridiano psicopedagógico. Representaria um atraso no progresso do educando. Se possível e recomendável, deveriam permitir o recuo da idade axial, o que representaria uma aceleração do processo educativo pela antecipação do início da juventude-madureza. Os Espíritos mais evoluídos que habitam mundos superiores ao nosso têm um período de infância bem mais reduzido que o relativo à Terra (LE – Q. 183), (EE – III, 9 – 2). (LE – Q. 188 -4).[...]
Já é reconhecida pela Pedagogia e Psicologia da Aprendizagem a possibilidade de métodos especiais poderem acelerar o desenvolvimento mental dos educandos sem risco do seu equilíbrio. O próprio meio social hodierno concorre poderosamente para esse efeito pelos seus profusos meios de comunicação de massa. [...] A criança de hoje é mais precoce do que as de cinquenta anos atrás. Talvez não espiritualmente. Qual a força endógena que induz infantes e adolescentes a quererem vivenciar antecipadamente idades ulteriores? Tal disposição assemelha-se a uma anteléquia ordenada a um remoto futuro da Humanidade. O condicionamento estrutural psíquico pré determinaria a redução lenta e gradual do período de infância, através de vidas sucessivas e da hierarquia progressiva dos mundos habitados”.114


6.2.3 – Estágio da Graça Educativa.

“Apesar de a educação terrena, convencional e sensorial, só dever encerrar-se com a morte corporal, o maior esforço educativo deve ser desenvolvido nos primeiros anos da vida (LE – Q.383 e 385 – 7) e até o final da adolescência, balizado pela idade axial. Aclamamos este período como o Estágio da Graça Educativa. Isto porque, é nesse período que o educando apresenta as melhores condições de plasticidade, como é reconhecido por todas as pedagogias, inclusive a Espírita. Porém, por que esse estágio da graça se encerra a termo? Por que não se prolonga indefinidamente, como seria desejável? A Pedagogia Espírita descortina aos estudiosos a sua própria e original interpretação: a partir da idade axial, a carga genótipoespiritual, manifestada pela auto hereditariedade (LE – Q. 385), emerge na economia mental do educando como um limitador da educabilidade – o peso do passado anímico. Mas, por outro lado, também pode ampliar a educabilidade: educação gera educação, isto é, promove maiores possibilidades aos esforços educativos ulteriores.
Esse Estágio da Graça assim o é pelo amortecimento de alguns instintos; pelo bloqueio e contenção de maus pendores, sem janelas para o exterior; pelo repouso em que se acha o Espírito reencarnado e, principalmente, pela condição de latência da auto hereditariedade e do seu efeito mais indesejável de limitação da educabilidade acima referido. A Pedagogia Espírita ainda deve considerar a função da adolescência, que é a de preparar o Espírito para „retomar a natureza que lhe é própria e mostrar-se tal qual é‟ (LE – Q. 385).
A infância e a adolescência, de certo modo, prolongam a gestação intrauterina; só após esses dois períodos, o Espírito reencarnante nasce para a nova vida, porque só a partir daí se apresenta tal qual era antes de reencarnar como novo ponto de partida, conforme nos indicam (LE – Q. 218ª, final), (EE – VIII, 4 – 2), (EE – V, 11 – 4) e (QE – 19, 9, final). Corpo e Espírito não nascem, ou melhor, não surgem para a vida no mesmo dia. [...] André Luiz115 considera „que o trabalho completo [reencarnatório], com plena integração [do Espírito] nos elementos físicos, somente se verificará‟ aos sete anos. O período entre a concepção e o renascimento denomina de reencarnação inicial ”.116
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114 Idem, p. 146 -148.
115 Missionários da Luz, PP.219, 220 e 249.
116 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 248 -249.


6.2.4 – Estágio de Abertura do Espírito.

“A partir da idade axial, como linha de partida e também como base de apoio, o Espírito encarnado inicia um processo de progressiva abertura para a conquista de novas perfeições e de aprimoramento das já existentes. O sucesso irá depender do educando (boa vontade, energia, esforço pessoal, etc.), como agente espiritual de não só reprimir os vetores negativos de sua carga genótipoespiritual, como também de reforçar os positivos da sua auto hereditariedade. Assim compreendendo, o pedagogo e o educador espíritas deverão aproveitar essa oportunidade única para poderem distinguir as virtualidades relativas das absolutas. O que será possível, desde que dotado o educador espírita de percepções extrassensoriais ou mesmo mediúnicas.
Essa abertura é como um renascimento do Espírito que estivera, até então, em processo de retomada de suas qualidades e defeitos das encarnações anteriores pela atualização das virtualidades relativas.
Até a idade axial, ele recapitulou antigas lições, se assim nos podemos exprimir. A partir daí renasce, retoma o seu aperfeiçoamento, reenceta a sua marcha evolutiva atualizando alguma virtualidade absoluta.
STANLEY HALL admitia um período de renascimento e outro a ele sucessivo de aquisição e desenvolvimento. É a partir daí que a reencarnação justifica a sua principal razão de ser: o passo adiante que faculta ao Espírito na sua marcha ascendente, a partir desse ponto, pela autoeducação.
Poderíamos dizer que esses acréscimos de novas perfeições seriam semelhantes às mutações da genética biológica. Seriam mais propriamente minimutações, um plus aditado ao patrimônio já conquistado do Espírito na sua rota evolutiva (GE – I, 19-9). Vide ainda (QE –III, 118 -3) e (GE – I, 42, nota 1). As virtualidades relativas predominam no estágio da Graça Educativa, mas continua o seu afloramento com menos intensidade na fase de Abertura do Espírito, na qual as virtualidades absolutas passam a manifestar-se predominantemente.
Poderemos até ensaiar uma proposta [...]: a heteroeducação ordena-se à atualização das virtualidades relativas117, o que ocorre predominantemente no primeiro estágio. A autoeducação endereça-se à atualização das virtualidades absolutas e predomina no segundo estágio. Se o nosso „feeling‟ revelar-nos que a conclusão está correta, o acréscimo de qualidades, o crescimento do Espírito (Espiritogênese) resultaria do esforço todo pessoal do educando pela autoeducação. O mister do educador seria promover o afloramento das virtualidades relativas, isto é, aquelas já efetivadas em reencarnações anteriores e que se acham em estado virtual na encarnação considerada. Resulta daí a seguinte simetrização”:118
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117 Em (GE – I, 38 – 2) encontramos o reconhecimento dessas virtualidades relativas com a denominação de virtude original ou saber original. (Nota do Autor)
118 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 249 -250.



6.2.5 – Sistema Estímulo – Repressão.

“A carga genótipoespiritual contida na auto-herança não é, contudo, homogênea. Nela se hospedam em convivência conflitiva boas e más qualidades, tendências certas e tendências erradas, vícios e virtudes, conhecimento e ignorância, créditos e débitos em conflito permanente pela hegemonia. Daí dois procedimentos serem recomendados: o hormonótico, ou estimulativo, para as boas tendências; e o terapêutico, ou corretivo, para os maus pendores. Somente quando este sistema estiver bem equilibrado, poderá o educando iniciar com segurança o estágio de abertura do Espírito para incorporação de novas qualidades (virtualidades absolutas). Ao revés disso, esta abertura poderá favorecer as más tendências, transformando-se naquilo que poderíamos denominar de contraeducação.
Este tratamento diferenciado para as virtudes e para as imperfeições, ativando as primeiras e reprimindo as segundas (imagem do freio e da aceleração), encontra um reflexo em (LE – Q. 917 – 5): „O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro‟.
Mas, como promover a manifestação da auto-herança para distinguir as boas das más tendências? Pela multiplicação, no ambiente escolar, das oportunidades e atividades que promovam a interação entre os educandos, pela intensificação da vida sócioescolar, porque „A vida social é a pedra de toque das boas e más qualidades‟ (CI – 1º, III, 8). Esta convivência serve ao educador não só para distinguir, como também para desenvolver as boas tendências: „unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas, é que ele [o homem] encontra ensejo de praticá-la [a caridade]. Aquele, pois, que se isola, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se‟ (EE – XVII, 10 – 5); „a bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com seus semelhantes‟ (CI – 1ª, III, 8 – 2).
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