quarta-feira, 29 de maio de 2013

ESTUDO DA OBRA: FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - PARTE 1

FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
Extraídos da obra do Prof. NEY LOBO: “Filosofia Espírita da Educação e suas Consequências Pedagógicas e Administrativas”

I – APRESENTAÇÃO:

Os resultados contraditórios das experiências metodológicas e práticas educacionais, espiritualistas ou não, ensejam crescente demanda por uma Pedagogia referendada no Pentateuco Kardeciano e nas subseqüentes produções de filósofos e educadores espíritas.
Este estudo apresentará alguns fundamentos teóricos e metodológicos extraídos da obra do filósofo e educador Prof. Ney Lobo, cuja perspectiva é a da Educação do Espírito.
Buscamos, assim, tornar acessíveis a um público heterogêneo de adeptos e simpatizantes da Doutrina Espírita os paradigmas da Filosofia Espírita da Educação, a fim de contribuir com o estabelecimento da base conceitual e metodológica para sua aplicação prática.

II – O FATO EDUCATIVO, SEUS FATORES E DELIMITAÇÃO:

Segundo Ney Lobo, “quando assistimos a um fato educativo, verificamos sempre duas pessoas numa relação específica e em posições diferentes e simétricas, uma na qualidade de educador e outra na de educando. Ambas são portadoras, uma mais conscientemente que a outra, das tradições históricoculturais, dos valores cultuados, dos objetivos e aspirações coletivos e dos despojos das gerações anteriores; ambas emergem de um contexto físico, social, cultural e econômico cujos traços se engastam em suas personalidades individuais. A esse complexo determinante chamamos [...] de ambiente sociocultural. Como causa subjacente e atuante em todo fato educativo, ele se expressa em todos os demais fatores que o compõe. O duo pedagógico mestre-discípulo, todavia, [...] está localizado, enquadrado numa organização por mais elementar e primitiva que seja: é a instituição escolar, através da qual o ambiente sociocultural dispõe da sua mais efetiva expressão. A instituição como um todo e o educador por ela e por si mesmo, motivados e impulsionados pelo ambiente sociocultural, vão transfigurando os seus elementos inconscientes em sentimentos que se vão revestindo de formas conscientes e objetivadas aqui e ali, como metas e fins educacionais de suas ações pedagógicas. Pressentidas e conscientizadas essas finalidades, o educador e a instituição escolar escolhem meios e instrumentos de ação sobre o educando que conduzam a esses fins. Esses meios são o conteúdo cultural (currículo), o método pedagógico e o controle disciplinar” 1. Daí se depreende ser o educador “expressão e projeção do contexto histórico/sócio/cultural de uma sociedade, que atua sobre o educando através de um método, currículo, disciplina e instituição escolar visando determinados fins educacionais” 2.
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1 Filosofia Espírita da Educação e suas Consequencias Pedagógicas e Administrativas, vol. 1, p. 66.
2 Idem, p. 67.


III – DOS FATOS AOS ATOS EDUCATIVOS:

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1 – Da Filosofia Espírita à Filosofia Espírita da Educação

Posicionamento e função do Filósofo de Educação:
Encontramos nos fatos educativos o ponto de partida de todo um encadeamento educacional posterior. Eles são “evidentes, espontâneos naturais, primitivos, empíricos, opacos... Simplesmente estão aí".4
Podem ser visualizados nas relações cotidianas dentro da família, num grupo primitivo de adultos e seus filhos a coletar e caçar, ou mesmo em cenas de esclarecimento a espíritos sofredores, psicografias ou psicofonias de orientadores desencarnados em reuniões mediúnicas, no estudo e ensino de Evangelho e Doutrina a crianças e jovens, etc.
“Essa relação pedagógica simples, natural, é sintetizada pela expressão é feito assim... nada mais. [...] Porém, esse fenômeno diretamente visto pelo observador, apesar de cauteloso, sincero e profundo, no caso, o pensador espírita, exibe alguma incongruência com a Codificação Kardeciana, as quais esse pensador não consegue formalizar e muito menos expressar. Sente ele um constrangimento e insatisfação doutrinários, a angústia de confrontar o que vê (o fato) com o que aspira vagamente. [...] A sua Doutrina não se acomoda ao fato; o fato não espelha a Doutrina.” 5
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3 Idem, p. 69.
4 Idem, p. 71.
5 Idem, p.71.


Movido interiormente a buscar o “equilíbrio ou nivelamento do ideal – confuso e difuso – com o real, patente, cru, evidente, irrecusável” 6, o observador espírita é impelido a produzir trabalho, qual seja, a reflexão sobre os fatos educativos.
“Para fecundar essa realidade educativa, o pensador interpõe entre o fato e sua mente uma filosofia – a Filosofia Espírita – uma visão profunda (e cósmica) do real. Da sinergia entre fatos e filosofia resultará a Filosofia Espírita da Educação, que “não poderá surgir de uma singela reflexão sobre os fatos educativos encontrados no dia-a-dia das atividades docentes: deles se serve o pensador espírita, considerando-os para, no enfoque filosófico, buscar a orientação superior para aperfeiçoá-los, transformando-os em atos educativos”. 7

2 – Da Filosofia Espírita da Educação à Pedagogia Espírita

Posicionamento e Função do Pedagogo Espírita:
Sob o olhar do pedagogo espírita, o fato educativo bruto também exibe incongruências com a Codificação Kardeciana, suscitando o mesmo desafio provocativo e as mesmas conclusões que ao filósofo: a necessidade de eliminar o desnível Doutrina-realidade. Para tanto, serve-se não da Filosofia Espírita, mas de “uma especialização dela já ordenada à área da Educação: a Filosofia Espírita da Educação”.8
Assim, os elementos do fato educativo são ”transformados e elevados a conhecimentos, diretrizes e normas sob a ação dissociadora da reflexão crítica do pedagogo espírita [...] alcançando um conjunto de princípios normativos e teorias e formando um corpo doutrinário educacional já ordenado para a prática. Esse conjunto recebe, complementarmente, o influxo e a dinamização das ciências auxiliares Psicologia Educacional, Sociologia Educacional, Biologia Educacional e Administração Escolar Espíritas. O produto final será um todo orgânico denominado Pedagogia Espírita.” 9

3 – Da Pedagogia Espírita à Didática Espírita

Posicionamento e Função do Didata Espírita:
Diferentemente do filósofo e do pedagogo, o didata espírita está voltado, não para o fato educativo globalmente considerado, mas apenas para um de seus elementos: a aprendizagem.
Analisando-a segundo os conhecimentos que estruturam a Pedagogia Espírita, alcançará “um bem coordenado conjunto de procedimentos, normas operativas, métodos e técnicas educacionais e de ensino (captado pela observação indireta e crítica da aprendizagem através da Pedagogia Espírita),
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6 Idem, p.73.
7 Idem, p.73.
8 Idem, p.75.
9 Idem, p.76.


por intermédio da observação aliada à pesquisa, imaginação criadora e invenção e que possa por em prática as teorias e diretrizes pedagógicas espíritas”. 10

4 – Da Didática Espírita à Educação Espírita

Posicionamento e Função do Educador Espírita:
Também ao educador espírita, “o empirismo rotineiro e mecânico da aprendizagem que ele testemunha o desassossega, e não descansará senão quando conseguir dar fundamento espiritual à arte de ensinar. Para isso, lançará mão da Didática Espírita para focalizar o fato primordial através dela”.11
A partir de então, a ação educativa se desenvolverá por “uma sequência de atos educativos, docentes e discentes, reagindo sinergicamente entre si, programados, motivados, dirigidos, fundamentados na Pedagogia Espírita, corporificados e idealizados através da Didática Espírita pela capacidade de intuição, imaginação criadora, improvisação e espírito prático, não teorizáveis. Todas essas funções sublimadas num impulso de simpatia sustentada pela força construtiva e ordenadora do AMOR”. 12

5 – Conclusão:

No “ciclo genético que se originou no fato educativo bruto e encerrou-se no ato educativo elaborado, através das instâncias Filosofia, Filosofia da Educação, Pedagogia, Didática e Educação” 13, quem se destaca mais? Qual será o personagem imprescindível?
“A educação durante muito tempo se processou e pode se processar, como, aliás, ainda acontece em algumas comunidades, sem o filósofo da educação e sem o pedagogo, produtos tardios na História da Educação; pode haver educação até mesmo sem o didata. Mas nunca houve, não há, não haverá nem pode haver educação, pelo menos no sentido convencional, sem esse agente: o educador. É o elo entre as gerações que se sucedem, entre as quais se transmite a herança cultural, quer seja ele o mestre, o pai, o guia espiritual, o sacerdote, o filósofo, o político, enfim, qualquer líder que oriente e conduza as coletividades”. 14
Essa imprescindibilidade do educador, entretanto, “só é válida quando se considera a constelação do filósofo, pedagogo, didata e educador. Mas, considerado no grupo de fatores (educando, educador, fins, disciplina, método, conteúdo e instituição), o educador pode desaparecer no processo de chamado de autoeducação.15
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10 Idem, p.82.
11 Idem, p.82.
12 Idem, p.83.
13 Idem, p.85
14 Idem, p.85
15 Idem, Nota de rodapé, p.85.


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16 Idem, p.72.
17 Idem, p.87.


IV – DIVERSAS POSIÇÕES FILOSÓFICAS:

Para Theobaldo Miranda, “múltiplos e variados são os fatores que atuam sobre o desenvolvimento do homem. Nem todos, porém, fazem parte do âmbito da Educação, que deve ser considerada, não como processo espontâneo e natural, mas como formação consciente de novas gerações, de acordo com os valores e ideais de cada povo e de cada época. [...] Todavia, apesar de seu caráter universalista, a Educação tem recebido ao longo da história, as mais diversas e variadas definições” 18.
Segundo ele, tanto as definições antigas quanto as modernas elegem a perfeição do homem como o objetivo essencial da Educação. Mas, “essa concordância aparente nas definições esconde uma divergência profunda e radical de pontos de vista, pois o conceito de perfeição varia com a idéia que o educador possui da natureza e do destino do homem. Donde a necessidade de se conhecer a filosofia de vida do educador para se poder penetrar na essência do seu conceito de educação”.19
Por isso afirma Ney Lobo que “toda Filosofia gera uma Ética; toda Ética efetiva-se pela Educação e toda Educação requer a Filosofia Educacional e Pedagogia correspondentes”.20
Do ponto de vista ocidental, uma “análise serena e objetiva dos conceitos de educação que se destacam no panorama da pedagogia contemporânea nos leva a concluir que, se excetuarmos o conceito cristão, todos os outros se fundamentam em concepções fragmentárias e unilaterais da realidade e, por isso, não abrangem o processo educativo em toda a sua amplitude e integridade. O naturalismo considera a natureza como o valor supremo da vida e da educação; o idealismo, a idéia ou espírito; o pragmatismo, a ação; o socialismo, a sociedade; o individualismo, o indivíduo; o nacionalismo, a nação ou a raça; o culturalismo, a cultura. A pedagogia cristã reúne numa síntese orgânica e harmoniosa as parcelas da verdade que se encontram dispersas nos outros sistemas pedagógicos. Não porque seja uma concepção eclética e superficial das coisas, mas porque considera a realidade em toda a sua inteireza e plenitude”. 21
“Educação”, diz Mantovani, “é a formação do homem somente realizável dentro do mundo humano [...] não deve visar somente à vida nem unicamente ao espiritual. [...] Não é apenas estímulo ao desenvolvimento da natureza nem cultivo exclusivo da subjetividade. É muito mais. É um processo de formação plena sob a influência de bens e valores espirituais.” (Educación y Plenitud Humana, Buenos Aires, 1944, p.38.) 22.
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18 Noções de Filosofia da Educação, vol. 1, p.41.
19 Idem, p. 42.
20 Filosofia Espírita da Educação e suas Consequencias Pedagógicas e Administrativas, vol. 1, p.50-53
21 Noções de Filosofia da Educação, Theobaldo Miranda Santos, vol. 1, p.68 . São Paulo, 1969.
22 Idem, nota de rodapé, p.68.


“Reflexo fiel do ritmo espiritual e da concepção de vida de cada época, a pedagogia atual é bem o atestado vivo e eloqüente da desorientação do pensamento filosófico moderno. Daí a multiplicidade desconcertante de tendências e posições da pedagogia moderna. [...] Se analisarmos, porém, os fundamentos metafísicos dessas múltiplas correntes pedagógicas, chegaremos à conclusão que elas podem ser filiadas a dois grandes sistemas filosófico-pedagógicos: o Naturalismo e o Antinaturalismo Pedagógico”. 23

1 - NATURALISMO PEDAGÓGICO:

“O fundamento filosófico do Naturalismo Pedagógico contemporâneo é a negação explícita ou implícita dos valores transcendentes e a consideração do homem e do universo como as únicas realidades existentes [...] e vem dominando o pensamento ocidental desde o Renascimento (ainda que suas raízes mergulhem mais longe) até os nossos dias, através de cinco grandes movimentos filosóficos e culturais: Neo-Humanismo Pagão, Realismo, Racionalismo, Idealismo e Cientificismo (Positivismo e Evolucionismo). Foram, portanto precursores do Naturalismo Pedagógico contemporâneo RABELAIS, BACON, DESCARTES, ROUSSEAU, KANT, FICHTE, HEGEL, PESTALOZZI, FROEBEL, HERBART, COMTE e SPENCER. Uma filosofia antiespiritualista da vida é, assim, a base metafísica do Naturalismo Pedagógico. Mas outros fatores favoreceram sua eclosão: [...] o progresso das ciências experimentais, o desenvolvimento da indústria, a importância crescente da máquina e a influência cada vez maior das doutrinas políticas sobre o terreno da educação.” 24
“Como obra da natureza, sou um animal perfeito. Como obra de mim mesmo, esforço-me pela perfeição. Como obra da espécie, procuro me tranqüilizar num ponto sobre o qual a perfeição de mim mesmo não é possível. A natureza fez a sua obra inteira, assim também faze a tua. Reconhece-te a ti mesmo e constrói a obra do teu enobrecimento sobre a consciência profunda de tua natureza animal, mas também com a consciência completa da tua força interior de viver divinamente no meio dos laços da carne”. (Trechos extraídos do Livro “Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana” , Pestalozzi , 1797). 25
Por representantes de diversas subcorrentes do Naturalismo Pedagógico, vamos encontrar, entre muitos outros, grande nomes como: BALDWIN, STANLEY HALL, PIAGET, PAVLOV, JUNG, FREUD, Marx, durkheim.

2 - ANTINATURALISMO PEDAGÓGICO:

“Se o Naturalismo Pedagógico subordina Deus ao homem e este à natureza, o Antinaturalismo Pedagógico subordina a natureza ao homem e este a Deus. O fundamento metafísico do Antinaturalismo Pedagógico e, portanto, de uma concepção espiritualista da vida, é a afirmação da existência
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23 Idem, p. 82.
24 Idem, p. 83.
25 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Heinrich_Pestalozzi. Acesso em 27/03/2011.


de valores absolutos e eternos, é a consideração do homem como dotado de uma alma livre e imortal. Entre os fatores que favorecem o surgimento do Antinaturalismo Pedagógico em nossos dias, se destacam: o fracasso do absolutismo científico (positivista ou evolucionista), o desprestígio das soluções relativistas do idealismo kantiano, o renascimento da metafísica e a irradiação crescente da religião cristã. Podemos, entretanto, discernir no antinaturalismo pedagógico, duas grandes tendências: uma transcendentalista e outra imanentista. A primeira é constituída pelas correntes pedagógicas que admitem a existência de valores sobrenaturais e de realidades transcendentes. A segunda é representada pelas correntes que, embora não admitindo a existência de realidades supraterrenas, afirmam com tanta insistência e vigor a primazia do espírito, da personalidade, da vida e da cultura que constituem como que um impulso ao transcendente. 26
“Entre os transcendentalistas, podemos assinalar duas tendências distintas: a pedagogia espiritualista cristã e a pedagogia espiritualista acristã. Entre os educadores cristãos, ocupam lugar de relevo os nomes de SPALDING, WILLMANN, PAULSEN, FOERSTER, KIDD, MERCIER, DE HOVRE, BOPP, BEHN, PETER WUST, EGGERDOFEER, ETTLINGER, GUARDINI, GUARDINI SCHOROETEL, BUTLER e SHIELDS. Destacam-se entre os educadores espiritualistas acristãos: BOUTROUX, BERGSON, EUCKEN, DILTHEY, MAX SCHELER, SPANN e SPEARMAN. Entre os imanentistas, distinguem-se numerosas subcorrentes, dentre as quais podemos assinalar: a culturalista, com RICKERT, SPRANGER, LITT e NOHL; a fenomenológica, HUSSERL, GEIGER, PFÄNDER e VIALLETON; a existencialista, com HEIDEGGER e KARL JASPER; a neovitalista, com DRIESCH, UEXKÜLL e VIALLETON; a finalista ou hórmica, com MCDOUGALL; a caracterológica, com LUDWIG KLAGES e HANS PRINSHORN. Eis, pois assinaladas, de maneira mais que esquemática, as grandes diretrizes da pedagogia no século XX. Como acabamos de verificar, todas essas múltiplas correntes, tendências e escolas, se fundamentam explícita ou implicitamente, numa concepção filosófica do homem, da vida e do universo”.27

3 – CONCLUSÃO:

“A primeira conclusão que logo se impõe ao nosso espírito é a da ilusão dos que ainda acreditam, candidamente, numa educação inteiramente neutra ou numa pedagogia exclusivamente técnica. Ora, a educação é uma atividade essencialmente normativa, que se processa sempre no sentido de determinados fins. Educar é formar de acordo com um ideal”. 28
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26 Noções de Filosofia da Educação, vol. 1, p.86. Theobaldo Miranda Santos, São Paulo, 1969.
27 Idem.
28 Idem, p. 86-87.


IV – ANTROPOLOGIA PEDAGÓGICA ESPÍRITA: O EDUCANDO.

1 – Referências Evangélicas e Doutrinárias:
“Não é o discípulo mais que o mestre”. (Mat. 10,24.)
“O discípulo não é superior ao seu mestre, mas todo o que for perfeito será como seu mestre”. (Luc. 6, 40)
“DEIXAI QUE VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS”. (Mat. 5, 8)
“Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças [...] JESUS chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os fracos, os escravizados e os viciosos [...] Deixai vir a mim todos os que, tímidos e débeis, necessitam de amparo e consolação. Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os esclareça. Deixai vir a mim todos os que sofrem, a multidão dos aflitos e dos desafortunados.”
(EE – VIII, 18e19)
“Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos, a mim o fareis”. (Mat. – 25:40)
“Aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe”. (Mat. – 18:1-3)

2 – O QUE É O EDUCANDO?

“O educando é o único fator na composição do fato educativo cuja presença nunca foi questionada”.29 Esse termo tem se destacado entre outros (aluno, discípulo, aprendiz, etc.) por exprimir “o dinamismo da educação; dá a idéia de um processo em realização e não de um processo acabado”.30
O conceito que se fizer do educando refletirá a compreensão que se tem sobre o homem e seu destino. Assim, cada posição filosófica o apreende de forma peculiar, com determinados atributos e características, o que pode variar muito e mais: determinar o papel do educador, o método, a disciplina, o currículo, a instituição escolar e a própria finalidade da educação conforme seu ponto de vista.
Dentre as várias correntes de pensamento existentes citadas e analisadas por Ney Lobo, destacamos: a que compreende o homem como simples animal, sem liberdade e sem vida moral e lhe atribui uma bondade congênita (Naturalismo Pedagógico); a que, ao contrário, o compreende como união substancial entre corpo físico e alma espiritual, possuidor de uma natureza decaída (pecado original) e principal agente de sua própria educação (Supernaturalismo Pedagógico); a que o vê como animal racional, dotado de elevada dignidade pessoal, não decaído e, ocupando papel central no universo, possuidor de um fim em si mesmo e não para a vida eterna ou para o Estado (Humanismo Pedagógico). Ainda temos os que o crêem herdeiro da cultura (Culturalismo Pedagógico); ou como ser preponderantemente espiritual, educador de si mesmo e submisso ao Estado (Idealismo Pedagógico). Encontramos também os que o pensam produto da nação e herdeiro do capital nacional (Nacionalismo Pedagógico); os que o vêem como sujeito só de direitos (Individualismo Pedagógico) ou, ao contrário, produto do meio social, tendo a comunidade como substrato da vida do espírito (Socialismo Pedagógico).
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29 Filosofia Espírita da Educação e suas Consequencias Pedagógicas e Administrativas, vol. 1, p.94.
30 Noções de Pedagogia Científica, p.70. Theobaldo Miranda Santos- Cia Editora Nacional, SP, 1963.

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