quarta-feira, 29 de maio de 2013

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 4

5.1.8 – Núcleo Rígido do Espírito.

“Em cada encarnação, a educabilidade é restrita à parte dúctil do Espírito. A educação, entretanto, não pode vencer o núcleo ainda rígido, endurecido, desse Espírito. A imagem material que podemos apresentar dessa condição é a de uma massa de argila plástica envolvendo um núcleo de granito que se mantém resistente aos apelos da educação durante todo o transcurso de uma existência física”.97

5.1.9 – O Espírito com Herdeiro de Si Mesmo.

“O Espírito é herdeiro de si mesmo. Mais do que dos seus genitores biológicos, porque ao reencarnar traz uma alentada bagagem de idéias inatas, experiências e pendores, em proporções definidas de virtudes e imperfeições. É um legado de si próprio, de suas remotas lutas, vitórias e fracassos”.98

5.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

5.2.1 – Expectativa Limitada.

“O educador espírita deve estar prevenido de que não deve esperar demasiado de seu educando em resultados manifestos na encarnação considerada, para não se impacientar nem se frustrar. Antes, deve perseverar e considerar, no amplíssimo espectro do roteiro espiritual, a sua valiosa e irrecusável contribuição na construção das almas imortais e perfeitas”.99

5.2.2 – Exigências Proporcionais.

“Nem o educador espírita, nem a instituição educacional, podem exigir do educando o que está fora do seu programa reencarnatório. Por isso, todo educador espírita deve ser dotado de grande sensibilidade e profunda intuição espiritual para identificar, em cada aluno, aquele núcleo rígido e resistente presumido pela Filosofia Espírita da Educação”.100

5.2.3 – Preparação do Educador.

“O mestre espírita não pode ser formado pelos atuais padrões adotados pelas nossas faculdades de filosofia e [pedagogia]. Não seguem elas nenhuma filosofia da educação e muito menos a espírita.O educador espírita só poderá sê-lo se receber uma formação especial pelo menos em um curso de pósgraduação que lhe [habilite a reconhecer e lidar com] as realidades e condições do Espírito do educando. Os seus poderes intuitivos, e quiçá até mediúnicos, terão que ser muito bem desenvolvidos para, de um certo modo e
__________________________
97 Idem, p. 219.
98 Idem, p. 220.
99 Idem, p. 222.
100 Idem, p. 222.


num certo grau, poder o educador considerar e intuir objetivamente – e não apenas como uma tese – o [reencarnado] em cada um de seus discípulos individualmente considerados”.101

5.2.4 – Identificação dos Pendores Inatos.

“Com o auxílio da Psicologia, Biologia e Sociologia Educacionais [...] o educador deverá esforçar-se para assinalar as tendências inatas desejáveis de cada educando, para dinamizá-las e ativá-las, trazendo ao nível da consciência. Ao revés, tratamento diferente para as tendências que representarem inferioridade, cujas expressões devem ser reduzidas”.102

5.2.5 – Sistema de Avaliação.

“Abolição de qualquer sistema de avaliação escolar (intelectual, disciplinar ou moral) com base na heterossuperação. A Filosofia da Educação Espírita demonstrou-nos, à saciedade, a extensa e variada gama de níveis espirituais. Seria tão aberrante julgar um educando pelo outro quanto confrontar um aluno do curso (fundamental) com outro de grau universitário. Somente a autossuperação e o seu vetor, a autoemulação, poderão fundamentar um sistema de avaliação escolar espírita”.
O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse desejo, porém uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar (EE – III, 10).103

5.2.6 – Profilaxia Pedagógica do Orgulho e da Vaidade.

“Esses traços da natureza humana obstruem o progresso do Espírito, porque comprometem a educabilidade. São barreiras dispostas entre o educador e a plasticidade do educando. Cumpre removê-las ou reduzi-las. Técnicas deverão ser inovadas e instauradas, não frias e materiais, mas tendo sempre por suporte o amor e a caridade sempre existente no âmago do homem [...] À Psicologia Educacional Espírita cabe instrumentar-se para estudar a gênese psicológicoespiritual do egoísmo, oriundo do instinto de conservação através do orgulho e cujos últimos efeitos são estas suas expressões tangíveis: a miséria, os conflitos sociais e o estacionamento espiritual pela atrofia do Espírito. O vislumbre do panorama das vidas sucessivas é um poderoso redutor na profilaxia do orgulho e provoca fissuras no seu complexo estrutural.
Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso (OP – p. 228).
Em todo o capítulo 23 (O Egoísmo e o Orgulho) de Obras Póstumas, encontrarão o didata e o educador espíritas magnífico catálogo de sugestões e
_______________________
101 Idem, p. 223.
102 Idem, p. 223.
103 Idem, p. 223.


de idéias condutoras. Nessa mesma obra, encontrará o leitor a esperança de um redutor pedagógico do egoísmo, ou seja, a cooperação em trabalhos escolares. Por isso, a cooperação deverá elevar-se a um eminentíssimo status no âmbito da educação espírita. ”104

5.2.7 – Teoria da Maturação Espiritual.

“Se a natureza não dá saltos, o Espírito também não. Não é exigível do educando, agora considerado na perspectiva de toda sua existência espiritual, procedimentos, valores, conhecimentos, virtudes, para os quais ainda não amadureceu. [...] É a maturação que cadencia o desenvolvimento do Espírito e se manifesta sob a forma de gradação que limita (programa) a educabilidade. Essa teoria é a contrapartida, a nível genéticoespiritual, da teoria da maturação ontogênica do ser humano reencarnado, devida a Gesell105, Piaget e outros”.

6 – O QUE EDUCA O EDUCANDO?

Filósofos, pedagogos e psicólogos, têm polemizado sobre os fatores que mais atuam sobre o educando [...] Fatores internos, hereditários e psicológicos? Ou externos, como o meio físico, ambiente social, experiências e educação?
“Podemos classificar em três grupos os pensadores que elaboraram teorias sobre o desenvolvimento mental do homem: 1º) os inatistas, com suas idéias do primado dos fatores internos; 2º) os empiristas, defensores dos fatores externos; 3º) os partidários da interação ou convergência dos fatores internos e externos”. 106

6.1 – SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:

6.1.1 – Convergência e Interação dos Três Fatores.

“A Filosofia Espírita da Educação recolhe a idéia de que, na formação humana, concorrem com o educador (sua ação e influência pessoais) os fatores impessoais: herança, meio e educação (como processo). [...] O meio físico e o ambiente social exercem forte pressão sobre a personalidade e caráter do educando, uma vez que não pode ele, nem deve, viver no insulamento (LE – Q 766 a 772): a vida social é indispensável ao seu aperfeiçoamento. Apesar de o Espírito encarnado estar submetido a essa trama de vetores, não está a ela subjugado inexoravelmente. Sofre-lhe a influência, por vezes penosa, para poder desenvolver a sua capacidade de resistência, numa ascese espiritual, até o domínio total do Espírito sobre a matéria. Nesse exercício, despoja-se de suas imperfeições e, por isso, a prova cármica oferecida pelos meios físico e social assume papel de alta relevância educativa”. 107
________________________
104 Idem, p. 224.
105 Idem, p. 224 -225.
106 Idem, p. 229.
107 Idem, p. 241.


6.1.2 – A Auto-hereditariedade.

“A herança do passado pessoal (de si mesmo), imanente, manifesta-se nas idéias gerais, nos valores e comportamentos do educando sob a forma de tendências, intuições e consciência, formando o que se poderia chamar de personalidade arcaica, de penas e alegrias constituídas. Além dessa herança espiritual, o Espírito encarnado recebe o influxo da carga genética orgânica que pode facilitar ou embaraçar sua manifestação”.108

6.1.3 – A Ontogênese Psíquica Recapitula a Espiritogênese.

“O termo recapitulação nesse estudo é adotado no sentido particular de reação do passado anímico sobre o presente, despontando gradativamente sob formas esvaziadas de conteúdos materiais. É o conjunto das tendências, intuições, resoluções e experiências do pretérito; metamorfoses dos atos, fatos e episódios de outras encarnações. Como nos indica (EE – VIII, 4 - 3): A partir do nascimento, suas idéias [Espírito encarnado] tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem. Equivale a dizer que a ontogênese recapitula a espiritogênese já realizada. Mas, uma vez completada a reminiscência espiritual e inconsciente, ultrapassa-a, aditando em cada existência alguma perfeição que o Espírito não havia conquistado. Completa, assim, ao termo da evolução, o ciclo: instintos + sensações + sentimentos+ amor (EE – XI, 8), através dos estágios infância + adolescência + juventude + madureza (LE – Q. 607a). Mas, o ser encarnado não recapitula mentalmente os estágios psíquicos da espécie, como pretendiam os partidários da lei biogenética. Nem recorda, o que é óbvio, os estágios que o Espírito ainda não vivenciou. A extensão da recapitulação é , assim, proporcionada à extensão da existência (espiritogênese) que o Espírito já percorreu”.109

6.1.4 – Convergência dos Fatores Internos e Externos.

A Filosofia Espírita da Educação resiste em reconhecer o primado de qualquer um desses fatores de modo permanente e para todos os Espíritos. “A predominância deste ou daquele fator é transeunte. Em certos Espíritos, em determinadas encarnações, e, nestas mesmas, em determinados períodos, pode atuar de modo mais decisivo um determinado fator”.110

6.1.5 – Períodos de Predominância de Cada Um dos Três Fatores.

“Nos primeiros anos de vida, até o desenvolvimento integral do seu organismo, o educando recapitula e atualiza (potência ato)111 as perfeições já realizadas em outras encarnações, até o grau que alcançará na última vida terrena (LE –Q.218ª, final), (EE – V ,11 – 4)”.
_________________________
108 Idem.
109 Idem, p. 242.
110 Idem.
111 Segundo o autor, “estamos adaptando ao nosso estudo a teoria aristotélica do ato e potência”. Nota de rodapé, p.242.


“Nessa primeira fase, é mais preponderante o fator educação (LE – Q. 383), porque a carga autogenética espiritual está latente. Numa segunda fase, no fim da adolescência, a potência passa ao ato e o „Espírito retorna à natureza que lhe é própria e se mostra tal qual era‟ (LE – Q.385). A partir desse ponto, as suas virtualidades até então reprimidas passam a atuar vigorosamente, igualando a força da educação e tendendo a sobrepujá-la. O ambiente social também passa a atuar desde que a criança toma consciência dele e de seus influxos. Temos aqui uma regra muito geral, um esquema sujeito a constantes oscilações e defasagens particularíssimas de cada educando”.
“Explicando: o Fator Educação é dominante desde o nascimento, quando a plasticidade da criança é mais acentuada (LE – Q. 385, 7), (LE – Q. 582), (EE – VIII, 4 - 3); essa receptividade, com o avanço dos anos, tende a reduzir-se, amortecendo a força da educação. O Fator Hereditariedade – deve ser tomado aqui segundo a concepção espírita, como herança de si mesmo – na fase infantil e da adolescência, permanece em estado de latência, para aflorar e preponderar após a adolescência (LE – Q. 385) e até o final da existência física. O ambiente social, por sua vez, no início pouco influi; depois disso é bastante atuante e termina por se enfraquecer; o fator social requer consciência dele para produzir efeitos mais acentuados no educando, o que não se dá na primeira infância. Por outro lado, na velhice, pela adaptação ao meio presumida como total, o fator social não produz mais modificações acentuadas”.
“Esta é uma conclusão privativa da Filosofia Espírita da Educação, comportando, contudo, análises muito atentas e cautelosas [...]”.112

6.1.6 – Virtualidades Absolutas e Virtualidades Relativas.

“Podemos distinguir dois tipos de virtualidades: as absolutas e as relativas. As absolutas são as que ainda, em nenhuma encarnação, foram realizadas; as relativas são as que já foram realizadas em anteriores encarnações, mas que, na presente, aguardam, em latência, o desenvolvimento orgânico para se manifestar. Um exemplo dessas virtualidades, encontramos em (EE – XIX, 7 – 2), relativamente à conquista da fé; e também em (GE – I, 38 -2) sobre qualidades tanto morais quanto intelectuais”. 113

6.2 – CONSEQUÊNCIAS DA SOLUÇÃO DA ESPÍRITA:

6.2.1 – Idade Axial (mais diretamente endereçada à Psicologia Espírita da Educação). Acompanhar pelo quadro, página38.
_________________________
112 Idem, p. 242-243.
113 Idem, p. 244.


“Esta faixa etária poderia também ser chamada de idade eixo (porque nela se engrazam dois sistemas ou estágios), ou ponto morto (porque nela se processa uma mudança de marcha), ou, ainda, área de afloramento (porque nela afloram os predicados até então subjacentes ao Espírito, ou encerra-se esse afloramento). Este eixo baliza o final da adolescência, entre os quinze e vinte anos de idade normalmente (LE –Q.385, 1-4) e inaugura a juventude. Constitui-se uma idade crítica para a Pedagogia e, particularmente, para a Psicologia Educacional Espírita. Este eixo assinala:
- a retomada do Espírito de sua verdadeira natureza (LE – Q. 385), no nível que atingiu na encarnação anterior;
- o encerramento da recapitulação da espiritogênese no subconsciente;
- o fechamento do estágio ou idade da graça educativa;
- a abertura do Espírito à incorporação de novas perfeições e aprimoramento das já conquistadas;
- o início da manifestação consciente da carga autohereditária;
- o aparecimento de mais um limitador da educabilidade constituído pela carga genótipoespiritual na autoherança.
A idade axial, como causa final, atrai e determina todo o desenvolvimento anterior; como causa inicial, condiciona os estágios posteriores. A rigor, não é um eixo, mas antes, uma faixa de transição da adolescência para a juventude, com um eixo central meramente convencional.
A idade axial nem sempre tem uma posição fixa. Varia de indivíduo para indivíduo, de encarnação para encarnação e, até, de um mundo para outro (EE – III, 9 – 2). Esse fenômeno psicogenético poderíamos denominar de deslocamento ou oscilação do meridiano psicopedagógico. Pode situar-se aquém da posição normal (mais ou menos entre quinze e vinte anos) por uma antecipação ou recuo. Também pode posicionar-se além dela por um avanço ou adiamento”.

6.2.2 – Redutibilidade do Período de Infância.

“Todo o cuidado deve ter o pedagogo espírita com suas normas; o didata com suas técnicas; e o educador espírita com sua intuição, improvisação e espírito prático e criador, para evitar avançar o meridiano psicopedagógico. Representaria um atraso no progresso do educando. Se possível e recomendável, deveriam permitir o recuo da idade axial, o que representaria uma aceleração do processo educativo pela antecipação do início da juventude-madureza. Os Espíritos mais evoluídos que habitam mundos superiores ao nosso têm um período de infância bem mais reduzido que o relativo à Terra (LE – Q. 183), (EE – III, 9 – 2). (LE – Q. 188 -4).[...]
Já é reconhecida pela Pedagogia e Psicologia da Aprendizagem a possibilidade de métodos especiais poderem acelerar o desenvolvimento mental dos educandos sem risco do seu equilíbrio. O próprio meio social hodierno concorre poderosamente para esse efeito pelos seus profusos meios de comunicação de massa. [...] A criança de hoje é mais precoce do que as de cinquenta anos atrás. Talvez não espiritualmente. Qual a força endógena que induz infantes e adolescentes a quererem vivenciar antecipadamente idades ulteriores? Tal disposição assemelha-se a uma anteléquia ordenada a um remoto futuro da Humanidade. O condicionamento estrutural psíquico pré determinaria a redução lenta e gradual do período de infância, através de vidas sucessivas e da hierarquia progressiva dos mundos habitados”.114


6.2.3 – Estágio da Graça Educativa.

“Apesar de a educação terrena, convencional e sensorial, só dever encerrar-se com a morte corporal, o maior esforço educativo deve ser desenvolvido nos primeiros anos da vida (LE – Q.383 e 385 – 7) e até o final da adolescência, balizado pela idade axial. Aclamamos este período como o Estágio da Graça Educativa. Isto porque, é nesse período que o educando apresenta as melhores condições de plasticidade, como é reconhecido por todas as pedagogias, inclusive a Espírita. Porém, por que esse estágio da graça se encerra a termo? Por que não se prolonga indefinidamente, como seria desejável? A Pedagogia Espírita descortina aos estudiosos a sua própria e original interpretação: a partir da idade axial, a carga genótipoespiritual, manifestada pela auto hereditariedade (LE – Q. 385), emerge na economia mental do educando como um limitador da educabilidade – o peso do passado anímico. Mas, por outro lado, também pode ampliar a educabilidade: educação gera educação, isto é, promove maiores possibilidades aos esforços educativos ulteriores.
Esse Estágio da Graça assim o é pelo amortecimento de alguns instintos; pelo bloqueio e contenção de maus pendores, sem janelas para o exterior; pelo repouso em que se acha o Espírito reencarnado e, principalmente, pela condição de latência da auto hereditariedade e do seu efeito mais indesejável de limitação da educabilidade acima referido. A Pedagogia Espírita ainda deve considerar a função da adolescência, que é a de preparar o Espírito para „retomar a natureza que lhe é própria e mostrar-se tal qual é‟ (LE – Q. 385).
A infância e a adolescência, de certo modo, prolongam a gestação intrauterina; só após esses dois períodos, o Espírito reencarnante nasce para a nova vida, porque só a partir daí se apresenta tal qual era antes de reencarnar como novo ponto de partida, conforme nos indicam (LE – Q. 218ª, final), (EE – VIII, 4 – 2), (EE – V, 11 – 4) e (QE – 19, 9, final). Corpo e Espírito não nascem, ou melhor, não surgem para a vida no mesmo dia. [...] André Luiz115 considera „que o trabalho completo [reencarnatório], com plena integração [do Espírito] nos elementos físicos, somente se verificará‟ aos sete anos. O período entre a concepção e o renascimento denomina de reencarnação inicial ”.116
_________________________
114 Idem, p. 146 -148.
115 Missionários da Luz, PP.219, 220 e 249.
116 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 248 -249.


6.2.4 – Estágio de Abertura do Espírito.

“A partir da idade axial, como linha de partida e também como base de apoio, o Espírito encarnado inicia um processo de progressiva abertura para a conquista de novas perfeições e de aprimoramento das já existentes. O sucesso irá depender do educando (boa vontade, energia, esforço pessoal, etc.), como agente espiritual de não só reprimir os vetores negativos de sua carga genótipoespiritual, como também de reforçar os positivos da sua auto hereditariedade. Assim compreendendo, o pedagogo e o educador espíritas deverão aproveitar essa oportunidade única para poderem distinguir as virtualidades relativas das absolutas. O que será possível, desde que dotado o educador espírita de percepções extrassensoriais ou mesmo mediúnicas.
Essa abertura é como um renascimento do Espírito que estivera, até então, em processo de retomada de suas qualidades e defeitos das encarnações anteriores pela atualização das virtualidades relativas.
Até a idade axial, ele recapitulou antigas lições, se assim nos podemos exprimir. A partir daí renasce, retoma o seu aperfeiçoamento, reenceta a sua marcha evolutiva atualizando alguma virtualidade absoluta.
STANLEY HALL admitia um período de renascimento e outro a ele sucessivo de aquisição e desenvolvimento. É a partir daí que a reencarnação justifica a sua principal razão de ser: o passo adiante que faculta ao Espírito na sua marcha ascendente, a partir desse ponto, pela autoeducação.
Poderíamos dizer que esses acréscimos de novas perfeições seriam semelhantes às mutações da genética biológica. Seriam mais propriamente minimutações, um plus aditado ao patrimônio já conquistado do Espírito na sua rota evolutiva (GE – I, 19-9). Vide ainda (QE –III, 118 -3) e (GE – I, 42, nota 1). As virtualidades relativas predominam no estágio da Graça Educativa, mas continua o seu afloramento com menos intensidade na fase de Abertura do Espírito, na qual as virtualidades absolutas passam a manifestar-se predominantemente.
Poderemos até ensaiar uma proposta [...]: a heteroeducação ordena-se à atualização das virtualidades relativas117, o que ocorre predominantemente no primeiro estágio. A autoeducação endereça-se à atualização das virtualidades absolutas e predomina no segundo estágio. Se o nosso „feeling‟ revelar-nos que a conclusão está correta, o acréscimo de qualidades, o crescimento do Espírito (Espiritogênese) resultaria do esforço todo pessoal do educando pela autoeducação. O mister do educador seria promover o afloramento das virtualidades relativas, isto é, aquelas já efetivadas em reencarnações anteriores e que se acham em estado virtual na encarnação considerada. Resulta daí a seguinte simetrização”:118
_________________________
117 Em (GE – I, 38 – 2) encontramos o reconhecimento dessas virtualidades relativas com a denominação de virtude original ou saber original. (Nota do Autor)
118 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 249 -250.



6.2.5 – Sistema Estímulo – Repressão.

“A carga genótipoespiritual contida na auto-herança não é, contudo, homogênea. Nela se hospedam em convivência conflitiva boas e más qualidades, tendências certas e tendências erradas, vícios e virtudes, conhecimento e ignorância, créditos e débitos em conflito permanente pela hegemonia. Daí dois procedimentos serem recomendados: o hormonótico, ou estimulativo, para as boas tendências; e o terapêutico, ou corretivo, para os maus pendores. Somente quando este sistema estiver bem equilibrado, poderá o educando iniciar com segurança o estágio de abertura do Espírito para incorporação de novas qualidades (virtualidades absolutas). Ao revés disso, esta abertura poderá favorecer as más tendências, transformando-se naquilo que poderíamos denominar de contraeducação.
Este tratamento diferenciado para as virtudes e para as imperfeições, ativando as primeiras e reprimindo as segundas (imagem do freio e da aceleração), encontra um reflexo em (LE – Q. 917 – 5): „O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro‟.
Mas, como promover a manifestação da auto-herança para distinguir as boas das más tendências? Pela multiplicação, no ambiente escolar, das oportunidades e atividades que promovam a interação entre os educandos, pela intensificação da vida sócioescolar, porque „A vida social é a pedra de toque das boas e más qualidades‟ (CI – 1º, III, 8). Esta convivência serve ao educador não só para distinguir, como também para desenvolver as boas tendências: „unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas, é que ele [o homem] encontra ensejo de praticá-la [a caridade]. Aquele, pois, que se isola, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se‟ (EE – XVII, 10 – 5); „a bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com seus semelhantes‟ (CI – 1ª, III, 8 – 2).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...