OBJETO: O
ESPÍRITO
2.4.1.
CONCEITO DE ANTROPOLOGIA 1.
A
Antropologia Física 2
trata da evolução biológica do homem (definição ao pé da pág.). O que redunda
numa visão uniprismática e exclusivamente material do desenvolvimento do ser
humano.
2.4.2.
ANTROPOLOGIA ANÍMICO-EVOLUTIVA
a).
Acredita-se que todo espiritualismo-evolucionista, como é o caso do
espírita, exigiria um novo domínio científico dentro do quadro da Ciência do
Homem, que seria a Antropologia Anímica.
– Essa novel ciência
trataria – comparando com a Antropologia
Física – da origem, estrutura e evolução do espírito humano.
– Já existe literatura
incipiente e esparsa – mediúnica ou não – que já aborda alguns pontos desse
conhecimento, como “Fisiologia da Alma” de Ramatis/H. Mães, “Evolução Anímica”
de Gabriel Dellanne, “Gênese da Alma” de Cairbar Schutel, “Evolução em Dois Mundos”
de André Luiz/F.C. Xavier.
b). Uma das partes que se pode assinalar dentro dessa possível Antropologia Anímica seria a da dinâmica evolutiva do espírito. Comportaria
ela o estudo do desenvolvimento, aperfeiçoamento e espiritualização do homem,
ou seja, do alijamento progressivo do espírito, através de suas existências,
das influências da matéria de que se impregna nas sucessivas internalizações na
matéria orgânica. Verdadeiras purificações através do despertar e afloramento
dos elementos espiritualizantes, constituídos pelas sementes de perfeições
espirituais, que jazem em estado potencial e inercial no fundo das almas.
c). O sujeito ativo desse desenvolvimento, e, ao mesmo tempo,
objeto da ação do educador, é o espírito do educando. São considerados como
educandos tanto os alunos nas escolas, quanto os filhos nos lares, os jovens
das mocidades espíritas os adolescentes nos centros espíritas qualquer adulto
espírita, e mesmo os simplesmente espiritualistas.
d). Nessa visão antropológica dinâmico-evolutiva, consideramos
apenas três situações, ou estágios evolutivos, que servem como três balizas
expressivas e marcantes desse desenvolvimento anímico: A – a situação inicial, inaugural, do Espírito recém criado por
Deus; B – representando todos os
estágios intermediários; C – a
situação final do puro Espírito. (vide imagens gráficas mais adiante).
________________________
1 Ciência que reúne várias disciplinas cujas finalidades
comuns são descrever o homem e analisá-lo com base nas características biológicas
(Antropologia Física) e culturais (Antropologia Cultural) dos grupos em que se
distribui, dando ênfase, através das épocas. Às diferenças e variações entre
esses grupos. Antropologia Cultural: ramo
da Antropologia que trata das características do homem (costumes, crenças,
comportamento, organização social, e que se relaciona, portanto, com várias
outras ciências , tais como Etnologia, Arqueologia, Lingüística, Sociologia,
Economia, História, Geografia humana.
2
Antropologia Física: ramo da
Antropologia que se ocupa da origem e da evolução biológica do homem, assim
como das diversidades raciais e seus vários subgrupos” (do dic. Aurélio).
e). São três imagens arbitrarias,
idealizadas e puramente convencionais. Válidas apenas para este estudo. São
convencionais como figuras gráficas; mas representativas das idéias.
2.4.3.
ESTÁGIO A – (Imagem inicial do espírito)
É
a situação do embrião do Espírito.
Nesse ponto, enceta o espírito, teoricamente, sua marcha evolutiva, ou seja, do
desenvolvimento de sua espiritualidade.
a). INFRAESTRUTURA. É como se fosse constituída por uma sementeira, germes de todas as
perfeições espirituais em estado potencial, aí depositadas no fundo do espírito
pelo Criador; para serem germinadas e afloradas pelo esforço de cada um,
ordenado esse esforço ao mérito pessoal. São sementes de caridade, indulgência,
humildade, esperança, justiça, honestidade, veracidade e lealdade (constituindo
o currículo desta Pedagogia da Espiritualidade).
Toda essa
infra-estrutura é, portanto, uma criação exclusiva de Deus.
b). FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS
-
(EE-XIX, p.12): “No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos
futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a
princípio em estado latente, e que lhe
cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade”.
-
(LE-Q.754, p2): Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem”.
- (OP-A Morte Espiritual, p16): “Todas as faculdades, todas as
aptidões, se encontram em germe no
espírito, desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os
órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na
semente. O selvagem, que mais tarde se tornará homem civilizado, possui, pois
os germes que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande
filósofo.
“A
medida em que esses germes chegam à maturidade, a Providência lhes dá, para a
vida terrestre um corpo apropriado às suas novas aptidões”. (vide, ainda
(LE.Q.776, p2) e (EE-XI, 9, p2).
Este conjunto das
sementes de todas as perfeições chama-se perfectibilidade,
isto é, capacidade de total aperfeiçoamento e de progresso. Ou melhor, de
desenvolvimento de toda a potencialidade.
Não estará aí também a
imagem da parábola dos talentos? Manter enterrado o tesouro recebido do Senhor
é não desenvolver esse potencial anímico que Ele nos concedeu. E desenvolvê-lo,
fazendo essas perfeições aflorarem à consciência, é fazer a vontade do Senhor.
c). SUPERESTRUTURA. É o “edifício” anímico levantado sobre a
sementeira da infra-estrutura. Mas nessa situação inaugural, é uma “edificação”
só de paredes externas formada e totalmente vazia de perfeições. Nenhuma
semente terá sido germinada e aflorada ao nível do comportamento. Essa
superestrutura vazia está destinada a ser lotada de perfeições que ainda estão
na sementeira, e que, por sua vez, serão desenvolvidas pela boa vontade e
esforço do Espírito em estágios evolutivos ulteriores.
X
X X
d).
FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS
Este estado inicial é caracterizado
em várias passagens da Codificação:
– Como começo (os Espíritos tiveram princípio, início. Por isso, não
são eternos) – (LE-Q.78 e 191ª).
– Quem os criou: Deus (LE-Q.81 e 115), (QE-III, 114).
– Estado inicial: simples e ignorantes, sem saber, mas perfectíveis –
LE-Q.115 e 634), (OP-Profissão de Fé, 15), (QE-III, 114).
– Como e quando: nada
sabemos, a não ser que a criação se deu pela conclusão do processo de
individualização do principio inteligente – (LE-Q.79, 78 e 613, p4, 5 e 6),
(OP-Profissão de Fé, 15), (LE-Q.607a).
– Onde: não no planeta Terra, mas em mundos primitivos –
(LE-Q.607b).
– Capacidades congênitas incipientíssimas: consciência de si
(LE-Q.122); consciência do futuro (LE-Q.607a); senso moral – GÊ-XI, 23, p4);
livre-arbítrio (GÊ-II, 114), (OP-Profissão de Fé, III, 16); responsabilidade
(LE-Q.607a).
2.4.4.
ESTÁGIO B – (Imagem intermediária do Espírito)
Essa
imagem gráfica é apenas um padrão representativo de todos os estágios
intermediários, que medeiam entre a situação inicial e a final de evolução dos
Espíritos. É convencional e variável.
a). INFRA-ESTRUTURA. A sementeira estará menos densa de sementes de
perfeições, porque algumas já germinaram, desenvolveram-se sob a ação da
vontade e esforço desse Espírito.
Nesse “alicerce” do
espírito, ainda se acham, apenas como exemplo, os germes do altruísmo,
modéstia, veracidade e humildade, ainda não aflorados. Portanto, aí nessa base,
identifica-se o nível potencial, a
parte criada por Deus.
b). SUPERESTRUTURA. Observam-se espaços vazios e outros cheios. Os
cheios estão ocupados, como exemplos, pelas perfeições que já emergiram da
sementeira, e foram incorporadas à conduta. E que são, no caso, a lealdade, o
perdão, a caridade e a justiça.
Os vazios são como
“furnas”, “cavernas”, ainda existentes na estrutura anímica, representando –
apenas para exemplificar – as imperfeições da mendacidade, vaidade, orgulho e
egoísmo, que são o mal, considerado esse como a carência dos bens devidos: o
mal como um “ens privativum”.
As flechas de baixo para
cima, ascendentes, procuram representar as futuras ocupações desses grotões: a. pelo altruísmo flecha (1), que irá remover o egoísmo e ocupar
o seu espaço; b. pela modéstia
flecha (2), que irá ocupar a caverna
da vaidade, removendo esta última; c. pela
veracidade felcha(3) destinada a
ascender ao espaço vazio da mendacidade deslocando-a; d. pela humildade flecha(4),
que, aflorando da sementeira, irá lotar o espaço vazio do orgulho, varrendo-o
da estrutura da alma.
Toda essa dinâmica
evolutiva é efetuada no nível de realização, porque realiza, atualiza 1 as potencialidades
espirituais do Espírito.
Essa realização,
incorporada ao comportamento, é que gera, paulatinamente, a felicidade, que
nada mais é do que a fruição, o deleite, das perfeições, que vão sendo
conquistadas, afloradas, do fundo das almas.
E cabe a cada homem
construir pelo seu próprio esforço esse edifício anímico: superestrutura
levantada sobre o alicerce da sementeira, que o Criador colocou em cada
espírito criado.
c). FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS. Trata-se
de verificar se a Doutrina Espírita reconhece a teoria acima, de que o mal não
passa da ausência de um certo bem devido; de que o mal é um “ens privativum”
(privação do ser). Segundo SANTO AGOSTINHO, a privação de todo o bem
corresponde ao nada; portanto, se algo existe, é bom, pela simples razão de
existir; o mal não é uma substância, porque se fora substância, seria bom 2. O mal assim concebido é
chamado de mal metafísico, aquele que resulta
da carência de um bem que
deveria existir em
alguém, ou
objeto, ou em qualquer realidade. Por isso, o mal é o não-ser (falta de realidade), porque
_________________________
1 Este termo atualizar,
em filosofia, significa a passagem da potência (mera possibilidade) ao ato
(realização).
2 José F. Mora in “Dicionário de Filosofia” (Aliança
Editorial – Madrid – 1981).
se ressente, o
mal, de uma “pobreza ontológica” (pobreza de ser). O máximo de realidade que se
poderia atribuir ao mal e o de que ele “se situa nos confins do ser”. HEGEL
chegou, talvez perplexo, a considerar o mal como uma negatividade positiva. Para outros, dentro dessa ordem de
pensamento, o mal é uma aparência, uma
ilusão.

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E noutra obra, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, fornece um
exemplo:
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Observe-se
que o esquema gráfico que apresentamos, de um Espírito em posição intermediária
de evolução, representa essa teoria assumida pela Doutrina Espírita. O mal são
os “espaços vazios” da alma, sem realidade ontológica, simples ausências do bem
que deve ocupar essas furnas anímicas. Esses males são os “vazios” da vaidade,
da mendacidade, do orgulho, do egoísmo; que devem ser ocupados pelos bens da
modéstia, da veracidade, da humildade e do altruísmo respectivamente; que, no
gráfico, ainda jazem em estado potencial e inercial no fundo do espírito,
aguardando a boa vontade e o esforço moral e espiritual desse Espírito, para
ascenderem à superestrutura da incorporação consciente da conduta.
d). A IMAGEM DO BALÃO. Por mera coincidência, o diagrama do
Espírito em situação intermediária reproduz, por acaso, o perfil de um balão: a
tocha e o combustível representam a infra-estrutura da sementeira. Acesa a
tocha, a sua chama aquece o ar interior do balão , flechas ascendentes do que
resulta o enchimento dos espaços vazios pelo ar aquecido e dilatado, e promove
a subida, a ascensão do balão assim inflado a níveis mais elevados da
atmosfera.
Assim também o Espírito,
promovendo a emersão, o afloramento das perfeições que estão em estado
potencial na sementeira, enche os vazios e o Espírito se eleva na escala
evolutiva.
e). CONSEQÜÊNCIA PEDAGÓGICA. Como vencer os vícios do orgulho, da
injustiça, do egoísmo, etc? Não será por comandos imperativos dos educadores,
pais e mestres, como: “não seja orgulhoso”, “deixe de ser egoísta”, etc. Por
que não? Resposta: porque esses males do espírito são vácuos da alma, sem
realidade ontológica (de ser), aparências, ilusões de realidades. Assim sendo,
essas exortações representam ataques ao nada, ao vazio, e por isso, não tem
nenhuma eficácia. É a pedagogia do
vácuo, como pode ser chamada.
O procedimento correto e
eficaz deve ser outro:desenvolver, fazer,germinar e aflorar, do fundo da alma
do educando, as perfeições que lá estão. Vindo à tona, essas virtudes varrem da
alma aqueles vícios, ocupando os lugares, os espaços, antes lotados por eles. É
a pedagogia do preenchimento.
f).
Não é o combate à imperfeição que fará despontar a virtude. Mas sim, é o avanço da perfeição que fará recuar a
imperfeição oposta, e não o contrário. Assim, por exemplo, para
remover o orgulho, promover a ascensão da humildade; para deslocar o egoísmo
desenvolvimento do altruísmo, etc. etc. E esta substituição das imperfeições
pelas virtudes que lhe são opostas, manifesta-se na modificação do
comportamento do educando, verificável, lenta mas progressivamente, em atos da
perfeição que está sendo alçada do fundo da alma.
Esta emersão completa do
potencial anímico ao nível comportamental não se processa num instante, nem em
uma hora, nem num dia, nem num ano. É programa para uma vida inteira, e pode
até estender-se a outra vidas consecutivas.
g). FUNDAMENTO DOUTRINÁRIO. Prescreve a Codificação em (CI-1ª, VII,
17, p3):






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2.4.5. ESTÁGIO C – (Imagem final do Espírito)
a).
É a situação última de evolução espiritual. É a condição dos puros Espíritos.
Aqueles que desenvolveram todo o seu potencial anímico. Espíritos esses que
concluíram, através de um extensíssimo roteiro pedagógico, a sua educação. São
os seres espirituais totalmente educados 1.
Esses Espíritos não
apresentam nenhum vazio em sua estrutura. Nenhuma “caverna” anímica, a ser
ocupada. Todo o potencial de perfeições foi atualizado (realizado). Não restou
nenhuma potencialidade a desenvolver.
Como indica a Doutrina
em (LE-Q.113): “Alcançaram a soma de
perfeições de que é suscetível a criatura”.
b).
INFRA-ESTRUTURA. Observa-se que a base da sementeira “esvaziou”. Todas as
sementes germinaram pelo esforço desse Espírito, e se transformaram em
perfeições.
c). SUPERESTRUTURA. Está completa. Todos os “espaços” foram
ocupados pelas perfeições a eles destinadas, e que emergiram da sementeira pelo
esforço auto-educativo do Espírito e heteroeducativo dos seus educadores ao
longo de muitas vidas.
– E neste estágio, essas perfeições comunicam-se à conduta desses
espíritos puros que completaram a sua educação?
________________________
1 Porque educar vem do latim “educere” (e = para fora;
ducere = conduzir), atualização das capacidades latentes.
d). Voltemos aos textos da Doutrina:
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X
X X
2.4.6.
CONCLUSÃO. Aí está exposto, nessas três imagens-padrão sucessivas, A, B e
C, o que denominamos de
ANTROPOLOGIA
ANÍMICA DINÂMICO-EVOLUTIVA
DO
DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
Esse estudo servirá de
base para a estruturação das técnica:
do afloramento das
perfeições Espirituais.
2.5. FUNDAMENTOS AXIOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
2.5.1. CONCEITO DE AXIOLOGIA. Axiologia
é a teoria e o estudo dos valores; ou
melhor, é a filosofia dos valores. Mas
não se pode conceituar a Axiologia, sem compreender o que sejam os valores.
a). Então, o que são eles? Não há uma definição que seja
consensual. E, para muitos pensadores, eles não são suscetíveis de definição.
Segundo J. Hessen “o conceito de valor pertence ao número daqueles conceitos
supremos, como os de “ser”, “existência”, etc., que, por isso mesmo, não
admitem definições. Tudo o que se pode fazer a respeito deles é simplesmente
tentar uma clarificação, ou,
tão-somente, mostrar o seu conteúdo.
b). Para efeito unicamente didático, ousa-se ensaiar uma noção
pessoal, ou simples idéia inicial, do que sejam os valores, harmonizando
elementos encontrados em várias obras:
2.5.2.
CONCEITO DE VALORES
a).
VALORES seriam qualidades (bom,
justo, belo, feio, verdade, mentira, saudável, útil etc.) que resultariam de
certas disposições das propriedades entre si (forma, peso, cor
proporção, tamanho, propriedades imateriais e abstratas) dos objetos de
conhecimento (materiais ou não), dotados do poder do tirar alguém da posição de indiferença perante eles. Essa não-indiferença emocional podendo ser religiosa, ética, etc.,
manifesta-se em nós sob as formas de tendência,
desejo, atração, ou de apreciação diante
de uma obra de arte, de uma bela ação, ato de fé, utensílio doméstico,
raciocínio, etc.
b). Esses valores aderem às
coisas, aos objetos de conhecimento, que são os seus portadores, ou suportes deles.
2.5.3.
CLASSIFICAÇÃO1 DOS VALORES . De acordo com sua natureza, os valores
podem ser classificados2
em duas grandes categoria:
a). Valores espirituais (permanentes):
–
religiosos3 (sagrado,
santo, caridade, fé, etc.);
– éticos
(bom, virtude, justo, honra, etc.);
– estéticos
(belo, poesia, música, drama, etc.);
– lógicos
(lógico, coerente, correto, conseqüente, etc.);
b). Valores sensíveis (efêmeros):
–
vitais (saudável, coragem, força, poder, elegância, etc.);
– úteis
(agradável, volúpia, doce, prazer, etc.);
__________________________
1 Existem outras classificações; até uma de 24
categorias de valores.
2 É a classificação proposta por Johannes Hessen in
“Filosofia dos Valores” (Ed. Armênio Amado Coimbra – 1967).
3 Que também se poderia chamar de espirituais.
2.5.4.
POLARIDADE. A todo valor se opõe um contravalor,
ou desvalor, da mesma espécie:
– sagrado –
profano bom – mau
– belo – feio verdadeiro – falso
etc.
2.5.5.
HIERARQUIA DE VALORES. Significa que alguns valores se apresentam como superiores a outros, porque tem mais validade. Por sua vez, um valor se
apresenta como superior a outro a alguém, quando esse alguém é menos indiferente a ele do que ao outro
valor. Dessa avaliação emocional,
resulta que essa pessoa dá preferência ao
superior dentro da opção entre os dois.
a). 1º Exemplo (entre valores e contravalores): uma pessoa diante
da alternativa de continuar fumando (contravalor sensível) ou de abandonar o
vício para preservar sua saúde (valor vital), inclina-se à segunda opção.
– A hierarquia
estabelece, assim, certa ordem
preferencial de cima para baixo, conforme já exposto no item
“classificação” logo acima.
b). 2º Exemplo (entre valores): É um exemplo real, histórico. O
Duque de Navarra, chefe da facção huguenote (protestante) da França no século
XVI, assediava Paris com suas tropas, e defendida pelo exército católico.
Entrou em acordo com os defensores, convertendo-se à religião católica da
Capital, onde entrou sem resistência, pronunciando antes a célebre frase:
“Paris bem vale uma missa”. E tornou-se o rei Henrique IV, fundador da dinastia
Bourbon.
Foi um exemplo de opção
errada no ponto de vista da correta hierarquia de valores. Trocou o valor mais
alto, a sua convicção religiosa por um valor inferior, o poder (valor vital).
2.5.6.
ESQUEMAS DE SUPORTE AXIOLÓGICO PARA A
PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE.
a).
Trata-se de verificar se a Teoria dos Valores oferece esquemas para a sustentação
axiológica à Técnica de Afloramento Pedagógico das Perfeições Potenciais. Para
começar, admitem-se que os conceitos de perfeição,
virtude, e de valor são
idênticos, porém focalizados sob ângulos e abrangências diferentes.
b). Consideram-se como perfeições
apenas os valores espirituais
humanos; e como valores as
qualidades atribuíveis a qualquer objeto material, animal ou humano. Assim,
toda perfeição é valor, mas nem todo valor é perfeição, para efeitos deste
trabalho. Ainda mais, as perfeições potenciais só se transformam em valores
quando afloram ao nível consciente, e se manifestam em atos de comportamento.
c). Segundo os fundamentos antropológicos, já expostos no capítulo
correspondente, os contravalores (imperfeições)
são “vazios” da alma; “furnas” destinadas a serem preenchidas
pelos valores que se lhes opõem.
2.5.7.
HIERARQUIA DE VALORES E LIMITAÇÃO DE OPÇÕES ENTRE ELES.
a).
Nesta técnica Pedagógica de Afloramento das Perfeições, por ser
eminentemente prática e objetiva, visando a atos concretos, torna-se
impraticável uma rigorosa opção entre os valores. Ficando limitadas essas
opções às duas alternativas seguintes:
b). 1ª Alternativa: entre o naipe dos valores espirituais
permanentes e o naipe dos valores sensíveis efêmeros. Isto é, o educando deverá
ser motivado a preferir os espirituais, quando em confronto desses com qualquer
dos valores sensíveis (vitais e úteis).
c). 2ª Alternativa: entre valores e contravalores. O educando
deverá ser induzido (motivado) a sempre escolher os valores e preterir os contravalores
correspondentes. Exemplo: entre o valor do perdão e o contravalor vingança que se lhe opõe, jamais optar
por este último. Outro exemplo: entre o valor justiça por um ato de reparação a
uma ofensa cometida e o contravalor injustiça pela omissão da indispensável
reparação, preferir reparar a ofensa apenas pelo pedido de desculpas ao
ofendido.
d). A opção dentro do naipe de valores espirituais ou dos
sensíveis, em princípio, torna-se bastante difícil. Isto porque, por exemplo,
um valor estético-inferior hierarquicamente a um valor religioso – pode
merecer, assim mesmo, a opção, desde que seja mais intenso em não-indiferença
àquele valor religioso.
– Exemplo: a opção em
comparecer a uma extraordinário exposição de quadros de um célebre e consumado
pintor em vez de participar de uma sessão espírita rotineira, mal conduzida e
improdutiva. (apenas como exemplificação).
e). Aí está o fundamento axiológico da técnica que se propõe no
final desta obra. Ou seja, a transformação do potencial anímico de perfeições
em valores espirituais (religiosos) e morais. Já a nível de comportamento
efetivo, visível.
f). Opções opostas (exemplos):
CORRETAS: ERRÔNEAS
–
Estudar (valor lógico) em vez de
divertir-se (valor
sensível);
– Orar (valor religioso) em vez de
dormir (valor
vital);
– Ser honesto (valor
ético) em vez de lucrar (valor útil);
– Trabalhar (valor
ético) em vez de recrear-se (valor
sensível.
2.5.8.
FENÔMENO FÍSICO E FENÔMENO AXIOLÓGICO (um confronto).
a). UM FENÔMENO FÍSICO
(hidrostático)
Se
forem colocadas num vaso diversos líquidos de densidades (pesos específicos)
diferentes, e for o vaso agitado, misturando-os, e, depois, for deixado vaso em
repouso por algum tempo, os líquidos vão se separando em camadas superpostas.
Os mais densos se estratificam nas faixas inferiores, e os mais leves vão
ocupando os níveis superiores (vide figura......).
Analisando esse
fenômeno, verificamos que essa sedimentação é o resultado de três fatores:
1º - A
diferença de densidade dos líquidos;
2º - O
repouso do recipiente;
3º - A força
ordenadora de estratificação: a
gravidade.
b).
UM FENÔMENO AXIOLÓGICO (ético).
–
No Reino dos Valores, dentro de cada
pessoa também se processa fenômeno semelhante, mas de ordem moral e axiológica.
Os valores só se separam
e tendem a se estratificar
corretamente em sua preferência, de acordo com a sua hierarquia natural, de
valores se conjugarem três fatores parecidos e correspondentes ao fenômeno
físico-hidrostático:
– 1º. A apreensão íntima das diferenças de validade entre os níveis
ou categorias de valores. Essa sensibilidade
(captativa) leva o educando a perceber que uns valem mais do que os outros (processo de valoração). Por isso, nas
situações de opção, alternativas entre os valores em confronto, devem eles ser
preferidos e praticados.
– 2º. O repouso interior do espírito, a serenidade, sem o que se
torna impraticável a meditação comparativa, a reflexão, a autocrítica. Dessa tranqüilidade
íntima, resulta a lenta maturação da capacidade de valorização correta e o
autoconhecimento que propiciam o autodomínio em cada situação de escolha.
– 3º. Uma força ordenadora desses valores. Essa energia
hierarquizante só pode ser a da educação
(auto e hétero).
c). Realizadas essas três condições, podem, os educandos, realmente
progredir na conquista da vivência de
uma bem ordenada Escala de Valores. Sem riscos maiores de trocar um valor
superior por outro inferior. Aos poucos, com muita renúncia, vão-se
consolidando as condições propiciatórias da progressiva vida moral em marcha
ascendente para Deus, para os valores espirituais (religiosos) e morais.
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d). A entrada no processo muito progressivo e longo de arrumação
sedimentar desses valores, no dia-a-dia, na vida cotidiana, já é laboriosa,
ingente. Muito mais ainda, completar essa hierarquização vivencial: longínquo
produto de muitos anos de experiências válidas.
– Essa conquista
dramática foi reconhecida por Eduard Spranger (1882-1963) em texto candente e
clássico:
–
“Ainda que tenhamos começado com a ficção metódica de que a ordem hierárquica
dos valores representa um sistema objetivo totalmente em repouso, na realidade,
não obstante, a apreensão dos níveis de valor se verifica, no fundo, só em
virtude de conquista pessoal da
pressuposta ordem hierárquica na moral
como processo de vida, através de experiências
de valor, vivências normativas, conflitos e pugnas incessantes.
– Não se
trata de algo já pronto, dado, senão de algo que constitui o último, maduro e a duras penas conquistado produto da vida moral”.
(grifos
nossos)
e). A nossa tese é a de que seja possível um tratamento
técnico-pedagógico que tenha por objetivo induzir a entrada dos educandos no
vestíbulo desse processo, e nele serem introduzidos paulatinamente.
2.5.9.
VALORES E CONTRAVALORES FUNDAMENTAIS QUE SERÃO VISADOS NA TÉCNICA PROPOSTA.
ESPIRITUAIS ÉTICOS
– HUMILDADE X
ORGULHO –
HONESTIDADE X IMPROBIDADE
– ESPERANÇA X
DESESPERANÇA – JUSTIÇA X
INIQÜIDAE
– CARIDADE X
EGOÍSMO –
VERACIDADE X MENDACIDADE
– INDULGÊNCIA X
VINGANÇA –
LEALDADE X TRAIÇÃO
a). Esse valores fundamentais estarão bem desenvolvidos e
explicados inclusive com os seus correspondentes valores derivados e
contravalores, em OITO MANUAIS COMPLEMENTARES. Os quais servirão como
parâmetros referenciais para uso do educador na aplicação efetiva da técnica.
2.5.10.
RESUMO
–
Ensaiamos os conceitos de Axiologia e de valores;
– Classificamos,
polarizamos e hierarquizamos esses valores;
– Expusemos a
sustentação axiológica da técnica pedagógica em foco, devidamente limitada aos
propósitos dela;
– Comparamos o fenômeno
físico-hidrostático com o fenômeno ético-axiológico;
– Elegemos oito valores
e contravalores que serão visados pela técnica de Afloramento Pedagógico das
Perfeições Potenciais.
2.6. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
2.6.1. CONCEITO DE SOCIOLOGIA GERAL
a).
“Sociologia é o estudo científico do comportamento social ou da ação social
dos seres humanos” 1.
b). “Sociologia é a ciência
das realidades sociais, e tem por fim, antes de tudo, como qualquer outra
ciência, descobrir a verdade, por meio da observação das relações de causa e
efeito no mundo objetivo” 2.
c). “Sociologia é o estudo
objetivo das relações que se estabelecem, consciente ou inconscientemente,
entre pessoas que vivem na mesma comunidade ou num grupo social, ou entre grupos
sociais diferentes que vivem no seio de uma sociedade mais ampla” 3.
d). “Sociologia é a ciência
que tem por objeto os fatos sociais e por fim o progresso coletivo” .
2.6.2. CONCEITO DE FILOSOFIA
SOCIAL.
–
Inicialmente, remetemos o leitor estudioso ao tema de abertura de nosso
trabalho anterior “Filosofia Social Espírita! (Ed. FEB), intitulado “Conceito
de Filosofia Social e a Lei Natural” (págs. 25 a 48). Nesse estudo, poderá
o leitor aproximar-se da idéia de Sociologia como ciência que é, diferenciada
da Filosofia Social, inclusive da espírita, ordenada pela razão natural
especulativa.
2.6.3. LIMITAÇÃO DA ABRANGÊNCIA
DA SOCIOLOGIA.
a).
Esclareça-se que o título dado a este capítulo poderá induzir a idéia falsa
de que será utilizado todo o largo espectro conceitual da Sociologia para
fundamentar a técnica que está em proposição.Muito pelo contrário foi reduzida
essa amplitude a três enfoques bastante contraídos, mas proporcionais às muito
restritas necessidades de sustentação da técnica.
b). Esses enfoques confinantes são aspectos restritos dentro dos
limites da Sociologia Educacional,
considerada esta em três ambientes de interações sociais-educativas entre os
educandos e outras pessoas do convívio diário:
___________________________
1 “Dicionário de Ciências Sociais” (Fund. Getúlio
Vargas)
2 Fernando de Azevedo in “Princípios de Sociologia”
(cap. I da 3ª parte), (Cia. Editora Nacional).
3 “Alceu Amoroso Lima.
– No ambiente urbano;
– No ambiente escolar
– No ambiente doméstico.
c). E a idéia que abrange e capeia esses três ambientes é a da cotidianidade 1, isto é, a vida cotidiana, no dia-a-dia, no lar, nas instituições urbanas, na
escola, todas com seus episódios corriqueiros e, não poucas vezes, até
triviais. Porém, muito significativos pelas oportunidades a serem aproveitados
pela técnica pedagógica, que é o objetivo da presente obra.
d) 1º CONFINANTE: AMBIENTE
SOCIAL URBANO.
·
A Sociologia Urbana tem por fim o estudo dos
grupos sociais e instituições da cidade em geral, as relações entre elas, e
delas com os citadinos.
·
Estreitando ainda mais o conceito, interessa-nos
particularmente a observação do educando, por si mesmo, do seu próprio comportamento,
dos atos que possa vir a cometer relativos aos valores (perfeições) que estão
sendo focalizados na ocasião. As oportunidades dessa auto-observação são as que
ocorrem normalmente nos grupos sociais e instituições em contactos pessoais com
outras pessoas nos templos, clubes recreativos, clubes esportivos, estádios de
futebol, academias atléticas, discotecas, “shopping-centers”, bancos, casas
comerciais, supermercados, bibliotecas, repartições públicas, etc. E, ainda
mais, nos veículos de transporte, nas viagens, nas ruas, nas filas, etc. Para
adultos, principalmente, nas empresas onde trabalham.
e) 2º
CONFINANTE: AMBIENTE ESCOLAR
·
A Sociologia Escolar, já fazendo parte da
Sociologia Educacional, estará voltada para o relacionamento educativo e social
do estudante com os seus mestres, com a diretoria da escola, com os
funcionários e com seus colegas. E ainda, com a instituição escolar como um
todo e com o sistema de educação da escola.
– Atém-se esse confinante unicamente à auto-observação do próprio educando,
relacionada à expectativa (atenção) de seus atos concretos no exercício das
perfeições que estejam na pauta da Técnica do Afloramento, nos contactos
diretos e pessoais acima já indicados.
f) 3º
CONFINANTE: AMBIENTE DOMÉSTICO
·
A “Sociologia Doméstica é o capítulo da
Sociologia que estuda a família, as relações entre os seus membros e a sua importância
na vida social” (A. Fontoura).
·
No propósito em tela, este confinante procura
concentrar-se na atuação do próprio educando na possibilidade de surgimento de
oportunidades de cometimento de atos das perfeições que estão sendo visadas. E
essas oportunidades podem acontecer nas interações com os pais, irmãos, demais
parentes e empregados domésticos.
2.6.4. IMPORTÂNCIA EDUCATIVA DA
VIDA SOCIAL COTIDIANA.
a). Cumpre, muito
particularmente neste capítulo, estaquear as balizas da Sociologia da Vida Cotidiana para a Técnica em proposta. O valor da
cotidianidade da vida é
indescartável para o florescimento das sementes das perfeições espirituais.
b). Reforça-se a relevância da idéia já exposta da vida cotidiana
para enfatizar o relacionamento das pessoas entre si, em suas vivências
recíprocas.em todos os dias; enfim, nos contactos sociais de todos os momentos,
que ocorrem em sítios diversos: no lar, na escola, empresa, templo, etc.; em qualquer
lugar em que as pessoas se
encontrem, se comuniquem, por
mais triviais
e até banais e informais que sejam esses contactos.
__________________________
1 “Qualidade do que é cotidiano, de todos os dias;
diário: a vida cotidiana – Que se faz ou sucede todos os dias: labor cotidiano,
complicações cotidianas – Que aparece todos os dias: jornal cotidiano. – Que
sucede ou se pratica habitualmente: leitura cotidiana – Aquilo que se faz ou
ocorre todos os dias”. (Dic. Aurélio)
c). E, por que é tão importante a cotidianidade ? Resposta: porque nela mil oportunidades se
apresentam a cada um, em ofertas abundantes, comuns, habituais, simples, de
perdoar ofensas e danos sofridos; de reparar ofensas e injustiças cometidas; de
agradecer favores e considerações recebidos; de reparar ofensas e injustiças
cometidas; de agradecer favores e considerações recebidos; de esperar com
paciência; de ser veraz, indulgente, modesto, humilde, resignado, etc.
d). São ocasiões opimas, oportunidades divinas, para cometermos
atos, que, repetidos suficientemente, promovem e alçam nossas perfeições
espirituais virtuais ao nível do comportamento efetivo e desejável, consolidando-o.
2.6.5.
O RECONHECIMENTO DOUTRINÁRIO DA COTIDIANIDADE
a).
A própria Doutrina Espírita consagra o valor da cotidianidade no relacionamento do homem com seus próximos. É na
vida social, nesses contactos, que as pessoas se conhecem, a si mesmas, como
bondosas ou perversas. Para daí partirem para a melhoria do espírito:
–
(CI-1º, III, 8): “A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A
bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o
egoísmo, a avareza, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má
fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo
as relações do homem com os seus
semelhantes”.
“Para
o homem que vivesse isolado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do
mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia”.
– !”Estude e Viva” – Emm-A.Luiz/F.C. Xavier –
W. Vieira, cap.V): “Em suma, aceitar o campo da vivência cotidiana como o educandário mais digno e que possamos
estagiar, provisoriamente internados pela Paternidade Comum (...)”.
– (EE-XVII, 10, p.5): Unicamente no
contacto com os seus semelhantes nas lutas árduas é que ele (o homem) encontra
ensejo de praticá-la (a caridade)”.
2.6.6.
OUTROS RECONHECIMENTOS
a).
René Hubert 1 “Uma educacion segun el espirítu debe encontrar
aplicación em la vida segun la natureza y em la vida segun la sociedad”.
b).
Giles Deleuze (1925-1995) 2 A
vida cotidiana seria onde ocorrem lutas tidas como menores, mas que
conduziriam a transformações mais importantes do que a política
tradicional....”.
c). Zen-Budismo: “Quando perguntaram a
Joshu o que era Tao (ou verdade do Zen) ele respondeu: “A vossa vida cotidiana é o Tao. Esta é a verdade que quero
exprimir quando afirmo que o Zen é
eminentemente prático. Ele apela diretamente à vida, não fazendo sequer
referência à alma, ou a Deus, ou a coisa alguma que interfira ou perturbe o
ordinário curso vital. A idéia do Zen é captar
a vida assim como ela é. Não há nada de misterioso ou extraordinário a
respeito do Zen”.
(Introdução
ao Zen-Budismo” – D.C. Suzuki – pág. 98 – Ed. Pensamento).
d).
Zen-Budismo: “Na vida cotidiana, este esforço nos leva a desenvolver
qualidades boas, como tolerância, paciência, compreensão. Pela falta de
atenção, não temos consciência dos estados negativos e embarcamos facilmente
neles”.
(“Budismo:
Psicologia do Autoconhecimento”, Dr. Georges da Silva e Rita Omenko – Ed.
Pensamento).
_______________________
1 Tratado de
Pedagogia General” (Livraria El Ateneo –
B. Aires – pág. 166/167 – 3ª edição).
2 Filósofo francês
contemporâneo.
2.6.7.
O GRANDE ERRO
a).
É não se reconhece o valor inestimável da cotidianidade, mesmo tão prosaica como é, sem grandes atrações,
porém, cheias de tentações e escorregadelas.
b). E, desse desleixo, passa-se comodamente a aguardar grandes
ocasiões para progredir, em situações que exigem difíceis perdões, árduas reparações,
custosas resignações. Certamente, quem assim pensa e procede fracassará, por
não estar preparado, por atos anteriores de pequenas indulgências ou ações
simples de justiça, de resignação, de veracidade, de gratidão, a embates
maiores.
c). Suponha-se que alguém se decida a iniciar, prosseguir, ou
acelerar, o desenvolvimento da sua espiritualidade.
d). Diga-se que se tenha escolhido aflorar a perfeição um tanto
inerte do perdão. O procedimento errôneo será o de aguardar ser acometido de
graves ofensas ou danos, para ter a oportunidade de revelar. Engana-se.Quando
essas situações acontecerem, fracassará. Não se terá exercitado em agravos
preparatórios, simples e fáceis de perdoar.
e). Daí, o extraordinário valor do cotidiano em qualquer ocasião ou local: lar, escola, empresa,
clube, rua, etc., quando mil ocasiões triviais se apresentam para o exercício
do poder ainda débil, de esquecer, ou relevar. O que o capacitará, de grau em
grau, no futuro, já habituado, a resistir ao impulso de se vingar, ante graves
ofensas.
f). É fácil de verificar essa oferta diária e abundante, dadivosa
mesmo, de tantas oportunidades vulgares de perdoar, e nas quais capitula-se pelas mais diversas formas de vingancinhas mesquinhas mascaradas de
defesa da dignidade e outros eufemismos: O “gelo”, frieza, não cumprimentar,
mau humor, respostas ásperas, e tantas outras formas. E com essas suaves
represálias, vai-se sedimentando a maligna imperfeição da vingança, difícil
mais tarde de debelar e substituir pela indulgência.
– E, como será essa
preparação preventiva ? a resposta estará nos próximos capítulos.
2.6.8.
CONCLUSÃO. O fundamento sociológico para a Técnica de Afloramento das
Perfeições Potenciais do Espírito reside na existência de possibilidades
sociais, segundo as coordenadas temporais (o “quando” das oportunidades) e
espaciais (o “onde” dos locais) em que se verificam essas oportunidades.
2.6.9.
RESUMO
a).
Procurou-se dar uma idéia geral da Sociologia e da Filosofia Social.
b).
Em seguida, atalhou-se a abrangência do seu conceito, confinando-o aos
ambientes urbano, escolar e doméstico.
c). Daí extraíram-se as noções das sociologias especiais, urbana,
escolar e doméstica, todas integrantes da Sociologia Educacional, no caso
presente.
d). Assim limitado e preparado o campo de interesse, destacou-se a
importância educativa da vida social cotidiana, quando bem aproveitada técnica
e pedagogicamente.
e). Assim credenciado, evidenciou-se o grande erro de subestimação
dos pequenos atos triviais cotidianos para o desenvolvimento da
espiritualidade.
f). Finalmente, concluiu-se que a
Sociologia também fornece sólida sustentação social para a Técnica Pedagógica
que estamos desenvolvendo.
2.7. FUNDAMENTOS ÉTICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
(O DEVER E O BEM)
2.7.1. CONCEITO DE ÉTICA. No
decorrer da história da Filosofia, têm os filósofos divergido quanto ao
entendimento do que seja Ética, e também do que seja Moral. Alguns juntam na
mesma idéia Ética e Moral; outros as distinguem. É preferível separá-las,
embora sejam confinantes. A Ética teria por fim estabelecer especulativamente,
“a priori”, os princípios gerais do comportamento humano que possam conduzir ao
bem sob a forma de deveres.
a). A Moral estuda, “a posteriori”, os modos e os meios de
aplicação prática desses princípios em atos concretos de conduta e dos costumes
dos povos e comunidades.
b). Os três princípios gerais básicos da Ética são: 1º - Existe o
bem e existe o mal; 2º - o bem e o mal opõem-se um ao outro; 3º - deve-se
preferir o bem ao mal.
c). O bem no homem é tudo que faculta a plena realização de sua
natureza, da sua humanidade.
2.7.2. PERGUNTAS DIRETRIZES. Como
já foi adiantado anteriormente, cabe aqui responder à pergunta: É legitimamente moral induzir nos educandos
o desenvolvimento de sua espiritualidade, ou seja, das perfeições
espirituais que jazem no imo de sua alma? Tal procedimento pedagógico
constituirá um dever, ao mesmo tempo
do educador e do educando?
a). Ora, só é moral em educação o que conduz ao bem do educando
ainda que remoto. Esse bem é a sua felicidade. Mas essa é uma decorrência das
perfeições que vão sendo gradativamente conquistadas. A felicidade passa,
assim, a ser o gozo, o deleite íntimo e espiritual dessas perfeições.
b). A felicidade é também um inefável sentimento interno de paz, de
alegria, de satisfação plena, de realização pessoal, decorrentes
proporcionalmente do grau já atingido de purificação do Espírito.
c). Mas é o desenvolvimento da espiritualidade que conduz
progressivamente à felicidade do educando; logo, é moral; e o educador tem o
dever de assistir o educando nesse processo; e o educando de esforçar-se com
boa vontade para assim autoeducar-se.
d). Todavia, o processo de purificação do espírito equivale ao
mesmo desenvolvimento da espiritualidade, como pode demonstrar a própria
Doutrina Espírita:
– (CI-1ª, VII, Código.....2º): “A
completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do
Espírito (...); toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de
sofrimentos”.
– (idem, 3ª): “(...). Não há
uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo (...). A soma dos gozos é
proporcional à soma das qualidades”.
– (idem, 5ª): “Dependendo o
sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o
próprio castigo ou prêmio (...)”.
– (LE-Q.115): “Nesta perfeição,
é que os Espíritos encontram a pura e eterna felicidade.
– (LE-Q.967): “A felicidade dos Espíritos é proporcional à
elevação de cada um”.
– (LE-Q.1004): “O estado de
felicidade é proporcionado ao grau de purificação”.
– (LE-Q.979): “Goza de
felicidade, a alma que chegou a um certo grau de pureza. Domina-a um sentimento
de grata satisfação. Sente-se feliz por tudo o que vê, por tudo o que a cerca”.
– (CI-1ª, VII, Código, 2ª): “A
completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do
Espírito”.
e). CONCLUSÃO. O desenvolvimento
da espiritualidade pelo afloramento das perfeições potenciais do espírito
conduz à felicidade, que é o bem do educando.
Logo, é moral, e, como
tal, constitui dever dos educadores e dos educandos. Mesmo, porque:
– (LE-Q.629): “A moral é a regra do bem proceder”.
·
Ora, o desenvolvimento da espiritualidade
consiste justamente em o educador induzir esse bom procedimento do educando
devidamente assistido por ele.
2.7.3. ÉTICA DOS FINS E MEIOS.
a).
FINS DESTA TÉCNICA. Já foi verificado, no capítulo correspondente, que os
fins almejados na aplicação desta Técnica de Afloramento Pedagógico das
perfeições Espirituais do Espírito estão todos eles revestidos do indispensável
requisito ético. Porque estão indissoluvelmente integrados ao bem dos
educandos: à felicidade deles, à paz e à satisfação da consciência.
– Recordando esses fins: a. desenvolvimento
da espiritualidade; b. o fim social
do futuro mundo de regeneração; c. o
aristocrata do espírito como o ideal e padrão humano a serem formados; d. o puro Espírito como fim último
subjetivo; e. Deus como o fim
supremo. 1.
b).
MEIOS E MODOS. Todavia, não basta que os fins desta técnica pedagógica
ostentem eticidade. Impõem-se que os meios e os modos de aplicação também sejam
morais. Por quê ? R. Porque os fins não justificam os meios e os modos de
aplicação. Ao contrário disso, recaíria-se na doutrina imoral de Maquiavel: os
fins éticos legitimando os meios imorais. Isto é, se os fins são bons, justos,
não importa que os meio e modos em si mesmos sejam desonestos, injustos. Por
exemplo, justificar a tortura (meio imoral) de um seqüestrador para salvar a
vítima dele (fim ético).
– Ora, os meios e modos desta técnica constituem toda a didática
adotada e constante do respectivo
capítulo. Portanto, cumpre agora colocar essa didática em julgamento.
Examinando-a ponto por ponto.
c). OS MEIOS.
–
1º Ponto (fundamental), formação dos bons hábitos. Se são realmente bons,
já estão previamente justificados. Ora, pretende-se formar os hábitos de
diversas perfeições como, caridade,
indulgência, humildade, esperança, justiça, honestidade, veracidade e lealdade.
Todas essas perfeições e outras mais dimensionam a natureza\ ideal humana, o padrão que Deus teve em
________________________
1 Vide
Fundamentos Teleológicos.
vista ao criar
os homens. Toda perfeição sendo o hábito dela mesma, a ser formado pela
educação (auto ou hétero), está esse hábito moralmente sustentado.
– 2º Ponto. Processos de gradação e sucessão (no processo
pedagógico de espiritualização). É evidente que ambos esses processos nada
apresentam de moralmente condenados. Mesmo porque se integram ao âmbito maior e
abrangente já justificado: da formação dos hábitos.
2.7.4.
O MODO, E OS PROCEDIMENTOS DO
EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
A
atuação do educador em relação ao educando, ou sejam, os seus procedimentos,
também devem estar moralmente legitimados. E que são sucessivamente:
a). 1º Ponto – Preservação do Livre-Arbítrio. O educador não pode
violentar a liberdade dos educandos da espiritualidade, de fazerem ou não
fazerem o bem. A vontade deles tem que ser respeitada. Não deve o educador
superpor o seu querer ao querer do educando. Para isso apresenta as
alternativas entre praticar o bem ou não praticá-lo, de livre escolha,
esclarecendo a consciência de cada um e o valor, a beleza e a grandeza
espiritual da perfeição.
b). 2º Ponto – Interdição de Doutrinação. O educador não inculca
nas mentes dos educandos nem mesmo a prática impositiva do bem. Moderna e
pedagogicamente, o conceito de doutrinação tende a se tornar pejorativo. O
processo apenas induz a formação do
hábito do bem (perfeição). A Técnica do Afloramento sendo educação (de dentro
para fora) não admite a doutrinação (de fora para dentro).. Há a convicção de
que doutrinação não passa de instrução com forte e até invencível apelo
autoritário de aceitação pelo educando. Assemelha-se à propaganda e ao
“marketing” (vender idéias). Em resumo, o
educador não doutrina sobre o bem. Indu-lo.
c).
3º Ponto – Interdição do Moralismo – Moralismo é a contrafação da
moralidade. O seu exagero. A não-consideração do nível espiritual atingido pelo
educando na ordem físico-corporal, é comparável à exigência, descabida, a todos
os halterofilistas de levantar a mesma barra de 200 quilos. É verdade que
vários deles, pelo treinamento e conseqüente desenvolvimento muscular, poderão
atingir essa performance no devido tempo. Passando para a esfera moral, aí assinala-se
e se reconhece o indispensável realismo
da moralidade e da educação moral: 1.
Verificação da capacidade relativa atual e individual para uma conduta
moral de determinado nível; 2. Reconhecimento
da capacidade pessoal de cada um para alçar-se a níveis mais elevados.
– O moralismo ignora
esse realismo. Daí o lema: moralismo,
não1; moralidade, sim.
–
Além disso, o educador não deve se apresentar a si mesmo como um modelo de
moralidade, ,mas sim um companheiro dos seus educandos no processo de
desenvolvimento espiritual como um homem
moral: que é moralizado, e, nesse sentido, em processo de aperfeiçoamento
gradativo; mas que também é humano com todas as debilidades da condição humana.
Porém, deve constituir-se em exemplo pessoal de luta e de tudo que procura
induzir nos educandos. Terá assim que demonstrar um grau razoável das perfeições constantes do elenco, que estão sendo
focalizadas: ou justiça ou indulgência, ou humildade, ou qualquer outra
perfeição em desenvolvimento.
d). 4º Ponto – Interdição de julgamentos. O educando nesta técnica não está em julgamento, a não ser pela
própria consciência. Está sim, em processo pedagógico induzido de
desenvolvimento muito gradativo, lento, mas incessante, muito demorado, e até
interminável do seu potencial de perfeições espirituais.
________________________
1 “O excesso de virtude leva ao moralismo, que é a moral
sem ética”. (Ministro Carlos Veloso – Presidente do Supremo Tribunal Federal).
Aliás,
ARISTÓTELES já qualificava o excesso de virtude como vício.
– Não cabe ao educador,
nesta técnica, condenar as imperfeições morais do educando, nem mesmo por
gestos ou expressões faciais. Diferentemente, cabe-lhe induzir o despertar das
perfeições opostas a essas imperfeições; desse modo, removendo-as da estrutura
anímica dos educandos.
– Para isso, abstém-se de
avaliar individualmente cada um deles. Só lhe é lícito verificar ou monitorar
os possíveis progressos coletivos de toda a classe, dando a ela conhecimento,
como importante referencial de auto-superação coletiva. A avaliação individual
cabe a cada educando no recesso intangível de sua consciência. É o educando que
vai se sentindo auto-gratificado, ampliando sua auto-estima no decurso da
espiritualização.
– Esta mesma interdição é valida para louvores, elogios, prêmios e
recompensas de qualquer natureza.
e). 5º Ponto – Auto-Aplicação da
Técnica (acompanhamento participativo).
O educador não deve se
posicionar à margem do processo do afloramento das perfeições dos seus
educandos. Antes, terá de acompanhá-lo como participante dele, ou seja, como
também objeto de aplicação da técnica, neste caso auto-aplicada. Mas com o
conhecimento dos educandos. Podendo, o educador, transmitir suas próprias
experiências aos alunos, se assim desejar e julgar construtivo. O educador,
nesta técnica, é um companheiro de seus educandos nas lutas comuns de
auto-aperfeiçoamento.
f). 6º Ponto – Amar o bem e
admirar o bom. A indução didática do cometimento dos atos das perfeições
para formar os respectivos hábitos morais completa-se nos Exercícios
Preparatórios 1 visando
induzir nos educandos o amor ao bem e a admiração do bom (o homem de bem) as
perfeições humanas, para incorporação espontânea dos respectivos valores. Sem
essa assimilação, os atos podem se tornar mecânicos, desprovidos de valor e
intenções morais.
2.7.5..
DEVERES DOS EDUCANDOS DA ESPIRITUALIDADE
Pode-se
reconhecer nesta técnica duas ordens de deveres dos educandos: os morais e os
administrativos.
a). Deveres Morais. São aqueles pertinentes aos esforços e
procedimentos pessoais de ascensão do fundo de suas almas das perfeições espirituais
subjacentes.
– O cumprimento desses
deveres, todavia, não poder ser coagido pelo
educador, nem formal, nem subtendido, nem sutil e tacitamente. Os educandos não
são suscetíveis de nenhuma censura por mais discreta que seja. Mas, por outro
lado, não são também objetos de qualquer prêmio ou recompensa, porque são
deveres: “O premio das boas ações é praticá-las” (Pe. Vieira).
b). Esses deveres, por terem um teor ético, são de livre
cumprimento. A prática do bem (no caso relativo às perfeições em emersão) é
livre, ou deixa de ser um bem; isto é, esvazia-se de sua essencial conotação
moral. Todo bem, ou todo mal, coagido deixa de ser moral. É o entendimento
enfático da própria Doutrina Espírita, como passamos a constatar:
– (EE-XVI,8, p2): “Dando-lhe o
livre-arbítrio, quis (Deus) que o homem chegasse por experiência própria, a
distinguir o bem do mal, e que a prática do primeiro resultasse de seus
esforços e da sua vontade. Não deve o
homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora
senão instrumento passivo e irresponsável como os animais”.
– (CI-1ª. IX, 21, final): “Se o
progresso fosse obrigatório não haveria
mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras”.
__________________________
1 Vide o que são esses Exercícios nos Fundamentos
Técnicos )2.10).
– (CI-1ª, VII, Código......20º, p1, final):
“O Espírito deve progredir por
impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição” (1).
– (CI-1ª, VII, Código.....32º, p.6): “O
bem e o mal são voluntários e
facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para
outro”.
–
(CI-1ª, VII, Código.....20, p2): “O bem e o mal são praticados em virtude
do livre arbítrio, e, consequentemente, sem que o Espírito seja fatalmente
impelido para um ou outro sentido”.
–
(LE-Q.872, p3): “Sem o livre-arbítrio, o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem”.
c). Esses deveres morais dos educandos, nos limites da técnica em exposição,
podem ser assim alinhados:
– Dever Moral Geral – Esforçar-se para seguir, tanto quanto
possível, satisfatoriamente, os Ciclos
do Desenvolvimento Espiritual (de 7 dias) subseqüentes às Sessões de
Trabalho (vide adiante).
2.7.6.
DEVERES MORAIS ESPECÍFICOS
a).
1º Dever – Participar ativa e atenciosamente das Sessões de Trabalho e do
Ciclo de Desenvolvimento Espiritual.
b). 2º Dever – Guardar de memória as oportunidades que surgirem
durante o Período de Aplicação de sete dias, para fins de relato por escrito ou
verbal) durante a Dinâmica de Conscientização (vide adiante).
c). 3º Dever – Relatar com sinceridade essas oportunidades com suas
circunstâncias e o seu comportamento diante delas, quer tenha praticado o ato
almejado, quer não tenha aproveitado essa oportunidade de crescimento
espiritual.
d). 4º Dever – Proceder de acordo com a orientação do educador nas
Sessões de Trabalho e nas dinâmicas de conscientização, motivação
preparação
e imaginação.
–
Estão em reforço a esses deveres morais específicos, os seguintes textos
doutrinários, muito bem formulados, e que não deixam dúvidas quanto ao dever
(moral) de todos em se esforçarem pelo seu próprio desenvolvimento e progressos
espiritual:
·
(GÊ-XI,
9): “Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre
alcançar”.
·
(LE-Q.783,
p2): “O homem tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou”.
·
(LE-Q.778):
“O homem tem de progredir incessantemente”.
·
(LE-Q.768):
“O homem tem que progredir”.
– Tanto é dever moral que a falta de progresso, de aperfeiçoamento
espiritual, redunda em sofrimento, ou sejam, sanções naturais da Lei: a punição2 para os
que se imobilizam estacionando consiste nela mesmo, isto é, em não avançarem”, conforme a indicação
de (LE-Q.178a).
_________________________
1 Não é obrigatório, mas é dever (LE-Q.202, 333, 466,
768, 778, 993).
2 Por esse mesmo texto, verifica-se que Deus não pune.
Porém, previamente, estabeleceu leis naturais que levam ao sofrimento os que as
violam. No caso desse texto, veja-se bem, a sanção consistiu na angústia do
próprio estacionamento espiritual. A dor é a conseqüências natural do
não-cumprimento da lei.
– Em que pesem todos esses princípios, não se pode deixar de reconhecer
a outra classe de deveres.
2.7.7. DEVERES DE ORDEM
ADMINISTRATIVO – ESCOLAR:
a).
1º dever – de comparecimento às sessões de trabalho em sala.
b). 2º Dever – de atenção à orientação do educador;
c). 3º Dever – de disciplina durante essas sessões;
d). 4º Dever – de redigir os relatos de suas vivências no Período
de Aplicação Prática (vide), com esmero, caligrafia e correta ortografia;
e). 5º Dever – de atender a todas as solicitações do educador,
quando de ordem administrativa ou disciplinar, isto é, que não sejam de ordem
técnico-moral do processo. O cumprimento
de deveres morais da técnica não pode ser obrigatório, mas o são os deveres de
ordem administrativa para o bom asseguramento da realização da técnica de
afloramento.
f). 6º Dever – de participar ativa e interessadamente dos
Exercícios Preparatórios (vide).
2.7.8.
DIREITOS DOS EDUCANDOS DA ESPIRITUALIDADE
Pode-se
reconhecer os seguintes direitos, exclusivamente pertinentes à técnica em
exposição:
a). 1º Direito – de não serem coagidos ao cumprimento dos seus
deveres morais.
b). 2º Direito – de ser respeitado o seu livre-arbítrio,
principalmente no cometimento dos atos relativos às perfeições. Por exemplo, a
liberdade de perdoar ou não uma ofensa; de reparar ou não um dano ou ofensa
praticada, etc.
c). 3º Direito – de não ser doutrinado em oposição e desrespeito às
suas próprias convicções e razões.
d). 4º Direito – de não ser colocado em posição de julgamento moral
ou censurado, salvo quanto ao não-cumprimento dos deveres administrativos.
2.7.9.
DEVERES DO EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
São
os mesmos já registrados no item “O Modo” de aplicação da “Ética dos Fins e
Meios”. Ou sejam:
a). 1º Dever – Preservar o livre-arbítrio dos educandos em matéria
de aplicação do Afloramento das Perfeições Potenciais (este dever do educador
não é extensível aos deveres administrativo-escolares, que são obrigatórios
para o educando e exigíveis pelo educador.
b). 2º Dever – Interditar-se à doutrinação que violente convicções
pessoais e evidência dos fatos.
c). 3º Dever – precaver-se contra o moralismo, a ser removido pela
exaltação da moralidade.
d). 4º Dever – Forrar-se a qualquer julgamento, censura, ou louvor,
prêmios e recompensas individuais dos educandos.
e). 5º Dever – Auto-aplicação da Técnica, como exemplo e fonte de
experiências pessoais.
f). 6º Dever – Induzir nos educandos o amor ao bem, às perfeições
espirituais.
g). 7º Dever – (geral e fundamental) – Induzir nos educandos o
desenvolvimento de sua espiritualidade pelo afloramento das perfeições
espirituais contidas no fundo de suas almas.
2.7.10.
DIREITOS DO EDUCADOR DA ESPIRITUALIDADE
Esses
direitos docentes situam-se em simetria com os deveres
administrativos-escolares dos educandos;
a). 1º Direito – de controlar a freqüência dos educandos às Sessões
de Trabalho em sala e o de corrigir possíveis irregularidades como evasão,
faltas e impontualidade.
b). 2º Direito – de exigir a atenção à sua orientação, exposições,
condução dos exercícios preparatórios, etc.
c). 3º Direito – de exigir a indispensável disciplina dos educandos
em todas as reuniões da classe.
d). 4º Direito – de ser atendido pelos educandos em todas as suas
recomendações de ordem administrativo-escolar, para o bom andamento da técnica.
2.7.11.
O QUERER DO EDUCANDO E O QUERER DO EDUCADOR
a).
Querer, neste tópico, é um verbo transitivo ordenado a um objeto direto,
que é o afloramento das perfeições potenciais do espírito do educando; esse
querer é atribuível a dois sujeitos gramaticais: o educador e o educando, cada
um com a sua função voluntária.
b). O querer do educador é subjetivo
(em sua geração) e objetivo (em seu
endereço), para induzir o querer do educando; o qual, porém, é totalmente
subjetivo (íntimo), porém objetivo na prática dos atos dos valores no Período
de Aplicação de 7 dias.
– o educador deve querer produzir
esse efeito espiritual na alma do seu educando. Isto é, deve atuar de modo a
que o próprio educando queira crescer
espiritualmente, não obstante independentemente do querer do educador.
–
Para isso, o educador deve muito bem se acautelar, com muita atenção,
consciência e habilidade pedagógicas, para que o seu querer não seja incorporado, ou internalizado, pelo educando,
abafando o querer do educando.
– Essa transferência, ou
absorção, do querer alheio poderia remover o querer do educando, ou dificultar o seu despontar. Seria a
substituição da vontade autônoma que se deseja induzir por outra heterônoma que
se deve evitar.
– objetivo do querer do educador limita-se a induzir
a ativação do querer do educando,
sem a indesejável introjeção do seu querer
(do educador), o que seria anti-educativo, e mesmo efêmero.
c). Para isso, o educador, tanto
quanto for possível, deve evitar a manifestação ostensiva e confessa do seu querer, cuja intenção é a de que o
educando pratique os atos das perfeições almejadas. Reconhece-se, de um modo ou
de outro, no entanto, que o educando sempre apreende em certo grau essa vontade
e intenção do seu educador. É impossível evitá-lo. Mas a discrição se impõe,
ainda que com sofríveis resultados.
– o êxito nesse
desiderato é o educando agir corretamente, não porque o educador quer, mas sim, porque, ele, o educando, quer, porque incorporou o valor da perfeição em
desenvolvimento. Sem essa incorporação, o efeito espiritual da emersão das
perfeições potenciais é minimizado e escasso pelo empobrecimento da vontade
livre do educando.
2.7.12.
CONCLUSÕES
a).
A pergunta inicial: “deve-se induzir nos educandos o desenvolvimento de sua
espiritualidade?” A resposta é SIM.
b). A segunda pergunta: “este desenvolvimento constitui um dever,
ao mesmo tempo do educador e do educando ?” A resposta é SIM.
c). O desenvolvimento pedagógico e induzido está moralmente
legitimado porque conduz gradativamente ao bem dos educandos, isto é, à sua
felicidade proporcional, ainda que futura? A resposta é sim.
d). Tanto os fins almejados quanto aos meios didáticos e os modos e
procedimentos do educador estão bem fundamentados e eticamente justificados. A
resposta é SIM.
2.7.13.
RESUMO
a).
Conceituou-se a Ética e considerou-se a distinção entre Ética e Moral.
b). Abriu-se este estudo com duas perguntas diretrizes para
encaminhar e desenvolver todo o trabalho.
c). Estabeleceu-se o vínculo indissolúvel entre espiritualidade e
felicidade; a primeira como causa e a segunda como efeito. Podendo, no devido
tempo, a espiritualidade e a felicidade entrarem em processo de causalidade
recíproca.
d). Estudou-se a Ética dos Fins e dos Meios em relação à Técnica do
Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito.
e). Rejeitou-se o princípio de que os fins justificam os meios,
concluindo que tanto os fins almejados quanto os meios e modos didáticos de
atingi-los por esta técnica estão moralmente legitimados.
f). Reconheceram-se os deveres e direitos morais dos educandos e
dos educadores na aplicação desta Técnica.
g). Distinguiram-se os deveres morais dos deveres administrativos e
escolares dos educandos.
h). Reconheceu-se que o querer (vontade) do educador não deve se
sobrepor ao querer do educando. Mas devem ser complementares e harmônicos.
i). No final, respondeu-se afirmativamente às duas perguntas
iniciais, como conclusões: tanto os educadores tem o dever moral de induzir o
desenvolvimento da espiritualidade dos educandos, quanto esses de se disporem
moralmente acessíveis a esse desenvolvimento.
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