sábado, 22 de março de 2014

2.4. FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS (ESPECÍFICOS) DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO DOS EDUCANDOS



OBJETO: O ESPÍRITO
           
            2.4.1. CONCEITO DE ANTROPOLOGIA 1.

                        A Antropologia Física 2 trata da evolução biológica do homem (definição ao pé da pág.). O que redunda numa visão uniprismática e exclusivamente material do desenvolvimento do ser humano.

            2.4.2. ANTROPOLOGIA ANÍMICO-EVOLUTIVA
                        a). Acredita-se que todo espiritualismo-evolucionista, como é o caso do espírita, exigiria um novo domínio científico dentro do quadro da Ciência do Homem, que seria a Antropologia Anímica.
                        – Essa novel ciência trataria – comparando com a Antropologia Física – da origem, estrutura e evolução do espírito humano.
                        – Já existe literatura incipiente e esparsa – mediúnica ou não – que já aborda alguns pontos desse conhecimento, como “Fisiologia da Alma” de Ramatis/H. Mães, “Evolução Anímica” de Gabriel Dellanne, “Gênese da Alma” de Cairbar Schutel, “Evolução em Dois Mundos” de André Luiz/F.C. Xavier.
                        b). Uma das partes que se pode assinalar dentro dessa possível Antropologia Anímica seria a da dinâmica evolutiva do espírito. Comportaria ela o estudo do desenvolvimento, aperfeiçoamento e espiritualização do homem, ou seja, do alijamento progressivo do espírito, através de suas existências, das influências da matéria de que se impregna nas sucessivas internalizações na matéria orgânica. Verdadeiras purificações através do despertar e afloramento dos elementos espiritualizantes, constituídos pelas sementes de perfeições espirituais, que jazem em estado potencial e inercial no fundo das almas.
                        c). O sujeito ativo desse desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, objeto da ação do educador, é o espírito do educando. São considerados como educandos tanto os alunos nas escolas, quanto os filhos nos lares, os jovens das mocidades espíritas os adolescentes nos centros espíritas qualquer adulto espírita, e mesmo os simplesmente espiritualistas.
                        d). Nessa visão antropológica dinâmico-evolutiva, consideramos apenas três situações, ou estágios evolutivos, que servem como três balizas expressivas e marcantes desse desenvolvimento anímico: A – a situação inicial, inaugural, do Espírito recém criado por Deus; B – representando todos os estágios intermediários; C – a situação final do puro Espírito. (vide imagens gráficas mais adiante).
________________________
1 Ciência que reúne várias disciplinas cujas finalidades comuns são descrever o homem e analisá-lo com base nas características biológicas (Antropologia Física) e culturais (Antropologia Cultural) dos grupos em que se distribui, dando ênfase, através das épocas. Às diferenças e variações entre esses grupos. Antropologia Cultural: ramo da Antropologia que trata das características do homem (costumes, crenças, comportamento, organização social, e que se relaciona, portanto, com várias outras ciências , tais como Etnologia, Arqueologia, Lingüística, Sociologia, Economia, História, Geografia humana.
2 Antropologia Física: ramo da Antropologia que se ocupa da origem e da evolução biológica do homem, assim como das diversidades raciais e seus vários subgrupos” (do dic. Aurélio).

                               e). São três imagens arbitrarias, idealizadas e puramente convencionais. Válidas apenas para este estudo. São convencionais como figuras gráficas; mas representativas das idéias.

            2.4.3. ESTÁGIO A – (Imagem inicial do espírito)
                        É a situação do embrião do Espírito. Nesse ponto, enceta o espírito, teoricamente, sua marcha evolutiva, ou seja, do desenvolvimento de sua espiritualidade.

                        a). INFRAESTRUTURA. É como se fosse constituída por uma sementeira, germes de todas as perfeições espirituais em estado potencial, aí depositadas no fundo do espírito pelo Criador; para serem germinadas e afloradas pelo esforço de cada um, ordenado esse esforço ao mérito pessoal. São sementes de caridade, indulgência, humildade, esperança, justiça, honestidade, veracidade e lealdade (constituindo o currículo desta Pedagogia da Espiritualidade).
                        Toda essa infra-estrutura é, portanto, uma criação exclusiva de Deus.
                       
b). FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS
     - (EE-XIX, p.12): “No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade”.      
     - (LE-Q.754, p2): Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem”.

     - (OP-A Morte Espiritual, p16): “Todas as faculdades, todas as aptidões, se encontram em germe no espírito, desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na semente. O selvagem, que mais tarde se tornará homem civilizado, possui, pois os germes que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande filósofo.
     “A medida em que esses germes chegam à maturidade, a Providência lhes dá, para a vida terrestre um corpo apropriado às suas novas aptidões”. (vide, ainda (LE.Q.776, p2) e (EE-XI, 9, p2).

                        Este conjunto das sementes de todas as perfeições chama-se perfectibilidade, isto é, capacidade de total aperfeiçoamento e de progresso. Ou melhor, de desenvolvimento de toda a potencialidade.
                        Não estará aí também a imagem da parábola dos talentos? Manter enterrado o tesouro recebido do Senhor é não desenvolver esse potencial anímico que Ele nos concedeu. E desenvolvê-lo, fazendo essas perfeições aflorarem à consciência, é fazer a vontade do Senhor.
                       
                        c). SUPERESTRUTURA. É o “edifício” anímico levantado sobre a sementeira da infra-estrutura. Mas nessa situação inaugural, é uma “edificação” só de paredes externas formada e totalmente vazia de perfeições. Nenhuma semente terá sido germinada e aflorada ao nível do comportamento. Essa superestrutura vazia está destinada a ser lotada de perfeições que ainda estão na sementeira, e que, por sua vez, serão desenvolvidas pela boa vontade e esforço do Espírito em estágios evolutivos ulteriores.
X          X          X
                        d). FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS
                        Este estado inicial é caracterizado em várias passagens da Codificação:
                        Como começo (os Espíritos tiveram princípio, início. Por isso, não são eternos) – (LE-Q.78 e 191ª).
                        Quem os criou: Deus (LE-Q.81 e 115), (QE-III, 114).
                        Estado inicial: simples e ignorantes, sem saber, mas perfectíveis – LE-Q.115 e 634), (OP-Profissão de Fé, 15), (QE-III, 114).
                        Como e quando: nada sabemos, a não ser que a criação se deu pela conclusão do processo de individualização do principio inteligente – (LE-Q.79, 78 e 613, p4, 5 e 6), (OP-Profissão de Fé, 15), (LE-Q.607a).
                        – Onde: não no planeta Terra, mas em mundos primitivos – (LE-Q.607b).
                        – Capacidades congênitas incipientíssimas: consciência de si (LE-Q.122); consciência do futuro (LE-Q.607a); senso moral – GÊ-XI, 23, p4); livre-arbítrio (GÊ-II, 114), (OP-Profissão de Fé, III, 16); responsabilidade (LE-Q.607a).

            2.4.4. ESTÁGIO B(Imagem intermediária do Espírito)
                        Essa imagem gráfica é apenas um padrão representativo de todos os estágios intermediários, que medeiam entre a situação inicial e a final de evolução dos Espíritos. É convencional e variável.
                       
                        a). INFRA-ESTRUTURA. A sementeira estará menos densa de sementes de perfeições, porque algumas já germinaram, desenvolveram-se sob a ação da vontade e esforço desse Espírito.
                        Nesse “alicerce” do espírito, ainda se acham, apenas como exemplo, os germes do altruísmo, modéstia, veracidade e humildade, ainda não aflorados. Portanto, aí nessa base, identifica-se o nível potencial, a parte criada por Deus.

                        b). SUPERESTRUTURA. Observam-se espaços vazios e outros cheios. Os cheios estão ocupados, como exemplos, pelas perfeições que já emergiram da sementeira, e foram incorporadas à conduta. E que são, no caso, a lealdade, o perdão, a caridade e a justiça.
                       
                        Os vazios são como “furnas”, “cavernas”, ainda existentes na estrutura anímica, representando – apenas para exemplificar – as imperfeições da mendacidade, vaidade, orgulho e egoísmo, que são o mal, considerado esse como a carência dos bens devidos: o mal como um “ens privativum”.
                        As flechas de baixo para cima, ascendentes, procuram representar as futuras ocupações desses grotões: a. pelo altruísmo flecha (1), que irá remover o egoísmo e ocupar o seu espaço; b. pela modéstia flecha (2), que irá ocupar a caverna da vaidade, removendo esta última; c. pela veracidade felcha(3) destinada a ascender ao espaço vazio da mendacidade deslocando-a; d. pela humildade flecha(4), que, aflorando da sementeira, irá lotar o espaço vazio do orgulho, varrendo-o da estrutura da alma.
                        Toda essa dinâmica evolutiva é efetuada no nível de realização, porque realiza, atualiza 1 as potencialidades espirituais do Espírito.
                        Essa realização, incorporada ao comportamento, é que gera, paulatinamente, a felicidade, que nada mais é do que a fruição, o deleite, das perfeições, que vão sendo conquistadas, afloradas, do fundo das almas.
                        E cabe a cada homem construir pelo seu próprio esforço esse edifício anímico: superestrutura levantada sobre o alicerce da sementeira, que o Criador colocou em cada espírito criado.

c). FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS. Trata-se de verificar se a Doutrina Espírita reconhece a teoria acima, de que o mal não passa da ausência de um certo bem devido; de que o mal é um “ens privativum” (privação do ser). Segundo SANTO AGOSTINHO, a privação de todo o bem corresponde ao nada; portanto, se algo existe, é bom, pela simples razão de existir; o mal não é uma substância, porque se fora substância, seria bom 2. O mal assim concebido é chamado  de  mal  metafísico, aquele  que  resulta da carência  de um bem  que  deveria  existir em
alguém, ou objeto, ou em qualquer  realidade. Por isso, o  mal é o não-ser (falta de realidade), porque
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1 Este termo atualizar, em filosofia, significa a passagem da potência (mera possibilidade) ao ato (realização).
2 José F. Mora in “Dicionário de Filosofia” (Aliança Editorial – Madrid – 1981).
se ressente, o mal, de uma “pobreza ontológica” (pobreza de ser). O máximo de realidade que se poderia atribuir ao mal e o de que ele “se situa nos confins do ser”. HEGEL chegou, talvez perplexo, a considerar o mal como uma negatividade positiva. Para outros, dentro dessa ordem de pensamento, o mal é uma aparência, uma ilusão.
                        Muito bem! Como a Doutrina Espírita se posiciona diante dessa teoria? Resposta: ela a incorpora aos seus textos. Se não, vejamos:







 
                        (GE – III, 8): “O mal é ausência do bem como o frio é ausência do calor (...). Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal”.








 


E noutra obra, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, fornece um exemplo:









 
                  – (EE – XXV, 8, p2): “Se a caridade e a justiça não estiverem no coração, o   egoísmo aí sempre imperará”.
                       
                               Registre-se, ainda, o profundo pensamento de um romancista brasileiro, Guimarães Rosa, que não foi filósofo, mas que tão bem compreendeu az natureza vazia do mal:








 
                 “O mal está apenas guardando o lugar dentro de nós enquanto não chega o bem”.


 
X          X          X
                        Observe-se que o esquema gráfico que apresentamos, de um Espírito em posição intermediária de evolução, representa essa teoria assumida pela Doutrina Espírita. O mal são os “espaços vazios” da alma, sem realidade ontológica, simples ausências do bem que deve ocupar essas furnas anímicas. Esses males são os “vazios” da vaidade, da mendacidade, do orgulho, do egoísmo; que devem ser ocupados pelos bens da modéstia, da veracidade, da humildade e do altruísmo respectivamente; que, no gráfico, ainda jazem em estado potencial e inercial no fundo do espírito, aguardando a boa vontade e o esforço moral e espiritual desse Espírito, para ascenderem à superestrutura da incorporação consciente da conduta.

                        d). A IMAGEM DO BALÃO. Por mera coincidência, o diagrama do Espírito em situação intermediária reproduz, por acaso, o perfil de um balão: a tocha e o combustível representam a infra-estrutura da sementeira. Acesa a tocha, a sua chama aquece o ar interior do balão , flechas ascendentes  do  que resulta o enchimento dos espaços vazios pelo ar aquecido e dilatado, e promove a subida, a ascensão do balão assim inflado a níveis mais elevados da atmosfera.
                        Assim também o Espírito, promovendo a emersão, o afloramento das perfeições que estão em estado potencial na sementeira, enche os vazios e o Espírito se eleva na escala evolutiva.

                        e). CONSEQÜÊNCIA PEDAGÓGICA. Como vencer os vícios do orgulho, da injustiça, do egoísmo, etc? Não será por comandos imperativos dos educadores, pais e mestres, como: “não seja orgulhoso”, “deixe de ser egoísta”, etc. Por que não? Resposta: porque esses males do espírito são vácuos da alma, sem realidade ontológica (de ser), aparências, ilusões de realidades. Assim sendo, essas exortações representam ataques ao nada, ao vazio, e por isso, não tem nenhuma eficácia. É a pedagogia do vácuo, como pode ser chamada.
                       
                        O procedimento correto e eficaz deve ser outro:desenvolver, fazer,germinar e aflorar, do fundo da alma do educando, as perfeições que lá estão. Vindo à tona, essas virtudes varrem da alma aqueles vícios, ocupando os lugares, os espaços, antes lotados por eles. É a pedagogia do preenchimento.

                        f). Não é o combate à imperfeição que fará despontar a virtude. Mas sim, é o avanço da perfeição que fará recuar a imperfeição oposta, e não o contrário. Assim, por exemplo, para remover o orgulho, promover a ascensão da humildade; para deslocar o egoísmo desenvolvimento do altruísmo, etc. etc. E esta substituição das imperfeições pelas virtudes que lhe são opostas, manifesta-se na modificação do comportamento do educando, verificável, lenta mas progressivamente, em atos da perfeição que está sendo alçada do fundo da alma.
                        Esta emersão completa do potencial anímico ao nível comportamental não se processa num instante, nem em uma hora, nem num dia, nem num ano. É programa para uma vida inteira, e pode até estender-se a outra vidas consecutivas.

                        g). FUNDAMENTO DOUTRINÁRIO. Prescreve a Codificação em (CI-1ª, VII, 17, p3):
– “Torna-se humilde, se se tem sido orgulhoso”.
   (e não: deixar de ser orgulhoso, para tornar-se humilde).
– “Tornar-se caridoso, se se tem sido egoísta”.
   (e não: deixar de ser egoísta para se tornar caridoso).
– “Tornar-se bondoso, se se tem sido perverso”.
   (e não: deixar de ser perverso, para ser bondoso).
  “Tornar-se laborioso, se se tem sido ocioso”.
   (e não: deixar de ser ocioso, para ser laborioso).
– “Tornar-se amável, e se tem sido austero”.
    (e não: deixar de ser austero, para ser amável).
– “Tornar-se frugal, se se tem sido intemperante”.
    (e não: deixar-se de ser intemperante para ser frugal).
    “E desse modo, progride o Espírito”.
 
                           
 
                        2.4.5. ESTÁGIO C – (Imagem final do Espírito)
                       
                        a). É a situação última de evolução espiritual. É a condição dos puros Espíritos. Aqueles que desenvolveram todo o seu potencial anímico. Espíritos esses que concluíram, através de um extensíssimo roteiro pedagógico, a sua educação. São os seres espirituais totalmente educados 1.
                        Esses Espíritos não apresentam nenhum vazio em sua estrutura. Nenhuma “caverna” anímica, a ser ocupada. Todo o potencial de perfeições foi atualizado (realizado). Não restou nenhuma potencialidade a desenvolver.
                        Como indica a Doutrina em (LE-Q.113): “Alcançaram a soma de perfeições de que é suscetível a criatura”.

                        b). INFRA-ESTRUTURA. Observa-se que a base da sementeira “esvaziou”. Todas as sementes germinaram pelo esforço desse Espírito, e se transformaram em perfeições.

                        c). SUPERESTRUTURA. Está completa. Todos os “espaços” foram ocupados pelas perfeições a eles destinadas, e que emergiram da sementeira pelo esforço auto-educativo do Espírito e heteroeducativo dos seus educadores ao longo de muitas vidas.
           
                        E neste estágio, essas perfeições comunicam-se à conduta desses espíritos puros que completaram a sua educação?

 ________________________
1 Porque educar vem do latim “educere” (e = para fora; ducere = conduzir), atualização das capacidades latentes.
                        d). Voltemos aos textos da Doutrina:






 
(LE – Q.113, p2): “A felicidade dos puros Espíritos não é a de ociosidade monótona,a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou a expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gratíssima”.
 
                         Essas vivas descrições de tantas perfeições adquiridas, em seu grau máximo, mas relativo, correspondem àquela imagem gráfica da plenitude da estrutura desses Espíritos puros, com seus “espaços” todos preenchidos de perfeições.

X           X         X

                        2.4.6. CONCLUSÃO. Aí está exposto, nessas três imagens-padrão sucessivas, A, B e C, o que denominamos de
ANTROPOLOGIA ANÍMICA DINÂMICO-EVOLUTIVA
DO DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

                        Esse estudo servirá de base para a estruturação das técnica:
                        do afloramento das perfeições Espirituais.


2.5. FUNDAMENTOS AXIOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
 
2.5.1. CONCEITO DE AXIOLOGIA. Axiologia é a teoria e o estudo dos valores; ou melhor, é a filosofia dos valores. Mas não se pode conceituar a Axiologia, sem compreender o que sejam os valores.
                        a). Então, o que são eles? Não há uma definição que seja consensual. E, para muitos pensadores, eles não são suscetíveis de definição. Segundo J. Hessen “o conceito de valor pertence ao número daqueles conceitos supremos, como os de “ser”, “existência”, etc., que, por isso mesmo, não admitem definições. Tudo o que se pode fazer a respeito deles é simplesmente tentar uma clarificação, ou, tão-somente, mostrar o seu conteúdo.
                        b). Para efeito unicamente didático, ousa-se ensaiar uma noção pessoal, ou simples idéia inicial, do que sejam os valores, harmonizando elementos encontrados em várias obras:

            2.5.2. CONCEITO DE VALORES
                        a). VALORES seriam qualidades (bom, justo, belo, feio, verdade, mentira, saudável, útil etc.) que resultariam de certas disposições das propriedades entre si (forma, peso, cor proporção, tamanho, propriedades imateriais e abstratas) dos objetos de conhecimento (materiais ou não), dotados do poder do tirar alguém da posição de indiferença perante eles. Essa não-indiferença emocional podendo ser religiosa, ética, etc., manifesta-se em nós sob as formas de tendência, desejo, atração, ou de apreciação diante de uma obra de arte, de uma bela ação, ato de fé, utensílio doméstico, raciocínio, etc.
                        b). Esses valores aderem às coisas, aos objetos de conhecimento, que são os seus portadores, ou suportes deles.

            2.5.3. CLASSIFICAÇÃO1 DOS VALORES . De acordo com sua natureza, os valores podem ser classificados2 em duas grandes categoria:
                        a). Valores espirituais (permanentes):
                                   – religiosos3 (sagrado, santo, caridade, fé, etc.);
                                   – éticos (bom, virtude, justo, honra, etc.);
                                   – estéticos (belo, poesia, música, drama, etc.);
                                   – lógicos (lógico, coerente, correto, conseqüente, etc.);
                        b). Valores sensíveis (efêmeros):
                                   – vitais (saudável, coragem, força, poder, elegância, etc.);
                                   – úteis (agradável, volúpia, doce, prazer, etc.);

__________________________
1 Existem outras classificações; até uma de 24 categorias de valores.
2 É a classificação proposta por Johannes Hessen in “Filosofia dos Valores” (Ed. Armênio Amado Coimbra – 1967).
3 Que também se poderia chamar de espirituais.


            2.5.4. POLARIDADE. A todo valor se opõe um contravalor, ou desvalor, da mesma espécie:
                                   – sagrado – profano               bom – mau
                                   – belo – feio                           verdadeiro – falso etc.

            2.5.5. HIERARQUIA DE VALORES. Significa que alguns valores se apresentam  como superiores a outros, porque tem mais validade. Por sua vez, um valor se apresenta como superior a outro a alguém, quando esse alguém é menos indiferente a ele do que ao outro valor. Dessa avaliação emocional, resulta que essa pessoa dá preferência ao superior dentro da opção entre os dois.
                        a). 1º Exemplo (entre valores e contravalores): uma pessoa diante da alternativa de continuar fumando (contravalor sensível) ou de abandonar o vício para preservar sua saúde (valor vital), inclina-se à segunda opção.
                        – A hierarquia estabelece, assim, certa ordem preferencial de cima para baixo, conforme já exposto no item “classificação” logo acima.
                        b). 2º Exemplo (entre valores): É um exemplo real, histórico. O Duque de Navarra, chefe da facção huguenote (protestante) da França no século XVI, assediava Paris com suas tropas, e defendida pelo exército católico. Entrou em acordo com os defensores, convertendo-se à religião católica da Capital, onde entrou sem resistência, pronunciando antes a célebre frase: “Paris bem vale uma missa”. E tornou-se o rei Henrique IV, fundador da dinastia Bourbon.
                        Foi um exemplo de opção errada no ponto de vista da correta hierarquia de valores. Trocou o valor mais alto, a sua convicção religiosa por um valor inferior, o poder (valor vital).

            2.5.6. ESQUEMAS DE SUPORTE  AXIOLÓGICO PARA A PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE.
                       

                        a). Trata-se de verificar se a Teoria dos Valores oferece esquemas para a sustentação axiológica à Técnica de Afloramento Pedagógico das Perfeições Potenciais. Para começar, admitem-se que os conceitos de perfeição, virtude, e de valor são idênticos, porém focalizados sob ângulos e abrangências diferentes.

                        b). Consideram-se como perfeições apenas os valores espirituais humanos; e como valores as qualidades atribuíveis a qualquer objeto material, animal ou humano. Assim, toda perfeição é valor, mas nem todo valor é perfeição, para efeitos deste trabalho. Ainda mais, as perfeições potenciais só se transformam em valores quando afloram ao nível consciente, e se manifestam em atos de comportamento.

                        c). Segundo os fundamentos antropológicos, já expostos no capítulo correspondente, os contravalores (imperfeições) são “vazios” da alma; “furnas” destinadas a serem preenchidas pelos valores que se lhes opõem.

            2.5.7. HIERARQUIA DE VALORES E LIMITAÇÃO DE OPÇÕES ENTRE ELES.
                        a). Nesta técnica Pedagógica de Afloramento das Perfeições, por ser eminentemente prática e objetiva, visando a atos concretos, torna-se impraticável uma rigorosa opção entre os valores. Ficando limitadas essas opções às duas alternativas seguintes:
           
                        b). 1ª Alternativa: entre o naipe dos valores espirituais permanentes e o naipe dos valores sensíveis efêmeros. Isto é, o educando deverá ser motivado a preferir os espirituais, quando em confronto desses com qualquer dos valores sensíveis (vitais e úteis).
           
                        c). 2ª Alternativa: entre valores e contravalores. O educando deverá ser induzido (motivado) a sempre escolher os valores e preterir os contravalores correspondentes. Exemplo: entre o valor do perdão e o contravalor vingança que se lhe opõe, jamais optar por este último. Outro exemplo: entre o valor justiça por um ato de reparação a uma ofensa cometida e o contravalor injustiça pela omissão da indispensável reparação, preferir reparar a ofensa apenas pelo pedido de desculpas ao ofendido.

                        d). A opção dentro do naipe de valores espirituais ou dos sensíveis, em princípio, torna-se bastante difícil. Isto porque, por exemplo, um valor estético-inferior hierarquicamente a um valor religioso – pode merecer, assim mesmo, a opção, desde que seja mais intenso em não-indiferença àquele valor religioso.
                        – Exemplo: a opção em comparecer a uma extraordinário exposição de quadros de um célebre e consumado pintor em vez de participar de uma sessão espírita rotineira, mal conduzida e improdutiva. (apenas como exemplificação).

                        e). Aí está o fundamento axiológico da técnica que se propõe no final desta obra. Ou seja, a transformação do potencial anímico de perfeições em valores espirituais (religiosos) e morais. Já a nível de comportamento efetivo, visível.

                        f). Opções opostas (exemplos):
                                   CORRETAS:                                                                      ERRÔNEAS
                        – Estudar (valor lógico)    em vez de  divertir-se                  (valor sensível);
                        – Orar (valor religioso)    em vez de  dormir                         (valor vital);
                        – Ser honesto (valor ético)  em vez de  lucrar                       (valor útil);
                        – Trabalhar (valor ético)     em vez de  recrear-se                 (valor sensível.

            2.5.8. FENÔMENO FÍSICO E FENÔMENO AXIOLÓGICO (um confronto).
                       
                        a). UM FENÔMENO FÍSICO (hidrostático)
                        Se forem colocadas num vaso diversos líquidos de densidades (pesos específicos) diferentes, e for o vaso agitado, misturando-os, e, depois, for deixado vaso em repouso por algum tempo, os líquidos vão se separando em camadas superpostas. Os mais densos se estratificam nas faixas inferiores, e os mais leves vão ocupando os níveis superiores (vide figura......).
                        Analisando esse fenômeno, verificamos que essa sedimentação é o resultado de três fatores:
                                   1º - A diferença de densidade dos líquidos;
                                   2º - O repouso do recipiente;
                                   3º - A força ordenadora de estratificação: a gravidade.

                        b). UM FENÔMENO AXIOLÓGICO (ético).
                        – No Reino dos Valores, dentro de cada pessoa também se processa fenômeno semelhante, mas de ordem moral e axiológica.
                        Os valores só se separam e tendem a se estratificar corretamente em sua preferência, de acordo com a sua hierarquia natural, de valores se conjugarem três fatores parecidos e correspondentes ao fenômeno físico-hidrostático:
                        1º. A apreensão íntima das diferenças de validade entre os níveis ou categorias de valores. Essa sensibilidade (captativa) leva o educando a perceber que uns valem mais do que os outros (processo de valoração). Por isso, nas situações de opção, alternativas entre os valores em confronto, devem eles ser preferidos e praticados.
                        2º. O repouso interior do espírito, a serenidade, sem o que se torna impraticável a meditação comparativa, a reflexão, a autocrítica. Dessa tranqüilidade íntima, resulta a lenta maturação da capacidade de valorização correta e o autoconhecimento que propiciam o autodomínio em cada situação de escolha.
                        3º. Uma força ordenadora desses valores. Essa energia hierarquizante só pode ser a da educação (auto e hétero).

                        c). Realizadas essas três condições, podem, os educandos, realmente progredir na conquista da vivência de uma bem ordenada Escala de Valores. Sem riscos maiores de trocar um valor superior por outro inferior. Aos poucos, com muita renúncia, vão-se consolidando as condições propiciatórias da progressiva vida moral em marcha ascendente para Deus, para os valores espirituais (religiosos) e morais.                                       


 
FORÇA
ORDENADORA
DA EDUCAÇÃO
 
SERENIDADE
E QUIETUDE DO
ESPÍRITO PARA O
AUTOCONHECIMENTO
 
DIFERENÇA
DE VALIDADE
ENTRE OS VALORES

 
FENÕMENO
AXIOLÓGICO
(ÉTICO)
 
FORÇA
ORDENADORA
DA GRAVIDADE
 
REPOUSO
DO RECIPIENTE
DOS LÍQUIDOS
 
DIFERENÇA
DE DENSIDADE
ENTRE OS LÍQUIDOS

 
FENÕMENO
FÍSICO
(HIDROSTÁTICO)
 
          FATOR                            FATOR                       FATOR
    DIFERENCIAL                  ESTÁTICO                DINÂMICO
 
                             














                        d). A entrada no processo muito progressivo e longo de arrumação sedimentar desses valores, no dia-a-dia, na vida cotidiana, já é laboriosa, ingente. Muito mais ainda, completar essa hierarquização vivencial: longínquo produto de muitos anos de experiências válidas.
                        – Essa conquista dramática foi reconhecida por Eduard Spranger (1882-1963) em texto candente e clássico:

                                               – “Ainda que tenhamos começado com a ficção metódica de que a ordem hierárquica dos valores representa um sistema objetivo totalmente em repouso, na realidade, não obstante, a apreensão dos níveis de valor se verifica, no fundo, só em virtude de conquista pessoal da pressuposta ordem hierárquica na moral como processo de vida, através de experiências de valor, vivências normativas, conflitos e pugnas incessantes.
                                               – Não se trata de algo já pronto, dado, senão de algo que constitui o último, maduro e a duras penas conquistado produto da vida moral”.
                                                                                              (grifos nossos)

                        e). A nossa tese é a de que seja possível um tratamento técnico-pedagógico que tenha por objetivo induzir a entrada dos educandos no vestíbulo desse processo, e nele serem introduzidos paulatinamente.
                       
            2.5.9. VALORES E CONTRAVALORES FUNDAMENTAIS QUE SERÃO VISADOS NA TÉCNICA PROPOSTA.

                        ESPIRITUAIS                                                            ÉTICOS
            – HUMILDADE  X  ORGULHO               – HONESTIDADE  X  IMPROBIDADE
            – ESPERANÇA  X  DESESPERANÇA     – JUSTIÇA  X  INIQÜIDAE
            – CARIDADE  X  EGOÍSMO                    – VERACIDADE  X  MENDACIDADE
            – INDULGÊNCIA  X  VINGANÇA                     – LEALDADE  X  TRAIÇÃO

                        a). Esse valores fundamentais estarão bem desenvolvidos e explicados inclusive com os seus correspondentes valores derivados e contravalores, em OITO MANUAIS COMPLEMENTARES. Os quais servirão como parâmetros referenciais para uso do educador na aplicação efetiva da técnica.

            2.5.10. RESUMO
                        – Ensaiamos os conceitos de Axiologia e de valores;
                        – Classificamos, polarizamos e hierarquizamos esses valores;
                        – Expusemos a sustentação axiológica da técnica pedagógica em foco, devidamente limitada aos propósitos dela;
                        – Comparamos o fenômeno físico-hidrostático com o fenômeno ético-axiológico;
                        – Elegemos oito valores e contravalores que serão visados pela técnica de Afloramento Pedagógico das Perfeições Potenciais.


2.6. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
 
2.6.1. CONCEITO DE SOCIOLOGIA GERAL
                        a). “Sociologia é o estudo científico do comportamento social ou da ação social dos seres humanos” 1.
                       
b). “Sociologia é a ciência das realidades sociais, e tem por fim, antes de tudo, como qualquer outra ciência, descobrir a verdade, por meio da observação das relações de causa e efeito no mundo objetivo” 2.

c). “Sociologia é o estudo objetivo das relações que se estabelecem, consciente ou inconscientemente, entre pessoas que vivem na mesma comunidade ou num grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que vivem no seio de uma sociedade mais ampla” 3.

d). “Sociologia é a ciência que tem por objeto os fatos sociais e por fim o progresso coletivo” .

2.6.2. CONCEITO DE FILOSOFIA SOCIAL.
            – Inicialmente, remetemos o leitor estudioso ao tema de abertura de nosso trabalho anterior “Filosofia Social Espírita! (Ed. FEB), intitulado “Conceito de Filosofia Social e a Lei Natural” (págs. 25 a 48). Nesse estudo, poderá o leitor aproximar-se da idéia de Sociologia como ciência que é, diferenciada da Filosofia Social, inclusive da espírita, ordenada pela razão natural especulativa.

2.6.3. LIMITAÇÃO DA ABRANGÊNCIA DA SOCIOLOGIA.
           
            a). Esclareça-se que o título dado a este capítulo poderá induzir a idéia falsa de que será utilizado todo o largo espectro conceitual da Sociologia para fundamentar a técnica que está em proposição.Muito pelo contrário foi reduzida essa amplitude a três enfoques bastante contraídos, mas proporcionais às muito restritas necessidades de sustentação da técnica.

            b). Esses enfoques confinantes são aspectos restritos dentro dos limites da Sociologia Educacional, considerada esta em três ambientes de interações sociais-educativas entre os educandos e outras pessoas do convívio diário:


___________________________
1 “Dicionário de Ciências Sociais” (Fund. Getúlio Vargas)
2 Fernando de Azevedo in “Princípios de Sociologia” (cap. I da 3ª parte), (Cia. Editora Nacional).
3 “Alceu Amoroso Lima.
– No ambiente urbano;
– No ambiente escolar
– No ambiente doméstico.
                        c). E a idéia que abrange e capeia esses três ambientes é a da cotidianidade 1, isto é, a vida cotidiana, no dia-a-dia, no lar, nas instituições urbanas, na escola, todas com seus episódios corriqueiros e, não poucas vezes, até triviais. Porém, muito significativos pelas oportunidades a serem aproveitados pela técnica pedagógica, que é o objetivo da presente obra.

                        d) 1º CONFINANTE: AMBIENTE SOCIAL URBANO.
·        A Sociologia Urbana tem por fim o estudo dos grupos sociais e instituições da cidade em geral, as relações entre elas, e delas com os citadinos.
·        Estreitando ainda mais o conceito, interessa-nos particularmente a observação do educando, por si mesmo, do seu próprio comportamento, dos atos que possa vir a cometer relativos aos valores (perfeições) que estão sendo focalizados na ocasião. As oportunidades dessa auto-observação são as que ocorrem normalmente nos grupos sociais e instituições em contactos pessoais com outras pessoas nos templos, clubes recreativos, clubes esportivos, estádios de futebol, academias atléticas, discotecas, “shopping-centers”, bancos, casas comerciais, supermercados, bibliotecas, repartições públicas, etc. E, ainda mais, nos veículos de transporte, nas viagens, nas ruas, nas filas, etc. Para adultos, principalmente, nas empresas onde trabalham.

e)  2º CONFINANTE: AMBIENTE ESCOLAR
·        A Sociologia Escolar, já fazendo parte da Sociologia Educacional, estará voltada para o relacionamento educativo e social do estudante com os seus mestres, com a diretoria da escola, com os funcionários e com seus colegas. E ainda, com a instituição escolar como um todo e com o sistema de educação da escola.

– Atém-se esse confinante unicamente à auto-observação do próprio educando, relacionada à expectativa (atenção) de seus atos concretos no exercício das perfeições que estejam na pauta da Técnica do Afloramento, nos contactos diretos e pessoais acima já indicados.

f)  3º CONFINANTE: AMBIENTE DOMÉSTICO
·        A “Sociologia Doméstica é o capítulo da Sociologia que estuda a família, as relações entre os seus membros e a sua importância na vida social” (A. Fontoura).
·        No propósito em tela, este confinante procura concentrar-se na atuação do próprio educando na possibilidade de surgimento de oportunidades de cometimento de atos das perfeições que estão sendo visadas. E essas oportunidades podem acontecer nas interações com os pais, irmãos, demais parentes e empregados domésticos.

2.6.4. IMPORTÂNCIA EDUCATIVA DA VIDA SOCIAL COTIDIANA.
           
a). Cumpre, muito particularmente neste capítulo, estaquear as balizas da Sociologia da Vida Cotidiana para a Técnica em proposta. O valor da cotidianidade da vida é indescartável para o florescimento das sementes das perfeições espirituais.
           
            b). Reforça-se a relevância da idéia já exposta da vida cotidiana para enfatizar o relacionamento das pessoas entre si, em suas vivências recíprocas.em todos os dias; enfim, nos contactos sociais de todos os momentos, que ocorrem em sítios diversos: no lar, na escola, empresa,  templo, etc.; em  qualquer  lugar em  que  as pessoas se  encontrem, se comuniquem, por
mais triviais e até banais e informais que sejam esses contactos.
__________________________
1 “Qualidade do que é cotidiano, de todos os dias; diário: a vida cotidiana – Que se faz ou sucede todos os dias: labor cotidiano, complicações cotidianas – Que aparece todos os dias: jornal cotidiano. – Que sucede ou se pratica habitualmente: leitura cotidiana – Aquilo que se faz ou ocorre todos os dias”. (Dic. Aurélio)
                        c). E, por que é tão importante a cotidianidade ? Resposta: porque nela mil oportunidades se apresentam a cada um, em ofertas abundantes, comuns, habituais, simples, de perdoar ofensas e danos sofridos; de reparar ofensas e injustiças cometidas; de agradecer favores e considerações recebidos; de reparar ofensas e injustiças cometidas; de agradecer favores e considerações recebidos; de esperar com paciência; de ser veraz, indulgente, modesto, humilde, resignado, etc.

                        d). São ocasiões opimas, oportunidades divinas, para cometermos atos, que, repetidos suficientemente, promovem e alçam nossas perfeições espirituais virtuais ao nível do comportamento efetivo e desejável, consolidando-o.


            2.6.5. O RECONHECIMENTO DOUTRINÁRIO DA COTIDIANIDADE
                        a). A própria Doutrina Espírita consagra o valor da cotidianidade no relacionamento do homem com seus próximos. É na vida social, nesses contactos, que as pessoas se conhecem, a si mesmas, como bondosas ou perversas. Para daí partirem para a melhoria do  espírito:

                                – (CI-1º, III, 8): “A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes”.
                    “Para o homem que vivesse isolado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia”.
                                !”Estude e Viva” – Emm-A.Luiz/F.C. Xavier – W. Vieira, cap.V): “Em suma, aceitar o campo da vivência cotidiana como o educandário mais digno e que possamos estagiar, provisoriamente internados pela Paternidade Comum (...)”.
                                (EE-XVII, 10, p.5): Unicamente no contacto com os seus semelhantes nas lutas árduas é que ele (o homem) encontra ensejo de praticá-la (a caridade)”.

            2.6.6. OUTROS RECONHECIMENTOS

                                   a). René Hubert 1 “Uma educacion segun el espirítu debe encontrar aplicación em la vida segun la natureza y em la vida segun la sociedad”.
                                   b). Giles Deleuze (1925-1995) 2 A vida cotidiana seria onde ocorrem lutas tidas como menores, mas que conduziriam a transformações mais importantes do que a política tradicional....”.
                                   c). Zen-Budismo: “Quando perguntaram a Joshu o que era Tao (ou verdade do Zen) ele respondeu: “A vossa vida cotidiana é o Tao. Esta é a verdade que quero exprimir quando afirmo que o Zen é eminentemente prático. Ele apela diretamente à vida, não fazendo sequer referência à alma, ou a Deus, ou a coisa alguma que interfira ou perturbe o ordinário curso vital. A idéia do Zen é captar a vida assim como ela é. Não há nada de misterioso ou extraordinário a respeito do Zen”.
                                   (Introdução ao Zen-Budismo” – D.C. Suzuki – pág. 98 – Ed. Pensamento).

                                   d). Zen-Budismo: “Na vida cotidiana, este esforço nos leva a desenvolver qualidades boas, como tolerância, paciência, compreensão. Pela falta de atenção, não temos consciência dos estados negativos e embarcamos facilmente neles”.
                                   (“Budismo: Psicologia do Autoconhecimento”, Dr. Georges da Silva e Rita Omenko – Ed. Pensamento).
_______________________
1 Tratado de Pedagogia General” (Livraria El  Ateneo – B. Aires – pág. 166/167 – 3ª edição).
2 Filósofo francês contemporâneo.

            2.6.7. O GRANDE ERRO
                       
                        a). É não se reconhece o valor inestimável da cotidianidade, mesmo tão prosaica como é, sem grandes atrações, porém, cheias de tentações e escorregadelas.

                        b). E, desse desleixo, passa-se comodamente a aguardar grandes ocasiões para progredir, em situações que exigem difíceis perdões, árduas reparações, custosas resignações. Certamente, quem assim pensa e procede fracassará, por não estar preparado, por atos anteriores de pequenas indulgências ou ações simples de justiça, de resignação, de veracidade, de gratidão, a embates maiores.

                        c). Suponha-se que alguém se decida a iniciar, prosseguir, ou acelerar, o desenvolvimento da sua espiritualidade.

                        d). Diga-se que se tenha escolhido aflorar a perfeição um tanto inerte do perdão. O procedimento errôneo será o de aguardar ser acometido de graves ofensas ou danos, para ter a oportunidade de revelar. Engana-se.Quando essas situações acontecerem, fracassará. Não se terá exercitado em agravos preparatórios, simples e fáceis de perdoar.

                        e). Daí, o extraordinário valor do cotidiano em qualquer ocasião ou local: lar, escola, empresa, clube, rua, etc., quando mil ocasiões triviais se apresentam para o exercício do poder ainda débil, de esquecer, ou relevar. O que o capacitará, de grau em grau, no futuro, já habituado, a resistir ao impulso de se vingar, ante graves ofensas.

                        f). É fácil de verificar essa oferta diária e abundante, dadivosa mesmo, de tantas oportunidades vulgares de perdoar, e nas quais capitula-se pelas mais diversas formas de vingancinhas mesquinhas mascaradas de defesa da dignidade e outros eufemismos: O “gelo”, frieza, não cumprimentar, mau humor, respostas ásperas, e tantas outras formas. E com essas suaves represálias, vai-se sedimentando a maligna imperfeição da vingança, difícil mais tarde de debelar e substituir pela indulgência.
                        – E, como será essa preparação preventiva ? a resposta estará nos próximos capítulos.
            2.6.8. CONCLUSÃO. O fundamento sociológico para a Técnica de Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito reside na existência de possibilidades sociais, segundo as coordenadas temporais (o “quando” das oportunidades) e espaciais (o “onde” dos locais) em que se verificam essas oportunidades.

            2.6.9. RESUMO
                        a). Procurou-se dar uma idéia geral da Sociologia e da Filosofia Social.
           
                        b). Em seguida, atalhou-se a abrangência do seu conceito, confinando-o aos ambientes urbano, escolar e doméstico.

                        c). Daí extraíram-se as noções das sociologias especiais, urbana, escolar e doméstica, todas integrantes da Sociologia Educacional, no caso presente.

                        d). Assim limitado e preparado o campo de interesse, destacou-se a importância educativa da vida social cotidiana, quando bem aproveitada técnica e pedagogicamente.

                        e). Assim credenciado, evidenciou-se o grande erro de subestimação dos pequenos atos triviais cotidianos para o desenvolvimento da espiritualidade.
                        f). Finalmente, concluiu-se que a Sociologia também fornece sólida sustentação social para a Técnica Pedagógica que estamos desenvolvendo.     

2.7. FUNDAMENTOS ÉTICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
 
(O DEVER E O BEM)
                                                                                                                                
2.7.1. CONCEITO DE ÉTICA. No decorrer da história da Filosofia, têm os filósofos divergido quanto ao entendimento do que seja Ética, e também do que seja Moral. Alguns juntam na mesma idéia Ética e Moral; outros as distinguem. É preferível separá-las, embora sejam confinantes. A Ética teria por fim estabelecer especulativamente, “a priori”, os princípios gerais do comportamento humano que possam conduzir ao bem sob a forma de deveres.

            a). A Moral estuda, “a posteriori”, os modos e os meios de aplicação prática desses princípios em atos concretos de conduta e dos costumes dos povos e comunidades.

            b). Os três princípios gerais básicos da Ética são: 1º - Existe o bem e existe o mal; 2º - o bem e o mal opõem-se um ao outro; 3º - deve-se preferir o bem ao mal.

            c). O bem no homem é tudo que faculta a plena realização de sua natureza, da sua humanidade.

2.7.2. PERGUNTAS DIRETRIZES. Como já foi adiantado anteriormente, cabe aqui responder à pergunta: É legitimamente moral induzir nos educandos o desenvolvimento de sua espiritualidade, ou seja, das perfeições espirituais que jazem no imo de sua alma? Tal procedimento pedagógico constituirá um dever, ao mesmo tempo do educador e do educando?
           
            a). Ora, só é moral em educação o que conduz ao bem do educando ainda que remoto. Esse bem é a sua felicidade. Mas essa é uma decorrência das perfeições que vão sendo gradativamente conquistadas. A felicidade passa, assim, a ser o gozo, o deleite íntimo e espiritual dessas perfeições.

            b). A felicidade é também um inefável sentimento interno de paz, de alegria, de satisfação plena, de realização pessoal, decorrentes proporcionalmente do grau já atingido de purificação do Espírito.

            c). Mas é o desenvolvimento da espiritualidade que conduz progressivamente à felicidade do educando; logo, é moral; e o educador tem o dever de assistir o educando nesse processo; e o educando de esforçar-se com boa vontade para assim autoeducar-se.

            d). Todavia, o processo de purificação do espírito equivale ao mesmo desenvolvimento da espiritualidade, como pode demonstrar a própria Doutrina Espírita:

(CI-1ª, VII, Código.....2º): “A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito (...); toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos”.
(idem, 3ª): “(...). Não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo (...). A soma dos gozos é proporcional à soma das qualidades”.
– (idem, 5ª): “Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio (...)”.
– (LE-Q.115): “Nesta perfeição, é que os Espíritos encontram a pura e eterna felicidade.
(LE-Q.967): “A felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um”.
– (LE-Q.1004): “O estado de felicidade é proporcionado ao grau de purificação”.
– (LE-Q.979): “Goza de felicidade, a alma que chegou a um certo grau de pureza. Domina-a um sentimento de grata satisfação. Sente-se feliz por tudo o que vê, por tudo o que a cerca”.
– (CI-1ª, VII, Código, 2ª): “A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito”.

                        e). CONCLUSÃO. O desenvolvimento da espiritualidade pelo afloramento das perfeições potenciais do espírito conduz à felicidade, que é o bem do educando.
                        Logo, é moral, e, como tal, constitui dever dos educadores e dos educandos. Mesmo, porque:
                        – (LE-Q.629): “A moral é a regra do bem proceder”.
·        Ora, o desenvolvimento da espiritualidade consiste justamente em o educador induzir esse bom procedimento do educando devidamente assistido por ele.

2.7.3. ÉTICA DOS FINS E MEIOS.
            a). FINS DESTA TÉCNICA. Já foi verificado, no capítulo correspondente, que os fins almejados na aplicação desta Técnica de Afloramento Pedagógico das perfeições Espirituais do Espírito estão todos eles revestidos do indispensável requisito ético. Porque estão indissoluvelmente integrados ao bem dos educandos: à felicidade deles, à paz e à satisfação da consciência.
            Recordando esses fins: a. desenvolvimento da espiritualidade; b. o fim social do futuro mundo de regeneração; c. o aristocrata do espírito como o ideal e padrão humano a serem formados; d. o puro Espírito como fim último subjetivo; e. Deus como o fim supremo. 1.

            b). MEIOS E MODOS. Todavia, não basta que os fins desta técnica pedagógica ostentem eticidade. Impõem-se que os meios e os modos de aplicação também sejam morais. Por quê ? R. Porque os fins não justificam os meios e os modos de aplicação. Ao contrário disso, recaíria-se na doutrina imoral de Maquiavel: os fins éticos legitimando os meios imorais. Isto é, se os fins são bons, justos, não importa que os meio e modos em si mesmos sejam desonestos, injustos. Por exemplo, justificar a tortura (meio imoral) de um seqüestrador para salvar a vítima dele (fim ético).
            Ora, os meios e modos desta técnica constituem toda a didática adotada e constante do respectivo capítulo. Portanto, cumpre agora colocar essa didática em julgamento. Examinando-a ponto por ponto.

            c). OS MEIOS.
            – 1º Ponto (fundamental), formação dos bons hábitos. Se são realmente bons, já estão previamente justificados. Ora, pretende-se formar os hábitos de diversas perfeições como, caridade, indulgência, humildade, esperança, justiça, honestidade, veracidade e lealdade. Todas essas perfeições e outras mais dimensionam a natureza\ ideal  humana, o padrão que Deus  teve em
________________________
1 Vide  Fundamentos Teleológicos.

vista ao criar os homens. Toda perfeição sendo o hábito dela mesma, a ser formado pela educação (auto ou hétero), está esse hábito moralmente sustentado.
                        – 2º Ponto. Processos de gradação e sucessão (no processo pedagógico de espiritualização). É evidente que ambos esses processos nada apresentam de moralmente condenados. Mesmo porque se integram ao âmbito maior e abrangente já justificado: da formação dos hábitos.

            2.7.4. O MODO, E OS PROCEDIMENTOS DO EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
                        A atuação do educador em relação ao educando, ou sejam, os seus procedimentos, também devem estar moralmente legitimados. E que são sucessivamente:
                        a). 1º Ponto – Preservação do Livre-Arbítrio. O educador não pode violentar a liberdade dos educandos da espiritualidade, de fazerem ou não fazerem o bem. A vontade deles tem que ser respeitada. Não deve o educador superpor o seu querer ao querer do educando. Para isso apresenta as alternativas entre praticar o bem ou não praticá-lo, de livre escolha, esclarecendo a consciência de cada um e o valor, a beleza e a grandeza espiritual da perfeição.

                        b). 2º Ponto – Interdição de Doutrinação. O educador não inculca nas mentes dos educandos nem mesmo a prática impositiva do bem. Moderna e pedagogicamente, o conceito de doutrinação tende a se tornar pejorativo. O processo apenas induz a formação do hábito do bem (perfeição). A Técnica do Afloramento sendo educação (de dentro para fora) não admite a doutrinação (de fora para dentro).. Há a convicção de que doutrinação não passa de instrução com forte e até invencível apelo autoritário de aceitação pelo educando. Assemelha-se à propaganda e ao “marketing” (vender idéias). Em resumo, o educador não doutrina sobre o bem. Indu-lo.

                        c). 3º Ponto – Interdição do Moralismo – Moralismo é a contrafação da moralidade. O seu exagero. A não-consideração do nível espiritual atingido pelo educando na ordem físico-corporal, é comparável à exigência, descabida, a todos os halterofilistas de levantar a mesma barra de 200 quilos. É verdade que vários deles, pelo treinamento e conseqüente desenvolvimento muscular, poderão atingir essa performance no devido tempo. Passando para a esfera moral, aí assinala-se e se reconhece o indispensável realismo da moralidade e da educação moral: 1. Verificação da capacidade relativa atual e individual para uma conduta moral de determinado nível; 2. Reconhecimento da capacidade pessoal de cada um para alçar-se a níveis mais elevados.

                        – O moralismo ignora esse realismo. Daí o lema: moralismo, não1; moralidade, sim.
                        Além disso, o educador não deve se apresentar a si mesmo como um modelo de moralidade, ,mas sim um companheiro dos seus educandos no processo de desenvolvimento espiritual como um homem moral: que é moralizado, e, nesse sentido, em processo de aperfeiçoamento gradativo; mas que também é humano com todas as debilidades da condição humana. Porém, deve constituir-se em exemplo pessoal de luta e de tudo que procura induzir nos educandos. Terá assim que demonstrar um grau razoável das perfeições constantes do elenco, que estão sendo focalizadas: ou justiça ou indulgência, ou humildade, ou qualquer outra perfeição em desenvolvimento.

                        d). 4º Ponto – Interdição de julgamentos. O educando nesta técnica não está em julgamento, a não ser pela própria consciência. Está sim, em processo pedagógico induzido de desenvolvimento muito gradativo, lento, mas incessante, muito demorado, e até interminável do seu potencial de perfeições espirituais.
________________________
1 “O excesso de virtude leva ao moralismo, que é a moral sem ética”. (Ministro Carlos Veloso – Presidente do Supremo Tribunal Federal).
        Aliás, ARISTÓTELES já qualificava o excesso de virtude como vício.
Não cabe ao educador, nesta técnica, condenar as imperfeições morais do educando, nem mesmo por gestos ou expressões faciais. Diferentemente, cabe-lhe induzir o despertar das perfeições opostas a essas imperfeições; desse modo, removendo-as da estrutura anímica dos educandos.
Para isso, abstém-se de avaliar individualmente cada um deles. Só lhe é lícito verificar ou monitorar os possíveis progressos coletivos de toda a classe, dando a ela conhecimento, como importante referencial de auto-superação coletiva. A avaliação individual cabe a cada educando no recesso intangível de sua consciência. É o educando que vai se sentindo auto-gratificado, ampliando sua auto-estima no decurso da espiritualização.
– Esta mesma interdição é valida para louvores, elogios, prêmios e recompensas de qualquer natureza.

e). 5º Ponto – Auto-Aplicação da Técnica (acompanhamento participativo).
     O educador não deve se posicionar à margem do processo do afloramento das perfeições dos seus educandos. Antes, terá de acompanhá-lo como participante dele, ou seja, como também objeto de aplicação da técnica, neste caso auto-aplicada. Mas com o conhecimento dos educandos. Podendo, o educador, transmitir suas próprias experiências aos alunos, se assim desejar e julgar construtivo. O educador, nesta técnica, é um companheiro de seus educandos nas lutas comuns de auto-aperfeiçoamento.

f). 6º Ponto – Amar o bem e admirar o bom. A indução didática do cometimento dos atos das perfeições para formar os respectivos hábitos morais completa-se nos Exercícios Preparatórios 1 visando induzir nos educandos o amor ao bem e a admiração do bom (o homem de bem) as perfeições humanas, para incorporação espontânea dos respectivos valores. Sem essa assimilação, os atos podem se tornar mecânicos, desprovidos de valor e intenções morais.

            2.7.5.. DEVERES DOS EDUCANDOS DA ESPIRITUALIDADE
                        Pode-se reconhecer nesta técnica duas ordens de deveres dos educandos: os morais e os administrativos.
                        a). Deveres Morais. São aqueles pertinentes aos esforços e procedimentos pessoais de ascensão do fundo de suas almas  das perfeições espirituais subjacentes.
                        – O cumprimento desses deveres, todavia, não poder ser coagido pelo educador, nem formal, nem subtendido, nem sutil e tacitamente. Os educandos não são suscetíveis de nenhuma censura por mais discreta que seja. Mas, por outro lado, não são também objetos de qualquer prêmio ou recompensa, porque são deveres: “O premio das boas ações é praticá-las” (Pe. Vieira).

                        b). Esses deveres, por terem um teor ético, são de livre cumprimento. A prática do bem (no caso relativo às perfeições em emersão) é livre, ou deixa de ser um bem; isto é, esvazia-se de sua essencial conotação moral. Todo bem, ou todo mal, coagido deixa de ser moral. É o entendimento enfático da própria Doutrina Espírita, como passamos a constatar:

                                   – (EE-XVI,8, p2): “Dando-lhe o livre-arbítrio, quis (Deus) que o homem chegasse por experiência própria, a distinguir o bem do mal, e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais”.
                                   – (CI-1ª. IX, 21, final): “Se o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras”.


__________________________
1 Vide o que são esses Exercícios nos Fundamentos Técnicos )2.10).

                                   – (CI-1ª, VII, Código......20º, p1, final): “O Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição” (1).
                                   – (CI-1ª, VII, Código.....32º, p.6): “O bem e o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para outro”.
                                   – (CI-1ª, VII, Código.....20, p2): “O bem e o mal são praticados em virtude do livre arbítrio, e, consequentemente, sem que o Espírito seja fatalmente impelido para um ou outro sentido”.
                                   – (LE-Q.872, p3): “Sem o livre-arbítrio, o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem”.

                        c). Esses deveres morais dos educandos, nos limites da técnica em exposição, podem ser assim alinhados:
                        – Dever Moral Geral – Esforçar-se para seguir, tanto quanto possível, satisfatoriamente, os Ciclos do Desenvolvimento Espiritual (de 7 dias) subseqüentes às Sessões de Trabalho (vide adiante).

            2.7.6. DEVERES MORAIS ESPECÍFICOS

                        a). 1º Dever – Participar ativa e atenciosamente das Sessões de Trabalho e do Ciclo de Desenvolvimento Espiritual.
                       
                        b). 2º Dever – Guardar de memória as oportunidades que surgirem durante o Período de Aplicação de sete dias, para fins de relato por escrito ou verbal) durante a Dinâmica de Conscientização (vide adiante).

                        c). 3º Dever – Relatar com sinceridade essas oportunidades com suas circunstâncias e o seu comportamento diante delas, quer tenha praticado o ato almejado, quer não tenha aproveitado essa oportunidade de crescimento espiritual.

                        d). 4º Dever – Proceder de acordo com a orientação do educador nas Sessões de Trabalho e nas dinâmicas de conscientização,  motivação  preparação e  imaginação. 
                        – Estão em reforço a esses deveres morais específicos, os seguintes textos doutrinários, muito bem formulados, e que não deixam dúvidas quanto ao dever (moral) de todos em se esforçarem pelo seu próprio desenvolvimento e progressos espiritual:

·        (GÊ-XI, 9): “Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar”.
·        (LE-Q.783, p2): “O homem tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou”.
·        (LE-Q.778): “O homem tem de progredir incessantemente”.
·        (LE-Q.768): “O homem tem que progredir”.

– Tanto é dever moral que a falta de progresso, de aperfeiçoamento espiritual, redunda em sofrimento, ou sejam, sanções naturais da Lei: a punição2   para os que se imobilizam estacionando consiste nela mesmo, isto é, em não avançarem”, conforme a indicação de (LE-Q.178a).


_________________________
1 Não é obrigatório, mas é dever (LE-Q.202, 333, 466, 768, 778, 993).
2 Por esse mesmo texto, verifica-se que Deus não pune. Porém, previamente, estabeleceu leis naturais que levam ao sofrimento os que as violam. No caso desse texto, veja-se bem, a sanção consistiu na angústia do próprio estacionamento espiritual. A dor é a conseqüências natural do não-cumprimento da lei.
– Em que pesem todos esses princípios, não se pode deixar de reconhecer a outra classe de deveres.

2.7.7. DEVERES DE ORDEM ADMINISTRATIVO – ESCOLAR:
                        a). 1º dever – de comparecimento às sessões de trabalho em sala. 

                        b). 2º Dever – de atenção à orientação do educador;

                        c). 3º Dever – de disciplina durante essas sessões;

                        d). 4º Dever – de redigir os relatos de suas vivências no Período de Aplicação Prática (vide), com esmero, caligrafia e correta ortografia;
           
                        e). 5º Dever – de atender a todas as solicitações do educador, quando de ordem administrativa ou disciplinar, isto é, que não sejam de ordem técnico-moral do processo. O cumprimento de deveres morais da técnica não pode ser obrigatório, mas o são os deveres de ordem administrativa para o bom asseguramento da realização da técnica de afloramento.

                        f). 6º Dever – de participar ativa e interessadamente dos Exercícios Preparatórios (vide).

            2.7.8. DIREITOS DOS EDUCANDOS DA ESPIRITUALIDADE
                        Pode-se reconhecer os seguintes direitos, exclusivamente pertinentes à técnica em exposição:
                        a). 1º Direito – de não serem coagidos ao cumprimento dos seus deveres morais.

                        b). 2º Direito – de ser respeitado o seu livre-arbítrio, principalmente no cometimento dos atos relativos às perfeições. Por exemplo, a liberdade de perdoar ou não uma ofensa; de reparar ou não um dano ou ofensa praticada, etc.

                        c). 3º Direito – de não ser doutrinado em oposição e desrespeito às suas próprias convicções e razões.
                       
                        d). 4º Direito – de não ser colocado em posição de julgamento moral ou censurado, salvo quanto ao não-cumprimento dos deveres administrativos.


            2.7.9. DEVERES DO EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
                        São os mesmos já registrados no item “O Modo” de aplicação da “Ética dos Fins e Meios”. Ou sejam:

                        a). 1º Dever – Preservar o livre-arbítrio dos educandos em matéria de aplicação do Afloramento das Perfeições Potenciais (este dever do educador não é extensível aos deveres administrativo-escolares, que são obrigatórios para o educando e exigíveis pelo educador.

                        b). 2º Dever – Interditar-se à doutrinação que violente convicções pessoais e evidência dos fatos.

                        c). 3º Dever – precaver-se contra o moralismo, a ser removido pela exaltação da moralidade.

                        d). 4º Dever – Forrar-se a qualquer julgamento, censura, ou louvor, prêmios e recompensas individuais dos educandos.
                       
                        e). 5º Dever – Auto-aplicação da Técnica, como exemplo e fonte de experiências pessoais.

                        f). 6º Dever – Induzir nos educandos o amor ao bem, às perfeições espirituais.

                        g). 7º Dever – (geral e fundamental) – Induzir nos educandos o desenvolvimento de sua espiritualidade pelo afloramento das perfeições espirituais contidas no fundo de suas almas.

            2.7.10. DIREITOS DO EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
                        Esses direitos docentes situam-se em simetria com os deveres administrativos-escolares dos educandos;

                        a). 1º Direito – de controlar a freqüência dos educandos às Sessões de Trabalho em sala e o de corrigir possíveis irregularidades como evasão, faltas e impontualidade.

                        b). 2º Direito – de exigir a atenção à sua orientação, exposições, condução dos exercícios preparatórios, etc.

                        c). 3º Direito – de exigir a indispensável disciplina dos educandos em todas as reuniões da classe.
                       
                        d). 4º Direito – de ser atendido pelos educandos em todas as suas recomendações de ordem administrativo-escolar, para o bom andamento da técnica.

            2.7.11. O QUERER DO EDUCANDO E O QUERER DO EDUCADOR
                        a). Querer, neste tópico, é um verbo transitivo ordenado a um objeto direto, que é o afloramento das perfeições potenciais do espírito do educando; esse querer é atribuível a dois sujeitos gramaticais: o educador e o educando, cada um com a sua função voluntária.

                        b). O querer do educador é subjetivo (em sua geração) e objetivo (em seu endereço), para induzir o querer do educando; o qual, porém, é totalmente subjetivo (íntimo), porém objetivo na prática dos atos dos valores no Período de Aplicação de 7 dias.

                        o educador deve querer produzir esse efeito espiritual na alma do seu educando. Isto é, deve atuar de modo a que o próprio educando queira crescer espiritualmente, não obstante independentemente do querer do educador.
                        Para isso, o educador deve muito bem se acautelar, com muita atenção, consciência e habilidade pedagógicas, para que o seu querer não seja incorporado, ou internalizado, pelo educando, abafando o querer do educando.
                        – Essa transferência, ou absorção, do querer alheio poderia remover o querer do educando, ou dificultar o seu despontar. Seria a substituição da vontade autônoma que se deseja induzir por outra heterônoma que se deve evitar.
                        – objetivo do querer do educador limita-se a induzir a ativação do querer do educando, sem a indesejável introjeção do seu querer (do educador), o que seria anti-educativo, e mesmo efêmero.

                        c). Para isso, o educador, tanto quanto for possível, deve evitar a manifestação ostensiva e confessa do seu querer, cuja intenção é a de que o educando pratique os atos das perfeições almejadas. Reconhece-se, de um modo ou de outro, no entanto, que o educando sempre apreende em certo grau essa vontade e intenção do seu educador. É impossível evitá-lo. Mas a discrição se impõe, ainda que com sofríveis resultados.
                       
                        – o êxito nesse desiderato é o educando agir corretamente, não porque o educador quer, mas sim, porque, ele, o educando, quer, porque incorporou o valor da perfeição em desenvolvimento. Sem essa incorporação, o efeito espiritual da emersão das perfeições potenciais é minimizado e escasso pelo empobrecimento da vontade livre do educando.

            2.7.12. CONCLUSÕES

                        a). A pergunta inicial: “deve-se induzir nos educandos o desenvolvimento de sua espiritualidade?” A resposta é SIM.

                        b). A segunda pergunta: “este desenvolvimento constitui um dever, ao mesmo tempo do educador e do educando ?” A resposta é SIM.

                        c). O desenvolvimento pedagógico e induzido está moralmente legitimado porque conduz gradativamente ao bem dos educandos, isto é, à sua felicidade proporcional, ainda que futura? A resposta é sim.

                        d). Tanto os fins almejados quanto aos meios didáticos e os modos e procedimentos do educador estão bem fundamentados e eticamente justificados. A resposta é SIM.

            2.7.13. RESUMO

                        a). Conceituou-se a Ética e considerou-se a distinção entre Ética e Moral.
                       
                        b). Abriu-se este estudo com duas perguntas diretrizes para encaminhar e desenvolver todo o trabalho.

                        c). Estabeleceu-se o vínculo indissolúvel entre espiritualidade e felicidade; a primeira como causa e a segunda como efeito. Podendo, no devido tempo, a espiritualidade e a felicidade entrarem em processo de causalidade recíproca.

                        d). Estudou-se a Ética dos Fins e dos Meios em relação à Técnica do Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito.

                        e). Rejeitou-se o princípio de que os fins justificam os meios, concluindo que tanto os fins almejados quanto os meios e modos didáticos de atingi-los por esta técnica estão moralmente legitimados.

                        f). Reconheceram-se os deveres e direitos morais dos educandos e dos educadores na aplicação desta Técnica.

                        g). Distinguiram-se os deveres morais dos deveres administrativos e escolares dos educandos.

                        h). Reconheceu-se que o querer (vontade) do educador não deve se sobrepor ao querer do educando. Mas devem ser complementares e harmônicos.

                        i). No final, respondeu-se afirmativamente às duas perguntas iniciais, como conclusões: tanto os educadores tem o dever moral de induzir o desenvolvimento da espiritualidade dos educandos, quanto esses de se disporem moralmente acessíveis a esse desenvolvimento.

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