4.3. QUARTA DINÂMICA HISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELA INSTRUÇÃO
(CONHECIMENTO INTELECTUAL, CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO)
(ENSINO CONVENCIONAL)
(VISTA AO CONHECIMENTO)
4.4.1. CONCEITUAÇÃO
a) Toma-se,
nesta dinâmica o termo instrução no sentido convencional e tradicional de
informação, de transmissão pedagógica e escolar de conhecimentos intelectuais,
científicos e tecnológicos. Excluídos ficam assim do horizonte de interesses a
educação propriamente dita (“scripto sensu”) que visa não ao conhecimento, mas
ao comportamento dos educandos; mais especificamente a conduta moral, social e
espiritual deles.
b) A
educação, “lato sensu” considerada, abrange a instrução (conhecimento,
informação) e a educação propriamente dita (comportamento, formação).
c) O
estudo da dinâmica da instrução visa a verificar se ela tem influído, influi e
influirá no desenvolvimento espiritual do homem. E em que grau, ou eficácia.
4.4.2. HISTÓRICO
a) Abstraindo
esse grau de eficácia, pode-se assegurar a plena historicidade1 da
instrução, desde as mais remotas eras2 até o presente, jamais a
geração mais antiga deixou de transmitir às novas gerações (crianças,
adolescentes e jovens) os conhecimentos que já possuíam para alimentação (cata,
caça, pesca), abrigo (habitação, agasalhos), defesa (asmas, luta),
espiritualidade (sobrevivência do espírito, ritos fúnebres) e domínio mágico da
natureza, tabus), costumes (ritos de passagem).
1A instrução como um
ente histórico, real, que aconteceu e acontece.
2Desde o estágio
remoto do homem primitivo.
b) Hodiemamente,
a instrução (transmissão de conhecimentos) tem avassalado os sistemas escolares
de todas as nações, removendo o já pouco que havia de humanismo e de educação
propriamente dita (comportamento moral sobretudo). A segurança militar nacional
tornando-se essencialmente científica e tecnológica passou a privilegiar as
disciplinas voltadas para os armamentos e dispositivos bélicos de ataque e de
defesa1.
1Considerem-se os escudos estratosféricos e
espaciais antimísseis nucleares (“guerra nas estrelas”).
c) A
predominância da instrução (conhecimentos) sobre a educação propriamente dita
(comportamento moral e social), foi estabelecida a partir do início da Idade
Moderna (1.453) e acentuada com a abertura da Idade Contemporânea (1789). E
culminou a partir do dia 12 de abril de 1961, quando então a antiga União
Soviética lançou no espaço a nave Vostok (Oriente), tripulada pelo astronauta
Yuri Gagarin, em órbita de 367 km da Terra.
d) Este
extraordinário feito, em plena guerra fria entre URSS e USA ameaçou todo o
mundo ocidental de um iminente domínio político-idealógico e militar de todo o
planeta pela via científico-tecnológico-militar da URSS.
e) Em
conseqüência, todo o mundo ocidental e capitalista, liderado pelos Estados
Unidos, sentindo-se inferiorizado pelo mundo socialista, reformulou, rápida e
profundamente, os objetivos, métodos e currículos do ensino médio e superior.
Foram rebaixadas as disciplinas humanas (filosofia, ética, sociologia,
psicologia, literatura, história, artes, etc.), nas quais predominava a
educação sobre a instrução. E deram toda a ênfase e prestígio às disciplinas
ligadas às ciências exatas como matemática, e às da natureza como a física,
química; e mais biologia, geologia, astronomia, etc. nas quais predominava a
instrução sobre a educação.
f)
E assim dispuseram os poderes políticos americanos e
europeus para alcançarem rapidamente o elevado estágio científico e militar da
União Soviética, e até para ultrapassá-la. O que conseguiram entre 1960 a 1990.
4.4.3. FUNDAMENTOS (doutrinários espíritas)
a) Textos
desfavoráveis1 à instrução:
1Desfavoráveis, porque considera que a instrução,
por si mesmo não produz homens de bem.
—
(LE – Q.917, p.3): “Contudo, ela (a cura do egoísmo) só
se obterá se o mal (o egoísmo) for atacado em sua raiz, isto é, pela educação,
não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a
fazer homens de bem” (a glosa acima é do Codificador).
b) COMENTO.
Deduz-se desse texto que a educação convencional, pela instrução, aí
caracterizada como “a que tende a fazer homens instruídos” não tem a capacidade
de produzir efeitos morais/espirituais, pelo menos diretamente, atuando na raiz
dos males espirituais. Raiz essa que é o espírito, no uso do seu
livre-arbítrio.
c) Kardec
nessa glosa opõe formalmente “homem instruído” (intelectual) com “homem de bem”
(moral). Não significa que o homem instruído não possa ser, ao mesmo tempo,
“homens de bem”. Mas apenas que a solitária condição intelectual não é
suficiente para constituir um homem de bem”.
d) Podem-se
encontrar na vida comum:
— homens
instruídos que não são homens de bem;
— homens
instruídos que são homens de bem;
— homens
de bem que não são homens instruídos;
— homens
de bem que são homens instruídos.
— (LE
– Q.685a, p.2): “Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na
balança, e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse
elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não
nos referimos, porém à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte
de formar os caracteres (...)”.
COMENTO. Mais uma vez, Kardec
estabelece plena distinção entre instrução (educação intelectual) e a educação
moral, que é a educação propriamente dita.
— (LE
– Q.751): “O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito,
superior em inteligência, pode ser mau (...). Apenas sabe”.
— (LE
– Q.365): “Alguns homens muito inteligentes (...) são ao mesmo tempo
profundamente viciosos, porque ainda não são bastante puros os Espíritos
encarnados nesses homens e cedem à influência de outros Espíritos mais
imperfeitos”.
— (LE
– Q.785): “(...) À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual
reduplica a alividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das
riquezas. (Mas) curta é a duração deste estado de coisas”.
— (LE
– Q.101, p.3): “A inteligência pode achar-se (nos Espíritos imperfeitos) aliada
à maldade, ou à malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham de
desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e mais ou mesmos
objetos seus sentimentos”.
e) Textos
favoráveis à instrução:
— (LE
– Q.780): “(O progresso moral) decorre do progresso intelectual, mas nem sempre
o segue imediatamente”.
— (LE
– Q.780a): “Como pode o progresso intelectual engendras o progresso moral? R –
Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher”.
— (LE
– Q.785): “O orgulho e o egoísmo são o maior obstáculo ao progresso moral,
porquanto o intelectual se efetiva sempre”.
— (LE
– Q.110): “Os Espíritos de sabedoria sem possuírem ilimitados conhecimentos,
são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os
homens e as coisas”.
f)
O desequilíbrio moralidade X intelectualidade:
— O
item acima parece estabelecer um equilíbrio da Doutrina Espírita entre os dois
lotes de textos, favoráveis e desfavoráveis, à instrução intelectualista
voltada para o conhecimento.
— No
entanto, essa simetria é apenas numérica. Os conteúdos desses oito textos
expõem a diferença entre os dois lotes. Há reservas evidentes quanto ao
exclusivismo da formação intelectual, reservas essas que não se encontram na
formação moral e espiritual (a educação da alma), que é a razão de ser da
Pedagogia da Espiritualidade.
— Essa
Educação da Alma visando ao comportamento até se confunde com essa Pedagogia
pelo Processo de Afloramento das Perfeições Potenciais e Espirituais do
Espírito do Educando.
4.4.4. EFICÁCIA
(espiritualizante)
a) Não
se pode negar a eficácia da instrução para o progresso havido no processo
milenar de espiritualização da humanidade.
— Essa
eficiência da educação convencional/intelectual, para o desenvolvimento da
espiritualidade, não se efetiva nem direta nem imediatamente, como o faz a
educação moral; mas, sim, através da distinção que estabelece entre o bem e o
mal, e pelo aumento da conseqüente responsabilidade. Efeitos esses distantes do
período de aplicação desta educação, porque esses efeitos esperados não são
imediatos.
Não se pode deixar de reconhecer
e concordar em parte com Leon Tolstoi (1828-1910).
— “Reconheço
que a divisão que fazia entre educação e instrução era profundamente
artificial. Instrução e educação são inseparáveis. Não se podem formar
caracteres sem transmitir conhecimento; todo conhecimento age num sentido
formador”.
— A
ressalva é a seguinte: Quando o intento é instruir, predomina a instrução, é
óbvio; porém, em muito menor efeito, também se educa. Quando a finalidade é
educar, o efeito formativo humano prevalece, mas acompanhado de algum
conhecimento intelectual.
— Levando
em conta os textos citados, admite-se a efetividade de alguns efeitos positivos
da educação convencional e intelectual no desenvolvimento da espiritualidade
humana através dos séculos, embora indiretos e muito mediatos.
— Quando
a Codificação destaca o grande valor da educação para o progresso espiritual e
moral da humanidade (LE – Q.796 e 917 e outras) está nitidamente se referindo à
educação propriamente dita: moral e espiritual, a educação do espírito e não à
instrução, conhecimentos.
4.4.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta
pedagogia a dinâmica histórica espiritualizante pela instrução).
a) A
instrução praticamente visando apenas o conhecimento intelectual e científico,
ausenta-se da educação propriamente dita para a formação moral, social e
espiritual do homem.
— Todavia,
pela distinção que o intelecto pode fazer entre o bem e o mal, esse
conhecimento pode repercutir na Pedagogia da Espiritualidade, a qual tem por
objetivo educativo promover as perfeições integradas no bem e alijar do
espírito dos educandos as imperfeições ligadas ao mal. O que requer as
distinções bem nítidas entre justiça e injustiça; indulgência e inclemência;
humildade e orgulho; esperança e desesperança: caridade e egoísmo; etc. Tais
diferenciações, são necessárias, porém não são suficientes como esclarece (LE –
Q.751): “O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um
espírito superior em inteligência, pode ser mau”. Daí a necessidade de uma
pedagogia voltada essencialmente para a prática efetiva do bem.
b) Ainda mais. Como são
atribuídas aos educandos da espiritualidade freqüentes redações, descrições,
julgamentos e opiniões, além dos debates orais, o conhecimento intelectual de
várias áreas de saberes podem vir em auxílio dos educandos. E que são
pertinentes ao Ciclo do Desenvolvimento Espiritual composto pelas 4 dinâmicas:
de conceituação, de motivação, imaginação e preparação.
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