(CAUSAS GERAIS)
2.1.1. CONCEITO DE ETIOLOGIA
a). Etiologia é o
estudo da origem das coisas. Mais
especificamente, é a parte da Medicina que estuda a causa das doenças (dic.
Aurélio).
Para
o presente trabalho, tomou-se a Etiologia, por extensão, como o esforço de
identificação dos motivos, ou razões, que moveram a encetar a presente obra, e
de natureza espiritual, educativa e social observáveis.
b). OBJETIVO. Tentou-se, então
responder à indagação diretriz: quais as atuais condições humanas, como causas, que tornam necessário, e até
inadiável, o desenvolvimento pedagógico
da espiritualidade, segundo processos didáticos adequados ?
2.1.2. AS SEIS CONDIÇÕES CAUSAIS (fundamentos etiológicos)
a). PRIMEIRA
CONDIÇÃO. O não-aproveitamento pelos homens, individual e coletivamente, desse
manancial de perfeições espirituais que ainda jazem em estado potencial e
inercial no fundo dos espíritos. A emersão dessa fonte profunda de valores tem
sido altamente insuficiente e lenta, acarretando a observação de um panorama
escasso de atos e comportamentos sociais almejados, necessários e
dramaticamente urgentes.
b). SEGUNDA CONDIÇÃO. O contundente
desequilíbrio, de reconhecimento universal, entre o desenvolvimento intelectual
e científico e o espiritual e moral. Este último rebaixado a níveis tão
inferiores, que abre oportunidades para o mau uso das grandes conquistas da
inteligência humana, por falta daquele equilíbrio.
c). TERCEIRA CONDIÇÃO. O esvaziamento
de parte substancial da função educativa dos lares pela profissionalização das
mães. Agravada essa condição pelo crescente despreparo pedagógico dos pais para
enfrentarem, com sucesso, o assédio, e mesmo a invasão dos lares pelas cada vez
mais vigorosas forças desagregadoras das sociedades contemporâneas.
d). QUARTA CONDIÇÃO. A negligência dos
sistemas escolares, voltados unicamente para a instrução, alijando comodamente
de si o dever social e pedagógico de atenderem ao múnus propriamente educativo
das escolas. Principalmente em nossa época, quando deveriam – como só elas
podem – absorver a parte da educação perdida pelos lares.
e). QUINTA CONDIÇÃO. A escalada
insopitável das graves patologias sociais, atingindo e vitimando crianças e
adolescentes: a criminalidade, o consumo de drogas, a exacerbação sexual,
gravidez prematura e, como contorno de tudo isso, a dinamização desse quadro
pela indisciplina generalizada, doméstica, escolar e urbana.
f). SEXTA CONDIÇÃO. A proverbial
fraqueza humana para enfrentar esse quadro clinico perverso. “Deus nos lembra a
nossa fraqueza e a fragilidade de nossa existência” (LE – Q.855); e “nos criou
fracos para nos tornar perfectíveis” (EE – VI,6,p3); embora nós tenhamos
nascido igualmente fracos” (LE – Q.803).
2.1.3. ANÁLISE
a). Observando
esse quadro, ninguém poderia negar que a causa geral dele não é uma carência
intelectual de conhecimentos. Dispôs-se de surpreendentes pesquisas
científicas, de maravilhosas obras arquitetônicas, de espantosas descobertas,
do progresso inaudito da Medicina, da tecnologia, nos transportes, nas
comunicações, na industria, no comércio, na Agricultura, nos serviços, etc.
b). Imagine-se, agora, que se
processasse um desenvolvimento acelerado, progressivo e generalizado, de caridade, indulgência, humildade, esperança,
justiça, honestidade, veracidade, lealdade.
–
Pergunta-se: esse quadro não teria invertido a sua polaridade, com
predominância do bem sobre o mal ? É evidente que sim. Ninguém o negaria.
–
Logo, a causa geral do quadro caracterizado no item 2.1.2. anterior é a carência
intolerável e afrontosa do desenvolvimento da espiritualidade, isto é, mais
objetivamente, das perfeições acima enumeradas. Está aí, gritantemente, o que
deve ser feito. Por que não é feito ?
c). Porque se aguarda, paciente e ingenuamente,
que esse aperfeiçoamento vá acontecendo, natural e espontaneamente, a revelia
dos recursos pedagógicos e institucionalizados nas escolas, nos lares e nos
templos.
–
Ainda mais, a fraqueza da condição
humana tem impedido de se atravessar
aquela ponte de transposição, lançada
sobre o abismo há 2.000 anos. Da Doutrina que esposamos para a sua exigível
prática; dos princípios aceitos com entusiasmo para a ação. Enfim, da Doutrina
para a vida. E cuja travessia só poderá ser feita pelo desenvolvimento da
espiritualidade.
2.1.4. PRIMEIRO
QUESTIONAMENTO
a). Poder-se-ia questionar a proposta
que foi apresentada pela suposta suficiência da Lei das Conseqüências Naturais1 de nossas faltas e atos
ilícitos e conseqüente e inevitável sofrimento. Essa lei natural dispensaria a necessidade de planejamento
e programação pedagógicos formais.
b). A Doutrina Espírita consagra essa
lei em vários textos. E a lei conduziria, pela dor conseqüente da violação dela
ao árduo desenvolvimento dos potenciais do espírito.
– (EE – V, 5): “Deus, porém quer que todas as suas criaturas
progridam, e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não
há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração de sua lei, que não
acarrete forçosas e inevitáveis
conseqüências, mais ou menos deploráveis”.
– (LE – Q.633): “A lei natural traça para o homem o limite de suas
necessidades, se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento”.
– (CI – 1ª, VII, 33, p2): “Toda imperfeição, assim como toda falta
dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas conseqüências naturais e inevitáveis: assim a moléstia pune os
excessos e da ociosidade nasce o tédio”.
– (EE – V. 4, p2): “Remontando-se
à origem dos males terrestres, reconhecer-se á que muitos são conseqüência natural do caráter e do
proceder dos que os suportam”.
c). Todos esses textos conduzem ao reconhecimento da grande força
pedagógica da Lei das Conseqüências
Naturais. Ela mantém estreitas
relações com a Lei de Causa e
Efeito, ou do Retorno, ou de Ação e reação, ou de Causalidade Psíquica.
Preferimos chamá-la de Lei da Responsabilidade, porque gerada pelo
livre-arbítrio. Outros preferem o nome exótico de lei do Carma, o qual, às
vezes, dele também se utiliza.
_____________________________
1 Recomenda-se ao estudioso a leitura do 3º Problema “Sanções Naturais ou Sanções Intencionais”, constante do 3º volume da obra “Filosofia Espírita da Educação” (ed. FEB, págs. 61 a 80)
1 Recomenda-se ao estudioso a leitura do 3º Problema “Sanções Naturais ou Sanções Intencionais”, constante do 3º volume da obra “Filosofia Espírita da Educação” (ed. FEB, págs. 61 a 80)
d). DESLINDAMENTO DA QUESTÃO. ).A esse questionamento, pode-se contrapor a
seguinte objeção. A Lei das Conseqüências Naturais é muito necessária, pelo seu
atroz escarmento, à falta do desenvolvimento da espiritualidade. Mas não é suficiente para vencer o
atraso e acelerar o progresso espiritual. Todavia, ela instaura as condições
iniciais para possibilitá-lo.
–
Por exemplo, se uma pessoa comete uma falta grave, movida pela imperfeição do
orgulho exacerbado, poderá, em vida subseqüente, sofrer dolorosa humilhação
moral ou social, para abater essa imperfeição (conseqüência natural). Esse
padecimento, além de quitar a falta cometida, ainda induz no culpado a
valorização da perfeição da humildade. E assim fica a pessoa motivada para
iniciar a prática de atos de humildade suficientes para formar o hábito dessa
perfeição.
–
A Lei das Conseqüências Naturais produziu, no caso acima, o efeito de zerar o
“deve-haver” cármicos na contabilidade do Pretório Divino. Contudo, não
obstante, abriu a oportunidade para o afloramento do potencial do espírito, na
área já saneada pelas conseqüências naturais.
–
Conclusão: a Lei Natural não substitui nem dispensa o posterior desenvolvimento
pedagógico, provocado e técnico da espiritualidade, cuja urgência seria muito
arriscado desprezar. Basta atentar para o abominável e clamoroso estado
espiritual e atual da humanidade.
2.1.5. SEGUNDO QUESTIONAMENTO
a). Também
poderia alguém contrapor que não haveria a necessidade de um tratamento
técnico-pedagógico para o desenvolvimento da espiritualidade. Este tem se
processado naturalmente pela força mesma
das coisas, da vida, ou melhor, das vidas.
–
Seriam indicadores desse desenvolvimento espiritual natural através dos tempos
o abrandamento dos costumes, a humanização das leis penais, o culto dos
direitos humanos, a democracia removendo o despotismo, a liberdade política, o
Cristianismo, a liberdade de consciência religiosa, etc.
b). DESLINDAMENTO DA QUESTÃO. Esse
progresso social é inegável; e também não se pode negar que é decorrente do
desenvolvimento espiritual coletivo (LE – Q.784).
– (LE – Q.785, p2): “Comparando-se os
costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o
progresso realizado”.
c). Porem, a própria Doutrina reconhece a lentidão dessa marcha que
torna imperativa, de tempos em tempos, a aceleração
dela:
– (LE – Q.783): “Há o progresso regular e
lento, que resulta da força das
coisas. Quando porém, um povo não
progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos em tempos,
a um abalo físico e moral que o transforma”.
d). Essa necessidade de aceleração ainda é reconhecida formalmente
por ALLAN KARDEC:
– (OP – “Liberdade, Igualdade..., p.11): “Por
que teria (o homem) atingido o limite do progresso moral e não o do progresso
intelectual? Sua aspiração por uma melhor ordem de coisas é indicio da
possibilidade de alcançá-la. Aos que são
progressistas cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes”.
–
Ora, já que pelo texto doutrinário de (LE –Q.796), “só a educação poderá reformar os homens”, esse recurso pedagógico
está, e continua, à disposição dos homens, podendo esses, com a permissão
divina, promover essa aceleração do
desenvolvimento da espiritualidade. Talvez, até, esse tratamento
técnico-pedagógico pudesse evitar terríveis “abalos físicos e morais” acima
citados, se assim for a vontade de Deus.
2.1.6.
A INTUIÇÃO DE KARDEC
a).
Mas é no pedagogo e educador ALLAN KARDEC que se encontra o credenciado
despacho saneador desses questionamentos.
A procura de uma técnica
pedagógica de desenvolvimento da espiritualidade não discrepa do seu pensamento
e antevisão. Pelo contrário, dá-lhe curso:
– Em (LE –
Q.917, p.3, e 685, p.2), KARDEC se refere a uma futura “arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as
inteligências”, ou seja, “a educação moral, não pelos livros”, isto é teoria,
ou pelas lições inócuas de moral, acrescenta-se.
b). Em (LE – Q.685ª, p2), ele define essa arte educativa como sendo
“a que incute hábitos, porquanto a
educação é o conjunto dos hábitos adquiridos” (SIC).
A técnica pedagógica que
está sendo proposta nesta obra está toda centrada na formação dos hábitos das
perfeições potenciais do espírito.
– Na “Revista
Espírita!, volume de 1864, pág. 40 (EDICIEL), prenuncia KARDEC a futura ciência da educação moral “com
suas regras e princípios, como a educação intelectual, que um dia será imposta a toda mãe de
família com a obrigação de possuir conhecimentos, como se impõe ao advogado a
de conhecer o direito”.
2.1.7.
CONCLUSÃO PARCIAL
Essa
arte, ciência, ou técnica pedagógica, como se queira, em sinergia, ou
complementaridade com a Lei de Conseqüências Naturais e com o espontâneo e
lento progresso espiritual “pela força das coisas”, poderá constituir um
complexo educativo cuja força docente tríplice não seria lícito desmerecer.
2.1.8.
RESUMO GERAL
a). Objetivo: legitimar a técnica.
b). Condições Causais: seis condições
c). Análise e Conclusão: a carência de um tratamento
técnico-pedagógico.
d). 1º Questionamento: a insuficiência da Lei de Conseqüências
Naturais o deslindamento dessa lei é necessária, mas não é suficiente.
e). 2º Questionamento: a insuficiência do desenvolvimento
espiritual espontâneo, “pela força mesma das coisas”.
·
Deslindamento: esse desenvolvimento é
demasiadamente lento, podendo exigir “abalos físicos e morais”, mas não
desejados para ser acelerado.
f). A intuição de Kardec: previsão de uma futura arte de manejar os
caracteres pela educação fundamentada na formação dos hábitos.
g). Conclusão Final: os três processos são necessários e
complementares: 1. A
Pedagogia da Espiritualidade; 2.
A Lei das Conseqüências Naturais. 3. A “força natural das
coisas”. Mas ainda concorrem com mais eficácia espiritualizante outras
dinâmicas mais ativas (vide no 4º tomo).
2.1.9.
CONCLUSÃO FINAL. Resposta à indagação registrada no item b (OBJETIVO):
as causas que tornam necessário e
até inadiável a Pedagogia da Espiritualidade, são em números de seis (6),
devidamente expostas e alinhadas no item 2.1.2.
2.2. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
(CAUSAS PSÍQUICAS
NO AGENTE PSICOLÓGICO)
2.2.1.
CONCEITO DE PSICOLOGIA E DE PSICOLOGIA CIENTÍFICA ESPÍRITA
a).
Não é nada pacífica a definição do que seja Psicologia. Primeiro, porque a
sua idéia no decurso dos tempos, tem sofrido alterações semânticas profundas.
Segundo, porque cada escola psicológica a define a seu modo: Associacionista,
Behaviorista, Gestaltica, Funcional, Psicanalista, etc.
Agravam ainda mais a
dificuldade, as definições pertinentes às psicologia especiais de extensão a
outros campos de interesse. Psicologias: Genética, Social, Diferencial, da
Educação, da Religião, Comparada, etc.
b). Todas elas, porém, emanam da chamada Psicologia Geral, que tem
por objeto o estudo dos fatos psíquicos do homem adulto, civilizado e normal1.
c). Consultadas diversas fontes, encontram-se as seguintes
definições para a Psicologia: – ciência da vida psíquica – ciência do
comportamento – estudo da atividade mental e das funções do conhecimento – ramo
da ciência que estuda os fenômenos e operações psíquicas – ciência dos fatos da
consciência, etc.
d). Esses conceitos acima expostos giram em torno de fatos,
operações e fenômenos psíquicos sem nenhuma referência a um sujeito, a um eu. São
pertinentes, portanto à Psicologia Cientifica também chamada de Experimental,
Positiva, ou Descritiva. Porém, as tendências filosóficas espiritualistas não
podem aceitar que os fatos psíquicos não emanem de um centro, de uma fonte, ou sujeito substancial, enfim de um
necessário referencial autor e responsável pelos atos e ações.
e). Esse último posicionamento postula outra psicologia denominada
Psicologia Racional ou Filosófica. Esta tem por fim o estudo pela razão – não
mais pela experimentação – da mais profunda raiz da vida psíquica – a alma
humana. Procura ela determinar a existência, a natureza, os atributos, a origem
e o destino da alma, além de elucidar suas relações com o corpo físico. A
Racional é a única psicologia que corresponde à etimologia da palavra
“psicologia” (“Psyche” = alma: “logos” = conhecimento).
f). Em meados do século XIX, a partir de 1857 (publicação de “O
Livro dos Espíritos”), a Revelação Espírita desfez o grande cisma (separação da
Psicologia Científica da Psicologia Racional) do século XVIIII/XIX. E reunifica
numa só ciência a Psicologia Racional (estudo da alma) com a Psicologia
Experimental (estudo exclusivo dos fatos psíquicos). Ciência nova essa que pode
receber a denominação de Psicologia
Científica Espírita, que estuda a alma em concreto, experimentalmente.
g). Tendo por suporte esse esboço histórico, pode-se ensaiar a noção
de Psicologia Cientifica
Espírita como sendo
a ciência, experimental2
e racional, dos fatos, processos e
estruturas psíquicas e anímicas, conscientes ou inconscientes, que procura
determinar suas causas, relações, efeitos e leis, tendo por sujeito o próprio
espírito, reencarnado ou desencarnado.
____________________________
1 Há definições diferentes para Psicologia Geral
2 (vide no pé da pág. Seguinte, nota nº1).
2.2.2.
FUNDAMENTOS ETIOLÓGICOS (referência)
No
capítulo anterior, foram expostos os fundamentos etiológicos (causais)
resumidos em seis
condições que tornam
imprescindível o esforço adicional e eminentemente prático de
desenvolvimento da espiritualidade. Essas condições se ativeram a três
naturezas:
– SOCIAL
(desequilíbrio inteligência – moralidade
e graves patologias sociais).
– PEDAGÓGICA (educação nas escolas e nos lares centrada unicamente na
instrução).
– ESPIRITUAIS (não-aproveitamento do
potencial anímico das perfeições e a fraqueza espiritual).
2.2.3.
PERGUNTA DIRETRIZ E AS CINCO
COORDENADAS PSICOLÓGICAS
No
presente capítulo, para esses fundamentos psicológicos serem assentados,
indaga-se: quais as razões, a situação anterior, inicial, centrada nas
condições psicológicas humanas e generalizadas, que determinam e tornam
imperativo o desenvolvimento da espiritualidade induzido pedagogicamente?
A resposta está
distribuída em cinco coordenadas:
2.2.4.
PRIMEIRA COORDENADA PSICOLÓGICA (DA CONSCIÊNCIA).
A
consciência da existência de um potencial de perfeições espirituais a serem
afloradas ao nível do comportamento, dos atos; mas escassamente aproveitado.
– (EE – XIX,12): “No homem,
a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem
das faculdades imensas depositadas em germe no seu íntimo, a princípio, em
estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da
sua vontade”.
2.2.5.
SEGUNDA COORDENADA PSICOLÓGICA SENTIMENTO PESSOAL DE INCOMPLETUDE
a).
O sentimento desconfortável, peculiar a todo ser humano que já atingiu um
certo grau de evolução das imperfeições, carências pessoais, subdesenvolvimento
espiritual.
b). O reconhecimento pessoal, de cada um, de sua incompletude, de
inacabado, tem sido freqüente em algumas correntes de pensamento, marcadas pelo
impulso humano de autotranscendência,
que podemos também chamar de auto-superação.
Assim o entenderam os expoentes do Existencialismo (Marcel, Sartre, Heidegger,
Jaspers), e também o marxista Roger Garaudy, e, ainda marcuse. Segundo Heidegger,
a autotranscendência é o componente mais profunda do homem em constante ultrapassagem até o momento da inelutável morte. Para
Garaudy, “a transcendência designa a
consciência da não-realização do homem, a dimensão do infinito (...). O homem não é somente o que é, é também tudo
o que não é, tudo que ainda lhe falta; na linguagem dos cristãos, dir-se-ia
que ele é o que o transcende, isto é, é em potência todo o seu porvir1. Para a Doutrina Espírita,
esse porvir total é o puro Espírito imerso na potencialidade de cada ser humano,
e, a transcendência, um longo caminho, árdua jornada, na direção dessa meta.
c). Maurice Blondel, por sua vez, reconhece que “no ser do homem há
uma antinomia profunda entre o que é e o que deveria ser, antinomia insolúvel,
porque não consegue nunca se tornar o que gostaria de ser2.
d). Segundo Karl Popper,
nós, continuamente transcendemos a nós mesmo, aos nossos talentos e às nossas
qualidades. Tal autotranscendência é o mais extraordinário e importante fato de
toda a vida e de toda a evolução humana”3.
X
X X
_______________________
1 Essa qualificação de experimental consta de texto do próprio KARDEC: “Apliquei a essa
nova ciência (o Espiritismo), como fizera até então, o método experimental” (OP- “A Minha Primeira......”, p.11). E, em
(GÊ-IV, 16): “Até o presente momento, o estudo do princípio espiritual,
compreendido na metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No Espiritismo, é inteiramente experimental”.
2 Para a Doutrina Espírita, até a morte é ultrapassada
pela ulterior vida do Espírito desencarnado no plano espiritual.
3 Apud MONDIN BATISTA: “O Homem Quem é Ele?” (ed.
Paulinas, 2ª ed., SP, 1980 – págs. 251 a 259).
A Doutrina
Espírita nos ensina, ao contrário de BLONDEL, que o homem será no futuro,
embora muito remoto, aquilo que hoje ele gostaria de ser: um puro espírito
(LE-Q.170, 116, 97, 42), (GÊ-XI, 7, p3).
e). Ora, seria totalmente
inconsistente se, diante do impulso
interno de autotranscendência, não fosse reconhecido o substrato
psicológico e causal dele que é o nítido e desconfortável sentimento de imcompletude.
f). Se assim são todos, os
Espíritos criados imperfeitos (LE-Q.119 e 871), e se são destinados à perfeição
relativa dos puros Espíritos, a autotranscendência é indescartável e
decisivamente impulsionada pelo sentimento muito íntimo dessa imperfeição, ou
seja, da incompletude.
Essa vivência incômoda
de incompletude, como coordenada psicológica, conjugada com a primeira
coordenada (da existência das sementes potenciais das perfeições) alicerça psicologicamente
a Técnica do Desenvolvimento da Espiritualidade.
2.2.6. TERCEIRA COORDENADA
PSICOLÓGICA (DO DESCONFORTO).
a).
Como efeito da consciência da incompletude, surge, no devido tempo, o
desconforto moral e espiritual; um efeito da lei Natural das Conseqüências
Naturais. São as aflições, angústias, desgosto sem causa aparente, sentimento
de culpa, tédio, depressão, etc.
– (LE-Q.943) Pergunta: “Donde nasce o desgosto da vida, que, sem
motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos ?” A resposta refere-se á
ociosidade, à falta de fé e à saciedade como causas, às quais seria lícito
acrescentar o sentimento do vazio, da incompletude. Mesmo porque “O Espírito
compreende as imperfeições que o privam de ser feliz” (LE-Q.991), (LE-Q.231).
b). Segue o estabelecimento psicológico, subliminar e espontâneo,
da correlação de causalidade daquela incompletude para o conseqüente
desconforto moral e espiritual. Significa que, a partir de determinado grau de
motivação espiritual, a pessoa desvenda a causa da sua angústia: os germes das
perfeições que, por não terem sido desabrochadas (EE-XIXC, 12), estuam dentro
da alma, como que exigindo a sua” “libertação”, ou seja, o seu desenvolvimento
em perfeições, para virem então a ocupar os espaços vazios, os grotões do seu
espírito a essas perfeições destinados.
c). Esse desgosto ainda se acha lembrado em:
– (LE-Q.970): (Os sofrimentos dos
Espíritos inferiores) podem resumir-se assim: Invejarem o que lhes falta para
ser felizes e não obterem; ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os
impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade
moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o
que os tortura”.
–
(LE-Q.574): “P. Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas
voluntariamente inúteis ? R. Há efetivamente as que só para si mesmas vivem e
que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de
compaixão, porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade,
começando-lhes muitas vezes, já neste mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa”.
2.2.7.
QUARTA COORDENADA PSICOLÓGICA
(O LIMITE DE SUPORTABILIDADE
a).
Esta coordenada é traçada pelo limite de suportabilidade atingido por esse
crescente desconforto espiritual.
– Suportabilidade neste estudo é o grau variável de resistência a
essa angústia imposta pela lei natural do psiquismo humano. É a renitência na
acomodação e sonegação do esforço pessoal para despertar as perfeições das
quais já é portador em estado inercial das correspondentes sementes.
b) Ninguém pode negar esse contributo da Psicologia. Só pessoas
doentes podem se comprazer no padecimento: os masoquistas. O homem sadio tudo
faz para se livrar dos sofrimentos, principalmente os morais que estão mais ao
seu alcance, quando só dele dependem para desaparecer.
c). A Codificação Espírita avaliza esse limite de suportabilidade,
dispondo de boa densidade doutrinária para sustentar esta coordenada;
– (GÊ-III, 7): “Entretanto, Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado
do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável
e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela
experiência, ele se sente compelido a
procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando
toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do
outro. A necessidade, pois, o constrange
a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz”.
–
(LE-Q.994): “Há Espíritos que se obstinam em permanecer no mau caminho, não
obstante os sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou tarde, reconhecerão errada a senda que tomaram e o
arrependimento virá”.
–
(LE-Q.784): “Faz-se mister que o mal chegue ao excesso para tornar
compreensível a necessidade do bem e das reformar”.
– (CI-IX, 21): “Os que por apatia,
negligência, obstinação ou má-vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas
classes inferiores, sofrem as conseqüências dessa atitude, e o hábito do mal
dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes,
porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas conseqüências (...)
procurando então melhorar-se!.
–
(CI-VII, Código Penal...,19): Como o
Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso, por vezes, se lhe torna
lento e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse
estado, pode resistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua
contumácia se modifica pelo sofrimento e, a despeito de sua jactância,
reconhece o poder superior que o domina”.
–
(LE-Q.333): “Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir.
Todos têm que se elevar; esse o destino de todos”.
2.2.8.
QUINTA COORDENADA PSICOLÓGICA (O IMPULSO INTERIOR DE AUTOSUPERAÇÃO.
a).
Como conseqüência, fica estruturada uma situação favorável de coordenadas:
1º a existência das perfeições potenciais; 2º. sentimento de incompletude; 3º.
O desconforto moral; 4º. O limite de suportabilidade desse desconforto.
Como conseqüência,
estrutura-se um quadro psicológico propício à retomada do desenvolvimento
espiritual segundo quatro coordenadas ligadas por um sistema de causas e
efeitos entrelaçados.
b). Esse impulso íntimo, irrecusável aliás, quando atingido o
limite de suportabilidade, está sustentado pelos mesmos cinco textos
doutrinários acima transcritos. Mesmo porque, progredir é o imperativo
categórico da alma mesma: (LE-Q.202, 333, 466, 768, 778). E, marcantemente, na
teoria irrecusável da autotranscendência de teor tão familiar aos princípios
espíritas.
CONCLUSÃO. Estão assentados os fundamentos psicológicos à Técnica
de Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito da Pedagogia da
Espiritualidade.
X
X X
2.2.9.
COMPREENSÃO E RESUMO DA ESTRUTURA EXPOSITIVA DOS FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS.
a).
Procurou-se destacar a consistência científica, ou a filosófica, da
psicologia Espírita, carreando textos de natureza psicológica dispersos pelas
obras da Codificação, para a fundamentação da Técnica Pedagógica em proposição
nesta obra.
Delineou-se, para isso,
o desdobramento histórico da Psicologia até culminar na Psicologia Científica
Espírita, por obra de Kardec, em metodologia híbrida, experimental e racional.
Cujo objetivo foi o de incutir confiabilidade aos aportes que extraímos da
Doutrina Espírita.
b). Além desses fundamentos doutrinários, aliciou-se a rica
contribuição filosófica, mas de conseqüências psicológicas, de pensadores
modernos sobre o fascinante tema da autotranscendência humana. Auto-superação
essa que representa o afloramento das perfeições potenciais do espírito.
– Estabelecidos esses pré-requisitos, ficou-se em condições de
formular a pergunta diretriz de todo o trabalho consecutivo: quais as causas psicológicas gerais que
estão a exigir o tratamento pedagógico para o desenvolvimento da
espiritualidade?
c). Alinham-se, em seguida, cinco coordenadas que dimensionam essa
exigência:
– A consciência do
potencial anímico (escassamente aproveitado);
– O sentimento de
incompletude (ainda muito confuso);
– O desconforto, ou
angústia, assim provocado (desconhecendo a causa);
– O limite de
suportabilidade a essa angústia (pouca consciência dele);
– O impulso do espírito
de auto-superação (tumultuado e inconstante);
d). É este impulso psíquico
bem orientado que irá tornar psicologicamente possível aos educandos o processo
de Afloramento das Perfeições Potenciais do seu espírito em continuada
autotranscendência.
2.3. FUNDAMENTOS TELEOLÓGICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA
TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
FINALIDADE (PARA QUÊ?)
2.3.1. CONCEITO DE TELEOLOGIA
a).
É o estudo filosófico dos fins das coisas (do grego “telos” = fim. Causa
final, + logia). É o estudo da
finalidade. “Doutrina que considera o mundo como um sistema de relações
entre meios e fins. Estudo dos fins humanos”1.
O fim também é uma causa: a causa final,
o propósito, o objetivo a alcançar, o efeito desejado e visado pelo agente.
A causa final, o fim é a primeira na ordem da ideação e a última na ordem da
realização. ARISTOTELES chamava a causa final de primeira causa, porque, uma vez conhecida pelo agente (causa
eficiente), exerce sobre ele um influxo tão eficaz que determina a sua ação. É
a causalidade do fim. Por isso, os escolásticos chamavam a causa final de “causa causans” (causa das causas). Ninguém
age sem ter um fim em vista na sua mente; e sentenciavam: “Omne agens, agit
propter finem” (todos agem tendo um fim em vista).
b). FINS E OBJETIVOS. O
conceito de Teleologia abrange objetivos
e fins. Alguns pedagogos não
adotam essa distinção. Preferivel distinguir. Objetivos seriam as etapas a
atingir sucessivamente, e que conduziriam aos fins. Os fins seriam as metas
finais, em cuja direção se posicionariam os objetivos. Mas os fins também podem
distribuir-se escalonadamente.
2.3.2.
FINS DA EDUCAÇÃO ESPÍRITA
a).
Na obra “Filosofia Espírita da Educação” (ed. FEB), 2º volume, págs. 200 a 212, expusemos esses
fins, que passaremos a resumir. Foram classificados esses fins como imediatos,
fim intermediário e fins últimos.
– 1º Fim Fim Imediato Individual (subjetivo): o desenvolvimento da
espiritualidade nos educandos.
·
Verdadeiramente, se observados atentamente os
fatos educativos que se apresentam cotidianamente à luz
da Filosofia Espírita, invade o entendimento uma idéia constante,
um quase refrão, interativo: desenvolvimento
da espiritualidade. Esse fim, compreenda-se bem, não tem a conotação de
meta fixa como alguma coisa que se conclui, que se consuma, ou de marca
balizando o final, o termo de uma linha. Não. É um fim dinâmico, que se desloca ao longo de todo o percurso
evolutivo, e não estático. Esse fim é antes um vir-a-ser, um devir,
impulsionado pelo esforço contínuo do educando, para obter a transcendência, a auto-superação permanente do espírito do
educando. Para que não estacione na linha do seu aperfeiçoamento, ou melhor, de
sua espiritualização. Qualquer mutação para melhor, por mais discreta que seja,
representa o atingimento (impropriamente falando) desse fim em determinado
momento. Atingir esse fim é manter o espírito em ininterrupto desenvolvimento
da sua espiritualidade. Por isso, foi dito acima que esse fim é móvel, estendendo-se por todo o roteiro
de contínuo aperfeiçoamento. E por isso, também é imediato: em todos os momentos está se processando a realização do
fim.
___________________________
1 Do
dic. Aurélio.
– 2º Fim. Fim Imediato Social
(objetivo).
·
Chama-se de fim
social da educação espírita o tipo de sociedade almejado no futuro pela
Doutrina Espírita e consecutivo à atual “de expiação e provas”, e que é o
“mundo de regeneração” (EE – III, 16
a 18), (OP – Regeneração da ....), (GE – XVIII, 25).
·
Esse fim
social está sendo atingido paulatina e muito lentamente, cadenciado na
mesma proporção em que vai sendo alcançado o fim individual, este como fator
impulsor daquele.
·
Todavia, cumpre, esclarecer que tanto o fim individual quanto o social mantêm relação de causalidade
bilateral entre eles, isto é, alternando suas posições, ora de causa ora de
efeito um do outro.
– 3º Fim Intermediário – O Ideal
Humano
·
É o padrão humano a ser formado pela educação. É
o resultado da confluência harmônica dos fins anteriores, o individual e o
social, e que será o aristocrata
intelecto-moral (OP – As Aristocracias, pp 10 a 12) do mundo de
regeneração, por este ideal humano governado.
·
O retrato moral desse aristocrata do espírito acha-se aproximadamente em (LE – Q.918) e
em (EE-XVII, 3) sob o título “O Homem de Bem”.
– 4º Fim Último, Subjetivo
·
Esse fim último subjetivo baliza o termo do fim
individual, ou seja do desenvolvimento
da espiritualidade, e que é o puro
Espírito, aquele que atualizou toda a sua potencialidade, que completou a
sua educação, o Espírito integralmente educado.
E, por isso, é o fim último subjetivo da educação espírita. A sua essência
é a inteligência e o pensamento (LM – 51).
– 5º Fim – Último Objetivo
·
Só pode ser aquele “excelso centro de atração e
de irradiação” (GÊ – II, 19, p2) e (GÊ – II, 29); “a grande irradiação do
Espírito Divino que abrange a extensão dos céus, e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual”
(GÊ – VI, 56, p2); “gravitar para a unidade divina, eis o fim da humanidade”
(LE – Q.1009, p5); “nenhum egoísmo, porém, há em querer o homem melhorar-se
para se aproximar de Deus, que é o fim
para o qual devem todos tender” (LE – Q.897b).
·
Por tudo isso, como o Referencial Absoluto para
a marcha da humanidade, ele se constitui no “Magister Universalis” (O Mestre Universal) e, por isso,
instituído como Fim Último e Supremo da Educação. É o Sumo Bem que, uma vez
incorporado pela educação no educando, eleva-o, no final de sua longa e sofrida
evolução espiritual, ao “status
eminentísismo de puro Espírito, gozando de integral felicidade.
b). Correlação do 4º com 5º fim. Encontramos a integração desses
dois fins últimos num texto muito feliz (EE – VIII, 10, p3):
– “O objetivo da religião é conduzir a Deus (fim último objetivo) o
homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito (fim último
subjetivo – o puro Espírito)”.
–
Ousa-se imaginar a substituição da palavra religião
no texto acima por Educação,
porque a religião pode ser considerada como um dos fatores da educação.
– Tanto “religare”, raiz
etimológica de religião, quanto “educere”,
raiz etimológica de educação, apontam ambas para o Referencial Absoluto, para
Deus.
X
X X
2.3.3.
RESUMO ESQUEMÁTICO DO EDIFÍCIO TELEOLÓGICO DA EDUCAÇÃO ESPÍRITA
–
FIM IMEADIATO INDIVIDUAL
Desenvolvimento
da Espiritualidade
(alicerce)

O
Mundo de Regeneração
– FIM
INTERMEDIÁRIO (IDEAL HUMANO)
(pilares)
O
Aristocrata Intelecto-Moral
![]() |
– FIM ÚLTIMO
INDIVIDUAL (SUBJETIVO)
O
Puro Espírito
(cúpula)
– FIM ÚLTIMO
SUPREMO (OBJETIVO)
Deus,
o Sumo Bem.
2.3.4.
OBJETIVOS DA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS
ESPIRITUAIS
O
FINALISMO ESPÍRITA. A idéia de finalidade é bastante freqüente nos textos da
Codificação. Na obra “Filosofia Espírita da Educação”, vol. II, pág. 121,
alinhamos 56 textos que apontam para o caráter decisivamente finalista,
teleológico, da Doutrina 1.
Este posicionamento comunica-se à educação espírita, como está exposto no item
2 acima. E daí, transmite-se a toda técnica pedagógica. Portanto, a técnica que
estamos propondo não se pode eximir de orientar-se por objetivos bem marcantes,
definidos e conscientizados pelos educadores permanentemente.
2.3.5.
A RELEVÂNCIA DO FIM INDIVIDUAL.
a).
Observando-se o resumo esquemático colocado no item 2.3.8 (adiante)
deduz-se a importância capital do desenvolvimento da espiritualidade como fim imediato
individual. Se nós o alijamos do esquema, toda a edificação teleológica da educação espírita desmorona. Vejamos por
quê.
b). Sem o desenvolvimento da espiritualidade, não se atinge, ou
melhor, não se processa progressivamente o desenvolvimento social – tese
espírita do primado da reforma intima sobre a reforma exterior, social (OP –
credo Espírita), (OP – Liberdade... p10). Ausente o fim social, não se consuma
o fim intermediário do ideal: a formação do aristocrata intelecto-moral.
Desprovido o edifício teleológico desses três fins anteriores, os fins últimos
não são alcançados. O edifício esvazia-se, isto é, a educação espírita torna-se
um vácuo meramente formal, sem conteúdo, sem fins nem objetivos, a não ser os
de instrução. Passa, aliás, a não existir como educação propriamente dita.
c). Por conseguinte, o desenvolvimento da espiritualidade é o
alicerce da educação espírita, a pedra fundamental sobre a qual é montado todo
o seu edifício teleológico.
2.3.6.
PREÂMBULO PARA OS OBJETIVOS.
a).
Todavia, para isso, a técnica de Afloramento das Perfeições Potenciais do
Espírito terá que prever e fixar seus próprios objetivos.
– Uma vez que,
em principio, o desenvolvimento espiritual da humanidade já foi
iniciado
desde a época de criação dos Espíritos. Os atualmente encarnados na Terra
estarão situados em níveis espirituais escalonados, bastante variáveis de um
para outro. Isso significa que nenhum deles está na estaca zero do seu
desenvolvimento espiritual, como também nenhum se situa na plenitude
espiritual.
b). Contudo, vários (muitos ?), depois de evoluírem, podem
eventualmente estar em posição de estagnação1; outros podem estar despertando sua espiritualidade em
ritmo de lentidão.
– Todavia, de um modo
geral, a maciça maioria situa-se em nível espiritual muito baixo. Como podemos
estimar essa situação? Resposta: pelas noticias de todo o mundo (jornais,
revistas, rádios, TVs, etc.) Basta abrir todos os dias os jornais, ligar as
rádios ou aparelhos de televisão. Consulte-se também (EE – III, 13 e 15).
– Desse quadro social e
espiritual tão negativo, é que se pode deduzir os objetivos da técnica que está
sendo proposta.
_________________________
1 Em oposição a algumas pedagogias antifinalistas, que
não põem fins, ou objetivos, à educação.
c). PRIMEIRO OBJETIVO. Desencadear
a retomada da marcha do espírito dos educandos 1 que estejam estacionados em algum ponto do seu roteiro
evolutivo.
d). SEGUNDO OBJETIVO. Aumentar o ritmo da marcha de progressão dos
educandos que se mantêm em progressão muito retardada2. Alguns textos da Codificação se referem a uma como
que aceleração da marcha evolutiva, como também ao “retardo do avanço”,3
e). TERCEIRO OBJETIVO. Aumentar, gradativa e proporcionalmente o
grau de felicidade dos educandos, conseqüente do desenvolvimento da
espiritualidade que for sendo alcançado, conforme:
– (GÊ-XI, 26, p2): “(...) sua
felicidade (do Espírito) se torna proporcional
ao progresso realizado”.
– (LE-Q.967): “A felicidade dos
Espíritos é proporcional à elevação
de cada um”.
– (LE-Q.979): “A alma não pode gozar da
felicidade perfeita, senão quando estiver completamente pura”.
– (LE-Q.1004): “O estado de sofrimento
ou de felicidade é proporcional ao
grau de purificação do Espírito”.
f). RESSALVA. Lembra-se que esses
objetivos, por carência de mensurabilidade, não se destinam à verificação
inicial de quem está ou não estacionado (1º objetivo), ou de quem se mantém ou
não em marcha retardada (2º objetivo), ou em progressão de felicidade (3º
objetivo). Os 1º e 2º são pressupostos e o terceiro é uma certeza moral. Essa
avaliação só será possível em estágio avançado de aplicação da técnica.
2.3.7
OBJETIVO
TODO-ABRANGENTE
a). Não se deve
esquecer que todo o presente desdobramento, foi aberto com o tema “Da Doutrina para a vida”. É nesse tema
fundamental que, de antemão, se deduz o objetivo geral, todo-abrangente, da
técnica proposta.
Recordando:
– Da Doutrina para a sua prática;
–
Da ordem intelectual para a ordem moral;
–
Do conhecimento para a conduta.
E
como ponte de transposição, a Técnica de Desenvolvimento da
Espiritualidade.
X
X X
2.3.8.
RESUMO
a).
Conceituou-se o que seja Teleologia e a importância da finalidade em toda ação
humana.
b). Distinguiu-se e conceituou-se fins e objetivos educacionais.
c). Foram Alinhados, em sucessão genética, de gerador a gerado, os
cinco fins da educação espírita.
d). Demonstrou-se que o primeiro fim, que é o desenvolvimento da
espiritualidade, é o fundamental básico; e que sem ele desmoronaria todo o
Edifício Teleológico Espírita.
e). Em seguida, foram apresentados os três objetivos da Técnica de
Afloramento das Perfeições Potenciais.
f). Mostrou-se que o Finalismo da Doutrina Espírita comunica-se à
Educação Espírita, e culmina na Pedagogia e técnicas derivadas.
__________________________
1Vide o estacionamento
como uma das situações possíveis do Espírito na linha de sua evolução
espiritual (LE-Q.118), (LE-Q.194ª,p2), (LE-Q.178ª), (LE-Q.778), (LE-Q.193),
(LE-Intr., VI, 20) e (GÊ-XI, 48), (LE-Q.398).
–
crianças e adolescentes em lares espíritas ou em centros espíritas;
- alunos das escolas espíritas;
- adultos em grupo nos centros espíritas
2 Vide muito indiretamente (LE-Q.609,
final), (LE-Q.737), (LE-Q.783), (EE-IV, 26), e principalmente (GÊ-XI, 26).
3 Também
André Luiz, em “Nosso Lar” (Cap. XLIII, no final) registra que a “marcha (do
Espiritismo) é ainda muito lenta”.
g). Finalmente, expôs-se o
Objetivo Todo-Abrangente da técnica proposta como sendo a passagem do educando
da Doutrina (estudada e aceita) para a Vida (do comportamento e atos
conseqüentes).
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