(A POSSIBILIDADE)
2.8.1. CONCEITO DE PEDAGOGIA E
SUA LIMITAÇÃO
a).
Para começar, seguem os conceitos constantes do dicionário Aurélio: “1.
Pedagogia é a teoria e ciência da educação e do ensino. 2. Conjunto de
doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um
objetivo prático. 3. O estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada
concepção de vida, e dos meios (processos e técnicas) mais eficientes para
efetivar esses ideais. 4. Profissão ou prática de ensinar”.
b). LORENZO LUZURIAGA1 consegue concentrar o seu
conceito em um mínimo de palavras, mas introduzindo nesse resumo a maior abrangência:
“A Pedagogia tem por objeto o estudo da educação”. E, depois, desenvolve-a como
arte, como técnica, teoria, ciência e filosofia. Porém, no final, retorna à
nova contração: “A Pedagogia, na essência, é a ciência da educação”. E desdobra
essa ciência em ciência descritiva
(que é a educação ?), ciência normativa (como
deve ser a educação ?), ciência
tecnológica (como deve realizar-se a educação ?) ciência histórica (como se formou a educação ?).
c). RUY DE AYRES BELLO2 atribui à Pedagogia, naturalmente
com o concurso da Filosofia da Educação, algumas funções específicas como os
estudos da educabilidade humana, limites da educação, sua legitimidade e necessidade.
d). CONCEITO ESPÍRITA. Já foi proposto, em obra anterior, um
conceito espírita de pedagogia, porém genético3, partindo da visão e reflexão crítica do fato
educativo bruto, através da lente da Filosofia Espírita da Educação. Dessa
forma de geração, resultou o seguinte conceito:
“Pedagogia Espírita é um
sistema de princípios normativos, conhecimentos educacionais e teorias
pedagógicas obtido pela reflexão indireta e crítica sobre o fato educativo,
através do prisma da Filosofia Espírita da Educação, por meio da razão humana e
das ciências pedagógicas auxiliares, Psicologia, Sociologia, Biologia e
Antropologia Espíritas, que possa dar sentido objetivo e prático àquela
filosofia”.
Essa definição é também
pela forma da causa final: dar
sentido objetivo e prático à Filosofia de Educação adotada.
e). LIMITAÇÃO. No presente estudo, não se utilizará do amplo
espectro conceitual da Pedagogia. Limitado fica apenas a uma das suas funções
constitutivas: como a ciência das
possibilidades pedagógicas da educação, particularizando-a na aplicação às
possibilidades da técnica ora em proposição.
Ou seja, responder à pergunta: é possível aos educandos
__________________________
1 “Pedagogia” – Cia. Editora Nacional – São Paulo – 1970
– 7ª ed. – pág. 4.
2 “Filosofia Pedagógica” 3ª edição – Editora do Brasil –
São Paulo – 1961, págs. 39 a
57.
3 Em “Filosofia Espírita da Educação”, 1º vol., pág. 76
e gráfico na pág. 77, e pela qual é indicada a composição, origem e finalidade
dessa pedagogia.
devidamente
induzidos e assistidos pelo educador,
procederem ao desenvolvimento de sua espiritualidade pela Técnica Pedagógica do
Afloramento das Perfeições do seu espírito ?
2.8.2.
POSSIBILIDADE, PELA PEDAGOGIA COMUM, DA EXISTENCIA DO POTENCIAL ESPIRITUAL
(PELA MATURAÇÃO).
a).
A Pedagogia tradicional, servindo-se de suas auxiliares a Biologia e a
Psicologia educacionais, destaca o principio
da maturação física, orgânica e psíquica do educando. Muito bem!
Pergunta-se: seria possível a maturação nessas três formas sem que existam na
criança em estado potencial essas capacidades, aguardando o tempo de realização
(maturação) no devido tempo? É obvio que não: se há maturação, é maturação de
algo pré-existente, de germes, sementes que germinam, crescem, despontam e
manifestam-se. O adulto físico, orgânico e mental, que a criança será, esta
imerso potencialmente em sua constituição infantil, porém, já em contínuo
processo gradativo de crescimento. Embora a criança não seja um adulto em
miniatura: ela tem a sua especificidade constitucional.
b). Passando-se da esfera, ou ordem, orgânica para a espiritual; do
corpo ao espírito, observam-se adultos dotados das virtudes da humildade uns,
da lealdade outros, da justiça alguns, ou da indulgência (perdão), resignação,
coragem, etc., em diversos graus (iniciais ou médios) de desenvolvimento (não
completos). Ninguém poderá negar esse testemunho vivencial na vida e observação
de cada um. Ora, se surgem e despontam e se evidenciam em alguns adultos essas
qualidades ou perfeições espirituais, de onde vieram? De fora? Da educação dos
pais; da escola e dos professores? Deles vieram, no máximo, o exemplo e a
formação, concorrendo os genitores e mestres no despertamento do potencial
subjacente de perfeições, mas não para introduzi-las de fora para dentro. Ora,
educar (“educere”) é tirar, de dentro para fora. Logo, essas sementes espirituais
forçosamente estão no âmago da alma das crianças e de todos os educandos.
c). CONCLUSÃO: a Pedagogia comum apresenta, pelo reconhecimento
científico do fenômeno da maturação global da criança, a real possibilidade da
existência do potencial espiritual das perfeições.
2.8.3
POSSIBLIDADE, PELA PEDAGOGIA ESPÍRITA DA EXISTÊNCIA DO POTENCIAL ESPIRITUAL
(PELA CODIFICAÇÃO).
a).
Dispõe-se ainda de incisivos registros de textos capturados na Codificação,
indicando a possibilidade doutrinária da realidade das “sementes” (em sentido
figurado) das perfeições no espírito do ser humano, e do educando como seu
portador congênito e privilegiado:
– (OP – Morte Espiritual, p.16): “Todas
as faculdades, todas as aptidões, se
encontram em germe no espírito desde a sua criação, mas em estado
rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na semente. O
selvagem, que mais tarde se tornará homem civilizado, possui, pois, em si os germes, que, um dia, farão dele um sábio, um
grande artista, ou um grande filósofo”.
“A medida em
que esses germes chegam à maturidade, a Providência lhes dá para a vida
terrestre, um corpo apropriado às suas novas aptidões”.
– (LE – Q.754, p2): “Em estado rudimentar
ou latente, todas as faculdades existem no homem”.
– (LE – Q.873): “É fora de dúvida que o
progresso moral desenvolver esse sentimento (de justiça), mas não o dá, Deus o pôs no coração do homem”.
–
(EE – XIX, 12): “No homem, a fé é a consciência que ele tem das faculdades
imensas depositadas em germe no seu
íntimo, a princípio, em estado latente (...)” e que cumpre ao homem fazer
que desabrochem e cresçam pela ação de sua vontade”.
–
(EE – X, 18): “Sempre há nas dobras
mais ocultas do coração o germe dos bons sentimentos, centelha vivaz da
essência espiritual”.
– (EE
– XI, 9, p2): Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o germe vivaz (da lei do amor) que Deus
lhes depositou nos corações ao criá-los”.
b).
Ainda, os textos de (OP-Profissão de Fé....,15). (CI-1ª, III, 6) e (QE –
III, 114) referem-se às aptidões com as quais os Espíritos são criados
“perfectíveis para tudo conhecerem e adquirirem com o tempo e para progredirem
em virtude do seu livre-arbítrio”.
2.8.4.
POSSIBILIDADE, PELA PEDAGOGIA ESPÍRITA, DO AFLORAMENTO DO POTENCIAL ESPIRITUAL
(PELA CODIFICAÇÃO).
a).
No item anterior, constatou-se a existência
das perfeições potenciais no fundo das almas.Agora vai-se verificar a possibilidade da emersão delas ao nível
do comportamento:
– (EE – XIX, 12): “Cumpre ao homem fazer que desabrochem e cresçam pela ação de sua
vontade (as faculdades imensas depositadas
em germe no seu íntimo”
Se é dever do homem,
atribuído pela Doutrina Espírita, fazer que desabrochem esses germes, é porque
isso é possível.
– (LE – Q.754, p2): “(As faculdades
latentes que existem no homem) desenvolvem-se,
conforme lhes sejam mais ou menos
favoráveis as circunstâncias”.
Reiterada a
possibilidade de desenvolvimento dessas faculdades latentes em:
– (EE – XIX, 12, final): “Se todos os
encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem e se quisessem
pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até hoje,
eles chamaram de prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”.
Ainda a possibilidade:
b). Todavia, a razão do presente trabalho visa a um tratamento pedagógico específico do
desenvolvimento da espiritualidade. Para este tratamento técnico e prático, a
Codificação ainda faculta créditos doutrinários? R: Sim, como passa-se a
demonstrar. Os termos usados são outros (arte
ou ciência). Mas o significado é o mesmo do tratamento pedagógico provocado, de indução assistida pelo
educador. Para o que basta ler com atenção os textos em que Allan Kardec, já em
meados do século XIX, acenava com uma futura arte de formação de hábitos
espirituais:
– (LE – Q.685a, P2): “Quando essa arte (de formar caracteres, de incutir hábitos) for conhecida,
compreendida e praticada (...)”.
– (LE – Q.917, p3): “Quando
se conhecer a arte de manejar os
caracteres, como se conhece a de manejar
as inteligências conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam
plantas novas. Essa arte, porém, exige
muito tato, muita experiência e profunda observação”.
Observe-se bem que se não trata de um resultado
espiritual totalmente espontâneo e natural, unicamente “pela força das coisas”.
Mas sim, mais exatamente da “arte de
manejar os caracteres” comparável à arte de “aprumar plantas novas” ,
“exigindo tato, experiência e profunda observação”.
c). Como
se esses textos não bastassem, Kardec ratifica pela “Revista Espírita” de 1864 1 o que previu sete anos depois
de “O Livro dos Espíritos”:
– (RE – 1864 ):
“Um dia, compreender-se-á que este ramos da educação (o da educação moral) tem seus princípios, suas regras, como
a educação intelectual, numa palavra que é uma
verdadeira ciência; talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses
conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o direito”.
d). Note-se a referencia a
uma época futura (“um dia”, “talvez um dia”). Vários elementos desse texto
indicam claramente tratar-se de um procedimento especificamente pedagógico,
provocado ou induzido por um educador (como exemplo, a mãe de família). E tendo
“seus princípios e suas regras”, para tornar-se uma “verdadeira ciência” como a
do direito. Enfim, uma pedagogia.
e). E para arrematar,
vencendo qualquer dúvida, conta-se com o disposto em outro texto da Codificação
que reconhece a existência de leis que
regem a natureza moral, cujo conhecimento capacitará a educação a “modificar” a natureza moral do
educando:
– (LE – Q.872, p.1º, final): “Cabe á educação combater essas más
tendências. Fá-lo-á utilmente, quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das
leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la, como se
modifica a inteligência pela instrução e o temperamento pela higiene”.
f). Convide-se os estudiosos
da Doutrina para o estudo da hipótese de que essas leis possam estar já
assistematicamente dispersas ao longo dos textos da Codificação Espírita. Ainda
que como simples esboços fundamentais delas, conforme exposição proposta em
seguida.
Com apoio em (LE-Q.872, p1º), poderiam, essas leis, ser intituladas
como:
2.8.5.
LEIS ESPIRITUAIS QUE REGEM A MODIFICAÇÃO PEDAGÓGICA DA NATUREZA MORAL DO HOMEM:
a). 1ª LEI – DO POTENCIAL
ESPIRITUAL: as sementes das perfeições espirituais jazem em estado
potencial e inercial no fundo do espírito humano:
– (LE – Q.754, p2),
(LE – Q.776), (EE – X, 18)
– (EE – XIX, 12,
final), (EE – XIX, 12), (EE – XI, 9, p2)
– (OP – Profissão de Fé....15), (OP – Morte....,p16).
– (CI – 1º, III 6), (QE – III, 114).
b). 2ª LEI – DA ORIGEM DO
POTENCIAL: Deus, no ato de criação de cada Espírito, depositou no seu âmago
as sementes de todas as perfeições:
– (LE – Q.873), (EE –
XIX, 12), (EE – XI, 9, p2).
c). 3ª LEI – DA CONSCIÊNCIA
HUMANA DA EXISTENCIA DESSE POTENCIAL, MAS AINDA NÃO APROVEITADO: “a fé é o
sentimento inato de seus destinos futuros”, como conteúdo desta consciência:
– (EE – XIX, 12).
d). 4ª LEI – DA ANGÚSTIA
PROVOCADA POR ESSA CONSCIÊNCIA DA INFERIORIDADE NÃO VENCIDA.
– O vivo sentimento de incompletude espiritual:
·
(LE –
Q.975), (LE – Q.992), (LE – Q.999)
– A angústia moral decorrente dessa incompletude:
_________________________
1 Pág. 40, edição EDICEL.
·
(LE
– Q.133ª), (LE – Q.195a, p2), (LE – Q.943)
·
(LE
– Q.574), (LE – Q.970), (LE – Q.895), (LE – Q.1004).
e). 5ª LEI – DO LIMITE DE
SUPORTABILIDADE: A angústia e o desconforto moral atinge o limite da
resistência ao bem:
– (LE – Q.333), (LE –
Q.784), (LE – Q.944), (LE – Q.1006)
– (CI – 1ª, IX, 21), (CI – 1ª, VII, Código.......19º)
– (LE – Q.1009, p6), (GE-III, 7)
f). 6ª LEI – DA POSSIBILIDADE DA
GERMINAÇÃO DESSAS SEMENTES (1ª LEI) E CONSEQÜENTE AFLORAMENTO DAS PERFEIÇÕES: essas
sementes são suscetíveis de germinação e desenvolvimento em perfeições pela
ação adequada do próprio espírito do educando:
– (LE – Q.754, p2), (EE – XIX, 12).
g). 7ª LEI – DO MÉTODO DE
AFLORAMENTO: pode esse método valer-se dos “princípios e regras” aos quais
se refere KARDEC, constituindo aquela “arte de formar os caracteres, como uma
“verdadeira ciência”; “exigindo muito tato, muita experiência e profunda
observação” (LE – Q.917). Segundo os seguintes processos:
– formação pedagógica induzida dos hábitos do bem e relativas às
perfeições almejadas:
·
(LE – Q.685a, p2), (LE – Q.917).
– Repetição exaustiva dos atos da mesma natureza das perfeições
pretendidas:
·
(LE – Q.36554a) 1
– Aproveitamento das oportunidades que se apresentam eventualmente no
decurso da vida social cotidiana para a prática desses atos:
·
(CI – 1ª, III, 8)
– Gradação desses atos em três estágio, do mais fácil ao mais difícil:
·
(LE
– Q.561); (LE – Q.737), (LE – Q.194a. p2), (LE – Q.191a,p2).
– Sucessão das perfeições a serem desenvolvidas: de duas em duas:
·
(OP – Morte Espiritual, p10).
h). 8ª LEI – DO IMPULSO ÍNTIMO
PARA REDUZIR E VENCER A INCOMPLETUDE ESPIRITUAL E A ANGÚSTIA DA INFERIORIDADE: progredir
é o imperativo categórico da alma para si mesma, recuando assim diante do
limite intransponível da suportabilidade, para retomada do progresso
espiritual:
– (LE – Q.768) 2 (LE
– Q.778) 3.
E todos os
oito textos da Lei da Suportabilidade já citados, e que se ordenam a esse
impulso interior para recuar da resistência à prática do bem.
·
Essas leis da suportabilidade às conseqüências
do mal fazem parte do 6º ESTUDO COMPLEMENTAR intitulado “Linhas Condutoras do
Desenvolvimento Espiritual”, constante da obra “Filosofia Espírita da Educação”
– vol. nº 5 págs. 189 a
196 – Ed. FEB).
X
X X
___________________________
1 Indiretamente sugestiva. Por extensão.
2 “O homem tem que progredir”.
3 O homem tem que progredir incessantemente”.
2.8.6.
RESSALVA NECESSÁRIA. Não se mantém a pretensão, descabida aliás, de ter-se
formulado essa arte (ou ciência) de formação do caráter, prevista por ALLAN
KARDEC nos textos já transcritos. Apenas tentou-se levantar a questão, neste
crepúsculo do século XX e alvorada do XXI, e com o objetivo de lembrar este
encargo às gerações, que advirão mais capacitadas do que as atuais, para
desenvolver estudos e experiências pedagógicas com o fim de corporificar essa
arte. E também o intuito de contribuir com uma proposta de técnica pedagógica
que poderá servir de base para futuros estudos.
2.8.7.
RESUMO
a). Conceituou-se pedagogia
e a sua limitação à ciência das possibilidades em educação.
b). Levantou-se a hipótese
da possibilidade pedagógica da Técnica
de Afloramento das Perfeições Potenciais do Espírito.
c).Primeira possibilidade (pela
pedagogia comum): pelo fato da maturação, verifica-se: 1º - a existência do
potencial espiritual; 2º - esse potencial pode
emergir para o nível do comportamento consciente.
d). Segunda possibilidade (pela
pedagogia espírita): pelos textos da Doutrina Espírita, verificam-se: 1º - a
realidade da existência dos “germes” das perfeições espirituais em estado
latente no fundo das almas; 2º - a possibilidade do afloramento dessas
perfeições.
e). Terceira possibilidade (pela
previsão de Kardec): do tratamento técnico-pedagógico – e não apenas
espontâneo, “pela força das coisas” – de indução assistida desse afloramento
das perfeições.
f). Levantou-se a hipótese
de que as Oito Leis Espirituais que Regem
a Modificação Pedagógica da Natureza Moral do Homem (LE – Q.872), estejam
já assistematicamente esparsas nos textos da Codificação Espírita.
X
X X
2.8.8.
SILOGISMO LÓGICO-PEDAGÓGICO
– Pode-se até montar o seguinte silogismo, fundamentado em que se dois
objetos de conhecimento são convenientes a um terceiro, são conveniente entre
si:
·
PREMISSA MAIOR: se há uma relação de
conveniência entre pedagogia e ciência de educação:
·
PREMISSA MENOR: se há uma relação de
conveniência etimológica e real, aliás, entre educação e o processo de tirar
(de dentro para fora) o potencial das perfeições que jazem no espírito
(“educere”);
·
CONCLUSÃO: há uma relação de conveniência entre
pedagogia e o processo de tirar (de dentro para fora) o potencial das
perfeições que jazem no espírito.
2.8.9.
A VIRTUDE, OU SEJA, UM CONJUNTO DE PERFEIÇÕES ESPIRITUAIS, PODE SER ENSINADA?
a).A virtude (aqui chamada conjunto de perfeições) é tratada no diálogo de PLATÃO chamado “Mênon”. No qual
Platão conclui, pela boca de Sócrates, segundo os seguintes pontos:
1º - a virtude não é dádiva que se possa receber por obra de nossa
própria natureza;
2º - Não é ciência que possa se ensinada;
3º - Não a obtemos pela intervenção da inteligência (razão);
4º - Nós a temos por graça divina, por um exclusivo favor divino.
X
X X
2.8.10.
PERGUNTA. Como se pode incorporar essa doutrina platônica à tese da Pedagogia da Espiritualidade Pelo
Afloramento Didático das Perfeições Potenciais do Espírito do Educando ?
c).
– 1º. Considerando essa graça divina, ou favor de Deus, como aquela infusão
primordial das sementes de todas as perfeições nas almas criadas por Deus e
no mesmo ato da criação delas. Essa infusão realmente vem pela graça da
misericórdia divina.
– 2º. Sementes essas que cabe a cada espírito
humano fazer germinar em si mesmo, para desenvolvem-se e culminarem em atos
objetivos da perfeição considerada. O que pode ser pedagogicamente obtido pela
repetição suficiente, na vida cotidiana, dos atos da mesma natureza da
perfeição que se almeja induzir o educando a desenvolver em si e por si mesmo,
num processo induzido, mas auto-educativo,
assistido e acompanhado pelo educador.
– Portanto, a
perfeição, ou virtude, é o resultado da participação
primordial de Deus. Seguida da contribuição do próprio homem, para fazer
aflorá-la do fundo de sua alma, onde estava depositada pelo Criador, em
estado potencial e inercial. Pela sua boa e permanente vontade e grande esforço
moral, o homem fará jus ao mérito da conquista e posse da perfeição visada.
d). Conclui-se também, pela
tese da Pedagogia da Espiritualidade em
conformidade com a teoria de Socrates/Platão que a virtude não é ensinável: a mesma conclusão de Platão. O papel do
educador, que chamamos de indutor,
não é o de ensinar a virtude no sentido de incuti-la ou de comunicá-la de si ao
educando. Mas é, sim, o de criar todas as condições ambientais, morais,
pedagogias, didáticas motivacionais, etc., para que o educando: 1º - admire e
estime com verdadeira veneração a perfeição que deseja conquistar, mediante
técnicas especiais; 2º - que passe a praticar espontaneamente os atos
correspondentes, que, bastante repetidos, durante longo tempo, formam o hábito dessa perfeição, hábito esse
que é a própria perfeição.
e). Assim, procedendo, o
educador, estará também seguindo a pedagogia de Rousseau, da chamada educação negativa, na qual o mestre não
ensina, mas cria todas as condições para o educando querer e aprender
efetivamente. Como um jardineiro cultiva a planta, deixando-a crescer
naturalmente, mas também preparando o solo, extirpando as ervas daninhas,
adubando o terreno e regando a planta; tudo isso, sem interferir diretamente
nela. No caso da educação, monitorando, acompanhando, induzindo e assistindo o educando. E este, assim,
educa-se, a si mesmo.
f). Por isso, para Aristóteles,
a virtude não é ensinável; mas pode ser
aprendida, praticando, o educando, muitos atos repetidos da virtude que
deseja desenvolver. O justo aprende a justiça praticando atos de justiça; o
sábio torna-se sábio praticando atos de sabedoria; o bom adquire a bondade
praticando atos de bondade. Como se está propondo e metodizando para a
Pedagogia da Espiritualidade.
– Perfectibilidade. Essa
condição congênita à criação dos Espíritos pelo Criador, nada mais é do que o
conjunto de todas as “sementes” das perfeições espirituais depositadas por Ele
no fundo das almas. E preordenada à perfeição futura e remota delas, como puros
Espíritos. Cujo fiador é o próprio Criador, pela estrutura psicológica e moral
que introduziu nos Espíritos criados. Estrutura essa que não as “sementes” de
todas as perfeições espirituais.
2.9. FUNDAMENTOS DIDÁTICOS
(ESPECÍFICOS)
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
PELA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
DOS EDUCANDOS
2.9.1. CONCEITO DE DIDÁTICA 1.
a).
Costuma-se definir a Didática como sendo a ciência, a arte e a técnica da direção da aprendizagem 2, podendo
resultar num método de ensino adequado.
– Daí o modo de
aprender, o como se aprende, mas
principalmente como o mestre deve conduzir a aprendizagem.
– No caso em tela, trata-se de equacionar uma didática pela qual o
educador possa acompanhar e assistir o educando para induzir em seu espírito a disposição íntima e moral de
procedimentos pessoais em consonância com a Técnica de Afloramento de suas
Perfeições Potenciais.
2.9.2.
DUAS INTERROGAÇÕES DE HOJE COM DUAS RESPOSTAS CLÁSSICAS DE 2.400 ANOS ATRÁS:
a).
1ª – Haverá uma didática específica para o Desenvolvimento da
Espiritualidade pelo Afloramento das Perfeições Potenciais?
b). 2ª – Pode ser aprendido pelo educando esse processo de Desenvolvimento
da Espiritualidade, devidamente assistido
pelo educador?
c). Faça-se um recuo histórico à Grécia
Clássica do IV século a.C., quando viveram Platão e Aristóteles. Nessas duas
fontes de sabedoria, encontrar-se-ão as raízes mais profundas da didática que
se busca.
2.9.3.
PLATÃO E O ENSINO DA VIRTUDE
a).
Platão (428-347 a.C.),
em seu diálogo “Mênon”, ou “da Virtude”3,
parece concluir que a virtude não é ensinável.
Podendo, todavia, ser aprendida. Não haveria uma didática das perfeições. Não
obstante, pela Teoria da Reminiscência da
idéias perfeitíssimas, vislumbradas antes da reencarnação das almas 4, poder-se-ia apreendê-las
por um processo dialético. Assim, para Platão, aprender as virtudes seria apenas recordá-las.
b). O diálogo Mênon
realmente ficou inconcluso. Ora parece que o discípulo de Sócrates não admitia a pedagogia da virtude.
Ora nos parece que sim, sugerindo uma didática para ela. A qual consistiria em proceder junto ao discípulo a reminiscência das idéias
___________________________
1 Em obra anterior, “Filosofia Espírita da Educação”,
(Ed. FEB), foi proposto um conceito de Didática
Espírita derivado geneticamente do conceito de Pedagogia Espírita, e que
induz a noção de Educação Espírita. Vide no 1º volume, págs. 81/82.
2 Idéia comum a Th. Miranda Santos, Luiz Alves de Matos
e A. Amaral Fontoura, com algumas variações.
3 Neste presente trabalho, temos procurado substituir a
palavra virtude pela expressão perfeições espirituais, mais permeáveis
à abordagem didática e prática.
4 Sócrates e Platão eram reencarnacionistas.
inatas, acordando-as do fundo das
almas, onde se achavam adormecidas, depois de contempladas no mundo das idéias (padrões de
perfeições) antes da reencarnação.
2.9.4.
ARISTÓTELES E O ENSINO DA VIRTUDE
a).
Já o seu discípulo Aristóteles (384-322 a.C.) estabeleceu em sua obra “Ética a
Nicômaco”, o que se pode considerar como o modo de aquisição de virtudes. E
registrou a seguinte advertência:
– (“Ética a Nicômaco”, livro II, cap.II): “o
presente tratado não é uma pura teoria, como podem ser outros muitos. Não nos
consagramos a essas indagações para saber o que é a virtude, senão para aprender a fazermo-nos virtuosos e bons; porque,
de outra maneira, este estudo seria completamente inútil. É portanto,
necessário que consideremos tudo o que se refere às ações, para aprender a cometê-las, porque elas são as que decidem soberanamente o nosso caráter, e delas
depende a conquista de nossas qualidades” (SIC).
b). conseqüente com esse maravilhoso
pensamento tão prático, exarou, Aristóteles, o princípio fundamental da
didática da Educação Moral através da formação dos hábitos do bem 1:
– (idem, livro, II, cap.I): “As
virtudes só provêm da repetição
freqüente dos mesmos atos (da mesma natureza).
·
“Não é, pois, de pouca importância contrair esses hábitos desde a infância, e
o mais cedo possível tais ou quais hábitos”.
·
“As virtudes não existem em nós pela simples
ação da natureza, nem muito menos contra suas leis, senão que a natureza nos fez suscetíveis às virtudes,
e, o hábito é que as desenvolve e as aperfeiçoa em nós”.
·
“Só
adquirimos as virtudes depois de havê-las previamente praticado”.
·
“Com elas sucede o que acontece com todas as
demais artes; porque nas coisas que não se podem fazer senão depois de havê-las
aprendido não as aprendemos senão praticando-as”.
·
“Assim, alguém se faz arquiteto construindo; se
faz músico compondo música. De igual modo, se
faz justo praticando a justiça; sábio, cultivando a sabedoria; valente,
exercitando o valor”.
– (idem, cap.IV): “As
virtudes só são conquistadas mediante a
constante repetição de atos de justiça, de temperança, etc”.
·
“Os atos que produzem as virtudes não são justos
nem de temperança (...), senão que é
preciso que o que age se ache em certa disposição moral no momento mesmo de
agir: ato virtuoso não é nada por si
mesmo sem a intenção daquele que o produz”.
·
(cap.
VI): “A virtude é um hábito ou maneira de ser”.
c).
Ensinamentos extraídos:
– 1º. o despertamento
das perfeições espirituais se faz pela via eminentemente
prática: atos, ações. E não pela via teórica; o caráter depende das ações e não de idéias.
– 2º. a aprendizagem das
perfeições deve ser iniciada desde a
infância, pela formação dos respectivos hábitos, ou sejam, os hábitos
da prática dessas perfeições;
– 3º. as virtudes não
procedem de fora do homem, e sim por força (de dentro) de nossa própria natureza por esforço moral próprio, pessoal.
_________________________
1 Que é a
base da técnica pedagógica do Afloramento das Perfeições Potenciais do
Espírito.
– 4º. o efeito
cumulativo da repetição dos atos de
perfeições é indispensável para despertá-las;
– 5.º- a
indispensabilidade da instauração prévia de disposição moral na alma do educando que motive moralmente seus
atos.
d). Uma perfeição, depois de
consolidada em hábito, possibilita o cometimento desses atos com o mínimo de
esforço e sacrifício. Mas a conquista desse hábito é árdua, e mediante a
repetição de muitos atos e de ingentes esforços e renúncia, requerendo a
assistência hábil e pedagógica do educador para isso preparado.
– E são esses atos que, repetidos,
formam o hábito das perfeições, que, segundo o Estagirita 1, conduzem à felicidade, numa perfeita proporcionalidade entre virtude e
felicidade. Por isso, escreveu:
– (idem, livro I, cap.IV): “(...)
Essas condições devem ser realizada durante uma vida inteira e completa, porque uma só andorinha 2 não
faz o verão, como não faz um só dia formoso; e não pode dizer-se tampouco
que um só dia de felicidade, nem mesmo uma temporada, baste para fazer um homem
feliz e afortunado”.
e). De todos esses luminosos textos,
extraiu-se o epicentro da didática da Pedagogia da Espiritualidade, ou melhor,
da autodidática das perfeições, que
está sendo procuranda para a técnica da emersão das potencialidades do
espírito:
aprender uma perfeição é
repetir os atos da mesma natureza
dela, ou seja, é formar o hábito
dessa perfeição almejada.
Desde que esses fatos sejam motivados
Pela intenção de uma disposição moral.
2.9.5.
A CONTRIBUIÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA PARA A FORMULAÇÃO DESSA DIDÁTICA
a).
Qual o posicionamento da Doutrina Espírita nesta área da Didática, diante
das idéias de Platão e de Aristóteles?
Resposta: a
Doutrina harmoniza as posições desses dois filósofos, e vai mais além deles:
– 1º. A
Doutrina incute novo sentido à reminiscência
de Platão: o que o Espírito aprendeu no Plano Espiritual e em vidas
passadas se manifesta na vida terrena consecutiva em forma de intuições e
tendências reencarnatórias, e não como conhecimentos formais, nítidos. O que
inclui predisposições para conhecimentos
já conquistados, para aprimoramento de qualidades já desenvolvidas, para
aproveitamento de experiências do passado anímico, bem sucedidas ou não,
culpas e expiações. Toda essa bagagem concorrendo para a fixação de disposição congênita para reaprender o
passado anímico. Acrescentando aos antigos conhecimentos novas aquisições, assegurando o prosseguimento do
desenvolvimento espiritual, pela aprendizagem.
– 2.º- Quanto
á proposta de Aristóteles, o Codificador consagra-a quando magistralmente
estabelece em (LE – Q.685a, p.2):
·
“A arte
de formar os caracteres, a que incute hábitos, porquanto a educação é o
conjunto dos hábitos adquiridos”
________________________
1 Referência a Aristóteles, por ter nascido na cidade de
Estagira (Macedônia).
2 A figura
dessas andorinhas está posta no lugar dos atos. Assim como uma só andorinha que
chega não “traz” o verão; e sim quando muitas chegam no lugar, assim também, um
só, ou poucos atos de virtude, não a estabelecem, e sim, muitos atos.
b). E o texto de (LE – Q.375a) sugere,
embora na área psiquiátrica, que a repetição
dos mesmos atos exerce influência sobre o espírito.
– Kardec
também retoma de Aristóteles a importância da formação dos bons hábitos das perfeições como base da Educação
Moral. E até anuncia para o futuro o conhecimento
dessa arte e ciência. São três
textos já reproduzidos no capítulo
sobre a Pedagogia (vide).
– Kardec,
assim, em inspirada e distante antecipação, lançou os alicerces da futura e
possível “arte de manejar os caracteres”.
·
Sendo esses hábitos os do bem (caridade,
indulgência, humildade, esperança, honestidade, veracidade, etc.), a sua
formação instrui a Técnica de Afloramento induzido das Perfeições Potenciais
que estão sendo legitimadas.
2.9.6.
CONCILIAÇÃO DA IDÉIA DIDÁTICA DE PLATÃO COM A DE ARISTÓTELES
Com
amparo nos textos da Doutrina e nas glosas de Kardec pode-se promover a
conciliação dos conceitos de
aprendizagem de Platão e de Aristóteles:
a). Platão: Aprender a virtude é
recordar as idéias contempladas antes de reencarnar (Teoria da Reminiscência);
b). Aristóteles: Aprender a virtude é
repetir suficientemente os atos de virtude.
c). CONCILIAÇÃO: a reminiscência dos atos do passado anímico só têm força de emergir
como aprendidos na vida subseqüente sob a forma de intuições, tendências,
experiência, conhecimentos e perfeições (concessão a Platão); mas se esses atos
tiverem sido repetidos suficientemente naquele pretérito (concessão a Aristóteles),
tornam-se marcantes e incisivos nas almas reencarnadas. Mas a emersão deles na
encarnação seguinte processa-se natural e espontaneamente, em princípio, e o
hábito terá transitado de uma vida para outra (LE – Q.894) como tendência.
– Vide em “Filosofia
Espírita da Educação”, 1º vol. Págs., 250 a 251, a tese sobre virtualidades relativas e virtualidades
absolutas.
2.9.7.
O CÍRCULO VICIOSO DE ARISTÓTELES
a).
Para podermos equacionar a didática procurada, temos que voltar ao esquema
de ARISTÓTELES de formação dos hábitos. Nele parece surpreender-se uma
argumentação de ordem circular, ou seja, um círculo vicioso 1.
|
b). Em resumo:
– 1º . a
aquisição de determinada perfeição depende dos atos repetidos dessa perfeição;
– 2º. por sua
vez, para se praticar esses atos, é necessário que já se possua essa perfeição.
__________________________
1 Falta de lógica que consiste em definir, ou em
demonstrar, uma coisa A por
intermédio de uma coisa B, que
apenas pode ser definida ou demonstrada através da coisa A”, (do “Vocabulário de Filosofia” Lalande).
·
É, portanto, um raciocínio infértil, sem
progresso; o espírito estacionaria sem desenvolver a sua espiritualidade.
c). SOLUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO CIRCULAR: A
ESPIRAL VIRTUOSA CENTRÍFUGA
–
Para esse fim, é necessário abrir o círculo e transformá-lo numa espiral centrífuga (de expansão de
dentro para fora).
– Aplique-se
essa espiral na formação do hábito da perfeição, da justiça (J), como exemplo:
ESPIRAL VIRTUOSA
DO DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL DA
PERFEIÇÃO DA JUSTIÇA
SUBSTITUINDO
O CÍRCULO VICIOSO
–
LEITURA DA ESPIRAL:
As letras As, dispostas de dentro para fora A1, A2, A3
etc., representam os atos de justiça em gradação de dificuldade crescente de
cometimento. As letras Js apontam
para a perfeição da justiça (pela reparação dos danos e agravos cometidos) como
resultado em graus crescentes de valor J1,
J2, e J3 etc., até a formação do hábito da justiça, JN.
d).
AS DUAS DIFICULDADES DA ESPIRAL.
A
espiral assim desenhada poderia gerar nas mentes mais apressadas duas
dificuldades;
– 1ª. No centro da figura, o início da
série se dá com os atos bem fáceis A1.
Porém, mesmo esses, para serem praticados, exigem um mínimo de desenvolvimento
da perfeição em foco. E assim recair no circulo vicioso.
e). SOLUÇÃO. Essa ínfima perfeição
inicial terá de ser presumida. O que é perfeitamente aceitável, tendo em vista
que nenhum ser humano nesta Terra está totalmente desprovido de um grau, mínimo
que seja, de qualquer perfeição. Afinal, todos já reencarnaram muitas vezes.
Seria inadmissível que já não tivessem desenvolvido pelo menos um naco de cada
perfeição: uma partícula de paciência, uma nesga de humildade, uma pétala de
amor, uma migalha de justiça, uma parcela de perdão, etc. Negar isso,
equivaleria a extinguir a educabilidade humana e a lei de progresso, tornando
inútil a existência, o que frustraria o intento do próprio Criador.
– 2ª. Os expoentes de perfeições J1, J2, e J3,
como exemplo, possibilitam o cometimento de atos de justiça A2, A3, A4
respectivamente, atos esses com expoentes superiores aos das perfeições que os
geram.
f). SOLUÇÃO. Veja-se bem a correta
ordem causal entre perfeições (P) e
atos a elas correspondentes (A):
–
Os atos, suficientemente repetidos, são os geradores de emersão das perfeições
emergentes do fundo da alma para a formação dos hábitos correspondentes.
– Porém, a
recíproca nem sempre é verdadeira: os atos não são necessariamente gerados
pelas perfeições. Eles podem ser cometidos
por um impulso singular e exclusivo do livre-arbítrio. Se essa vontade
(arbítrio) é livre mesmo, pode não
depender de nada que lhe seja estranho, exterior, e decidir-se com absoluta
liberdade. Contudo, muito excepcionalmente.
– Não
obstante, o grau já atingido pela perfeição em desenvolvimento reforça a vontade livre, facilitando a
opção, que não deixa de, assim mesmo, permanecer livre.
– Assim
sendo, os atos A2 como
exemplo da espiral podem ser
produzidos pela confluência, ou sinergia de três fatores:
·
O livre-arbítrio absoluto independente de
qualquer outro fator (não pode ser representado no gráfico).;
·
O fator J1 facilitador de A2
por um pequeno acréscimo (flecha tracejada J1 A2);

·
O fator A1 facilitador de A2
(pequena flecha cheia A1 A2)

g). A espiral toma, assim, um novo
aspecto:
|
h). LEITURA – As linhas cheias e curvas (superiores) representam o desenvolvimento
(por afloramento) da perfeição almejada, nos graus sucessivos J1, J2 e J3,
promovido pela prática exaustiva dos atos dessa perfeição A1, A2, A3 respectivamente.
– As linhas tracejadas curvas (inferiores) representam um reforço, a
contribuição dos graus já conquistadas J1,
J2 e J3 para o cometimento de atos de graus superiores
a eles A1, A2, A3,
respectivamente.
– As flechas horizontais e curtas entre os As indicam a contribuição dos atos
anteriores de grau inferior para a consecução dos atos de grau imediatamente
superior e posteriores.
– Exemplo>
a possibilidade da prática dos atos A2 (menos fáceis) decorre da
confluência de duas contribuições:
·
1º - da perfeição de grau P1 já
consolidado; 2º dos atos de grau A1 já cometidos:
i).
RESSALVA OPORTUNA. Essa leitura e respectiva figura espiral, um tanto complexas,
são meramente teóricas. Unicamente para demonstrar racionalmente que atos de
grau superior, A2 por exemplo, podem ser cometidos pela perfeição de
grau inferior P1.
– Por isso,
essa leitura não é levada imediatamente à pratica da técnica, com essas
minudências especiosas e complexas.
– O
estudioso, educador, ou praticante da técnica, deve agir diante dessa leitura e figura
como Alexandre Magno diante do
desafio que lhe propuseram de desatar o nó
górdio: lançou
mão da espada e num só golpe cortou a corda.... O desatamento impraticável do
nó representa nessa história simbólica o enrolar-se e perder-se em teorias que
não resolveriam problemas altamente complexos. O golpe de espada significa o
espírito prático pragmático e simples, demonstrado por Alexandre.
– Assim
recomenda-se que o educador proceda.
– Há também
outro episódio histórico ocorrido na Grécia Antiga. Alguns pensadores tentaram
demonstrar pela razão a realidade do livre-arbítrio, o que – diga-se de
passagem – não é possível, porque a demonstração da liberdade a destruiria.
Surge então outro filósofo, bastante prático pragmático também, afirmando que mostraria (não demonstração) a
liberdade. Levantou-se do lugar onde estava sentado e, simplesmente, andou de
um lugar para outro várias vezes, com evidente liberdade e convenceu os outros,
com a maior simplicidade e espírito prático, a liberdade da vontade (livre-arbítrio).
2.9.8.
POSIÇÕES INICIAIS DO EDUCANDO
a).
São três as posições iniciais do educando na instauração do desenvolvimento
da espiritualidade:
– 1ª Posição
. a de estacionamento em nível intermediário de desenvolvimento;
– 2ª Posição .
a de progresso, mas cadenciado por grande lentidão;
– 3ª Posição .
a de prosseguimento em marcha regular de desenvolvimento.
b). Essas são as três posições iniciais
possíveis. A impossível é a de início absoluto (de ponto zero), de carência de
qualquer progresso, como já foi destacado anteriormente. Afinal, em regra, são Espíritos
neutros neste mundo de expiação e provas, e já um pouco desenvolvidos
espiritualmente.1
2.9.9.
OS DOIS PRINCÍPIOS GERAIS DA DIDÁTICA PROCURADA
Desse
artifício geométrico, de solucionar o circulo vicioso pela transformação dele
em uma espiral, resultaram os dois princípios que regerão a didática que se
procura.
a).
1º PRINCÍPIO – DA GRADAÇÃO
–
Fundamenta-se no pressuposto geral de que os atos mais fáceis de se praticar
devem anteceder os mais difíceis, o que é de reconhecimento universal: na
instrução (aprendizagem), nos esportes, nos ofícios, em qualquer estudo, e em
tudo o mais.
– Deve-se por
isso, partir doa atos das perfeições mais fáceis de serem cometidos, e até triviais (A1); posteriormente,
praticar os comuns (A2),
menos fáceis até ficar-se em condições de cumprir os árduos e graves (A3):
–
Nesta gradação, os efeitos se fazem sentir na elevação progressiva e
proporcional dos expoentes da perfeição que está sendo aflorada, a da justiça,
por exemplo:


ATOS GRAVES : A3 + A3 + A3 ..................... J3 (Justiça3)

– E com os
indispensáveis suportes doutrinários:
–
(LE – Q.561): “Todos (os Espíritos) têm que percorrer os diferentes graus para se aperfeiçoarem”.
–
(LE – Q.737): “Em cada nova
existência, os Espíritos sobem um degrau
nas escala do aperfeiçoamento”.
–
(LE – Q.194a, p2): “A marcha dos
Espíritos é progressiva (....). Eles
elevam-se gradualmente na
hierarquia”.
–
ESCALAS GRADATIVAS. Para facilitar a
instauração desse princípio, foram montadas Escalas Gradativas das perfeições
em três graus sucessivos (1º, 2º e 3º graus). Vide adiante.
b). 2º PRINCÍPIO – DA SUCESSÃO
– Baseia-se na sabedoria popular
e correta: uma coisa de cada vez. Ou na regra da guerra: dividir para atacar, e
vencer por partes, uma de cada vez.
– Na didática
em estudo, não se deve tentar emergir muitas perfeições ao mesmo tempo. Mas sim
de uma em uma.
– A
sustentação doutrinária desse princípio se acha nas “Obras Póstumas” de Kardec:
–
(OP – A Morte Espiritual, p10): “No
ato da reencarnação, as faculdades do Espírito não ficam apenas entorpecidas
por uma espécie de sono momentâneo, conforme se dá quando do regresso à vida
espiritual; todas, sem exceção, passam
ao estado de latência. A vida corpórea tem por fim desenvolvê-las MEDIANTE EXERCÍCIO, mas nem todas se podem desenvolver
simultaneamente, porque o exercício de
uma poderia prejudicar o de outra, ao passo que por meio do desenvolvimento sucessivo, umas se
firmam nas outras.
Convém,
pois, que algumas fiquem em repouso,
enquanto outras aumentam....”.
–
É verdade que o Codificador está se referindo às faculdades do Espírito como a
musical, a pintura, a poesia, as ciências, etc. Mas é de fácil aceitação que
esse princípio da sucessão também é
válido para as perfeições espirituais latentes, a serem afloradas, da mesma
forma por exercícios práticos.
– Note-se
como o texto de Kardec acima transcrito, além de enfatizar a didática da sucessão ainda indica que o
desenvolvimento espiritual se processa “mediante
exercício”. Esse ensinamento credencia o qualificativo que foi dado, de Técnica para o Afloramento das Perfeições
Espirituais. Se é necessário o exercício, este exige uma técnica, que nada mais
é do que a sistematização e metodização desses exercícios, para a economia do
esforço e do tempo, além de fixar muito bem os processos que conduzem ao fim
colimado.
– Dispõe-se
ainda do seguinte suporte da Doutrina para o princípio da sucessão:
·
(LE –
Q.792a): “Não progridem simultaneamente as faculdades do Espírito. Tempo é
preciso para tudo”.
2.9.10.
RESSALVA SOBRE O CÍRCULO VICIOSO DE ARISTÓTELES
a). Pelo enorme e
sincero respeito e admiração que se tributam ao sábio grego, não há o intuito
de corrigi-lo. Seria inútil diante da enorme superioridade intelectual do
estagirita.
b). O círculo vicioso, ou argumentação
de ordem circular, que se atribui a Aristóteles, contempla mais a didática a
qual tanto preocupa, do que uma falha dele. Seria até ridículo alguém adjudicar
algum vício de lógica ao genial criador da Lógica Formal já no recuado IV séc.
a.C.
c). O que na realidade não se encontra nos
seus três tratados de Ética1
é o esclarecimento patente e formal contra a possibilidade de o leitor deles
ajuizar uma contradição lógica.
_________________________
1 “A Grande Moral”, “Moral a Eudemo” e “Moral a
Nicômaco”.
d). Aristóteles, no livro II, cap. IV
de “Moral a Nicômaco”, levanta de passagem o problema:
–
(“Moral a Nicômaco, Livro X, cap.X,
2ºp): “Os homens, segundo se diz, se fazem e são virtuosos, ou pela natureza, ou por hábito, ou mediante a
educação. Quanto à disposição natural, não depende de nós, evidentemente;
por uma espécie de influência divina se encontra em certos homens, que têm,
verdadeiramente, se se pode assim dizer, uma boa sorte1.”
–
“Por outra parte, a razão e a educação não exercem, influência sobre todos os
caracteres; é necessário que seja preparada
com muita antecedência a alma do educando, para que saiba bem ordenar seus
prazeres e seus ressentimentos, como se prepara a terra para receber a
semente”.
e). ANÁLISE. Segundo esse texto, os
atos de virtude não são exclusivamente provocados pelo hábito adquirido, mas
também por uma disposição natural congênita; ou, ainda, pela educação.
Essa
afirmação do estagirita desmonta o que foi chamado inicialmente de “circulo vicioso de Aristóteles”. E por
que? – Porque os atos A1 de determinada perfeição P1 que
podem abrir a série de atos que irão formar o hábito dessa perfeição,
independem dela (P1), porque podem ser cometidos por efeito da
própria natureza da pessoas ou pela sua educação. Todavia já se sabe que tal
acontece por efeito de alguma intuição de vida anterior.
f). Esse esclarecimento do preceptor de
Alexandre soluciona aquilo que inicialmente foi chamado de “círculo vicioso de
Aristóteles”, como se passa a demonstrar:
– 1º os atos
A1 de determinada perfeição P1 podem abrir a série de
atos que irão formar o hábito dessa perfeição independentemente dela, perfeição
P1, porque podem esses atos A1 ser cometidos por efeito
da própria natureza congênita2
da pessoa ou pela sua educação.
–
2º Se o sábio grego fosse reencarnacionista, poderia consolidar ainda mais esse
esclarecimento, indicando que essa “natureza”
inata decorre de um certo grau de hábito dessa perfeição já conquistado em
vida anterior. Por quê ? Porque o grau espiritual atingido no fim de uma
existência anterior é transmitido à existência posterior, com todas as
perfeições e imperfeições relativas a esse grau.
_________________________
1 Aristóteles não assumiu o principio da reencarnação,
ou não se pronunciou sobre ele. Mas sim, seus antecessores, Sócrates e Platão
que eram reencarnacionistas. E, por isso, precipitou-se e cometeu essa falha: a
“boa sorte”, como diz.

2.11. RESUMO DA FUNDAMENTAÇÃO
DA TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
2.11.1.
a).
Pergunta diretriz. Há causas gerais e atuais da sociedade, da família e da
escola modernas que clamam pelo desenvolvimento da espiritualidade?
b). Resposta. SIM ! Há
c). Argumento. Basta observar, Causas
educacionais: pais pouco educam, a escola não educa; causas sociais: graves
patologias sociais, desequilíbrio inteligência-moralidade.
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2.11.2.
a).
Pergunta diretriz. Há condições psicológicas angustiantes que movem à
procura de uma técnica saneadora ?
b). Resposta. SIM ! Há;
c). Argumento. 1. Consciência do potencial; 2. Sentimento de incompletude;
3. Desconforto psíquico; 4. Correlação incompletude-desconforto; 5. Limite de
suportabilidade; 6. Impulso de autotranscendência (auto-superação).
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2.11.3.
a).
Pergunta diretriz. A técnica que está sendo proposta estabelece alguns fins
específicos, ou objetivos, a serem atingidos ?
b). Resposta. SIM ! Estabelece.
c). Argumento. Fins: os 5 fins da
Educação Espírita. Objetivos da Técnica: 1. A retomada da marcha evolutiva do espírito
do educando; 2. Aceleração do movimento evolutivo; 3. A conquista paulatina da felicidade pessoal do educando.
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2.11.4.
a).
Pergunta diretriz. Seria possível criar-se uma Técnica Pedagógica de
Afloramento das Perfeições Potenciais ?
b). Resposta. SIM ! É possível.
c). Argumento. Psicológicos: a conjunção
entre os dois processos de
maturação, o físico e o espiritual:
– Doutrinários: A existência das sementes das perfeições; a
possibilidade de germiná-las; a futura arte que Kardec previu: a arte de
manejar, de formar o caráter, a arte que incute hábitos, que é a arte da
educação moral.
![]() |
2.11.5.
a). Pergunta diretriz. A
estrutura evolutiva do espírito pode reagir positivamente à indução pedagógica
do desenvolvimento espiritual ?
b). Resposta. SIM ! Pode.
c). Argumento. É inegável que o
espírito do homem evolui. Reforçando ou desenvolvendo perfeições, e
expungindo-se das imperfeições opostas e correspondentes. Se assim evolui
naturalmente, é evidente que pode evoluir também por processos pedagógicos
dirigidos.
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2.11.6.
a). Pergunta diretriz. Poderá
a Teoria dos Valores contribuir para a formulação da Técnica de Afloramento das
Perfeições?
b). Resposta. SIM ! Poderá
c). Argumento. A assimilação
valores/perfeições; a polaridade perfeições-imperfeições; a hierarquia das
perfeições (valores); a escolha das perfeições a serem afloradas.
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2.11.7.
a). Pergunta diretriz. Poderá
a Sociologia contribuir para a montagem dessa técnica pedagógica?
b). Resposta. SIM ! Poderá.
c). Argumento. Estudando a Sociologia
da Vida Cotidiana; valorizando a cotidianidade pelas oportunidades que oferece
(dia-a-dia) para a prática de atos das perfeições em sítios diversos: lar,
escola, templo, creche, rua, empresas, filas, bancos, etc.
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2.11.8.
a). Pergunta diretriz. Haveria
algum modo de induzir nos educandos o afloramento de suas perfeições
espirituais ?
b). Resposta. SIM ! Há.
c). Argumento. Formando pedagogicamente
os hábitos das perfeições almejadas, porque “a educação é o conjunto dos
hábitos adquiridos” (Kardec)
– Pela
repetição exaustiva dos atos da mesma natureza da perfeição visada, regulada
pela gradação e pela sucessão progressiva dessas perfeições.
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2.11.9.
a). Pergunta diretriz. Deve-se
induzir nos educandos o desenvolvimento de sua espiritualidade?
b). Resposta. SIM ! Devemos.
c). Argumento. É de reconhecimento
universal a correlação das perfeições espirituais com a felicidade. Ora, a
técnica se propõe a desenvolver essas perfeições. Logo, conduz à felicidade dos
educandos. Por isso, deve-se induzir esse desenvolvimento. A Técnica resguarda
e estabelece direitos e deveres dos educandos e dos educadores.
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2.11.10.
a). Pergunta diretriz. Haveria
meios específicos para implementar tecnicamente o modo didático de formação dos
hábitos das perfeições almejadas?
b). Resposta. SIM ! E são as seguintes.
2.12. DIÁLOGO
ENTRE AS CIÊNCIAS QUE FUNDAMENTARAM
A TÉCNICA DE AFLORAMENTO PEDAGÓGICO INDUZIDO
DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS DO ESPÍRITO
“DRAMATIS PERSONAE”:
1.
ETIOLOGIA (causas sociais) 6.
AXIOLOGIA (os valores)
2. PSICOLOGIA (causas
psíquicas) 7. SOCIOLOGIA (o
lugar, o tempo
3. TELEOLOGIA (causas
finais) 8. DIDÁTICA (o
modo)
4. ANTROPOLOGIA (o objeto espírito) 1 9. ÉTICA (os deveres)
5. PEDAGOGIA (a
possibilidade) 10. TÉCNICA (a prática, os meios)
ETIOL. - Tenho estado
muito preocupada com o que tenho constatado na análise que venho fazendo das
condições gerais de vida das sociedades e grupos humanos: nos lares, nos meios
sociais, nas escolas, nos templos, nas instituições. É a criminalidade em
expansão incontida, o tráfico de drogas acometendo todas as faixas de idade,
principalmente adolescentes, a exacerbação do sexo, a gravidez prematura, a
fragilidade da instituição familial, etc. Tudo isso gerando infelicidade,
violência urbana, desamor generalizado, conflitos e desajustes de toda ordem.
AXIOL. – Acrescenta-se a tudo isso a inversão de valores...
ETIOL. – Exato! Procurei então, identificar a causa primeira – já
que sou a ciência das causas – a mais profunda desse doloroso quadro humano
social. E cheguei a uma conclusão: a raiz de tudo isso é o baixíssimo nível de
desenvolvimento espiritual em que se encontram as sociedades e comunidades
humanas. Estarei certa?
– O que estará pensando
neste particular a minha colega Psicologia? Você como ciência da intimidade do
homem, estará talvez em condições de identificar outras causas, as de ordem
imaterial, psíquica, quem sabe...
PSIC. – Ai de mim! O que posso eu dizer se você como a ciência das
causas sociais já concluiu que a falta de espiritualidade, ou melhor, a tirania
da materialidade, é a grande vilã desse quadro devastador da paz, da harmonia e
da felicidade geral? E assim você invadiu o meu próprio domínio: a
interioridade do homem.
ETIOL. – É verdade! Você. Tem razão. A natureza imaterial do homem
está sob a sua égide, embora não privativa. Mas assim procedi para justamente
provocar o seu testemunho, já que estava tão arredia e indiferente ao meu
discurso.
PSIC. – O que posso adiantar é que o homem tem, de certo modo, uma
relativa intuição desse atraso espiritual que você muito bem descreveu.
Sente-se ele, quando um pouco mais evoluído, incompleto; falta-lhe alguma coisa
de ordem imaterial. Um crescente desconforto moral que atingiu já em muito
homens o seu limiar de suportabilidade. E, por isso, anseia sair dessa situação
angustiosa. Veja por aí minha querida irmã, que pouco pude contribuir.
__________________________
1 Limitada à Antropologia Anímica voltada para a
dinâmica evolutiva do Espírito.
2 Limitada à Sociologia do Cotidiano (a cotidianidade).
ETIOL. – Muito pelo contrário, você acaba de descerrar para nós o
esquema psicológico que poderá nos conduzir à solução dessa desafiadora
conjuntura, que culmina no impulso insopitável do homem para vencer sua
incompletude e acérrimo desconforto moral; para a retomada do progresso do
seu espírito.
PSIC.
– Mas vejam bem! Eu posso dar mais uma contribuição. Quando se trata de
espírito e do seu progresso e aperfeiçoamento, entramos no domínio da Educação. Área essa com a qual muito tenho cooperado.
Mas mesmo assim, não me cabe concluir se esse desenvolvimento seja possível. Apesar de poder ajudar
nesse estudo, inclusive como já o fiz, desenhando as condições psíquicas atuais
do homem, que relacionei como causas do quadro social dramático descrito pela
nossa irmã Etiologia. Lanço então a pergunta bem clara: será possível pela
educação das gerações futuras, isto é, das crianças, adolescentes e jovens de hoje,
inverter esse quadro nesse oceano de materialidade? E acredito que a educação é
a única alternativa para solucionar esses problemas da humanidade, desde que
seja possível a formulação de didáticas e técnicas especialmente destinadas a
esse desenvolvimento.
ETIOL. – Se não cabe a você e nem a mim, considerando-se que somos
ambas, neste tema, apenas ciências das causas, porém não das soluções, a quem
poderíamos apelar para verificar se é
possível pela educação, como foi colocado, promover o desenvolvimento
pedagógico da espiritualidade, no caso, dos educandos?
X
X X
Neste momento,
apresenta-se um novo personagem: a Pedagogia. E mesmo sem ser perguntada foi
logo interferindo:
PED. – Eu estava no meu canto ouvindo o diálogo. Mas nada tinha a
dizer, até que percebi que foi levantada a questão da possibilidade pedagógica de desenvolvimento da espiritualidade,
para vencer as tormentosas patologias sociais e a angústia íntima dos homens.
Porém, ao se referirem à possibilidade
de uma solução pela educação vocês mexeram comigo, além de outras capacidades e
funções, também sou a ciência das
possibilidades em Educação.
PSIC. – Se assim é, se está dotada dessa capacidade, diga-nos se é
possível desenvolver pedagogicamente nas escolas e nos lares, a espiritualidade
dos educandos (alunos e filhos).
PED. – Sim, eu posso, pois disponho do concurso de minhas
prestativas auxiliares. Você mesma, Psicologia, e mais a Antropologia Anímica,
a Biologia, a Sociologia e a Administração Escolar, quando elas se voltam para
a Educação.
ETIOL. – Então, como é que ficamos, minha cara Pedagogia? A deixa
está consigo.
PED. – Não se preocupe. Não vou tergiversar. E, sem rodeios, vou
logo encarregando a novel Antropologia Evolutiva Anímica que dê o seu testemunho
como ciência da origem, natureza, estrutura, evolução e destino da alma humana.
ANTR. – Não me dou por rogada. Depois de muitas observações e reflexões,
de informações do Plano Espiritual e estudo da Codificação Espírita, concluí
que existem no âmago de todas as almas sementes de todas as perfeições humanas
de natureza espiritual, como justiça, humildade, caridade, honestidade,
veracidade, altruísmo, fraternidade, etc. Esses germes foram depositados no
fundo das almas pela extrema misericórdia do Criador, no momento mesmo em que
as criou.
PSIC. – Quanto a isso, o que nos dizem a Antropologia Física e a
Cultural? Participam desse entendimento?
ANTR. – Não. Essas minhas irmãs têm ignorado esses meus estudos, e
as minhas conclusões não dispõem do seu credenciamento, infelizmente. E,
desacreditando, não progridem tanto como seria de desejar; e muitos fatos na
evolução física e nos costumes dos povos têm escapado à sua ainda muito
limitada compreensão.
Todavia, ainda posso
adiantar para vocês que o homem, desde a sua infância, tem tido o poder de
fazer germinar essas sementes – muito progressivamente é claro e de
transformá-las em perfeições manifestas em atos de efetivo comportamento moral
e espiritual.
ETIOL. – Desculpe-me a mui sábia e novel Antropologia Anímica
Evolutiva. Mas gostaria de saber, e, naturalmente todas nós, como é que você
chegou a essas conclusões tão revolucionárias, que nem mesmo a Psicologia
Moderna descobriu?
ANTR. – Vejam bem! Ninguém dúvida de que já conviveu, ou teve
contacto, com pessoas, comuns ou não, que ostentam, em maior ou menor grau,
alguma das perfeições que já listamos. Pergunta-se: onde está a fonte desses
atributos? Duas hipóteses: fora dessas pessoas ou dentro delas mesmas. Para
virem do exterior, essas perfeições teriam emanado de um centro irradiador que
as contivesse e as imprimisse nessas pessoas. Dada a natureza espiritual dessas
perfeições, só poderiam provir de Deus, ou de seres humanos delas já dotados.
Se proviessem de Deus, como um dom (gratuito), anularia todo o mérito desses
portadores de perfeições (LE-Q.119 e 133). Se viessem de outros homens dotados
dessas perfeições, teríamos de admitir que predicados de ordem espiritual
pudessem transferir-se de uma pessoa para outra, o que seria um absurdo, além
também de esvaziar o merecimento. Nem mesmo podem vir dos pais: os caracteres
morais não se comunicam geneticamente aos filhos. Todavia, o exemplo pessoal e
a educação recebidos limitam-se a induzir
nos filhos a disposição moral de promoverem, eles mesmos, o desenvolvimento
dessas perfeições que admiram nos outros, o que é educacionalmente válido.
Logo, essas perfeições
só podem ter uma origem: a alma mesma dessas pessoas que a manifestam.
PED. – Querida irmã e serva
minha! O seu raciocínio é irrecusável. Agora, sim, estou em condições de
concluir que, realmente existe a
possibilidade de desenvolvimento das perfeições potenciais do espírito dos
nossos educandos. Mesmo porque, é de consenso universal que toda potência está
ordenada a se desenvolver em ato, a não ser que interfiram fatores acidentais.
PSIC. – Querida mestra Pedagogia! Não
acha você que faltou uma complementação, que lhe cabe juntar à exposição da
Antropologia? Refiro-me a essa passagem da potência ao ato que citou.
PED. – Mas eu não havia ainda terminado a minha argumentação.
Realmente, e não me furto a esse encargo que me cabe – encontrar o processo
pedagógico de passagem da potência ao ato, ou seja, da germinação e
desenvolvimento pedagógico das sementes das perfeições almejadas.
Para isso, eu disponho
de mais uma auxiliar, a Didática, à qual peço que me apresente uma proposta
nesse sentido.
DID. – Creio que antes de meu pronunciamento, por encomenda de
minha soberana, a pedagogia, tenho que obter a permissão de nossa irmã
superiora, a Ética, como última razão daquilo, que devemos ou não fazer. Isso para que eu, como Didática, passe depois a tratar desse processo,
ou modo, de promover a emersão do fundo das almas das perfeições que lá jazem
em estado potencial e relativamente inercial.
Então, indago da Ética: devemos, ou não, proceder ao
desenvolvimento induzido da espiritualidade dos nossos educandos?
ÉTIC. – Também não posso resolver essa dúvida da Didática antes de
ouvir minha inseparável companheira, a Teleologia. A justificação moral de qualquer procedimento é tributária
indiscutível dos fins que tenha em
vista, como também do modo e dos meios que empregue para atingir esses fins. Portanto, devo passar a deixa
para a ciência dos fins, a Teleologia.
TELE.
– Levando em conta tudo o que já foi exposto, fui informada de que a Técnica
Pedagógica em discussão tem por finalidade individual imediata a retomada da
marcha evolutiva do espírito dos educandos que estejam estacionários; ou a de
acelerar o ritmo de avanço dos que progridem com muita lentidão. Também vim a
saber pela Etiologia e Psicologia que tais conjunturas, levadas ao âmbito maior
das sociedades, vem provocando agudos desajustes sociais e extensos e profundos
sofrimentos coletivos. Ora, um dos mais efetivos princípios éticos estabelecidos é o de que o prêmio, ou
quaisquer recompensas deverão ser atribuídos ao mérito do agente.
Ora, o mérito é a
conseqüência do esforço e da boa vontade do agente na prática do bem
para seus semelhantes. Se o bem que se pretende é a conquista das perfeições
individuais pelos educandos; se essas perfeições estão, por lei divina,
ordenadas à felicidade do próprio agente, felicidade essa que é o próprio gozo,
o deleite, a fruição dessas mesmas perfeições, este desenvolvimento da
espiritualidade, pelo afloramento pedagógico induzido, estará revestido do
indispensável influxo moral.
Portanto, pode constitui
dever dos educadores aplicá-lo em seus educandos.
DID. – Apreciei bastante a linha de raciocínio da nossa irmã
superiora, a Ética, combinada com a informação da Teleologia. Os fins dessa
técnica foram assim agraciados com o deferimento superior. O cenário moral foi
desvendado: a eticidade dos fins almejados. Estou satisfeita.
PED. – Alto lá! O cenário moral foi desvendado apenas parcialmente.
Não compreendo como a minha subordinada, a Didática, se deu por satisfeita. E
perdoe-me a Ética, mas seu discurso não está completo. Por isso lembro a vocês
outra questão moral: a dos meios. Não
basta que os fins sejam justos. Os meios empregados pela Didática também devem
sê-lo; isto é, justos, éticos. Ao contrário, recairíamos nos braços de Maquiavel,
para o qual, os fins justificariam os meios, podendo esses últimos ser imorais,
desde que os fins não sejam. Devo assim, como ciência maior da Educação,
devolver a palavra à Ética para se pronunciar sobre os meio e o modo, se são
morais ou não.
ÉTIC. – Peço que me escuse a pedagogia. Como poderei avaliar aquilo
que não conheço, os meios e modo dos quais se utilizará a Didática?
DID. – Então vamos lá! Nesse particular do modo e meios para
atingir os fins, eu me atenho apenas
ao modo. Estabeleci assim que esse
modo de induzir o afloramento das perfeições potenciais seja o da formação dos hábitos delas, pela
repetição suficiente pelos educandos de atos da mesma natureza da perfeição
almejada. Além disso, essa formação deve ser regulada por dois princípios: o da
gradação (desses atos, dos mais
fáceis e simples para os mais graves) e o da sucessão (focalização de uma a uma das perfeições sucessivamente,
até um total de oito).
PED. – Eis aí um novo campo para Ética se pronunciar. Essa didática
(o modo) é moralmente defensável?
ÉTIC. – Pelo que eu entendi da explanação da Didática, todo o modo
gira em torno da formação dos hábitos do
bem, ou seja, das perfeições espirituais. Ora, essas três palavras bem, perfeições e espirituais, conjugadas, já compõem o esquema de suporte ético para
o modo de consecução dos fins a que
a Técnica em julgamento se propõe.
Quanto aos processos de gradação e de sucessão, fazem eles parte do modo geral de formação dos hábitos, e
este comunica naturalmente a esses dois processos a sua eticidade própria.
PED. – Tudo bem” Mas falta a análise moral dos meios. Por isso,
pergunto à minha executiva, a Didática: quais são esses meios adotados na
Técnica de Afloramento das Perfeições do Espírito?
DID. – Ainda bem que eu disponho para isso de uma serva muito leal,
e até, que comigo se confunde de certo modo: é a Técnica Didática. Ou sejam, os meios
utilizados, e que corporificam o modo
do qual já falei. Assim sendo, peço à essa Técnica
que se pronuncie.
TÉC. – Para estabelecer os meus próprios fundamentos, eu me vali
das contribuições de todas vocês, desde a Etiologia até a Didática, minha
chefe. Defini minuciosamente o comportamento do educador como indutor, a sua preparação, carga
horária semanal, os ciclos de desenvolvimento, as fases da gradação, o circuito
de reciclagem, o elenco das oito perfeições e sua distribuição pelas séries da
Educação Básica.
Montei também o Ciclo de Desenvolvimento Espiritual
para períodos sucessivos de sete dias – os
setenários – abrangendo três procedimentos, iniciado com a Sessão de Trabalho dos educandos na
escola seguido do Período de Aplicação
Prática de sete dias de vida social cotidiana em diversas instituições e
locais fora da escola, encerrando-se o ciclo com a Reunião de Conscientização (na escola( das vivências do período de
sete dias de Aplicação Prática.
Esse período ainda
comporta três instâncias sucessivas para serem vividas pelo educando diante de
cada oportunidade eventual de cometimento de atos da perfeição que estiver
sendo focalizada. Essas instancias são: atenção,
oportunidade (de prática do ato), e como ponto culminante, o próprio ato.
A
avaliação do possível progresso dos educandos não é individual e sim coletiva,
para não prejudicar o seu livre-arbítrio, fator essencial dos atos morais.
PED. – Acredito que a nossa irmã, a Ética, por essa exposição,
esteja em condição de julgar moralmente os meios adotados pela Técnica.
ÉTC. – Realmente, depois de informada, já posso avaliar os meios, uma vez que os fins Teleologia) e o modo (Didática) já foram moralmente
credenciados. Quanto aos meios (Técnica),
nada ouvi dela que pudesse comprometer a eticidade deles em sua própria
estrutura e montagem.
Apenas, para completar
este julgamento, gostaria de receber mais uma informação, agora da Sociologia: quando e onde, na vida social, os atos de perfeição podem acontecer?
SOC. – Vou me restringir ao
social do dia-a-dia, da vida cotidiana. Se é a repetição numerosa dos atos da
mesma natureza que forma o respectivo hábito,
não podemos descurar as oportunidades diárias e simples que se apresentam todos
os dias. Sem o aproveitamento dessas oportunidades, os encontros pessoais do
educando com o próximo de nada serviram para a Técnica.
Mas vamos a resposta: O quando são
todas as ocasiões de praticar os atos das perfeições, sempre em benefício do
próximo, perdoando-os, ou reparando algum mal praticado contra eles. O onde é em qualquer lugar de contacto
social com outras pessoas.
Nisso se resume a minha modesta contribuição. E submeto este relatório
à apreciação de nossa irmã, a Ética.
ÉTICA. – Não encontro nenhum
impedimento moral no que nos relatou a Sociologia
da Vida Cotidiana. Tudo, fins, modo,
meios, estão sob a égide do bem, da felicidade dos educandos.
Não obstante, gostaria que a minha irmã quase gêmea, a Axiologia, também se pronunciasse, já
que militamos na mesma área, a da Moral.
AXIO. – Quando eu estabeleci
os fundamentos axiológicos da Técnica do Afloramento das Perfeições, elegi oito
valores para serem visados por ela. Valores esses para serem desenvolvidos
pelos educandos, devidamente assistidos pelos educadores. E todos eles
penetrados de profunda eticidade.
Também indiquei à Pedagogia e à Didática que visassem sempre, por modos
e meios hábeis, induzir nos educandos três preferências:
1º. Dos valores (perfeições)
em relação aos contravalores (imperfeições),
nas oportunidades de opção entre uns e outros (preferência fundamental e
irrecusável).
2º. Dentro da escala hierárquica de valores, preferirem, nessas mesmas
oportunidades, os valores espirituais (religiosos,
éticos, estéticos) aos intelectuais (lógicos)
e aos sensíveis (vitais e úteis).
3º. No âmbito dos valores da mesma natureza, por exemplo os éticos,
eleger os de expoente moral mais elevado pela própria força de validez deles,
pela não-indiferença mais acentuada e pela intensidade mais sensível.
Levando em conta todas essas prescrições, não temos como deixar de
consagrar axiologicamente a Técnica Pedagógica em proposição.
PED. – Resolvidas, resultam
assim todas as pendências que envolveram a Técnica que está sendo proposta, e
com beneplácito de todas nós.
Assim sendo, proclamo, como ciência coordenadora deste diálogo, que
O
AUTODESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELA
PROMOÇÃO PEDAGÓGICA INDUZIDA
DO
AFLORAMENTO DAS PERFEIÇÕES POTENCIAIS
DO
ESPÍRITO DOS EDUCANDOS
assume a amplitude transcendente de verdadeiro processo de formação
espiritual, e seus educadores agraciados com a carta de licenciatura pedagógica
plena, oficialmente averbada nos registros do magistério supremo e divino.
2. SEGUNDA PARTE
FUNDAMENTOS
DA PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE
CONTEÚDO:
2.1. FUNDAMENTOS ETIOLÓGICOS (causas
gerais)
2.2. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS (causas
psíquicas)
2.3. FUNDAMENTOS TELEOLÓGICOS (causas
finais)
2.4. FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS (do
espírito humano)
–
Quadro nº 6: imagem imaginária de embrião de espírito (estado inicial)
–
Quadro nº 7: antropologia anímico-evolutivo (estado intermediário do
espírito em evolução.
–
Quadro nº 8: estado final do espírito
2.5.
FUNDAMENTOS AXIOLÓGICOS (os valores)
–
Quadro nº 9: comparação entre um fenômeno físico e um fenômeno axiológico.
2.6.
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS (a cotidianidade)
– Quadro nº 10: educação e vida (R.
Hubert)
2.7.
FUNDAMENTOS ÉTICOS (os deveres)
2.8.
FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS (a possibilidade)
2.9.
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS (o modo)
2.10. FUNDAMENTOS TÉCNICOS (os meios)
X
X X
2.11. RESUMO DE TODA A FUNDAMENTAÇÃO
2.12. DIÁLOGO ENTRE AS CIÊNCIAS DA
FUNDAMENTAÇÃO
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