1ª PARTE
PROLEGÔMENOS
NOÇÕES PRELIMINARES
A.
PREÂMBULO
B.
NOÇÃO DE PROGRESSO
—
Referencial
—
Utopias idealizadas
—
Ensino de definição de progresso
C.
FORMAS DE PROGRESSO
D.
A PROCISSÃO EVOLUTIVA (das formas de progresso — As que
vão à frente, as que vão atrás.
E.
DUAS QUESTÕES (levantadas pela Codificação Espírita).
F.
FORMULAÇÃO DA 1ª QUESTÃO
a)
Solução para o passado
b)
Solução para o presente
c)
Solução para o futuro
G.
O PROGRESSO SOCIAL
H.
FORMULAÇÃO DA 2ª QUESTÃO
I.
DINÂMICAS HISTÓRICAS
a)
Conceito de dinâmica histórica
b)
Razões de ser das dinâmicas
J.
LISTAGEM DAS SETE DINÂMICAS HISTÓRICAS.
NOÇÕES PRELIMINARES
- PREÂMBULO
—
A matéria geral deste 4º volume intitulada
“desenvolvimento espiritual”, para ser bem compreendida envolve algumas noções
adjacentes, ou mesmo subjacentes, cujos significados descortinam para o
estudioso desta matéria algumas comparações necessárias. São os casos das
noções de progresso, mudança, evolução, referenciais, valores, etc.
- NOÇÃO DE PROGRESSO1
—
Para começar, o conceito de um credenciado dicionário:
“Progresso é a ação, ou resultado de progredir”. E progredir é tornar-se maior
e/ou melhor” (dic. Houaiss). Tome-se dessa definição o termo melhor, e chega-se
ao verbo melhorar como credencial que franqueia a entrada no arcano (mistério)
do progresso, resolvido este segredo pelo verbo melhorar. Realmente, a nota
fundamental do progresso é o melhorar. E esta nota conduz à idéia de mudança;
mas uma mudança para melhor, que é a noção de evolução. Evolução, por sua vez,
implica incorporação de novos valores, um aditivo de enriquecimento valorativo
do objeto considerado em evolução.
1O termo progresso freqüenta os textos de “o Livro dos
Espíritos” 160 vezes.
—
REFERENCIAL. Essa idéia de progresso, centrada em sua
palavra-chave, melhorar, traz à colação, inevitavelmente, outro termo:
referencial. Que vem a ser a idealização por inteligibilidade de um
ser-de-razão, um objeto perfeito que serviria de comparação para ao verificar
se houve, ou não, progresso. E esse progresso panaria o ser uma melhoria que
aproximaria do objeto em avaliação para o objeto de comparação perfeito.
Como exemplos de progresso
científico, da física, o referencial inteligível, idealizado seria a física
perfeita. Para avaliar a moralidade, o referencial seria um ser moral perfeito.
Para avaliar o grau de espiritualidade, o referencial de comparação seria um
ser espiritual perfeitíssimo, ou seja, Deus. Para o progresso social, o
referencial de comparação seria a idealizada sociedade justa. Nenhum desses
referenciais fixos é real, são produtos mentais de uma inteligibilidade. Mas
cada melhoria na sua direção significa uma aproximação em relação a ele, o
referencial. E só é progresso a melhoria que aproxima dele o objeto
considerado. Sem esses referenciais, ainda que a penas mentalizadas, seres
abstratos, não saberíamos se um objeto de conhecimento, de ação ou de criação,
ou de apreciação está progredindo (melhorando) ou não. E poderemos estar num
roteiro de aproximação errado, de progresso (melhoria) ilusório. Por exemplo
qual dessas formas sócio-econômicas, socialismo e capitalismo é a que
representa o progresso. Qual o referencial de aproximação. Seria um regime
sócio-econômico perfeito, inexistente, mas que vislumbramos como justo e
perfeito.
—
UTOPIAS. Alguns pensadores idealizaram um referencial
utópico (inteligível). E o período da Renascença (séculos XV/XVII) foi fértil
desses referenciais. Inspirados pelos desconhecimentos de novas terras. Assim a
“Utopia” de Thomas More1 “A Cidade do Sol” de Tomaso Campanello2,
a “Nova Atlântida” de Francis Bacon3. E antecedendo a todos essas “A
República” de Platão4.
Na impossibilidade de instruir a
objetividade de qualquer referencial, sempre que se sente, ou se afirma o
progresso (melhora) de alguma coisa, está-se recorrendo a um referencial
subjetivo, muito íntimo e até inconsciente situado nas profundezas de nosso
ser.
1Th. More: 1480/1535 – séc. XV/XVI
2To. Campanello: 1568/1639 – séc. XVI/XVII
3F. Bacon: 1561/1626 – séc. XVI/XVII
4Platão: 428/347 a.C. – séc. V/IV a.C.
—
DEFINIÇÃO DE PROGRESSO (Ensaio).
—
Progresso é uma mutação para melhoria de alguma coisa,
(evolução) pela incorporação a ela de valores, que provoca a aproximação desse
objeto a um referencial idealizado como perfeito embora inatingível e situado
no nosso inconsciente.
- FORMAS DE PROGRESSO
Podem-se distinguir numa visão
todo-abrangente da história da humanidade, três formas principais de progresso:
Progresso científico e tecnológico;
Progresso social, cultural e político;
Progresso moral e espiritual.
—
Essas três formas se mesclam em cada época histórica.
Com predominância ora de uma, ora de outra dessas formas.
—
Todavia, não se pode deixar de reconhecer a existência
de vínculos de causa e efeito entre elas. Mas alternando as funções
correlativas: ora como causa, ora como efeito, embora difícil essa distinção. A
não ser em alguns poucos casos. Por exemplo, o avanço cultural no século XVIII
(iluminismo, enciclopedismo contentatários do Estado e da Igreja),
descredenciando as formas políticos e religiosas da época, culminando na
Revolução Francesa e alterando os pressupostos morais e espirituais. Outro
exemplo. Uma causa científico-tecnológica (as grandes navegações e as
descobertas marítimas do século XV/XVI, trazendo como efeitos a modernização
dos costumes sociais e culturais (progresso social).
—
E é nesse intercâmbio (causa/efeito), que entra a
temática desde Estudo: a evolução espiritual da humanidade. A qual se
classifica na terceira das três formas de progresso (vide acima).
- A PROCISSÃO EVOLUTIVA (das três formas de progresso) — As que vão à frente e as que vão atrás.
a)
OS ESCALÕES
—
1º Escalão – na vanguarda – o progresso científico e
tecnológico;
—
2º Escalão – no meio (intermediário, o progresso
cultural, social e político;
—
3º Escalão – na retaguarda – o progresso moral e
espiritual, e em íntima interação.
b)
CONSTATAÇÕES FUNDAMENTAIS. Observando-se atentamente o
panorama histórico das civilizações ocidentais (Europa, América), numa visão
todo-abrangente, desprezados, os preconceitos relativos ao progresso que sempre
aparecem constatam-se:
—
1º - O evidente progresso humano, embora
geograficamente limitado.
—
2º - Um escalonamento (distanciamento) entre as três
formas de progresso, conforme está acima indicado (vanguarda-meio-retaguarda).
- A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA LEVANTA DUAS QUESTÕES.
—
Não deixou a Doutrina Espírita de referir-se nos seus
textos aos vários tipos de progresso já logo acima citados.
Como o objetivo no presente estudo é focalizar a possibilidade de um futuro desenvolvimento da espiritualidade como proposta, ou sugestão didática, cumpre verificar, pela consulta a Doutrina, as respostas às seguintes questões:
1ª - Se tem havido, no decurso dos milênios, desenvolvimento espiritual e moral do homem, reconhecido pela Codificação Espírita.
2ª - No caso positivo, quais as dinâmicas históricas que tem acionado esse desenvolvimento, identificadas pela Codificação?
- FORMULAÇÃO DA 1ª QUESTÃO:
Tem havido no passado1, no
decurso de milênios, desenvolvimento espiritual e moral do homem, reconhecido
pela Codificação Espírita? E no presente, e no futuro?
a)
SOLUÇÃO PARA O PASSADO
(pelos textos doutrinários)
—
EE – XI, 10, P.3): “Mas, já ganhastes, vós que me
ouvis, pois que já sois infinitvamente2 melhores do que éreis há cem
anos. Mudastes tanto, em proveito vosso, que aceitais de boa mente, sobre a
liberdade e a fraternidade, uma imensidade2 de idéias novas, que
outrora rejeitaríeis”.
—
(GÊ – XVIII, 2, p.2): “Moralmente, a Humanidade
progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento
dos costumes”.
—
(GÊ – XVIII, 2, p.2): “(no nosso globo) progride
fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente pela
depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam”.
—
(GÊ – XVIII, 13, p.1º): “De duas maneiras se opera,
como já o disse, a marcha progressiva da Humanidade: uma, gradual, lenta,
imperceptível, se se considerarem as épocas consecutivas, a traduzir-se por
sucessivas melhoras nos costumes, nas leis, nos usos (...)”.
1Referido esse passado a todo os períodos anteriores à época
da Revelação da Doutrina Espírita em meados do século XIX (1857).
CONCLUSÃO.
Os textos acima transcritos, e outros mais, atestam que no passado, referido
aos meados do século XIX, houve progresso moral e espiritual, sem o que não
haveria melhora dos costumes, usos, e nas leis.
(pela lógica históricas)
não seria logicamente sustentável que nesse espaço de tempo
evolutivo passado, o ser humano não se tivesse aprimorado moralmente, ainda que
muito insuficientemente.
b)
SOLUÇÃO PARA O PRESENTE1
(pelos textos doutrinários)
—
(GÊ – XVIII, 14, p.2): “É a um desses períodos de
transformação, ou se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a
Humanidade. Da adolescência chega ao estado viril”.
—
(GÊ – XVIII, 28, p.3): “Cabendo-lhes fundar a era do
progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão
geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e as crenças
espiritualistas”.
1Esse tempo presente e o dos meados do século XIX.
c)
SOLUÇÃO PARA O FUTURO
(pelos textos doutrinários)
—
(XVIII, 6): “Nesses tempos (que doravante os homens vão
entrar), porém, não se trata de uma mudança parcial (...). Trata-se de um
movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral”.
—
(GÊ – XVIII, 17): “A fraternidade será a pedra angular
da nova ordem social”.
—
(GÊ – XVIII, 20, p.3): “A geração que surge (...)
imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral, que
assinalará a nova fase da evolução humana”.
—
(LE – Q. 793, p.3): “À medida que a civilização se
aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão
todos com o progresso moral”.
CONCLUSÃO. O progresso moral,
social e espiritual da Humanidade se estende do passado, alcança o presente e
se projeta no futuro, conforme está reconhecido pela 3ª Revelação, a Espírita
em meados do século XIX.
Não se está
postulando nessa expressão um determinismo da história humana. O que anularia a
liberdade e a conseqüente responsabilidade. Mas, tão somente que se pode
assinalar algumas reações de causa e efeito em certos acontecimentos
históricos.
- O PROGRESSO SOCIAL
O aperfeiçoamento das relações
sociais e políticas (cultural) entre os homens, mantém uma relação de
causalidade bilateral com o progresso moral. Isto é, tanto esse progresso
repercute nas relações sociais e regimes político-sociais quanto a recíproca é
verdadeira.
Uma sociedade livre de conflitos
sociais decorre de um bom expoente de progresso moral e vice-versa.
Colecionou-se um lote significado
desse progresso social:
—
“Certa necessidade de mudança, se traduz por uma surda
agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o,
também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas” (GÊ – XVIII, 8, p.8).
—
“Quem observar (a Terra num desses seus períodos de
crescimento) achá-la-á muito mudada em seus costumes, em seu caráter, nas suas
leis, em suas crenças, numa palavra: em todo o seu estado social (GÊ – XVIII,
9, p.2).
—
“Se supusermos possuída desses sentimentos a maioria
dos homens, poderemos facilmente imaginar as modificações que daí decorrerão
para as relações sociais; todas terão por divisa: caridade, fraternidade,
benevolência, tolerância para todas as crenças” (GÊ – XVIII, 23).
1Observe-se que os tempos verbais estão
registrados no futuro, explícito ou implícito (subentendido).
- FORMULAÇÃO DA SEGUNDA QUESTÃO
Positivada a 1ª Questão anterior,
ou seja, que houve no passado, e até agora tem havido, progresso espiritual e
moral da Humanidade, embora ainda muito insuficiente, pergunta-se, quais teriam
sido as dinâmicas (as causas eficientes) desse desenvolvimento da
espiritualidade humana, tanto reconhecido pela Doutrina Espírita, quanto
irrecusável pela lógica histórica?1
Voltando aos textos codificados e aos princípios da
Doutrina Espírita, pode-se propor à análise dos estudiosos as seguintes
dinâmicas propulsoras desse progresso espiritual:
- DINÂMICAS HISTÓRICAS (Conceito)
a)
As dinâmicas históricas são conjuntos mais ou menos
organizados, estruturados de atividades, crenças, ideais, vicissitudes afins,
que se articulam entre si aos longo do tempo, atuando sobre os espíritos
(encarnados ou desencarnados, na tentativa de sua espiritualização, muito lenta
e progressiva. São dinâmicas porque providas e movidas por forças propulsoras
internas. Promovendo, ou não, resultadas visíveis ou logicamente deduzíveis, ou
racionalmente presumíveis, ao longo dos tempos da pré-história e história
humana até os dias atuais.
b)
RAZÕES DE SER (deste Estudo). Torna-se necessário este
trabalho por dois objetivos:
—
1º - Verificar se a Pedagogia da Espiritualidade estará
situada utilmente, como uma imperiosa necessidade, numa possível linha de
progressão evolutiva anterior, atual e futura do Espírito Humano. Ou se está
já, ou futuramente, à margem desse delineamento histórico. E, por isso, sem
atender ao indispensável princípio de razão suficiente (razão para existir ou
para ser instaurada).
—
2ª - Para facilitar esse objetivo, estruturar uma visão
global das dinâmicas históricas que possam ser apreendidas da Codificação
Espírita. Elevada esta ao estatus de referência superior de diretriz deste
Estudo. E ainda, como pretório decisivo para os questionamentos que
naturalmente despontarão.
K.
LISTAGEM
DE SETE DINÂMICAS HISTÓRICAS
4.1. PRIMEIRA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da
espiritualidade humana).
—
PELA CARIDADE —
(desinteressada e vinculada à
educação).
—
X — X —
4.2. SEGUNDA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELAS CONSEQÜÊNCIAS NATURAIS —
(boas ou más dos atos humanos)
—
X — X —
4.3. TERCEIRA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELOS SOFRIMENTOS NÃO-EXPIATÓRIOS —
(fortuitos, casuais, voluntários
ou por provas).
—
X — X —
4.4. QUARTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELA INSTRUÇÃO —
(conhecimento intelectual,
científico e tecnológico).
—
X — X —
—
4.5. QUINTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELA EDUCAÇÃO —
(propriamente dita – educação
moral, social e espiritual visando ao comportamento – educação da alma).
—
X — X —
4.6. SEXTA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELA EDUCAÇÃO —
(advento e prática do
cristianismo espiritualista).
— X — X —
4.7. SÉTIMA DINÂMICA HISTÓRICA
(de desenvolvimento coletivo da espiritualidade humana).
—
PELA FORÇA MESMA DAS COISAS —
(um progresso regular, lento e
discreto).
Nenhum comentário:
Postar um comentário