quarta-feira, 29 de maio de 2013

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 2

2.1 - O que é o Educando segundo a Filosofia Espírita da Educação?

2.1.1 - A Filosofia Espírita da Educação compreende o homem como um ser trinitário, “composto de três elementos essenciais: o corpo, o perispírito e o Espírito (ou alma), os quais assimilam-se entre si, não são superpostos, nem encerrados um no outro. Essa assimilação se dá por união acidental”31.
A natureza do corpo físico (último grau de materialidade na Terra) “é material, animal e evolutiva. Tem como função abrigar o Espírito; conectá-lo ao mundo exterior; possibilitar o progresso desse Espírito, depurando-o, facultando oportunidade para expiação de culpas e para cumprimento de missões e provas. Origina-se por condensação do fluído cósmico universal e pela combinação dos elementos orgânicos da terra; resultado da evolução de espécies inferiores e gerado pelos pais carnais em cada reencarnação do Espírito. Evolui, na passagem do Espírito de um mundo para outro no sentido da materialidade grosseira para o estado fluídico. Na morte, decompõe-se e seus elementos são absorvidos pela terra [...] seus elementos vão formar novos organismos. [Pode evoluir sucessivamente até] confundir-se com o perispírito”.32
O perispírito tem “natureza semimaterial, tendendo para o espiritual. [Sua função é] ligar o Espírito ao corpo; estabelecer comunicação entre eles; concretizar o Espírito; produzir fenômenos espíritas; exercer funções psicossomáticas (psicológicas, fisiológicas, patologias, terapêuticas) É o resultado da ação condensadora e individualizadora do Espírito sobre o fluído cósmico universal. Sua natureza evolui desde a condição da matéria, confundindo-se com o corpo físico, até a depuração completa, quando se confunde com o Espírito puro. Com o perecimento do corpo físico, desprende-se dele e acompanha o Espírito; na passagem do Espírito de um mundo a outro, é abandonado no mundo de origem; [Seu destino último é] assimilar-se ao Espírito propriamente dito”.33
O Espírito, ser incorpóreo de imaterialidade relativa, tem por essência a inteligência, com a qual se confunde num princípio comum: “é o princípio
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31 Filosofia Espírita da Educação e suas Consequencias Pedagógicas e Administrativas, vol. 1, p.131.
32 Idem.
33 Idem.


inteligente e moral; é imortal, não tem forma, é simples e indivisível. [Suas funções são] pensar; centrar os outros envoltórios; sediar o pensamento e o senso moral; imprimir movimento aos órgãos; modelar o corpo físico; modelar o corpo físico; manifestar-se e irradiar-se em todas as direções; atuar indiretamente sobre a matéria. Resulta da individualização do princípio inteligente através dos diversos graus de animalidade; na conclusão da individualização, recebe de Deus atributos especiais e torna-se um Espírito humano, simples e ignorante, mas com aptidão para tudo conhecer. Vai se depurando da influência da matéria de encarnação em encarnação, de um mundo para outro, de grau em grau espiritual. Ao termo de cada vida física, sobrevive, conservando sua individualidade; seu fim último é atingir o estado de perfeição relativa e de suprema e perene felicidade como puro Espírito no seio de Deus”.34

2.1.2 – Na Filosofia Espírita da Educação, “o educando é esse mesmo homem (e todos os homens), assim definido, mas enfocado e visto sob o aspecto particular da sua evolução, considerada essa como o processo e o resultado progressivo da ação dos agentes e fatores da educação sobre ele e principalmente da autoeducação.” 35
Logo, “o educando é essencialmente um Espírito criado por Deus, em estado imperfeito, inacabado, mas perfectível, com todas as aptidões e faculdades em estado potencial; daí a sua plasticidade ou sensibilidade ao processo educativo; dotado de racionalidade, liberdade, moralidade, socialidade e imortalidade; composto de corpo e Espírito unidos pelo perispírito em união acidental, cujo elemento permanente é o Espírito, o qual tem por essência a inteligência. Em muitas e sucessivas encarnações, vai ocupando corpos físicos perecíveis, dos quais vai se despojando pela morte; sendo que, em cada encarnação, é submetido ao processo de esquecimento das existências pretéritas, mas conservando delas o patrimônio anímico já conquistado, intelectual e moral. Em forma intuitiva, como suporte ou alinhavo do seu aperfeiçoamento através das existências e sobre o qual se alicerça, se desenvolve e desliza o processo educativo por efeitos cumulativos; até não necessitar mais das experiências carnais, evoluindo na espiritualidade, para alcançar o seu fim último como puro Espírito, gozando de perene felicidade no seio de Deus, que é a situação dos seres espirituais, isto é, completamente educado”.36
Como ser reencarnado, se apresenta com:
a) “Instintos biopsíquicos da espécie ligados a fatores hereditários; a complexos e traumatismos decorrentes da formação familiar e outras relações da infância; a prejuízos provenientes de informações falsas e dados socioculturais deformados;
b) Cargas inconscientes de vivências anteriores maléficas e benéficas, prontas a aflorar na consciência mediante estímulos atuais; percepções e emoções reprimidas pela censura pessoal e familiar e introjetadas, alterando o
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34 Idem, p.132.
35 Idem.
36 Idem, p.132, 133.


comportamento; reminiscências e anseios de frustrações do passado reencarnatório no presente, em formas ídeoafetivas;
c) Impulsos ou instintos espirituais determinantes de suas aspirações atuais; experiências e conhecimentos latentes e prontos a eclodir mediante estímulos adequados; posição e atitude perante a vida, o mundo e os semelhantes, decorrentes desses diversos valores ídeoemocionais latentes”.37
Recordando Herculano Pires: “a pedra fundamental da Pedagogia Espírita está lançada e não podemos retirá-la: o educando é um reencarnado”.38

2.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

1ª) Educação Religiosa.
2ª) Tomada de consciência de si mesmo.
3ª) Preocupação fundamental: educação do Espírito.
4ª) Duplo sentido do processo educativo.
5ª) Educação do composto humano.
6ª) Educação dos sentimentos.
2.2.1 – Educação Religiosa:
“O primeiro e mais geral [efeito do Espiritismo filosófico] consiste em desenvolver o sentimento religioso”. (LE – Concl. VII, 4)
“Se a Filosofia Espírita da Educação propicia a visão de Deus como pórtico e meta do Espírito do educando, integrado este na economia divina, deve, por isso mesmo, postular à Pedagogia Espírita a formação religiosa dos alunos. [...] Não que vá a Pedagogia Espírita referendar ou hospedar o ensino religioso convencional. Ao contrário, cumpre-lhe idealizar conteúdos, métodos e objetivos originais, coerentes com a concepção espírita tanto do Criador, quanto da educação, educando e educador e não em desalinho dos indicadores doutrinários”.39 A Doutrina Espírita tem uma compreensão específica de Deus e essa deve “servir de centro de gravidade de um sistema próprio de Educação Religiosa”.40 “Essa formação religiosa não pode sucumbir ao dogmatismo, nem ser catequética. Deve, sim, ser conduzida pelos apelos à razão do educando com respaldo no desenvolvimento progressivo do seu senso crítico.” 41 “É indispensável [ao educador] que tenha sólida formação religiosa espírita em curso de formação e que ostente livre e consciente aceitação do princípio da existência de Deus. [...] Deve visar-se à motivação do
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37 Idem, p. 134.
38 Revista Educação Espírita, nº4 – p.33.
39 Filosofia Espírita da Educação e suas Consequencias Pedagógicas e Administrativas, vol. 1, p.136.
40 Idem, p. 137.
41 Idem.


educando para amá-Lo de toda a sua alma e ao seu próximo como a si mesmo.” 42
“Fé inabalável só é a que pode encarar a razão em todas as épocas da Humanidade”. (EE – XIX, 7,3)

2.2.2 - Tomada de Consciência de Si Mesmo:

“A Educação Espírita deverá incluir entre seus fins a promoção da tomada de consciência por parte do educando, já a nível pedagógico, com o auxílio da Didática: 1) da sua origem divina; 2) de sua natureza espiritual; da sua condição de ser reencarnado. Esses objetivos concorrem [...] para o desenvolvimento da espiritualidade. As atividades, estudos, reflexões e introspecções não podem estar ausentes de um currículo autenticamente espírita, concorrendo decisivamente para a tomada de consciência indicada. [...] Para viabilizá-la, o educador espírita deverá possuir qualidades [...] de intuição profunda ordenada ao núcleo anímico do educando e à mediunidade tecnicopedagógica, obtidas em curso de pósgraduação precedido de testes vocacionais específicos. [...] A Psicologia Educacional Espírita, quando desenvolvida, haverá de indicar os meios de cumprir esses objetivos. Enquanto não dispomos dessa contribuição, não se pode furtar o educador espírita ao mister de conduzir o educando à conscientização de sua natureza essencial, de sua origem divina e de sua condição pluriexistencial”43 , recorrendo à própria intuição, imaginação e espírito prático.
“Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que ela a observe, de convencê-lo de que há nela alguma coisa que escapa às leis da matéria. numa palavra, primeiro que o tornes espírita, cuidai de torná-lo espiritualista.” (LM – III, 19)
“O conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual.” (LE – Q.919ª, 3)

2.2.3 – Preocupação Fundamental: Educação do Espírito.

“O Espírito é o único componente do homem que permanece na sucessão das encarnações e dos mundos pelos quais transita. Por isso, o educando deve ser visto pelo educador como caminheiro de muitas etapas. O lastro de vivência em muitas existências, soterrado em seu inconsciente, submete-o a pesadas condições, nada negligíveis. Segundo essa linha de pensamento, os quatro vetores de que dispõe o educador para atuar sobre o educando – conteúdo, método, disciplina e instituição escolar – devem ser adaptados e proporcionados à natureza espiritual do aluno.
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42 Idem.
43 Idem, p.138.


O conteúdo, ou currículo, como já vimos, deve gravitar em torno de um núcleo de motivos que promovam mais diretamente a educação do Espírito e que são: Deus, alma, conduta moral e sentimento, e daí, respectivamente, a Educação Religiosa, Educação Espiritual, Educação Moral e Educação do Sentimento.
A disciplina, ou regime de controle escolar, também deve representar um impulso diretamente ordenado à educação do Espírito. Para isso devem ser banidos os processos de castigos e recompensas, e incorporados os que formalizam a responsabilidade individual de cada discente, com fundamento nos princípios espíritas da reparação e da proporcionalidade relativa ao grau espiritual de cada um.
A instituição escolar deve proporcionar um ambiente todo penetrado de espiritualidade; bosques, jardins, recantos para meditação e prece, individuais ou coletivos, salas de música e para outras expressões artísticas. Tudo num ambiente de beleza, liberdade e confiança. Compete ao administrador escolar espírita e ao arquiteto projetarem as edificações que possam refletir e falar ao espírito do jovem.
O método [...] terá de levar em conta [que] a inteligência é a essência da alma e até com ela se confunde num princípio comum e, que o pensamento é a própria inteligência em ato. Por isso, o método recomendado será aquele que induza o exercício da razão sem perder de vista a imaginação e o sentimento. É evidente que esse apelo à inteligência deverá pautar-se pelos estágios da Psicologia Genética. É no início das operações concretas, dos sete aos doze anos de idade, e que culmina com as operações formais, mais ou menos aos onze anos, que se apresenta o período mais propício a esse desenvolvimento, conforme as pesquisas de Piaget. Esse mesmo método, que se ordena à educação do Espírito, deverá incorporar processos que auxiliem o educando a algumas intuições de seu passado anímico. A própria filosofia grega sugeriu alguns processos nesse sentido, justamente porque julgou necessários à Educação. Sócrates, pela sua maiêutica procurava fazer aflorar à consciência do interlocutor [...] as idéias inatas [...]. Desse modo, pretendia o filósofo levar o educando ao conhecimento de si mesmo. [...] Por outro lado, Platão idealizou a teoria da reminiscência, pela qual conhecer é reconhecer, o que estava subjacente no Espírito, pela contemplação das idéias perfeitas antes das almas encarnarem e que nele dormitavam, aflorando depois ao consciente pela ação do mestre. ”44

2.2.4 – O Duplo Sentido do Processo Educativo:

“[...] Allan Kardec reconhece o sentido da educação do consciente para o inconsciente ao definir a educação como ‘conjunto de hábitos adquiridos’ (LE – Q. 685 a) e a virtude como „o hábito do bem’ (LE –Q.894). Ora, esse automatismo do hábito está a indicar a sua natureza inconsciente. [...] O que, porém, pretendemos [...] é propor um segundo sentido par o processo
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44 Idem, p.140 -143.

educativo: do inconsciente para o consciente, do perispírito para o Espírito. [...] A Educação se valeria dos dois sentidos do movimento: [...] formando bons hábitos intelectuais e morais e [...] fazendo emergir, do inconsciente para o consciente, lembranças intuitivas que sejam capazes de auxiliar a compreensão da encarnação atual do educando.” 45

2.2.5 – Educação do Composto Humano:

“Se as três substâncias formativas do ser humano – corpo, perispírito e Espírito – são suscetíveis de progressivo aperfeiçoamento, isso está a indicar que clamam pela educação, aliás, como exclusivos objetos dela”. 46
Uma vez já tradado o tema da Educação do Espírito, abordaremos as demais.
- Educação do Corpo Físico:
“[...] Não pode a Educação dispensar-se de proporcionar ao corpo todo cuidado. É através dele que o Espírito recebe os influxos do meio físico e do mundo exterior. [...] Daí a justificabilidade da Educação Física, Esportes, Saúde, Higiene e Educação Sexual no currículo escolar”.47
“Amai, pois, a vossa alma, porém cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela”. (EE – XVII, 11 -2).
- Educação do Perispírito:
“À vislumbrada Pedagogia Científica Espírita (Experimental) caberá procurar caminhos e vetores para o atingimento pedagógico do perispírito. Isso pode ser conseguido segundo duas direções convergentes: a do corpo físico e a do Espírito, uma vez que o mediador plástico participa da natureza de ambos, a material e a espiritual. Dada a sua ampla fisiologia, os desarranjos do corpo fluídico poderão perturbar tanto o progresso do Espírito quanto a instrumentalidade do veículo carnal. [...] Todas as injúrias causadas ao corpo se refletem no psicossoma; logo é invencível a idéia de que os valores impressos no corpo – saúde, força, integridade, vitalidade, robustez, proporcionalidade, harmonia – também se estampem no perispírito, de alguma forma aperfeiçoando-o, educando-o. [...] O envoltório fluídico acompanha a evolução do Espírito, cujo progresso moral nele se reflete, desmaterializando-o gradualmente, purificando-o dos elementos grosseiros que contém”.48
“Por efeito do desenvolvimento moral, alarga-se o círculo das idéias e da concepção; por efeito da desmaterialização gradual do perispírito, este se purifica dos elementos grosseiros que lhe alteravam a delicadeza das percepções, o que torna mais fácil compreender-se que a
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45 Idem, p.143-144.
46 Idem, p.144.
47 Idem.
48 Idem, p. 144 -145.


ampliação de todas as faculdades acompanha o progresso do Espírito”. (GE – XVI, 9-2).

2.2.6 – Educação dos Sentimentos:

“A linha de desenvolvimento da educação confunde-se com a própria linha da evolução espiritual. Daí infere-se que o sistema pedagógico deve incorporar um conjunto harmônico e eficaz de práticas sociais a fim de ir desenvolvendo a sensibilidade para a sorte do próximo, irmão e companheiro de jornada.
[...] A descrição de (LE –Q.113) faz sistema com (EE – XI, 8-3) e que nos indica a linha [...] em correta evolução hierárquica dos valores preferenciais do Espírito em sua romagem para Deus: Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimento. E o ponto delicado do sentimento é o amor. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar esses últimos, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho”. 49
Ney Lobo cita o pedagogo René Hubert, numa passagem em que este orienta a formação dos sentimentos sociais: “Nem sequer as lições de bondade exerceram qualquer influência sobre as crianças antes de chegarem à prépuberdade, porque em geral não têm nem experiência, nem imaginação do sofrimento , ou se o conhecem, consideram-no como um elemento da natureza das coisas e nem lhes ocorre apiedar-se dele. Bem diferente é o que ocorre com a expansão das disposições afetivas que acompanham a puberdade. Então, é quando o educador pode trabalhar utilmente ampliando os sentimentos de simpatia, que, todavia não tratam de fixar-se, iluminando-os sobre a realidade da dor e da miséria, ativando-os pelo cumprimento de atitudes suscetíveis de aliviar essas realidades. A puberdade é a idade em que, tendo já pouco a pouco se desvanecido o egocentrismo, os demais [sentimentos] começam a existir verdadeiramente e por si mesmos aos olhos do adolescente. A imaginação afetiva consiste então na capacidade de por-se no lugar deles, de sofrer com eles e ainda por eles. Este é o momento em que a revelação das grandes tristezas sociais pode comover mais profundamente a sensibilidade posta a nu. O importante é que esta impregnação pelo conhecimento da dor seja suficientemente forte, suficientemente prolongada durante todo o período da adolescência, como para manter-se como um traço essencial da estrutura moral do adulto. Graças a essas condições, adquire-se a virtude da generosidade e se forjam os homens de coração”.50
“Por essa mesma razão, sentencia a Codificação: „A vida social é a pedra de toque das boas e más qualidades‟ (CI - 1º, III, 8). [...] Infere-se daí , que a
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49 Idem, p.146.
50 Idem, p.146 -147.


educação do sentimento deve processar-se em contextos sociais que promovam intensas interações pessoais. Esses ambientes, opulentos de dependências recíprocas, de interrelações, tanto servem para a ativação do sentimento, quanto para revelar o grau de sensibilidade do educando, suas carências, qualidades e progressos”.51

3 – QUEM É O EDUCANDO?

Cumpre-nos definir agora “o universo humano a ser abrangido pela Educação Espírita. Seria concebível uma educação a termo, isto é, a formação do ser humano em período prestabelecido ao fim do qual todos os destinatários seriam considerados como tendo completado sua educação? Ou a formação humana nunca se consuma? [...] Educando é apenas a criança e o adolescente? Ou também inclui os jovens? E os adultos, igualmente? E os idosos, também não estão submetidos sutilmente a processos discretamente pedagógicos? A formação humana encerra-se com a cessação da vida convencional? Além desse termo derradeiro, nenhuma modificação ou aperfeiçoamento será possível imprimir ao Espírito? O Espírito desencarnado poderá, autenticamente, ser considerado um educando? Quais seriam, então, seus mestres? Os deficientes mentais são sensíveis ao esforço de educação? E os selvagens podem ser considerados como educandos?” 52

3.1 – EXTENSÃO DO PERÍODO DA EDUCAÇÃO.

“Num enfoque global, a educação latu sensu, inicia-se com a própria criação do Espírito (LE – Q. 122, 262, 189, 607), (GE – III, 10, fim). A partir desse marco, já se processam os primeiros progressos manifestados pela abertura da consciência de si mesmo. Em consequência, inaugura-se o livre arbítrio, dão-se os primeiros lampejos da responsabilidade, a aurora radiosa da consciência do futuro e o raiar do senso moral. Na outra ponta do roteiro, só pode ser considerado como concluído o processo quando atingido o status de puro Espírito. Desse modo, a educação participa da imortalidade do Espírito, porque o progresso é quase infinito (LE – Q.169). Isso significa que a educação, quer como processo quer como resultado é coexistente ao Espírito, abrangendo toda a extensão da sua existência imortal e ininterrupta.” 53

3.2 – TODOS OS ESPÍRITOS SÃO EDUCANDOS.

“Educandos são todos os Espíritos em qualquer situação, fase, estágio, grau ou nível em que se encontrem, ao longo de toda a vida imortal deles. Há educação antes do renascimento orgânico, durante as vidas físicas, até o desprendimento do Espírito, estendendo-se além dele em estado livre.
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51 Idem, p.147.
52 Idem, p.151.
53 Idem, p. 161.


O Espírito encarnado, quer no estado de vigília quer no de emancipação (sono ou sonambulismo), quer pela heteroeducação (sistemática ou assistemática), quer pela autoeducação, está permanentemente submetido a processos educativos e, ainda, pela ação tanto de encarnados quanto de desencarnados.
As entidades no estado livre tanto podem ser educadas por outros Espíritos desencarnados que lhe sejam superiores, como seus mestres, quanto por encarnados, pelo processo de doutrinação em sessões mediúnicas.
Essa conclusão só admite duas exceções: os puros Espíritos, que atingiram o grau máximo de educação, e certos tipos de deficientes mentais infranormais”.54

3.3 – OS DEFICIENTES MENTAIS EM INFRANORMALIDADE PROFUNDA NÃO SÃO EDUCANDOS.

“Em que pese a conclusão geral de serem educandos todos os Espíritos em qualquer situação ou condição, os seres humanos, na conjuntura de excepcionalidade negativa, estão submetidos a doloroso processo de provação. Estão saldando pesadas dívidas do pretérito delituoso. Temporariamente, não são suscetíveis de resposta ao esforço educativo [...] É uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um estacionamento provisório (LE – Q. 373)”.55

3.4 – OS SELVAGENS TAMBÉM SÃO EDUCANDOS.

“A possibilidade de sofrer modificações, progredindo, é a primeira condição da educabilidade. Ora, os selvagens são submetidos a processo de aperfeiçoamento, embora em posição muito distante do homem civilizado. Confirma a Codificação: A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o mesmo grau da alma esclarecida (QE – III, 139)”.

3.5 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:

3.5.1 - Canais da Educação.

Todos os pedagogos, educadores e filósofos trataram tão somente da educação escolar “ministrada de modo direto, intencional, sistemático, consciente e profissional, quer como missão, quer como profissão. A Filosofia Espírita da Educação está em condições de apresentar à reflexão dos estudiosos da educação mais outros doze canais de comunicação a nível espiritual, pelos quais correm também a influência pessoal educativa, a mensagem edificante, o corretivo bondoso, necessário e oportuno, a inspiração de novas idéias, a doutrinação do desviado e o conselho ao desorientado”.56
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54 Idem, p. 161-162.
55 Idem, p. 162.
56 Idem, p. 165


a) Por contato sensorial direto: “Trata-se aqui da educação convencional e formal de Espírito encarnado a outro, numa relação pedagógica de educador e educando. Geralmente, do professor ao aluno. Pode ser, ainda, dos pais aos filhos, do orientador espiritual aos discípulos; do mestre de ofício ao aprendiz; do iniciador ao iniciando. É a única conhecida e estudada”.57
b) Por telegrafia humana ou espiritual, de vivente a vivente, em vigília: “É uma ligação intervivos apresentada pela Codificação Espírita, a qual, ao seu tempo, Kardec denominou telegrafia humana. Trata-se de uma comunicação direta e telepática de Espírito a Espírito, ambos encarnados, não adormecidos. Para isso será necessário que seus espíritos se desprendam em parte da matéria, o que depende de um certo grau de depuração, muito raro no estado atual da Humanidade. Todavia, como sempre que há um canal de comunicação, por essa mesma razão, estende-se, paralelo, uma canal de educação, através do qual circula o fluxo instrutivo, esta será uma direção a mais no plano terreno da malha de canais utilizáveis educacionalmente”.58
(LM – XXV, 285, 58); (LE – Q.420, 421); (OP – 10, p. 16 a 22).
c) Por evocação ou simples simpatia, de vivente a vivente, em vigília: “Por evocação de um deles, dois Espíritos encarnados podem entrar em comunicação e, por isso mesmo, um poderá influir sobre o outro, exercendo salutar ação educativa sob forma de inspiração, conselho, instrução, etc. Todavia, é necessário que o Espírito do evocado – educando, no caso – esteja parcialmente desprendido da matéria, um pouco adormecido. A própria evocação do Espírito acordado provocará um leve adormecimento, um ligeiro torpor. Outras condições são necessárias: vontade enérgica do evocador e laços de simpatia entre as duas pessoas”.59
(LM – XXV, 284, 43 a 49); (LE – Q.421).
d) Por emancipação, de vivente a vivente, dormindo ou em estado sonambúlico: “Durante o sono, ou no estado sonambúlico, afrouxando-se os laços que o ligam ao corpo, pode um Espírito entrar em ligação mais direta com outro Espírito também emancipado, podendo o que for superior produzir no outro um efeito educativo, assumindo um a posição de educador e o outro a de educando”.60
(LE – Q.401, 402, 410, 414, 415, 416, 417, 419, 455); (GE – XIV, 22, 23).
e) Pelo pensamento, de Espírito desencarnado a Espírito desencarnado: “Os espíritos desencarnados comunicam entre si através do meio chamado fluído universal, como veículo de transmissão de seus pensamentos. Nessa situação, orientados por espíritos que lhe são superiores, realizam estudos, procuram meios para elevar-se, ouvem as dissertações e os conselhos dos
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57 Idem, p. 165.
58 Idem, p.165 -167.
59 Idem, p. 167.
60 Idem.


mais elevados, procuram instruir-se e promovem pesquisas. Sempre dispõem de um educador ou guia que os aperfeiçoa e até aprendem numa hora o que na Terra exigiria anos de aprendizado (LE –Q.98). As suas idéias sofrem grandes modificações. Mesmo os espíritos atrasados ou recalcitrantes não podem se furtar a esses ensinos, pois são obrigados a ouvir os conselhos dos espíritos bons, e tudo que possa ser útil ao seu aperfeiçoamento”.61
(QE – II, 156); (LE – Q.224b, 227, 230, 231, 235, 257, 266, 282, 318, 888, 898).
f) Por incorporação, de pessoa viva a Espírito desencarnado: “A doutrinação tem por agente (educador) o dirigente de mesa em sessão mediúnica e por paciente o Espírito desencarnado (educando) incorporado em um médium. Pela doutrinação, podem os Espíritos imperfeitos ser desviados do mal; podem ser ajudados a reconhecer seu estado e a se desprender da matéria para encetar o seu aperfeiçoamento. Essa relação pedagógica exige ascendência moral do educador (doutrinador), aliás como em todas as outras relações educativas”.62
(CI – I, XI, 15); (LM – XXI, 213 – 4); (LM – XXIII, 254 – 5).
g) Por mensagens, influência, inspiração, etc., de Espírito desencarnado a pessoas vivas: “Este canal de comunicação presta-se à ação educativa pelos processos de influência espiritual superior, inspiração de boas idéias e resoluções sadias, mensagens de alto teor moral ou instrutivas, orais ou escritas. As mensagens podem ser individualizadas, com endereço pessoal, ou podem servir a milhares ou milhões de pessoas, como as que se encontram psicografadas nos livros dos grandes médiuns. O conjunto dessas obras constitui verdadeira enciclopédia de educação moral e intelectual. Mesmo fora das sessões mediúnicas, os Espíritos desencarnados superiores influem beneficamente sobre nossos pensamentos, induzindo a nossa evolução educativa”.63
(LM – X, 137); (LE – Q. 459, 460, 461, 462, 464); (OP – p.62, Inspiração).
h) Por contato dos Espíritos de pessoa viva, em vigília, a Espírito emancipado: “É um canal de comunicação que admitimos como possível, por dedução, a partir da possibilidade real e efetiva de duas pessoas vivas, em vigília, poderem comunicar-se por evocação; se um deles já se acha emancipado, torna esse contato bem mais fácil. É tão viável este canal de educação que se desenvolvem estudos, pesquisas e tentativas ainda incipientes e pouco cautelosas para o ensino de línguas estrangeiras a alunos adormecidos, inclusive com lições gravadas. Deus outorgou ao homem a faculdade sonambúlica para fim útil e sério (LE – q. 425). Acrescente-se mais: o estado sonambúlico pode ser provocado. Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a Psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto (LE – Q. 455). O sonambulismo será igualmente a base da Psicologia Educacional”.64
(LM – XXV, 47); (LM – Q. 406, 455 – 9); (OP – p. 51 e 62).
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61 Idem, p. 167-168.
62 Idem, p. 168.
63 Idem.

64 Idem, p. 169.


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