segunda-feira, 25 de abril de 2016

Textos 4-4

4.3. QUARTA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELA INSTRUÇÃO
(CONHECIMENTO INTELECTUAL, CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO)
(ENSINO CONVENCIONAL)
(VISTA AO CONHECIMENTO)

4.4.1. CONCEITUAÇÃO
a)       Toma-se, nesta dinâmica o termo instrução no sentido convencional e tradicional de informação, de transmissão pedagógica e escolar de conhecimentos intelectuais, científicos e tecnológicos. Excluídos ficam assim do horizonte de interesses a educação propriamente dita (“scripto sensu”) que visa não ao conhecimento, mas ao comportamento dos educandos; mais especificamente a conduta moral, social e espiritual deles.
b)       A educação, “lato sensu” considerada, abrange a instrução (conhecimento, informação) e a educação propriamente dita (comportamento, formação).
c)       O estudo da dinâmica da instrução visa a verificar se ela tem influído, influi e influirá no desenvolvimento espiritual do homem. E em que grau, ou eficácia.

4.4.2. HISTÓRICO
a)       Abstraindo esse grau de eficácia, pode-se assegurar a plena historicidade1 da instrução, desde as mais remotas eras2 até o presente, jamais a geração mais antiga deixou de transmitir às novas gerações (crianças, adolescentes e jovens) os conhecimentos que já possuíam para alimentação (cata, caça, pesca), abrigo (habitação, agasalhos), defesa (asmas, luta), espiritualidade (sobrevivência do espírito, ritos fúnebres) e domínio mágico da natureza, tabus), costumes (ritos de passagem).



1A instrução como um ente histórico, real, que aconteceu e acontece.
2Desde o estágio remoto do homem primitivo.


b)       Hodiemamente, a instrução (transmissão de conhecimentos) tem avassalado os sistemas escolares de todas as nações, removendo o já pouco que havia de humanismo e de educação propriamente dita (comportamento moral sobretudo). A segurança militar nacional tornando-se essencialmente científica e tecnológica passou a privilegiar as disciplinas voltadas para os armamentos e dispositivos bélicos de ataque e de defesa1.


1Considerem-se os escudos estratosféricos e espaciais antimísseis nucleares (“guerra nas estrelas”).


c)       A predominância da instrução (conhecimentos) sobre a educação propriamente dita (comportamento moral e social), foi estabelecida a partir do início da Idade Moderna (1.453) e acentuada com a abertura da Idade Contemporânea (1789). E culminou a partir do dia 12 de abril de 1961, quando então a antiga União Soviética lançou no espaço a nave Vostok (Oriente), tripulada pelo astronauta Yuri Gagarin, em órbita de 367 km da Terra.
d)       Este extraordinário feito, em plena guerra fria entre URSS e USA ameaçou todo o mundo ocidental de um iminente domínio político-idealógico e militar de todo o planeta pela via científico-tecnológico-militar da URSS.
e)       Em conseqüência, todo o mundo ocidental e capitalista, liderado pelos Estados Unidos, sentindo-se inferiorizado pelo mundo socialista, reformulou, rápida e profundamente, os objetivos, métodos e currículos do ensino médio e superior. Foram rebaixadas as disciplinas humanas (filosofia, ética, sociologia, psicologia, literatura, história, artes, etc.), nas quais predominava a educação sobre a instrução. E deram toda a ênfase e prestígio às disciplinas ligadas às ciências exatas como matemática, e às da natureza como a física, química; e mais biologia, geologia, astronomia, etc. nas quais predominava a instrução sobre a educação.
f)        E assim dispuseram os poderes políticos americanos e europeus para alcançarem rapidamente o elevado estágio científico e militar da União Soviética, e até para ultrapassá-la. O que conseguiram entre 1960 a 1990.

4.4.3. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a)       Textos desfavoráveis1 à instrução:


1Desfavoráveis, porque considera que a instrução, por si mesmo não produz homens de bem.



      (LE – Q.917, p.3): “Contudo, ela (a cura do egoísmo) só se obterá se o mal (o egoísmo) for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem” (a glosa acima é do Codificador).
b)       COMENTO. Deduz-se desse texto que a educação convencional, pela instrução, aí caracterizada como “a que tende a fazer homens instruídos” não tem a capacidade de produzir efeitos morais/espirituais, pelo menos diretamente, atuando na raiz dos males espirituais. Raiz essa que é o espírito, no uso do seu livre-arbítrio.
c)       Kardec nessa glosa opõe formalmente “homem instruído” (intelectual) com “homem de bem” (moral). Não significa que o homem instruído não possa ser, ao mesmo tempo, “homens de bem”. Mas apenas que a solitária condição intelectual não é suficiente para constituir um homem de bem”.
d)       Podem-se encontrar na vida comum:
      homens instruídos que não são homens de bem;
      homens instruídos que são homens de bem;
      homens de bem que não são homens instruídos;
      homens de bem que são homens instruídos.
      (LE – Q.685a, p.2): “Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança, e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres (...)”.
COMENTO. Mais uma vez, Kardec estabelece plena distinção entre instrução (educação intelectual) e a educação moral, que é a educação propriamente dita.
      (LE – Q.751): “O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito, superior em inteligência, pode ser mau (...). Apenas sabe”.
      (LE – Q.365): “Alguns homens muito inteligentes (...) são ao mesmo tempo profundamente viciosos, porque ainda não são bastante puros os Espíritos encarnados nesses homens e cedem à influência de outros Espíritos mais imperfeitos”.
      (LE – Q.785): “(...) À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a alividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas. (Mas) curta é a duração deste estado de coisas”.
      (LE – Q.101, p.3): “A inteligência pode achar-se (nos Espíritos imperfeitos) aliada à maldade, ou à malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham de desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e mais ou mesmos objetos seus sentimentos”.
e)       Textos favoráveis à instrução:
      (LE – Q.780): “(O progresso moral) decorre do progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente”.
      (LE – Q.780a): “Como pode o progresso intelectual engendras o progresso moral? R – Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher”.
      (LE – Q.785): “O orgulho e o egoísmo são o maior obstáculo ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetiva sempre”.
      (LE – Q.110): “Os Espíritos de sabedoria sem possuírem ilimitados conhecimentos, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os homens e as coisas”.
f)        O desequilíbrio moralidade X intelectualidade:
      O item acima parece estabelecer um equilíbrio da Doutrina Espírita entre os dois lotes de textos, favoráveis e desfavoráveis, à instrução intelectualista voltada para o conhecimento.
      No entanto, essa simetria é apenas numérica. Os conteúdos desses oito textos expõem a diferença entre os dois lotes. Há reservas evidentes quanto ao exclusivismo da formação intelectual, reservas essas que não se encontram na formação moral e espiritual (a educação da alma), que é a razão de ser da Pedagogia da Espiritualidade.
      Essa Educação da Alma visando ao comportamento até se confunde com essa Pedagogia pelo Processo de Afloramento das Perfeições Potenciais e Espirituais do Espírito do Educando.

4.4.4. EFICÁCIA (espiritualizante)
a)       Não se pode negar a eficácia da instrução para o progresso havido no processo milenar de espiritualização da humanidade.
      Essa eficiência da educação convencional/intelectual, para o desenvolvimento da espiritualidade, não se efetiva nem direta nem imediatamente, como o faz a educação moral; mas, sim, através da distinção que estabelece entre o bem e o mal, e pelo aumento da conseqüente responsabilidade. Efeitos esses distantes do período de aplicação desta educação, porque esses efeitos esperados não são imediatos.
Não se pode deixar de reconhecer e concordar em parte com Leon Tolstoi (1828-1910).
      “Reconheço que a divisão que fazia entre educação e instrução era profundamente artificial. Instrução e educação são inseparáveis. Não se podem formar caracteres sem transmitir conhecimento; todo conhecimento age num sentido formador”.
      A ressalva é a seguinte: Quando o intento é instruir, predomina a instrução, é óbvio; porém, em muito menor efeito, também se educa. Quando a finalidade é educar, o efeito formativo humano prevalece, mas acompanhado de algum conhecimento intelectual.
      Levando em conta os textos citados, admite-se a efetividade de alguns efeitos positivos da educação convencional e intelectual no desenvolvimento da espiritualidade humana através dos séculos, embora indiretos e muito mediatos.
      Quando a Codificação destaca o grande valor da educação para o progresso espiritual e moral da humanidade (LE – Q.796 e 917 e outras) está nitidamente se referindo à educação propriamente dita: moral e espiritual, a educação do espírito e não à instrução, conhecimentos.

4.4.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta pedagogia a dinâmica histórica espiritualizante pela instrução).
a)       A instrução praticamente visando apenas o conhecimento intelectual e científico, ausenta-se da educação propriamente dita para a formação moral, social e espiritual do homem.
      Todavia, pela distinção que o intelecto pode fazer entre o bem e o mal, esse conhecimento pode repercutir na Pedagogia da Espiritualidade, a qual tem por objetivo educativo promover as perfeições integradas no bem e alijar do espírito dos educandos as imperfeições ligadas ao mal. O que requer as distinções bem nítidas entre justiça e injustiça; indulgência e inclemência; humildade e orgulho; esperança e desesperança: caridade e egoísmo; etc. Tais diferenciações, são necessárias, porém não são suficientes como esclarece (LE – Q.751): “O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um espírito superior em inteligência, pode ser mau”. Daí a necessidade de uma pedagogia voltada essencialmente para a prática efetiva do bem.
b) Ainda mais. Como são atribuídas aos educandos da espiritualidade freqüentes redações, descrições, julgamentos e opiniões, além dos debates orais, o conhecimento intelectual de várias áreas de saberes podem vir em auxílio dos educandos. E que são pertinentes ao Ciclo do Desenvolvimento Espiritual composto pelas 4 dinâmicas: de conceituação, de motivação, imaginação e preparação.



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