sábado, 22 de março de 2014

QUARTO TOMO - EVOLUÇÃO DA ESPIRITUALIDADE



1ª PARTE

PROLEGÔMENOS

 NOÇÕES PRELIMINARES

A.                  PREÂMBULO
B.                  NOÇÃO DE PROGRESSO
                 Referencial
                 Utopias idealizadas
                 Ensino de definição de progresso
C.                  FORMAS DE PROGRESSO
D.                  A PROCISSÃO EVOLUTIVA (das formas de progresso — As que vão à frente, as que vão atrás.
E.                  DUAS QUESTÕES (levantadas pela Codificação Espírita).
F.                   FORMULAÇÃO DA 1ª QUESTÃO
a)                  Solução para o passado
b)                  Solução para o presente
c)                   Solução para o futuro
G.                  O PROGRESSO SOCIAL
H.                 FORMULAÇÃO DA 2ª QUESTÃO
I.                    DINÂMICAS HISTÓRICAS
a)                  Conceito de dinâmica histórica
b)                  Razões de ser das dinâmicas
J.                    LISTAGEM DAS SETE DINÂMICAS HISTÓRICAS.

 NOÇÕES PRELIMINARES

  1. PREÂMBULO
                 A matéria geral deste 4º volume intitulada “desenvolvimento espiritual”, para ser bem compreendida envolve algumas noções adjacentes, ou mesmo subjacentes, cujos significados descortinam para o estudioso desta matéria algumas comparações necessárias. São os casos das noções de progresso, mudança, evolução, referenciais, valores, etc.

  1. NOÇÃO DE PROGRESSO1
                 Para começar, o conceito de um credenciado dicionário: “Progresso é a ação, ou resultado de progredir”. E progredir é tornar-se maior e/ou melhor” (dic. Houaiss). Tome-se dessa definição o termo melhor, e chega-se ao verbo melhorar como credencial que franqueia a entrada no arcano (mistério) do progresso, resolvido este segredo pelo verbo melhorar. Realmente, a nota fundamental do progresso é o melhorar. E esta nota conduz à idéia de mudança; mas uma mudança para melhor, que é a noção de evolução. Evolução, por sua vez, implica incorporação de novos valores, um aditivo de enriquecimento valorativo do objeto considerado em evolução.

 1O termo progresso freqüenta os textos de “o Livro dos Espíritos” 160 vezes.


                 REFERENCIAL. Essa idéia de progresso, centrada em sua palavra-chave, melhorar, traz à colação, inevitavelmente, outro termo: referencial. Que vem a ser a idealização por inteligibilidade de um ser-de-razão, um objeto perfeito que serviria de comparação para ao verificar se houve, ou não, progresso. E esse progresso panaria o ser uma melhoria que aproximaria do objeto em avaliação para o objeto de comparação perfeito.
Como exemplos de progresso científico, da física, o referencial inteligível, idealizado seria a física perfeita. Para avaliar a moralidade, o referencial seria um ser moral perfeito. Para avaliar o grau de espiritualidade, o referencial de comparação seria um ser espiritual perfeitíssimo, ou seja, Deus. Para o progresso social, o referencial de comparação seria a idealizada sociedade justa. Nenhum desses referenciais fixos é real, são produtos mentais de uma inteligibilidade. Mas cada melhoria na sua direção significa uma aproximação em relação a ele, o referencial. E só é progresso a melhoria que aproxima dele o objeto considerado. Sem esses referenciais, ainda que a penas mentalizadas, seres abstratos, não saberíamos se um objeto de conhecimento, de ação ou de criação, ou de apreciação está progredindo (melhorando) ou não. E poderemos estar num roteiro de aproximação errado, de progresso (melhoria) ilusório. Por exemplo qual dessas formas sócio-econômicas, socialismo e capitalismo é a que representa o progresso. Qual o referencial de aproximação. Seria um regime sócio-econômico perfeito, inexistente, mas que vislumbramos como justo e perfeito.
                 UTOPIAS. Alguns pensadores idealizaram um referencial utópico (inteligível). E o período da Renascença (séculos XV/XVII) foi fértil desses referenciais. Inspirados pelos desconhecimentos de novas terras. Assim a “Utopia” de Thomas More1 “A Cidade do Sol” de Tomaso Campanello2, a “Nova Atlântida” de Francis Bacon3. E antecedendo a todos essas “A República” de Platão4.
Na impossibilidade de instruir a objetividade de qualquer referencial, sempre que se sente, ou se afirma o progresso (melhora) de alguma coisa, está-se recorrendo a um referencial subjetivo, muito íntimo e até inconsciente situado nas profundezas de nosso ser.

 1Th. More: 1480/1535 – séc. XV/XVI
2To. Campanello: 1568/1639 – séc. XVI/XVII
3F. Bacon: 1561/1626 – séc. XVI/XVII
4Platão: 428/347 a.C. – séc. V/IV a.C.

 —                 DEFINIÇÃO DE PROGRESSO (Ensaio).
                 Progresso é uma mutação para melhoria de alguma coisa, (evolução) pela incorporação a ela de valores, que provoca a aproximação desse objeto a um referencial idealizado como perfeito embora inatingível e situado no nosso inconsciente.

  1. FORMAS DE PROGRESSO
Podem-se distinguir numa visão todo-abrangente da história da humanidade, três formas principais de progresso:

 Progresso científico e tecnológico;

 Progresso social, cultural e político;

 Progresso moral e espiritual.
                 Essas três formas se mesclam em cada época histórica. Com predominância ora de uma, ora de outra dessas formas.
                 Todavia, não se pode deixar de reconhecer a existência de vínculos de causa e efeito entre elas. Mas alternando as funções correlativas: ora como causa, ora como efeito, embora difícil essa distinção. A não ser em alguns poucos casos. Por exemplo, o avanço cultural no século XVIII (iluminismo, enciclopedismo contentatários do Estado e da Igreja), descredenciando as formas políticos e religiosas da época, culminando na Revolução Francesa e alterando os pressupostos morais e espirituais. Outro exemplo. Uma causa científico-tecnológica (as grandes navegações e as descobertas marítimas do século XV/XVI, trazendo como efeitos a modernização dos costumes sociais e culturais (progresso social).
                 E é nesse intercâmbio (causa/efeito), que entra a temática desde Estudo: a evolução espiritual da humanidade. A qual se classifica na terceira das três formas de progresso (vide acima).
  1. A PROCISSÃO EVOLUTIVA (das três formas de progresso) — As que vão à frente e as que vão atrás.
a)                  OS ESCALÕES
                 1º Escalão – na vanguarda – o progresso científico e tecnológico;
                 2º Escalão – no meio (intermediário, o progresso cultural, social e político;
                 3º Escalão – na retaguarda – o progresso moral e espiritual, e em íntima interação.
b)                   CONSTATAÇÕES FUNDAMENTAIS. Observando-se atentamente o panorama histórico das civilizações ocidentais (Europa, América), numa visão todo-abrangente, desprezados, os preconceitos relativos ao progresso que sempre aparecem constatam-se:
                 1º - O evidente progresso humano, embora geograficamente limitado.
                 2º - Um escalonamento (distanciamento) entre as três formas de progresso, conforme está acima indicado (vanguarda-meio-retaguarda).
  1. A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA LEVANTA DUAS QUESTÕES.
                 Não deixou a Doutrina Espírita de referir-se nos seus textos aos vários tipos de progresso já logo acima citados.

 Como o objetivo no presente estudo é focalizar a possibilidade de um futuro desenvolvimento da espiritualidade como proposta, ou sugestão didática, cumpre verificar, pela consulta a Doutrina, as respostas às seguintes questões:

 1ª - Se tem havido, no decurso dos milênios, desenvolvimento espiritual e moral do homem, reconhecido pela Codificação Espírita.

 2ª - No caso positivo, quais as dinâmicas históricas que tem acionado esse desenvolvimento, identificadas pela Codificação?
  1. FORMULAÇÃO DA 1ª QUESTÃO:
Tem havido no passado1, no decurso de milênios, desenvolvimento espiritual e moral do homem, reconhecido pela Codificação Espírita? E no presente, e no futuro?
a)                  SOLUÇÃO PARA O PASSADO
(pelos textos doutrinários)
                 EE – XI, 10, P.3): “Mas, já ganhastes, vós que me ouvis, pois que já sois infinitvamente2 melhores do que éreis há cem anos. Mudastes tanto, em proveito vosso, que aceitais de boa mente, sobre a liberdade e a fraternidade, uma imensidade2 de idéias novas, que outrora rejeitaríeis”.
                 (GÊ – XVIII, 2, p.2): “Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes”.
                 (GÊ – XVIII, 2, p.2): “(no nosso globo) progride fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam”.
                 (GÊ – XVIII, 13, p.1º): “De duas maneiras se opera, como já o disse, a marcha progressiva da Humanidade: uma, gradual, lenta, imperceptível, se se considerarem as épocas consecutivas, a traduzir-se por sucessivas melhoras nos costumes, nas leis, nos usos (...)”.
 
1Referido esse passado a todo os períodos anteriores à época da Revelação da Doutrina Espírita em meados do século XIX (1857).


                CONCLUSÃO. Os textos acima transcritos, e outros mais, atestam que no passado, referido aos meados do século XIX, houve progresso moral e espiritual, sem o que não haveria melhora dos costumes, usos, e nas leis.

(pela lógica históricas)
não seria logicamente sustentável que nesse espaço de tempo evolutivo passado, o ser humano não se tivesse aprimorado moralmente, ainda que muito insuficientemente.
b)                  SOLUÇÃO PARA O PRESENTE1
(pelos textos doutrinários)
                 (GÊ – XVIII, 14, p.2): “É a um desses períodos de transformação, ou se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a Humanidade. Da adolescência chega ao estado viril”.
                 (GÊ – XVIII, 28, p.3): “Cabendo-lhes fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e as crenças espiritualistas”.
 
1Esse tempo presente e o dos meados do século XIX.
 
c)                   SOLUÇÃO PARA O FUTURO
(pelos textos doutrinários)
                 (XVIII, 6): “Nesses tempos (que doravante os homens vão entrar), porém, não se trata de uma mudança parcial (...). Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral”.
                 (GÊ – XVIII, 17): “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social”.
                 (GÊ – XVIII, 20, p.3): “A geração que surge (...) imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral, que assinalará a nova fase da evolução humana”.
                 (LE – Q. 793, p.3): “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral”.

CONCLUSÃO. O progresso moral, social e espiritual da Humanidade se estende do passado, alcança o presente e se projeta no futuro, conforme está reconhecido pela 3ª Revelação, a Espírita em meados do século XIX.

 Não se está postulando nessa expressão um determinismo da história humana. O que anularia a liberdade e a conseqüente responsabilidade. Mas, tão somente que se pode assinalar algumas reações de causa e efeito em certos acontecimentos históricos.

 
  1. O PROGRESSO SOCIAL
O aperfeiçoamento das relações sociais e políticas (cultural) entre os homens, mantém uma relação de causalidade bilateral com o progresso moral. Isto é, tanto esse progresso repercute nas relações sociais e regimes político-sociais quanto a recíproca é verdadeira.
Uma sociedade livre de conflitos sociais decorre de um bom expoente de progresso moral e vice-versa.
Colecionou-se um lote significado desse progresso social:
                 “Certa necessidade de mudança, se traduz por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas” (GÊ – XVIII, 8, p.8).
                 “Quem observar (a Terra num desses seus períodos de crescimento) achá-la-á muito mudada em seus costumes, em seu caráter, nas suas leis, em suas crenças, numa palavra: em todo o seu estado social (GÊ – XVIII, 9, p.2).
                 “Se supusermos possuída desses sentimentos a maioria dos homens, poderemos facilmente imaginar as modificações que daí decorrerão para as relações sociais; todas terão por divisa: caridade, fraternidade, benevolência, tolerância para todas as crenças” (GÊ – XVIII, 23).

 1Observe-se que os tempos verbais estão registrados no futuro, explícito ou implícito (subentendido).

 
  1. FORMULAÇÃO DA SEGUNDA QUESTÃO
Positivada a 1ª Questão anterior, ou seja, que houve no passado, e até agora tem havido, progresso espiritual e moral da Humanidade, embora ainda muito insuficiente, pergunta-se, quais teriam sido as dinâmicas (as causas eficientes) desse desenvolvimento da espiritualidade humana, tanto reconhecido pela Doutrina Espírita, quanto irrecusável pela lógica histórica?1
Voltando aos textos codificados e aos princípios da Doutrina Espírita, pode-se propor à análise dos estudiosos as seguintes dinâmicas propulsoras desse progresso espiritual:

  1. DINÂMICAS HISTÓRICAS (Conceito)
a)                  As dinâmicas históricas são conjuntos mais ou menos organizados, estruturados de atividades, crenças, ideais, vicissitudes afins, que se articulam entre si aos longo do tempo, atuando sobre os espíritos (encarnados ou desencarnados, na tentativa de sua espiritualização, muito lenta e progressiva. São dinâmicas porque providas e movidas por forças propulsoras internas. Promovendo, ou não, resultadas visíveis ou logicamente deduzíveis, ou racionalmente presumíveis, ao longo dos tempos da pré-história e história humana até os dias atuais.
b)                  RAZÕES DE SER (deste Estudo). Torna-se necessário este trabalho por dois objetivos:
                 1º - Verificar se a Pedagogia da Espiritualidade estará situada utilmente, como uma imperiosa necessidade, numa possível linha de progressão evolutiva anterior, atual e futura do Espírito Humano. Ou se está já, ou futuramente, à margem desse delineamento histórico. E, por isso, sem atender ao indispensável princípio de razão suficiente (razão para existir ou para ser instaurada).
                 2ª - Para facilitar esse objetivo, estruturar uma visão global das dinâmicas históricas que possam ser apreendidas da Codificação Espírita. Elevada esta ao estatus de referência superior de diretriz deste Estudo. E ainda, como pretório decisivo para os questionamentos que naturalmente despontarão.

K.                  LISTAGEM

DE SETE DINÂMICAS HISTÓRICAS

4.1. PRIMEIRA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELA CARIDADE —
(desinteressada e vinculada à educação).

      X — X —

4.2. SEGUNDA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELAS CONSEQÜÊNCIAS NATURAIS —
(boas ou más dos atos humanos)

      X — X —

4.3. TERCEIRA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELOS SOFRIMENTOS NÃO-EXPIATÓRIOS —
(fortuitos, casuais, voluntários ou por provas).

      X — X —

4.4. QUARTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELA INSTRUÇÃO —
(conhecimento intelectual, científico e tecnológico).

      X — X —

      4.5. QUINTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELA EDUCAÇÃO —
(propriamente dita – educação moral, social e espiritual visando ao comportamento – educação da alma).

      X — X —

4.6. SEXTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELA EDUCAÇÃO —
(advento e prática do cristianismo espiritualista).

— X — X —

4.7. SÉTIMA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
      PELA FORÇA MESMA DAS COISAS —
(um progresso regular, lento e discreto).

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