4.3. TERCEIRA DINÂMICA ISTÓRICA
DE DESENVOLVIMENTO DA ESPIRITUALIDADE
PELOS SOFRIMENTOS NÃO-EXPIATÓRIOS
(FORTUITOS – CASUAIS – POR PROVA – VOLUNTÁRIOS)
4.3.1. CONCEITUAÇÃO
a) Trata-se
de uma classe do sofrimento decorrente de causas fortuitas, casuais, acidentais,
ou sofridas por provas para o futuro dos Espíritos (que as pedem, as aceitam,
ou lhes são impostas para o seu adiantamento). A maioria dessas causas
independem da vontade dos espíritos objetos delas. Além disso, os sofrimentos
dessa dinâmica não são de natureza expiatória, como o são as conseqüências
naturais (estudadas na dinâmica histórica anterior), e os graves padecimentos
cármicos, que passam para uma existência futura dos espíritos onerados por
eles.
b) Este
estudo tem por fim verificar se este grupo de tormentos também concorre no
processo de espiritualização dos homens, e com que eficácia.
4.3.2. HISTÓRICO
a) Mesmo
não sendo expiatórios, esses sofrimentos casuais, acidentais, por provas ou
como voluntariamente aceitos, ou mesmo escolhidos, devem ter freqüentado os
fatos e acontecimentos históricos, e participado deles. Quer na vida íntima,
doméstica e social, quer na vida pública.
b) Quando
surgiu a Doutrina Espíritos superiores, que presidiram à 3ª Revelação, não se
ativeram apenas àquele século, ou àquela época. Ao contrário, abrangeram, na
sua revelação, todos os séculos, todos os tempos. E traçaram um roteiro dessa
evolução da Humanidade, desde o homem primitivo. Portanto, pode-se afirmar a
historicidade desta dinâmica do desenvolvimento da espiritualidade pelos
sofrimentos não expiatórios. Embora com precária consciência do vínculo do
efeito espiritualizante dessas causas anteriores, acidentais, ou casuais.
4.3.3. FUNDAMENTOS (doutrinários
espíritos)
a) Causas
puramente acidentais (casuais):
— (LE
- Q.257, p.9): “Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de
nós...”.
— (LE
– Q.933): “Os sofrimentos materiais, algumas vezes, independem da vontade”.
— (EE
– V, 9): “Não há ser no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo
denote a existência de uma determinada falta...”.
b) 2º
Grupo – Flagelos destruidores:
— (LE
– Q.740): “Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua
inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus,
e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de
desinteresse e de amar ao próximo”.
— (LE
– Q.737): “P – Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos
destruidores? R – Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a
destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos?
c) 3º
Grupo – Perda de entes queridos:
— (LE
– Q.934): “Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre, e representa
uma prova de expiação”.
d) 4º
Grupo – Provas para o futuro:
— LE – Q.399): “(...) as provas
por que passa o Espírito o são, tanto pelo que respeita ao passado, quanto pelo
que toca ao futuro”.
— (LE – Intr. XV, p.4): “As
amarguras da vida são provas úteis ao seu adiantamento, se as sofrer sem
murmurar”.
e) 5º
Grupo – Provas impostas (por Deus):
— (LE
– Q.118): “Se não fez o mal (uma criança que morreu em tenra idade) igualmente
não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer”
— (LE
– Q.984): “P – As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?
R – Não; já dissemos: são provas impostas por Deus (...)”.
— (LE
– Q.115): “Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos
adquirem aquele conhecimento (da verdade)”.
f)
6º Grupo – Provar voluntários:
— (LE
- Q.258): “Ele próprio, o Espírito (antes de começar nova existência) escolhe o
gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio”.
— (LE
- Q.258a): “Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe
deixa a inteira responsabilidade de seus atos e dar conseqüências que esse lhe
acham, assim, o caminho do bem como o do mal (...)”.
— (LE
– Q.264): “Ele (o Espírito) escolhe as provas, de acordo com a natureza de suas
faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa”.
— LE
– Q.269): “Pode o Espírito escolher uma prova que esteja acima de suas forças e
sucumbir”.
(Vide ainda Q.267, 270, 399, 866,
872).
4.3.4. EFICÁCIA
(espiritualizante)
a) Comparando
os grupos de causas de sofrimentos expiatórios, reconhece-se que todas elas
atingem social, física, econômica, psíquica, ou moralmente certas e determinadas
pessoas em seus interesses, saúde, bem-estar, comodidade, etc., com
padecimentos sem culpa anterior.
— É
óbvio, portanto, que, em princípio, esses sofrimentos produzam efeitos
espiritualizantes nas almas atingidas. Porque todo infortúnio, em regra, é fator
de proporcional crescimento espiritual no devido tempo.
— É
reconhecível a possibilidade de incidência, em cada caso de um “plus” de
espiritualização. Todavia, o padecente conscientiza-se de que não participou
das causas, o que o isenta de responsabilidade, reduzindo o tônus da eficácia,
porque o padecente pode julgar-se injustiçado nessa desdita sem culpa.
Compare-se com a força espiritualizante dissuasória de um tormento causado pelo
próprio paciente dele... Dissuasão essa que não cabe nos sofrimentos sem culpa
conhecida.
— A
fonte dessa eficácia, assim enfraquecida, reside no imperativo ético
doutrinário de a pessoa alvo desses infortúnios (ainda que sem culpa),
absorve-los com paciência e resignação. Mesmo porque estas perfeições
espirituais1 já são espiritualizantes desses sofrimentos, conforme
reconhece a própria Doutrina Espírita:
“Por estas palavras:
Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a
compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a
bendizer do sofrimento como prelúdio da cura”. (EE – V, 12).
— Por
isso, resignação e paciência garantem a eficácia espiritualizante do
sofrimento. São essas perfeições, derivadas da perfeição fundamental da
humildade que imprimem espiritualidade ao sofrimento; e o tornam positivo pelo
avanço do espírito proporcional à intensidade do sofrimento, da resignação e da
paciência.
— Mas
desperta uma indagação: Por que motivo, ou razão, o sofrimento suportado, como
acima indicado, tende a espiritualizar o homem? R – Não seria porque faz o
homem voltar-se para dentro de si mesmo, a doluar-se sobre si mesmo, com calma
e serenidade, podendo assim chegar até a reconhecer que não é somente matéria,
mais que também é, e principalmente, interioridade, uma alma, um princípio substancial
totalmente distinto do seu corpo físico? Se se sente resignado e paciente,
alcança que essas duas qualidades, tão sutis e imponderáveis, não podem provir
(ou integrar) de sua matéria densa. E esse último efeito, só pode ser chamado
de espiritualização humana – pelo sofrimento paciente e resignado.
— Diz
a sabedoria popular que não cai um único fio de cabelo da cabeça de alguém que
disso não tome Deus conhecimento. Isso que o senhor “registra” pode significar
um pequenino crédito de evolução espiritual pela dor daquela pessoa, ainda que
ínfima, mas suportada. Talvez essa versão popular corresponda ao disposto em
(MAT – 10:30); “Até os próprios cabelos de vossa cabeça estão todos contados.
Não temas, pois” — O que se pode entender por: o que sofrerdes estará
“contabilizado” no vosso haver espiritual.
— Portanto,
a eficácia espiritualizante do sofrimento se efetiva através da resignação e da
paciência. Porque, sem esses acompanhantes, a eficácia se anula. Anula-se
também quando o padecente se esquiva da culpa, procurando sacudir de si a
responsabilidade, transferindo-a à sociedade, ao governo,k pois, natureza, e
até a Deus.
4.3.5. PEDAGOGIA DA ESPIRITUALIDADE (repercussões nesta
pedagogia desta dinâmica histórica de espiritualização pelos sofrimentos
não-expiatórios).
a) Já
que esta dinâmica também atua sobre o homem com certa eficácia, embora
moderada, ela não deixa também de agir sobre os educandos da Pedagogia da
Espiritualidade. E o faz cooperando no desenvolvimento das perfeições derivadas
da humildade: resignação e paciência.
b) Quando
esta dinâmica desenvolve essas perfeições estabelece uma sinergia com a
Pedagogia da Espiritualidade, no combate que faz ao vício da inconformidade
(oposto à resignação e ao vício da impaciência (oposto à paciência).
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