A organização das classes de aula por equipes de cinco alunos, preconizada pela Filosofia Espírita da Educação, já representa intenso fomento da interação sócioescolar (vide Cooperação ou Individualismo – Filosofia do Método Pedagógico)”.119
6.2.6 – Aproveitamento do Fator Meio Social.
“Na educação é preciso considerar que o fator meio social exerce mais intensamente sua ação sobre o educando nos estágios intermediários da vida, enfraquecendo nas primeiras e últimas fases da existência. O pedagogo, o didata e o educador devem, por isso mesmo, utilizar este período intermediário para amortecerem nos seus educandos os ímpetos antissociais e fomentar os naturais predicados de socialidade humanos”.120
7 - O QUE SÃO A CRIANÇA E O ADOLESCENTE?
“[...] A infância nem sempre foi compreendida do mesmo modo. O entendimento que se tem tido dela tem variado no tempo e no suceder das escolas filosóficas, como também de acordo com a antropologia cultural de cada povo.
Dentro deste quadro de tantas variáveis, o que significam a infância e a adolescência para a Doutrina dos Espíritos? A criança realmente é inocente? Para que a sua fragilidade? O conceito de infância é unívoco, equívoco ou análogo, para o pensador espírita? O que vem a ser infância do Espírito na extensão de sua existência total?
Pretendemos, antes, exumar a soterrada controvérsia do ser ou não ser a criança um adulto em miniatura. Pô-la novamente em causa, em face das novas luzes que a Doutrina dos Espíritos poderá lançar sobre ela, num enfoque que as filosofias da educação anteriores jamais poderiam imaginar”. [...]121
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119 Idem, p. 250 -251.
120 Idem, p. 251.
121 Idem, p. 255.
7.1 - SOLUÇÃO DA FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO:
7.1.1 – Os Dois Sentidos da Condição de Adulto.
“A questão de ser ou não ser a criança um adulto em miniatura pode ser desenvolvida de modo muito surpreendente e original pela Filosofia Espírita da Educação, que nela introduz algumas variáveis.
O conceito de adulto, para o filósofo espírita, tem dois sentidos: Espírito adulto e corpo físico adulto. Conforme se verifica em (LE – Q. 191ª -2): „a vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que, para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que sua vida, que teve um começo, não terá um fim; que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita para o completo desenvolvimento [...]’. Em (LE – Q. 607a) descortinamos todo o panorama dos estágios do Espírito: infância – adolescência – juventude e madureza. As questões (LE – Q. 127 e 790) citam as fases de infância e madureza; e infância e adolescência em (CI – VIII, 11). As passagens (LE – Q. 115ª, 189, 190 e 564) insistem em destacar a infância do Espírito logo após a sua criação. E, antes dessa infância, o Espírito estaria em estado de embrião, conforme (LE – Q. 191ª – 2) e (CI – 1ª, IX, 20).
Não se trata de linguagem figurada, como se poderia pensar. Basta reler com atenção (LE – Q. 191ª -2). Entre outras razões, porque em ambas as infâncias – a biológica e a espiritual (LE – Q.189 e 564) - predominam os instintos; e, ainda, pela ignorância e imperfeições (LE – Q. 115ª). Há, porém, uma diferença fundamental entre os dois perfis evolutivos. O Espírito nunca é submetido à velhice, ao depauperamento, com é o corpo físico. A madureza é o estágio final e permanente do Espírito imortal, conservando toda a perfeição relativa penosamente conquistada.
Em princípio, pode um Espírito adulto abrigar-se num envoltório físico infantil (LE – Q. 379), desde que ainda se ache submetido à corrente das encarnações. Em contrapartida, também é possível que a veste somática envelhecida contenha um Espírito infantil. Talvez não no nosso planeta, cujos habitantes são Espíritos que já alcançaram um certo grau evolutivo além do da infância espiritual (vide LE – Q. 190).
Se, por um lado, a educação moderna, mais nitidamente a partir de Rousseau, não considera a criança um adulto em miniatura, por outro lado, a educação espírita terá que admitir que determinadas crianças sejam adultos. “Isto é, Espíritos evoluídos inscritos temporariamente em organismo infantil”.122
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122 Idem, p. 261 – 263.
7.1.2 – Relação Ser – Criança / Ser – Adulto (Relação Vitoespiritual)123.
“A Filosofia Espirita da Educação introduz um sério complicador no problema da relação ser - criança / ser - adulto, transbordando – ou pelo menos amplificando – o campo da Psicologia Genética ou Evolutiva, dando-lhe uma terceira dimensão. Estamos diante de um fato fulgurante, até agora despercebido ou desprezado pela Psicologia Educacional, mas que ela terá de enfrentar mais cedo ou mais tarde. Somente incorporando ao seu domínio essa relação vitoespiritual, com seus fascinantes parâmetros, poderá a educação atingir patamares superiores de compreensão da criança e, por via de consequência, sair do imobilismo em que se cristalizou”124.
“Terá, para isso, que estudar as consequências pedagógicas dessa relação, estabelecendo uma teoria e, no campo prático, no campo prático, determinar,
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123 “O ser, em ambos os membros da relação, deve ser considerado como verbo e não substantivo”. (Nota do autor).
124 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 263.
125 Idem, p. 262.
por processos técnicos, para cada educando, a composição etária físicoespiritual com o seu efeito multiplicador.
Justamente nesse encargo, a Filosofia de Educação e Pedagogia Espíritas, pelas suas credenciais de legatárias da Terceira Revelação nessa área, dela recebem a outorga e a investidura para iluminarem a senda a ser percorrida pela Psicologia Educacional Espírita. Rasgam, assim, juntas e promissoramente, horizontes muito mais longínquos para a educação”.126
7.1.3 – Manifestação Física da Idade Espiritual.
“O Espírito, adulto, jovem ou criança, em regra, só se apresenta na vida física, no seu verdadeiro grau ou idade espiritual, a partir daquele ponto da existência que denominados idade axial. É o que nos indicam as passagens da Codificação (LE – Q. 385 – 1, 2 e 4), (EE – VIII, 4 – 2 e 4).
Nesse ponto crítico, em torno de 15 a 20 anos de idade física, a idade espiritual do encarnado se manifesta em quase toda a sua autenticidade. Mostra a sua alma como é verdadeiramente: criança, adolescente, jovem ou adulto espirituais. Assim acontece porque é nessa linha eixo que aflora do perispírito a massa crítica arcaica até então reprimida das virtualidades relativas, das insuficiências e das imperfeições.
Ao mesmo tempo, nessa transição ou estágio, é retomado o processo de redução, muito lento, aliás, das virtualidades absolutas. Estas se atualizam pela sua transformação em relativas para, como tais reaparecerem na encarnação seguinte, já incorporadas definitivamente, porque atualizadas, ao patrimônio anímico consolidado.
Em cada experiência ou vida física, seu houver um mínimo de progresso espiritual, seguramente se processou também um mínimo de conversão de virtualidades absolutas em relativas. É uma pequena atualização do potencial total do Espírito. Ambas são transformações ou reduções. Duas faces do mesmo passo dado adiante no prosseguimento da marcha ascensional do Espírito. É o próprio processus educativo em marcha”.127
7.1.4 – Funcionalidade Espiritual da Infância.
1ª) Infância como Transição.
“A infância para o espírita é transição; o vau de passagem de uma para outra existência física. As outras correntes religiosas e filosóficas consideram a infância como um estado inicial absoluto do ser humano e, por isso, jamais poderão entendê-la. Ficam perplexos diante da diversidade de formas, de interesses, graus de inteligência, de bondade ou maldade, de qualidades e pendores com que se apresentam as crianças. Em (LE – Q. 199ª – 3), o Codificador pergunta: „Donde, porém, provirão instintos tão diversos em
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126 Idem, p. 263 -264.
127 Idem, p. 264.
crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências?‟ Mesmo valendo-se da hereditariedade biológica, do meio doméstico e social como fatores diversificadores e modeladores da individualidade, não conseguem explicar o mistério da puerícia – pueri misterium, quase ininteligível, „fascinans, numinoso‟128 - por ultrapassar a ciência oficial e transcender à sua visão meramente terrena.
“A Filosofia Espírita encara-a como um estágio intermediário, in transitu, de passagem, a cujos condicionamentos o Espírito em sua marcha progressiva foi submetido um sem número de vezes”.129
2ª) Infância como Repouso do Espírito Reencarnante.
“Poderíamos até expressar que a infância seja uma convalescença do transtorno, da árdua travessia do Espírito, da espiritualidade para nova investidura na carne; do mergulho na matéria. O nascimento implica num traumatismo, conforme estudo psicanalítico de OTTO RANK130. A gestação seria a fonte derradeira do inconsciente psíquico e o fenômeno traumático do nascimento, o „último substrato biológico concebível da vida psíquica, o núcleo mesmo do inconsciente” 131. Assim mesmo, RANK foi o psicanalista que remontou mais profundamente na busca das fontes profundamente na busca das fontes primordiais do inconsciente. Mais um passo e teria alcançado as verdadeiras matrizes: as vidas pretéritas e o perispírito.
O renascimento é traumático. O Espírito reencarnante é submetido a vários processos de magnetização, de contração do perispírito (GE – XI,18), de esquecimento do passado. Uma verdadeira lavagem mental, resultando na perturbação de que é acometido (LE – Q. 382). , (LE – Q. 380), (EE – VIII, 4 – 2). Por isso mesmo, requer um período transitório de repouso (LE – Q. 382). Aí está a primeira função da infância: „Esse estado corresponde a uma necessidade, está na ordem da Natureza e de acordo com as vistas da Providência. É um período de repouso do Espírito’.
3ª) Plasticidade à Educação.
“A maleabilidade à ação educativa dos pais, dos primeiros mestres, é a segunda função, de conformidade com aquela ordem da natureza: „Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante este período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo‟ (LE – Q. 383).
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128 “Adaptação dos qualificativos de RUDOLF OTTO, aplicados ao sagrado e a Deus” (Nota do autor).
129 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 264 – 265.
130 Otto Rank (1884-1939) era um estudante de 21 anos quando encontrou Sigmund Freud. Rank seguiu adiante para fazer um doutorado em psicologia e por fim tornar-se par de Freud. Ele via cada pessoa como um artista cuja tarefa final é a criação de uma personalidade individual. Para Rank, o neurótico é um artiste manque, uma pessoa cujo forte impulso criativo é frustrado pelo uso negativo da vontade. Disponível em: http://www.psiquiatriageral.com.br/psicoterapia/otto.html. Acesso 03/10/2011.
131 RANK, Otto: “O Traumatismo do Nascimento”, p. 11. (Ed.Marisa, RJ – 1934) - Nota do Autor.
A (LE – Q. 385 – 7) vem em reforço desse esclarecimento, com mais detalhes: „[...] a delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-lo progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores‟. Observe-se no final dessa questão o verbo reformar como adequa-se corretamente à idéia de educação espírita: não formação, mas reforma, dada a preexistência do Espírito. A (LE – Q. 798) confirma o pensamento: „Só a educação poderá reformar os homens‟.
A plasticidade do Espírito na puerícia é ainda confirmada em (LE – Q. 582) e (EE – VIII, 4 – 3); „[...] durante o tempo em que seus instintos se conservam amodorrados, ele, o Espírito, é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais‟.” 132
4ª) Atratividade.
“Se só o amor reconstrói e edifica, a criança, desde o início, deve ser amada e, para isso, necessita atrair esse desvelo e ternura dos seus pais. A fraqueza do ser juvenil e a sua aparente inocência são os recursos eminentes da Providência. Segundo „as leis que regem o Universo‟, a captação desse amor é indispensável ao progresso do Espírito recém encarnado. É para esse mesmo efeito que o reencarnante entra em perturbação, perde a consciência de si mesmo e esquece o seu passado e, ainda, desce à carne em corpo físico transitoriamente minúsculo e frágil. É o que nos esclarece (EE – VIII, 4): „P – Pois que o espírito da criança já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? R – Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse para lhe cativar a solicitude. Ela na houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as idéias de um adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado‟; e mais adiante, „o Espírito, pois, enverga temporariamente a túnica da inocência [...]‟. Imobilizando-se a carga negativa genótipoespiritual contida na auto-herança, o Espírito encarnado, nas primeiras idades, vai progredindo an passant.
A forma aparente da inocência das crianças é reiterada em (LE – Q. 385 – 1 e 4): „Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acariciais como se fossem parcelas de vós mesmos [...]; as crianças são seres que Deus manda a novas existências. Para que lhes possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobre-se-lhe as más ações com a capa da
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132 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 265 – 266.
inocência. Essa inocência não constitui superioridade real em relação ao que eram antes, não [...]. Não foi, todavia, por elas somente, que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e, sobretudo, por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que a caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e as cercam dos mais minuciosos cuidados‟.
Em (LE – Q. 199a – 3) deparamos novamente com a inocência putativa ou suposta da criança: „[...] não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem tantas crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia a perfpidia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhe dão?‟.
Reitera ainda a Codificação: „[...] já a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura‟ (EE – VIII, 3 – 2).
Essas passagens da Codificação informam a idéia que Humberto Mariotti denominou de teoria aparencial da criança: „A Filosofia Espírita da Educação afirma, como premissa fundamental pedagógico educacional, a teoria aparencial da criança, visto que por trás de cada criança encontra-se o ser com todos os seus graus de evolução palingenésica. Para a educação espírita, a infância é apenas uma etapa fugaz e cambiante e não uma condição estável, espiritualmente considerada‟.133
„A teoria aparencial da criança rasga o último véu da Psicologia Infantil e da Adolescência, revelando que precisamos enfrentar essas criaturas inocentes com maior realismo. Porque, se elas são inocentes apenas na aparência e escondem sua realidade íntima nas formas físicas em desenvolvimento, manda a boa lógica que as tratemos com mais desembaraço. [...] A teoria aparencial é evidentemente a base sobre a qual devemos desenvolver a Psicologia Evolutiva da Criança e do Adolescente e a Psicologia Espírita da Educação. Partindo do que podemos chamar o fato aparencial, que decorre da lei da reencarnação, temos que encarar o desenvolvimento infantil como um processo psicológico de afloramento, não só de disposições culturais, mas também de conteúdos. Por trás da aparência de tabula rasa, de mente desprovida de qualquer conhecimento – pretensiosa herança do empirismo inglês – sabemos que existem profundezas da memória espiritual, da consciência subliminar de que tratou Frederic Myers. E, apoiados no trabalho modelar de Myers e nas conquistas da Psicanálise e da Parapsicologia, podemos, adicionado a essas contribuições o instrumental espírita, aplicar na educação um novo tipo de maiêutica socrática para arrancar a verdade do fundo do poço‟.134
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133 Mariotti, Humberto, in revista Educação Espírita, nº 4, p. 22 - 23 – EDICEL Editora, São Paulo, 1973.
134 Simonetti, J. Amaral, in revista Educação Espírita, nº 5, p. 70 - 72– EDICEL Editora, São Paulo, 1973.
Alinhamos as seguintes Expressões encontradas na Codificação para a aparência da criança: túnica da inocência (EE – VIII, 4, todo); capa de inconsciência (LE – Q. 385, 2 – 4); aspecto da inocência (Idem); imagem da inocência (EE – VIII, 3 -2).
Concluindo: „A infância não é só útil, necessária e indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo‟ (LE – Q. 385. 8)”.135
7.1.5 – Funcionalidade Espiritual da Adolescência.
“O conceito espírita de adolescência é extraído de (LE – Q. 385). A adolescência é o período de desenvolvimento orgânico e mental do Espírito encarnado, que segue ao da infância e, após o qual, esse „Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era‟ na encarnação precedente. Surge o seu „caráter real e individual em toda a sua nudez‟. A adolescência encerra-se em torno da idade axial, iniciando a juventude e o estágio de abertura do Espírito, quando se manifesta a carga auto-hereditária.136
Na adolescência, a plasticidade à heteroeducação vai decrescendo; o floramento das virtualidades relativas se consuma para a apresentação do Espírito no palco da vida despido dos véus da inocência e da fragilidade. Portanto, para o Espírito,a adolescência é o progressivo e indispensável desvelamento daquilo que foi oportuna e zelosamente encoberto pela Providência no período da infância, em conformidade com „as leis leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo‟ (LE – Q. 385. 8). Enquanto a infância é opaca, o final da adolescência é luminoso, transparente, em relação à condição do Espírito reencarnante. ”137
7.1.6 – Redutibilidade do Período de Infância e a Educação Libertária.
“Já desenvolvemos essa teoria, devidamente fundamentados na Codificação Kardeciana: (LE – Q. 188, nota 1 – 4), (EE – III, 9 – 2).
Eminentes pedagogos têm-se pronunciado a favor da educação libertária. Assim, TOLSTOI, HELLEN KEY, GURLITT e A. S. NEIL, expoentes da liberdade total do educando.
Vamos, aqui, lançar uma hipótese que alguns podem considerar como arrojada. O pensamento que acometeu esses pedagogos não seria a
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135 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 266 – 268.
136 Ver quadro p. 38.
137 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 268.
antecipação, um eco em sentido contrário, a premonição das condições da criança nos mundos superiores? (LE – Q. 188, nota 1 – 4) e (EE - III, 9 – 2). Não seria a visão do reduzido período da infância nesses mundos, nos quais as crianças não são mais obtusas como no nosso orbe (LE – Q. 183) e, por isso mesmo, mais responsáveis e conscientes? A educação radicalmente libertária não seria, portanto delírio de pedagogos, mas se sentiram eles invencivelmente atraídos pela antevisão de um futuro, infelizmente ainda remoto. A liberdade interior, facultada pela elevação do Espírito naqueles mundos, possibilita e recomenda a concessão de maior liberdade em matéria de educação, a limites que jamais poderíamos imaginar no nosso planeta. O império do Espírito sobre a carne, impulsos, instintos e paixões [...] mesmo na idade infantil, credencia a educação libertária (mas só nesse caso), sem nenhum receio dos discutíveis resultados que ela tem causado no nível terreno, em quase todas as suas aplicações, conforme nos tem informado a literatura pedagógica.
A esse raciocínio poder-se-ia objetar que é justamente nas raças e povos menos evoluídos, como os primitivos, que se verifica a precocidade biológica e mental das crianças e adolescentes. Poderia esse fato antropológico vulnerar a nossa propositura? Respondendo: a Natureza, sábia como é, atende às necessidades deles mais cedo porque vivem principalmente para assegurar a sobrevivência e perpetuação da raça. A civilização, diferentemente, cria novas necessidades (LE – Q.795 – 2) que vão se acumulando: os imperativos morais, culturais, políticos, econômicos, profissionais, etc. Para essas necessidades, a precocidade dos povos primitivos é quase nula. É o que nos informa (EE – XXV, 2 -2): „na infância da Humanidade o homem só aplica a inteligência à cata do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos‟.
Por esse lote de suportes doutrinários, entendemos que a Codificação Espírita pode absorver a nossa tese: de que as tentativas pedagógicas de educação libertária são premonições da liberdade desfrutada pelas crianças nos mundos superiores”.138
7.1.7 – Idade Espiritual da Humanidade.
“Confrontando algumas alusões da Codificação Espírita, podemos concluir que a Humanidade terrena transita pela faixa etária espiritual da adolescência. Vejamos. Esse estágio situa-se entre a infância e a juventude espirituais. Ora, não poderíamos estar na juventude porque nessa idade já os Espíritos não estão sujeitos à roda das reencarnações: „a união da alma com o corpo, em ser necessária aos seus primeiros progressos, só se opera no período que poderemos classificar como de sua infância e adolescência, atingido, porém, que seja, um certo grau de perfeição e desmaterialização, essa união é prescindível, o progresso faz-se na sua vida de Espírito [...]‟ (CI – 1ª, VIII, 11).
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138 Idem, p. 268 -269.
Ora, a humanidade terrena também não está na infância espiritual; „A superioridade da inteligência, em grande número de seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado \á encarnação de Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador‟ (EE – III, 13).
As almas dos selvagens da Terra já emergiram da infância pura e alcançaram um grau intermediário entre ela e a adolescência denominado infância relativa (LE – Q. 191).
Certos indicadores nos levam a admitir que nessa idade de adolescência, em que se acha a humanidade terrena, as almas estejam de um modo geral, dominadas pelas sensações que, geradas pela transformação ou abrandamento de alguns instintos, ordenam-se, num futuro ainda longínquo, a se sublimarem em sentimentos puros: „Em sua origem o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor [...]‟ (EE – XI, 8).
„A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar esses últimos, sufocando os germens latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho‟ (EE – XI, 8 – 3)”.140
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139 Idem, p. 170.
140 Idem, p. 269 - 271.
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