sábado, 22 de março de 2014

2.1. FUNDAMENTOS ETIOLÓGICOS (ESPECÍFICOS) DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO DOS EDUCANDOS



(CAUSAS GERAIS)
2.1.1. CONCEITO DE ETIOLOGIA
            a). Etiologia é o estudo da origem das coisas. Mais especificamente, é a parte da Medicina que estuda a causa das doenças (dic. Aurélio).
            Para o presente trabalho, tomou-se a Etiologia, por extensão, como o esforço de identificação dos motivos, ou razões, que moveram a encetar a presente obra, e de natureza espiritual, educativa e social observáveis.

            b). OBJETIVO. Tentou-se, então responder à indagação diretriz: quais as atuais condições humanas, como causas, que tornam necessário, e até inadiável, o desenvolvimento pedagógico da espiritualidade, segundo processos didáticos adequados ?

            2.1.2. AS SEIS CONDIÇÕES CAUSAIS             (fundamentos etiológicos)
                        a). PRIMEIRA CONDIÇÃO. O não-aproveitamento pelos homens, individual e coletivamente, desse manancial de perfeições espirituais que ainda jazem em estado potencial e inercial no fundo dos espíritos. A emersão dessa fonte profunda de valores tem sido altamente insuficiente e lenta, acarretando a observação de um panorama escasso de atos e comportamentos sociais almejados, necessários e dramaticamente urgentes.

                        b). SEGUNDA CONDIÇÃO. O contundente desequilíbrio, de reconhecimento universal, entre o desenvolvimento intelectual e científico e o espiritual e moral. Este último rebaixado a níveis tão inferiores, que abre oportunidades para o mau uso das grandes conquistas da inteligência humana, por falta daquele equilíbrio.

                        c). TERCEIRA CONDIÇÃO. O esvaziamento de parte substancial da função educativa dos lares pela profissionalização das mães. Agravada essa condição pelo crescente despreparo pedagógico dos pais para enfrentarem, com sucesso, o assédio, e mesmo a invasão dos lares pelas cada vez mais vigorosas forças desagregadoras das sociedades contemporâneas.

                        d). QUARTA CONDIÇÃO. A negligência dos sistemas escolares, voltados unicamente para a instrução, alijando comodamente de si o dever social e pedagógico de atenderem ao múnus propriamente educativo das escolas. Principalmente em nossa época, quando deveriam – como só elas podem – absorver a parte da educação perdida pelos lares.

                        e). QUINTA CONDIÇÃO. A escalada insopitável das graves patologias sociais, atingindo e vitimando crianças e adolescentes: a criminalidade, o consumo de drogas, a exacerbação sexual, gravidez prematura e, como contorno de tudo isso, a dinamização desse quadro pela indisciplina generalizada, doméstica, escolar e urbana.

                        f). SEXTA CONDIÇÃO. A proverbial fraqueza humana para enfrentar esse quadro clinico perverso. “Deus nos lembra a nossa fraqueza e a fragilidade de nossa existência” (LE – Q.855); e “nos criou fracos para nos tornar perfectíveis” (EE – VI,6,p3); embora nós tenhamos nascido igualmente fracos” (LE – Q.803).
            2.1.3. ANÁLISE
                        a). Observando esse quadro, ninguém poderia negar que a causa geral dele não é uma carência intelectual de conhecimentos. Dispôs-se de surpreendentes pesquisas científicas, de maravilhosas obras arquitetônicas, de espantosas descobertas, do progresso inaudito da Medicina, da tecnologia, nos transportes, nas comunicações, na industria, no comércio, na Agricultura, nos serviços, etc.
                        b). Imagine-se, agora, que se processasse um desenvolvimento acelerado, progressivo e generalizado, de  caridade, indulgência, humildade, esperança, justiça, honestidade, veracidade, lealdade.
                        – Pergunta-se: esse quadro não teria invertido a sua polaridade, com predominância do bem sobre o mal ? É evidente que sim. Ninguém o negaria.
                        – Logo, a causa geral do quadro caracterizado no item 2.1.2. anterior é a carência intolerável e afrontosa do desenvolvimento da espiritualidade, isto é, mais objetivamente, das perfeições acima enumeradas. Está aí, gritantemente, o que deve ser feito. Por que não é feito ?
                        c).  Porque se aguarda, paciente e ingenuamente, que esse aperfeiçoamento vá acontecendo, natural e espontaneamente, a revelia dos recursos pedagógicos e institucionalizados nas escolas, nos lares e nos templos.
                         Ainda mais, a fraqueza da condição humana  tem impedido de se atravessar aquela ponte de transposição, lançada sobre o abismo há 2.000 anos. Da Doutrina que esposamos para a sua exigível prática; dos princípios aceitos com entusiasmo para a ação. Enfim, da Doutrina para a vida. E cuja travessia só poderá ser feita pelo desenvolvimento da espiritualidade.

            2.1.4. PRIMEIRO QUESTIONAMENTO
                        a). Poder-se-ia questionar a proposta que foi apresentada pela suposta suficiência da Lei das Conseqüências Naturais1 de nossas faltas e atos ilícitos e conseqüente e inevitável sofrimento. Essa lei natural dispensaria a necessidade de planejamento e programação pedagógicos formais.
                        b). A Doutrina Espírita consagra essa lei em vários textos. E a lei conduziria, pela dor conseqüente da violação dela ao árduo desenvolvimento dos potenciais do espírito.
            (EE – V, 5): “Deus, porém quer que todas as suas criaturas progridam, e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração de sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências, mais ou menos deploráveis”.
            (LE – Q.633): “A lei natural traça para o homem o limite de suas necessidades, se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento”.
            (CI – 1ª, VII, 33, p2): “Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio”.         
(EE – V. 4, p2): “Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam”.

                        c). Todos esses textos conduzem ao reconhecimento da grande força pedagógica da Lei  das  Conseqüências  Naturais. Ela  mantém  estreitas  relações com  a Lei de Causa e Efeito, ou do Retorno, ou de Ação e reação, ou de Causalidade Psíquica. Preferimos chamá-la de Lei da Responsabilidade, porque gerada pelo livre-arbítrio. Outros preferem o nome exótico de lei do Carma, o qual, às vezes, dele também se utiliza.




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1 Recomenda-se ao estudioso a leitura do 3º Problema “Sanções Naturais ou Sanções Intencionais”, constante do 3º volume da obra “Filosofia Espírita da Educação” (ed. FEB, págs. 61 a 80)
                        d). DESLINDAMENTO DA QUESTÃO. ).A esse questionamento, pode-se contrapor a seguinte objeção. A Lei das Conseqüências Naturais é muito necessária, pelo seu atroz escarmento, à falta do desenvolvimento da espiritualidade. Mas não é suficiente para vencer o atraso e acelerar o  progresso espiritual. Todavia, ela instaura as condições iniciais para possibilitá-lo.
                        – Por exemplo, se uma pessoa comete uma falta grave, movida pela imperfeição do orgulho exacerbado, poderá, em vida subseqüente, sofrer dolorosa humilhação moral ou social, para abater essa imperfeição (conseqüência natural). Esse padecimento, além de quitar a falta cometida, ainda induz no culpado a valorização da perfeição da humildade. E assim fica a pessoa motivada para iniciar a prática de atos de humildade suficientes para formar o hábito dessa perfeição.
                        – A Lei das Conseqüências Naturais produziu, no caso acima, o efeito de zerar o “deve-haver” cármicos na contabilidade do Pretório Divino. Contudo, não obstante, abriu a oportunidade para o afloramento do potencial do espírito, na área já saneada pelas conseqüências naturais.
                        – Conclusão: a Lei Natural não substitui nem dispensa o posterior desenvolvimento pedagógico, provocado e técnico da espiritualidade, cuja urgência seria muito arriscado desprezar. Basta atentar para o abominável e clamoroso estado espiritual e atual da humanidade.

            2.1.5. SEGUNDO QUESTIONAMENTO
                        a). Também poderia alguém contrapor que não haveria a necessidade de um tratamento técnico-pedagógico para o desenvolvimento da espiritualidade. Este tem se processado naturalmente pela força mesma das coisas, da vida, ou melhor, das vidas.
                        – Seriam indicadores desse desenvolvimento espiritual natural através dos tempos o abrandamento dos costumes, a humanização das leis penais, o culto dos direitos humanos, a democracia removendo o despotismo, a liberdade política, o Cristianismo, a liberdade de consciência religiosa, etc.
                        b). DESLINDAMENTO DA QUESTÃO. Esse progresso social é inegável; e também não se pode negar que é decorrente do desenvolvimento espiritual coletivo (LE – Q.784).
                       (LE – Q.785, p2): “Comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado”.
                        c). Porem, a própria Doutrina reconhece a lentidão dessa marcha que torna imperativa, de tempos em tempos, a aceleração dela:
                                   (LE – Q.783): “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos em tempos, a um abalo físico e moral que o transforma”.
                        d). Essa necessidade de aceleração ainda é reconhecida formalmente por ALLAN KARDEC:
                    – (OP – “Liberdade, Igualdade..., p.11): “Por que teria (o homem) atingido o limite do progresso moral e não o do progresso intelectual? Sua aspiração por uma melhor ordem de coisas é indicio da possibilidade de alcançá-la. Aos que são progressistas cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes”.

           – Ora, já que pelo texto doutrinário de (LE –Q.796), “só a educação poderá reformar os homens”, esse recurso pedagógico está, e continua, à disposição dos homens, podendo esses, com a permissão divina, promover essa aceleração do desenvolvimento da espiritualidade. Talvez, até, esse tratamento técnico-pedagógico pudesse evitar terríveis “abalos físicos e morais” acima citados, se assim for a vontade de Deus.

            2.1.6. A INTUIÇÃO DE KARDEC
                        a). Mas é no pedagogo e educador ALLAN KARDEC que se encontra o credenciado despacho saneador desses questionamentos.
                        A procura de uma técnica pedagógica de desenvolvimento da espiritualidade não discrepa do seu pensamento e antevisão. Pelo contrário, dá-lhe curso:
                                   – Em (LE – Q.917, p.3, e 685, p.2), KARDEC se refere a uma futura “arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências”, ou seja, “a educação moral, não pelos livros”, isto é teoria, ou pelas lições inócuas de moral, acrescenta-se.
                        b). Em (LE – Q.685ª, p2), ele define essa arte educativa como sendo “a que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos” (SIC).
                        A técnica pedagógica que está sendo proposta nesta obra está toda centrada na formação dos hábitos das perfeições potenciais do espírito.
                                   – Na “Revista Espírita!, volume de 1864, pág. 40 (EDICIEL), prenuncia KARDEC a futura ciência da educação moral “com suas regras e princípios, como a educação intelectual, que um dia será imposta a toda mãe de família com a obrigação de possuir conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o direito”.

            2.1.7. CONCLUSÃO PARCIAL
                        Essa arte, ciência, ou técnica pedagógica, como se queira, em sinergia, ou complementaridade com a Lei de Conseqüências Naturais e com o espontâneo e lento progresso espiritual “pela força das coisas”, poderá constituir um complexo educativo cuja força docente tríplice não seria lícito desmerecer.

            2.1.8. RESUMO GERAL
                        a). Objetivo: legitimar a técnica.
                        b). Condições Causais: seis condições
                        c). Análise e Conclusão: a carência de um tratamento técnico-pedagógico.
                        d). 1º Questionamento: a insuficiência da Lei de Conseqüências Naturais o deslindamento dessa lei é necessária, mas não é suficiente.
                        e). 2º Questionamento: a insuficiência do desenvolvimento espiritual espontâneo, “pela força mesma das coisas”.
·        Deslindamento: esse desenvolvimento é demasiadamente lento, podendo exigir “abalos físicos e morais”, mas não desejados para ser acelerado.
                        f). A intuição de Kardec: previsão de uma futura arte de manejar os caracteres pela educação fundamentada na formação dos hábitos.
                        g). Conclusão Final: os três processos são necessários e complementares: 1. A Pedagogia da Espiritualidade; 2. A Lei das Conseqüências Naturais. 3. A “força natural das coisas”. Mas ainda concorrem com mais eficácia espiritualizante outras dinâmicas mais ativas (vide no 4º tomo).

            2.1.9. CONCLUSÃO FINAL. Resposta à indagação registrada no item b (OBJETIVO): as causas que tornam necessário e até inadiável a Pedagogia da Espiritualidade, são em números de seis (6), devidamente expostas e alinhadas no item 2.1.2.


2.2. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA  TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
 
(CAUSAS PSÍQUICAS
NO AGENTE PSICOLÓGICO)

            2.2.1. CONCEITO DE PSICOLOGIA E DE PSICOLOGIA CIENTÍFICA ESPÍRITA
                        a). Não é nada pacífica a definição do que seja Psicologia. Primeiro, porque a sua idéia no decurso dos tempos, tem sofrido alterações semânticas profundas. Segundo, porque cada escola psicológica a define a seu modo: Associacionista, Behaviorista, Gestaltica, Funcional, Psicanalista, etc.
                        Agravam ainda mais a dificuldade, as definições pertinentes às psicologia especiais de extensão a outros campos de interesse. Psicologias: Genética, Social, Diferencial, da Educação, da Religião, Comparada, etc.
                        b). Todas elas, porém, emanam da chamada Psicologia Geral, que tem por objeto o estudo dos fatos psíquicos do homem adulto, civilizado e normal1.
                        c). Consultadas diversas fontes, encontram-se as seguintes definições para a Psicologia: – ciência da vida psíquica – ciência do comportamento – estudo da atividade mental e das funções do conhecimento – ramo da ciência que estuda os fenômenos e operações psíquicas – ciência dos fatos da consciência, etc.
                        d). Esses conceitos acima expostos giram em torno de fatos, operações e fenômenos psíquicos  sem nenhuma  referência a um sujeito, a um eu. São pertinentes, portanto à Psicologia Cientifica também chamada de Experimental, Positiva, ou Descritiva. Porém, as tendências filosóficas espiritualistas não podem aceitar que os fatos psíquicos não emanem de um centro, de uma fonte, ou sujeito substancial, enfim de um necessário referencial autor e responsável pelos atos e ações.
                        e). Esse último posicionamento postula outra psicologia denominada Psicologia Racional ou Filosófica. Esta tem por fim o estudo pela razão – não mais pela experimentação – da mais profunda raiz da vida psíquica – a alma humana. Procura ela determinar a existência, a natureza, os atributos, a origem e o destino da alma, além de elucidar suas relações com o corpo físico. A Racional é a única psicologia que corresponde à etimologia da palavra “psicologia” (“Psyche” = alma: “logos” = conhecimento).
                        f). Em meados do século XIX, a partir de 1857 (publicação de “O Livro dos Espíritos”), a Revelação Espírita desfez o grande cisma (separação da Psicologia Científica da Psicologia Racional) do século XVIIII/XIX. E reunifica numa só ciência a Psicologia Racional (estudo da alma) com a Psicologia Experimental (estudo exclusivo dos fatos psíquicos). Ciência nova essa que pode receber a denominação de Psicologia Científica Espírita, que estuda a alma em concreto, experimentalmente.
                        g). Tendo por suporte esse esboço histórico, pode-se ensaiar a noção de Psicologia  Cientifica  Espírita  como  sendo  a ciência, experimental2 e racional, dos  fatos, processos e estruturas psíquicas e anímicas, conscientes ou inconscientes, que procura determinar suas causas, relações, efeitos e leis, tendo por sujeito o próprio espírito, reencarnado ou desencarnado.  
____________________________
1 Há definições diferentes para Psicologia Geral
2 (vide no pé da pág. Seguinte, nota nº1).

            2.2.2. FUNDAMENTOS ETIOLÓGICOS (referência)
            No capítulo anterior, foram expostos os fundamentos etiológicos (causais) resumidos  em  seis condições que tornam  imprescindível o esforço adicional e eminentemente prático de desenvolvimento da espiritualidade. Essas condições se ativeram a três naturezas:
            SOCIAL (desequilíbrio inteligência – moralidade e graves patologias sociais).
            – PEDAGÓGICA (educação nas escolas e nos lares centrada unicamente na instrução).
            – ESPIRITUAIS (não-aproveitamento do potencial anímico das perfeições e a fraqueza espiritual).

            2.2.3. PERGUNTA DIRETRIZ E AS CINCO COORDENADAS PSICOLÓGICAS
                        No presente capítulo, para esses fundamentos psicológicos serem assentados, indaga-se: quais as razões, a situação anterior, inicial, centrada nas condições psicológicas humanas e generalizadas, que determinam e tornam imperativo o desenvolvimento da espiritualidade induzido pedagogicamente?
                        A resposta está distribuída em cinco coordenadas:
            2.2.4. PRIMEIRA COORDENADA PSICOLÓGICA (DA CONSCIÊNCIA).
                        A consciência da existência de um potencial de perfeições espirituais a serem afloradas ao nível do comportamento, dos atos; mas escassamente aproveitado.
– (EE – XIX,12): “No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a princípio, em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade”.

            2.2.5. SEGUNDA COORDENADA PSICOLÓGICA SENTIMENTO PESSOAL DE INCOMPLETUDE
                        a). O sentimento desconfortável, peculiar a todo ser humano que já atingiu um certo grau de evolução das imperfeições, carências pessoais, subdesenvolvimento espiritual.
                        b). O reconhecimento pessoal, de cada um, de sua incompletude, de inacabado, tem sido freqüente em algumas correntes de pensamento, marcadas pelo impulso humano de autotranscendência, que podemos também chamar de auto-superação. Assim o entenderam os expoentes do Existencialismo (Marcel, Sartre, Heidegger, Jaspers), e também o marxista Roger Garaudy, e, ainda marcuse. Segundo Heidegger, a autotranscendência é o componente mais profunda do homem em constante ultrapassagem até o momento da inelutável morte. Para Garaudy, “a transcendência designa a consciência da não-realização do homem, a dimensão do infinito (...). O homem não é somente o que é, é também tudo o que não é, tudo que ainda lhe falta; na linguagem dos cristãos, dir-se-ia que ele é o que o transcende, isto é, é em potência todo o seu porvir1. Para a Doutrina Espírita, esse porvir total é o puro Espírito imerso na potencialidade de cada ser humano, e, a transcendência, um longo caminho, árdua jornada, na direção dessa meta.
                        c). Maurice Blondel, por sua vez, reconhece que “no ser do homem há uma antinomia profunda entre o que é e o que deveria ser, antinomia insolúvel, porque não consegue nunca se tornar o que gostaria de ser2.
d). Segundo Karl Popper, nós, continuamente transcendemos a nós mesmo, aos nossos talentos e às nossas qualidades. Tal autotranscendência é o mais extraordinário e importante fato de toda a vida e de toda a evolução humana”3.
X          X         X                  
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1 Essa qualificação de experimental consta de texto do próprio KARDEC: “Apliquei a essa nova ciência (o Espiritismo), como fizera até então, o método experimental” (OP- “A Minha Primeira......”, p.11). E, em (GÊ-IV, 16): “Até o presente momento, o estudo do princípio espiritual, compreendido na metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No Espiritismo, é inteiramente experimental”.
2 Para a Doutrina Espírita, até a morte é ultrapassada pela ulterior vida do Espírito desencarnado no plano espiritual.
3 Apud MONDIN BATISTA: “O Homem Quem é Ele?” (ed. Paulinas, 2ª ed., SP, 1980 – págs. 251 a 259).
     A Doutrina Espírita nos ensina, ao contrário de BLONDEL, que o homem será no futuro, embora muito remoto, aquilo que hoje ele gostaria de ser: um puro espírito (LE-Q.170, 116, 97, 42), (GÊ-XI, 7, p3).        
e). Ora, seria totalmente inconsistente se, diante do impulso interno de autotranscendência, não fosse reconhecido o substrato psicológico e causal dele que é o nítido e desconfortável sentimento de imcompletude.
f). Se assim são todos, os Espíritos criados imperfeitos (LE-Q.119 e 871), e se são destinados à perfeição relativa dos puros Espíritos, a autotranscendência é indescartável e decisivamente impulsionada pelo sentimento muito íntimo dessa imperfeição, ou seja, da incompletude.
                        Essa vivência incômoda de incompletude, como coordenada psicológica, conjugada com a primeira coordenada (da existência das sementes potenciais das perfeições) alicerça psicologicamente a Técnica do Desenvolvimento da Espiritualidade.
                       

2.2.6. TERCEIRA COORDENADA PSICOLÓGICA (DO DESCONFORTO).
                        a). Como efeito da consciência da incompletude, surge, no devido tempo, o desconforto moral e espiritual; um efeito da lei Natural das Conseqüências Naturais. São as aflições, angústias, desgosto sem causa aparente, sentimento de culpa, tédio, depressão, etc.
                        (LE-Q.943) Pergunta: “Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos ?” A resposta refere-se á ociosidade, à falta de fé e à saciedade como causas, às quais seria lícito acrescentar o sentimento do vazio, da incompletude. Mesmo porque “O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz” (LE-Q.991), (LE-Q.231).
                        b). Segue o estabelecimento psicológico, subliminar e espontâneo, da correlação de causalidade daquela incompletude para o conseqüente desconforto moral e espiritual. Significa que, a partir de determinado grau de motivação espiritual, a pessoa desvenda a causa da sua angústia: os germes das perfeições que, por não terem sido desabrochadas (EE-XIXC, 12), estuam dentro da alma, como que exigindo a sua” “libertação”, ou seja, o seu desenvolvimento em perfeições, para virem então a ocupar os espaços vazios, os grotões do seu espírito a essas perfeições destinados.
                        c). Esse desgosto ainda se acha lembrado em:
                                   – (LE-Q.970): (Os sofrimentos dos Espíritos inferiores) podem resumir-se assim: Invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem; ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura”.
                                   – (LE-Q.574): “P. Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente inúteis ? R. Há efetivamente as que só para si mesmas vivem e que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão, porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas vezes, já neste mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa”.
           
            2.2.7. QUARTA COORDENADA PSICOLÓGICA (O LIMITE DE SUPORTABILIDADE
                        a). Esta coordenada é traçada pelo limite de suportabilidade atingido por esse crescente desconforto espiritual.
                        Suportabilidade neste estudo é o grau variável de resistência a essa angústia imposta pela lei natural do psiquismo humano. É a renitência na acomodação e sonegação do esforço pessoal para despertar as perfeições das quais já é portador em estado inercial das correspondentes sementes.
                        b) Ninguém pode negar esse contributo da Psicologia. Só pessoas doentes podem se comprazer no padecimento: os masoquistas. O homem sadio tudo faz para se livrar dos sofrimentos, principalmente os morais que estão mais ao seu alcance, quando só dele dependem para desaparecer.
                        c). A Codificação Espírita avaliza esse limite de suportabilidade, dispondo de boa densidade doutrinária para sustentar esta coordenada;
                        – (GÊ-III, 7): “Entretanto, Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz”.
                        – (LE-Q.994): “Há Espíritos que se obstinam em permanecer no mau caminho, não obstante os sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou tarde, reconhecerão errada a senda que tomaram e o arrependimento virá”.
                        – (LE-Q.784): “Faz-se mister que o mal chegue ao excesso para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformar”.
                        (CI-IX, 21): “Os que por apatia, negligência, obstinação ou má-vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as conseqüências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas conseqüências (...) procurando então melhorar-se!.
                        (CI-VII, Código Penal...,19): Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso, por vezes, se lhe torna lento e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado, pode resistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua contumácia se modifica pelo sofrimento e, a despeito de sua jactância, reconhece o poder superior que o domina”.
                        – (LE-Q.333): “Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir. Todos têm que se elevar; esse o destino de todos”.

            2.2.8. QUINTA COORDENADA PSICOLÓGICA (O IMPULSO INTERIOR DE AUTOSUPERAÇÃO.
                        a). Como conseqüência, fica estruturada uma situação favorável de coordenadas: 1º a existência das perfeições potenciais; 2º. sentimento de incompletude; 3º. O desconforto moral; 4º. O limite de suportabilidade desse desconforto.
                        Como conseqüência, estrutura-se um quadro psicológico propício à retomada do desenvolvimento espiritual segundo quatro coordenadas ligadas por um sistema de causas e efeitos entrelaçados.
                        b). Esse impulso íntimo, irrecusável aliás, quando atingido o limite de suportabilidade, está sustentado pelos mesmos cinco textos doutrinários acima transcritos. Mesmo porque, progredir é o imperativo categórico da alma mesma: (LE-Q.202, 333, 466, 768, 778). E, marcantemente, na teoria irrecusável da autotranscendência de teor tão familiar aos princípios espíritas.
                        CONCLUSÃO. Estão assentados os fundamentos psicológicos à Técnica de Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito da Pedagogia da Espiritualidade.
X          X          X
            2.2.9. COMPREENSÃO E RESUMO DA ESTRUTURA EXPOSITIVA DOS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS.
                        a). Procurou-se destacar a consistência científica, ou a filosófica, da psicologia Espírita, carreando textos de natureza psicológica dispersos pelas obras da Codificação, para a fundamentação da Técnica Pedagógica em proposição nesta obra.
                        Delineou-se, para isso, o desdobramento histórico da Psicologia até culminar na Psicologia Científica Espírita, por obra de Kardec, em metodologia híbrida, experimental e racional. Cujo objetivo foi o de incutir confiabilidade aos aportes que extraímos da Doutrina Espírita.
                        b). Além desses fundamentos doutrinários, aliciou-se a rica contribuição filosófica, mas de conseqüências psicológicas, de pensadores modernos sobre o fascinante tema da autotranscendência humana. Auto-superação essa que representa o afloramento das perfeições potenciais do espírito.
                        Estabelecidos esses pré-requisitos, ficou-se em condições de formular a pergunta diretriz de todo o trabalho consecutivo: quais as causas psicológicas gerais que estão a exigir o tratamento pedagógico para o desenvolvimento da espiritualidade?

                        c). Alinham-se, em seguida, cinco coordenadas que dimensionam essa exigência:
                        – A consciência do potencial anímico (escassamente aproveitado);
                        – O sentimento de incompletude (ainda muito confuso);
                        – O desconforto, ou angústia, assim provocado (desconhecendo a causa);
                        – O limite de suportabilidade a essa angústia (pouca consciência dele);
                        – O impulso do espírito de auto-superação (tumultuado e inconstante);
                       
d). É este impulso psíquico bem orientado que irá tornar psicologicamente possível aos educandos o processo de Afloramento das Perfeições Potenciais do seu espírito em continuada autotranscendência.


2.3. FUNDAMENTOS TELEOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA  TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
 
FINALIDADE (PARA QUÊ?)
         2.3.1. CONCEITO DE TELEOLOGIA
                        a). É o estudo filosófico dos fins das coisas (do grego “telos” = fim. Causa final, + logia). É o estudo da finalidade. “Doutrina que considera o mundo como um sistema de relações entre meios e fins. Estudo dos fins humanos1. O fim também é uma causa: a causa final, o propósito, o objetivo a alcançar, o efeito desejado e visado pelo agente. A causa final, o fim é a primeira na ordem da ideação e a última na ordem da realização. ARISTOTELES chamava a causa final de primeira causa, porque, uma vez conhecida pelo agente (causa eficiente), exerce sobre ele um influxo tão eficaz que determina a sua ação. É a causalidade do fim. Por isso, os escolásticos chamavam a causa final de “causa causans” (causa das causas). Ninguém age sem ter um fim em vista na sua mente; e sentenciavam: “Omne agens, agit propter finem” (todos agem tendo um fim em vista).
b). FINS E OBJETIVOS. O conceito de Teleologia abrange objetivos e fins. Alguns pedagogos não adotam essa distinção. Preferivel distinguir. Objetivos seriam as etapas a atingir sucessivamente, e que conduziriam aos fins. Os fins seriam as metas finais, em cuja direção se posicionariam os objetivos. Mas os fins também podem distribuir-se escalonadamente.

            2.3.2. FINS DA EDUCAÇÃO ESPÍRITA
                        a). Na obra “Filosofia Espírita da Educação” (ed. FEB), 2º volume, págs. 200 a 212, expusemos esses fins, que passaremos a resumir. Foram classificados esses fins como imediatos, fim intermediário e fins últimos.
                        – 1º Fim Fim Imediato Individual (subjetivo): o desenvolvimento da espiritualidade nos educandos.
·        Verdadeiramente, se observados atentamente os fatos educativos que se apresentam cotidianamente  à  luz da  Filosofia  Espírita, invade o entendimento uma idéia constante, um quase refrão, interativo: desenvolvimento da espiritualidade. Esse fim, compreenda-se bem, não tem a conotação de meta fixa como alguma coisa que se conclui, que se consuma, ou de marca balizando o final, o termo de uma linha. Não. É um fim dinâmico, que se desloca ao longo de todo o percurso evolutivo, e não estático. Esse fim é antes um vir-a-ser, um devir, impulsionado pelo esforço contínuo do educando, para obter a transcendência, a auto-superação permanente do espírito do educando. Para que não estacione na linha do seu aperfeiçoamento, ou melhor, de sua espiritualização. Qualquer mutação para melhor, por mais discreta que seja, representa o atingimento (impropriamente falando) desse fim em determinado momento. Atingir esse fim é manter o espírito em ininterrupto desenvolvimento da sua espiritualidade. Por isso, foi dito acima que esse fim é móvel, estendendo-se por todo o roteiro de contínuo aperfeiçoamento. E por isso, também é imediato: em todos os momentos está se processando a realização do fim.
 ___________________________
1 Do dic. Aurélio.
                        – 2º Fim.  Fim Imediato Social (objetivo).
·        Chama-se de fim social da educação espírita o tipo de sociedade almejado no futuro pela Doutrina Espírita e consecutivo à atual “de expiação e provas”, e que é o “mundo de regeneração” (EE – III, 16 a 18), (OP – Regeneração da ....), (GE – XVIII, 25).
·         Esse fim social está sendo atingido paulatina e muito lentamente, cadenciado na mesma proporção em que vai sendo alcançado o fim individual, este como fator impulsor daquele.
·         Todavia, cumpre, esclarecer que tanto o fim individual quanto o social mantêm relação de causalidade bilateral entre eles, isto é, alternando suas posições, ora de causa ora de efeito um do outro.
                        – 3º Fim  Intermediário – O Ideal Humano
·        É o padrão humano a ser formado pela educação. É o resultado da confluência harmônica dos fins anteriores, o individual e o social, e que será o aristocrata intelecto-moral (OP – As Aristocracias, pp 10 a 12) do mundo de regeneração, por este ideal humano governado.
·         O retrato moral desse aristocrata do espírito acha-se aproximadamente em (LE – Q.918) e em (EE-XVII, 3) sob o título “O Homem de Bem”.
                        – 4º Fim  Último, Subjetivo
·         Esse fim último subjetivo baliza o termo do fim individual, ou seja do desenvolvimento da espiritualidade, e que é o puro Espírito, aquele que atualizou toda a sua potencialidade, que completou a sua educação, o Espírito integralmente educado. E, por isso, é o fim último subjetivo da educação espírita. A sua essência é a inteligência e o pensamento (LM – 51).
                        – 5º Fim – Último Objetivo
·         Só pode ser aquele “excelso centro de atração e de irradiação” (GÊ – II, 19, p2) e (GÊ – II, 29); “a grande irradiação do Espírito Divino que abrange a extensão dos céus, e que permanece como tipo  primitivo e final da perfeição espiritual” (GÊ – VI, 56, p2); “gravitar para a unidade divina, eis o fim da humanidade” (LE – Q.1009, p5); “nenhum egoísmo, porém, há em querer o homem melhorar-se para se aproximar de Deus, que é o fim para o qual devem todos tender” (LE – Q.897b).
·         Por tudo isso, como o Referencial Absoluto para a marcha da humanidade, ele se constitui no “Magister Universalis” (O Mestre Universal) e, por isso, instituído  como Fim Último e Supremo da Educação. É o Sumo Bem que, uma vez incorporado pela educação no educando, eleva-o, no final de sua longa e sofrida evolução espiritual, ao “status eminentísismo de puro Espírito, gozando de integral felicidade.
                        b). Correlação do 4º com 5º fim. Encontramos a integração desses dois fins últimos num texto muito feliz (EE – VIII, 10, p3):
“O objetivo da religião é conduzir a Deus (fim último objetivo) o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito (fim último subjetivo – o puro Espírito)”.
                        – Ousa-se imaginar a substituição da palavra religião no texto acima por Educação, porque a religião pode ser considerada como um dos fatores da educação.
                        Tanto “religare”, raiz etimológica de religião, quanto “educere”, raiz etimológica de educação, apontam ambas para o Referencial Absoluto, para Deus.

X           X          X

            2.3.3. RESUMO ESQUEMÁTICO DO EDIFÍCIO TELEOLÓGICO DA EDUCAÇÃO ESPÍRITA
                                   – FIM IMEADIATO INDIVIDUAL
                                               Desenvolvimento da Espiritualidade                  (alicerce)


                                   – FIM IMEDIATO SOCIAL:                                         
                                               O Mundo de Regeneração
                                   – FIM INTERMEDIÁRIO (IDEAL HUMANO)               (pilares)  
                                               O Aristocrata Intelecto-Moral


 
                                   – FIM ÚLTIMO INDIVIDUAL (SUBJETIVO)
                                               O Puro Espírito                                                        (cúpula)
                                   – FIM ÚLTIMO SUPREMO (OBJETIVO)
                                               Deus, o Sumo Bem.

            2.3.4. OBJETIVOS DA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS ESPIRITUAIS
                        O FINALISMO ESPÍRITA. A idéia de finalidade é bastante freqüente nos textos da Codificação. Na obra “Filosofia Espírita da Educação”, vol. II, pág. 121, alinhamos 56 textos que apontam para o caráter decisivamente finalista, teleológico, da Doutrina 1. Este posicionamento comunica-se à educação espírita, como está exposto no item 2 acima. E daí, transmite-se a toda técnica pedagógica. Portanto, a técnica que estamos propondo não se pode eximir de orientar-se por objetivos bem marcantes, definidos e conscientizados pelos educadores permanentemente.

            2.3.5. A RELEVÂNCIA DO FIM INDIVIDUAL.
                        a). Observando-se o resumo esquemático colocado no item 2.3.8 (adiante) deduz-se a importância capital do desenvolvimento da espiritualidade como fim imediato individual. Se nós o alijamos do esquema, toda a edificação teleológica da educação espírita desmorona. Vejamos por quê.
                        b). Sem o desenvolvimento da espiritualidade, não se atinge, ou melhor, não se processa progressivamente o desenvolvimento social – tese espírita do primado da reforma intima sobre a reforma exterior, social (OP – credo Espírita), (OP – Liberdade... p10). Ausente o fim social, não se consuma o fim intermediário do ideal: a formação do aristocrata intelecto-moral. Desprovido o edifício teleológico desses três fins anteriores, os fins últimos não são alcançados. O edifício esvazia-se, isto é, a educação espírita torna-se um vácuo meramente formal, sem conteúdo, sem fins nem objetivos, a não ser os de instrução. Passa, aliás, a não existir como educação propriamente dita.
                        c). Por conseguinte, o desenvolvimento da espiritualidade é o alicerce da educação espírita, a pedra fundamental sobre a qual é montado todo o seu edifício teleológico.

            2.3.6. PREÂMBULO PARA OS OBJETIVOS.
                        a). Todavia, para isso, a técnica de Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito terá que prever e fixar seus próprios objetivos.
                        – Uma  vez  que, em  principio, o  desenvolvimento espiritual da  humanidade já foi
iniciado desde a época de criação dos Espíritos. Os atualmente encarnados na Terra estarão situados em níveis espirituais escalonados, bastante variáveis de um para outro. Isso significa que nenhum deles está na estaca zero do seu desenvolvimento espiritual, como também nenhum se situa na plenitude espiritual.
                        b). Contudo, vários (muitos ?), depois de evoluírem, podem eventualmente estar em posição de estagnação1; outros podem estar despertando sua espiritualidade em ritmo de lentidão.
                        – Todavia, de um modo geral, a maciça maioria situa-se em nível espiritual muito baixo. Como podemos estimar essa situação? Resposta: pelas noticias de todo o mundo (jornais, revistas, rádios, TVs, etc.) Basta abrir todos os dias os jornais, ligar as rádios ou aparelhos de televisão. Consulte-se também (EE – III, 13 e 15).
                        – Desse quadro social e espiritual tão negativo, é que se pode deduzir os objetivos da técnica que está sendo proposta.
_________________________
1 Em oposição a algumas pedagogias antifinalistas, que não põem fins, ou objetivos, à educação.
c). PRIMEIRO OBJETIVO. Desencadear a retomada da marcha do espírito dos educandos 1 que estejam estacionados em algum ponto do seu roteiro evolutivo.
                        d). SEGUNDO OBJETIVO. Aumentar o ritmo da marcha de progressão dos educandos que se mantêm em progressão muito retardada2. Alguns textos da Codificação se referem a uma como que aceleração da marcha evolutiva, como também ao “retardo do avanço”,3
                        e). TERCEIRO OBJETIVO. Aumentar, gradativa e proporcionalmente o grau de felicidade dos educandos, conseqüente do desenvolvimento da espiritualidade que for sendo alcançado, conforme:
                                   – (GÊ-XI, 26, p2): “(...) sua felicidade (do Espírito) se torna proporcional ao progresso realizado”.
                                   – (LE-Q.967): “A felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um”.
                                   – (LE-Q.979): “A alma não pode gozar da felicidade perfeita, senão quando estiver completamente pura”.
                                   – (LE-Q.1004): “O estado de sofrimento ou de felicidade é proporcional ao grau de purificação do Espírito”.
                        f). RESSALVA. Lembra-se que esses objetivos, por carência de mensurabilidade, não se destinam à verificação inicial de quem está ou não estacionado (1º objetivo), ou de quem se mantém ou não em marcha retardada (2º objetivo), ou em progressão de felicidade (3º objetivo). Os 1º e 2º são pressupostos e o terceiro é uma certeza moral. Essa avaliação só será possível em estágio avançado de aplicação da técnica.    

2.3.7        OBJETIVO TODO-ABRANGENTE
                                   a). Não se deve esquecer que todo o presente desdobramento, foi aberto com o tema “Da Doutrina para a vida”. É nesse tema fundamental que, de antemão, se deduz o objetivo geral, todo-abrangente, da técnica proposta.
Recordando:
                        – Da Doutrina para a sua prática;
                        – Da ordem intelectual para a ordem moral;
                        – Do conhecimento para a conduta.
                        E como ponte de transposição, a Técnica de Desenvolvimento da Espiritualidade.
X           X          X

            2.3.8. RESUMO
                        a). Conceituou-se o que seja Teleologia e a importância da finalidade em toda ação humana.
                        b). Distinguiu-se e conceituou-se fins e objetivos educacionais.
                        c). Foram Alinhados, em sucessão genética, de gerador a gerado, os cinco fins da educação espírita.
                        d). Demonstrou-se que o primeiro fim, que é o desenvolvimento da espiritualidade, é o fundamental básico; e que sem ele desmoronaria todo o Edifício Teleológico Espírita.
                        e). Em seguida, foram apresentados os três objetivos da Técnica de Afloramento das Perfeições Potenciais.
   f). Mostrou-se que o Finalismo da Doutrina Espírita comunica-se à Educação Espírita, e culmina na Pedagogia e técnicas derivadas.
__________________________
1Vide o estacionamento como uma das situações possíveis do Espírito na linha de sua evolução espiritual (LE-Q.118), (LE-Q.194ª,p2), (LE-Q.178ª), (LE-Q.778), (LE-Q.193), (LE-Intr., VI, 20) e (GÊ-XI, 48), (LE-Q.398).
        – crianças e adolescentes em lares espíritas ou em centros espíritas;
- alunos das escolas espíritas;
- adultos em grupo nos centros espíritas
  2    Vide muito indiretamente (LE-Q.609, final), (LE-Q.737), (LE-Q.783), (EE-IV, 26), e principalmente (GÊ-XI, 26).
  3     Também André Luiz, em “Nosso Lar” (Cap. XLIII, no final) registra que a “marcha (do Espiritismo) é  ainda muito lenta”.
g). Finalmente, expôs-se o Objetivo Todo-Abrangente da técnica proposta como sendo a passagem do educando da Doutrina (estudada e aceita) para a Vida (do comportamento e atos conseqüentes).

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