7.1.8 – Teoria do Paralelismo Psicogenético.
“René Hubert (1885 – 1954) lançou a concepção psicogenética da hierarquia de valores. A evolução das preferências aos valores se processaria, segundo ele, de acordo com a sucessão das faixas etárias, da infância até a juventude, dos valores puramente materiais até os espirituais.
A Doutrina Espírita em (EE – XI, 8) também proclamou uma ordem preferencial dos Espíritos em evolução, um ordenamento axiológico que se inicia igualmente nos valores materiais e culminando nos de natureza espiritual. As palavras são outras e sem a precisão axiológica de Hubert, na plenitude do séc. XX e do desenvolvimento da Psicologia Genética. Mas os significados se correspondem e o sentido do movimento para o espiritual é comum às duas concepções.141
Nesse quadro, indicamos que a Doutrina traça a linha psicogenética (instintos sensações sentimentos amor), tanto na direção do desenvolvimento físico quanto no do espiritual global. Mas a função da evolução psicogenética vital (física) é a de antecipar a nível físico, iterativamente (em muitas encarnações), o desenvolvimento espiritual, e no mesmo sentido dele:
Psicogênese Vital infância → adolescência → juventude → madureza
Psicogênese Espiritual infância → adolescência → juventude → madureza
Entendemos que o fato desse sentido da série evolutiva ser o mesmo da série de desenvolvimento espiritual não seja aleatório. Está conforme os desígnios da Providência, justamente para propiciar a evolução maior. Talvez também seja para apontar ao Espírito, enquanto jungido à matéria, a linha e sentido que deve seguir no seu desenvolvimento espiritual:
Psicogênese Vital madureza → juventude → adolescência → infância
Psicogênese Espiritual infância → adolescência → juventude → madureza
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141 Ver quadro p. 53.
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142 Lobo, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – p. 273.
Nessa hipótese, os seres humanos renasceriam adultos e desencarnariam quando chegassem à infância. Nesse caso, seria irrecusável a idéia de que as reencarnações sucessivas, ao invés de facultarem a evolução espiritual, a retardariam ou até a estancariam. Daí, a conclusão de que a evolução física corre no mesmo sentido da espiritual global, para incrementá-la, antecipando-a muitas e muitas vezes no nível físico.
A idéia de atribuir aos estágios das culturas e das civilizações a nomenclatura dos estágios etários do homem, também a encontramos em Gilberto Freire. Comparou o nosso consagrado sociólogo o grau social dos nossos ameríndios entre si e com o dos europeus colonizadores. Estes últimos estariam na fase da maturação espiritual. Os incas do Peru, bem como os astecas do México e os Maias da América Central, estariam na adolescência civilizatória. Quanto aos silvícolas do Brasil [...] classificou-os como bando de crianças grandes; uma cultura verde e incipiente, ainda na primeira dentição; sem os ossos nem o desenvolvimento nem a resistência das grandes semicivilizações americanas143”.144
7.2 – CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA SOLUÇÃO ESPÍRITA:
7.2.1 – Retomada do Nível Espiritual.
“As conclusões anteriormente expostas da Filosofia Espírita da Educação indicam à Pedagogia Espírita o aproveitamento mais planejado e intenso da plasticidade do educando durante a infância e adolescência. Ao reassumir sua própria natureza, no final da adolescência (idade axial), o Espírito reencarnado deve estar em condições de progredir a partir do nível que atingiu na existência anterior. Esse primeiro período denominamos de estágio da graça educativa. Já apresentamos a interpretação espírita para a limitação desse período, ao final do qual vai desmaiando a maleabilidade do Espírito ao esforço heteroeducativo, externo, pelo afloramento da carga genótipoespiritual soprada das remotas posições das vidas passadas, como irradiação tardia delas.
Essa irradiação de aproveitamento mais extenso, intenso e enérgico desse estágio, reforça a proposição de regimes escolares mais abrangentes, como o de tempo integral, o internato-lar e a comunidade-escola. Mas não é só. A atividade do Espírito do educando deve ser fomentada.
A assistência disciplinar e a orientação educacional devem recobrir com a sua presença a maior parte da vida escolar. Enfim, toda a presente obra pretende também ser uma resposta orgânica a este apelo da Filosofia Espírita: a exploração intensiva da plasticidade efêmera da criança e do adolescente
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143 FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, 1º tomo – p. 126 – Liv. José Olympio Editora – RJ, 1950. 9ª edição brasileira. (Nota do autor)
144 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 271 - 272.
antes que renasça neles o homem feito, do passado, ancestral arquetípico quase impermeável à heteroeducação”.145
7.2.2 – Redução do Estágio Infantil.
“A Psicologia Educacional Espírita deverá subsidiar e assessorar a Pedagogia para levar em conta, num futuro indeterminado, o encurtamento natural, lento e muito progressivo do período infantil segundo a linha de evolução da Humanidade, o que causaria o recuo da idade axial, com todas as suas consequências psicogenéticas. Talvez, a apreensão desse abreviamento seja ainda muito improvável e o fenômeno intangível, indetectável. Sua fundamentação doutrinária se assenta em (LE – Q. 188, nota 1 – 4), (LE – Q. 183) e (EE – III, 9 - 2). Há indícios e suspeitas que sugerem o início discretíssimo dessa redução. Segundo revela o Prof. Walter Bloise, da cadeira de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, os casos de puberdade precoce, tão raros no passado, estão acontecendo com muito mais freqüência. O assunto é tema de congresso científico. As causas são desconhecidas. Lembra aquele professor que, há cem anos, a puberdade se manifestava na idade de 17 anos e, hoje, em média aparece aos 12,5 anos. Presume-se, porém, sem nenhuma prova, que um dos fatores seja a alimentação mais rica e balanceada. Os sinais até agora detectados são puramente biológicos e os efeitos não são os desejáveis, pelos distúrbios de crescimento e pelo choque psicológico.
A precocidade na área psíquica, também admitida e estudada por alguns autores, tem sido atribuída aos meios de comunicação de massa [...]. A criança hoje é bem mais precoce do que aquela de 50 anos atrás. Sabemos que tais aceleramentos não são feitos de amadurecimento espiritual, que é bem mais lento, trabalhado e regular, produto de ingente esforço e disciplina muito pessoais. A redução do período juvenil de que cogitamos, tratado na codificação, tem outra causa: é o resultado seguro da evolução espiritual, que reduz o guande e o bloqueio da matéria sobre o Espírito. Este se liberta mais cedo do condicionamento corporal e orgânico infantil: „A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância‟ (EE – III, 9 – 2)”.146
7.2.3 – Adolescência Espiritual Como Idade e Sensações Como Móveis Dominantes das Ações da Atual Humanidade.
“A Psicologia Educacional Espírita, em primeiro lugar como pesquisadora, e a Pedagogia como braço executivo, deverão considerar que a criança – educando (como os adultos) é, ao mesmo tempo, de modo muito geral, e espiritualmente, um adolescente no qual dominam as sensações e corporalmente, uma criança que age pelos instintos.
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145 Idem, p. 274.
146 Idem, p. 274 - 275.
Alguns princípios da tendência ao realismo sensorial em educação ( séculos XVIII e XIX) permanecem incólumes até hoje, desde que dinamizados pela atividade e pelo interesse. Assim reconhecemos, apesar do surgimento de outras tendências educativas, a naturalista no séc. XVIII, a psicológica nos séculos XVIII e XIX, e as tendências modernas, a sociológica, a científica e a econômica, hoje predominantes. E permanecem os princípios sensoriais como lugar comum em todos os movimentos educacionais. Não sem razão. A Humanidade percorre a idade espiritual de sua adolescência, na qual as sensações são o nível dominante das ações e do comportamento, conforme se pode deduzir de (EE – XI, 8), (CI – VIII, 11), (LE – Q. 607ª)”. 147
7.2.4 – A Educação dos Sentidos e da Sensibilidade.
“À Pedagogia Espírita compete, pois, zelar pelo aprimoramento dos sentidos físicos, nos quais se inicia o processo das sensações. E esta é a base do método intuitivo, tão prestigiado por Pestalozzi. „Fala-se muito na educação dos sentidos, mas, de fato,não se lhe tem prestado a devida atenção. No entanto, a importância dessa educação é enormíssima como salienta Herment: Uma vez que os sentidos são, por assim dizer, as portas da alma, abrindo-lhe o caminho dos conhecimentos, toda a educação depende dos valor e atenção que se lhes preste. Levar os sentidos a notar as semelhanças e diferenças, cada vez mais insignificantes, significa aperfeiçoar a inteligência [...]. Interessa, portanto, [...] desenvolver, mediante um treino constante,a capacidade dos diversos sentidos, tomando em linha de conta as percepções respectivas. Evitar as interpretações falsas das sensações colhidas pelos diversos sentidos, obrigando a criança a penetrar no fundo das coisas e a não se contentar com a observação superficial, característica da infância e da ignorância. Ensinar as crianças a não se deixarem dominar pelos sentidos. Convém pô-las de sobreaviso contra a afetividade deformadora e contra os fatores que prejudicam a visão objetiva da realidade: imaginação desordenada, paixões não dominadas, irreflexão, precipitação, ilusos dos sentidos, etc.’148
René Hubert insiste no mesmo ponto: „É mister admitir, pois, que há também uma educação da intuição sensível. Não basta fazer ver, é mister ensinar a ver. A observação deve ser exata, precisa, ordenada. É mister que vá ao importante, ao típico, que a criança não sabe julgar no começo [...] Daí se segue que a observação deve ser ativa. E o que esta observação comporta de atividade, mais do que contém de dados sensíveis, é o que constitui o valor do método intuitivo‟.
Para Pestalozzi, „a impressão sensorial da natureza é a única base da instrução humana, porque é o único alicerce verdadeiro do conhecimento humano [...]. Acho que fixei o mais alto, o supremo princípio de instrução no reconhecimento da impressão sensorial como o alicerce absoluto de todo
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147 Idem, p. 275.
148 GONÇALVES VIANA, Mário. Pedagogia Geral, 3ª edição - p. 231 –232, 1955. Editora Figueirinhas, Porto, Portugal. (nota do autor)
o conhecimento‟. Pestalozzi já percebera com muita acuidade que a intuição devia ser dinamizada pela atividade. Como observa Frederick Eby, „uma razão mais importante está no discernimento de Pestalozzi de que a experiência sensorial é um processo ativo. A mente não é passiva, ou meramente receptiva como Locke declarara. Toda a mente está comprometida na experiência sensorial [...]. Por esta interpretação, Pestalozzi mostrou que as forças internas ativas estão relacionadas com o funcionamento dos órgãos sensoriais‟.149
É bem verdade que se reconhece hoje, e de há muito, aliás, que o conhecimento dispõe de outras vias que não exclusivamente a sensorial como pareceu a alguns pretender Pestalozzi. Conhecimentos mais elevados podem ser atingidos sem o concurso das coisas sensíveis.
Apesar dessa restrição, não podemos despedir a idéia que nos invade de que os métodos intuitivos, baseados na intuição sensorial, mantêm alguma forma de relação com o estágio de adolescência espiritual da Humanidade terrena, cujas ações são movidas predominantemente pelas próprias sensações (EE – XI, 8), (LE – Q, 607ª). Pergunta-se: a grande maioria dos homens não se utiliza quase exclusivamente do conhecimento intuitivo pelas sensações ou de conhecimento que por ela é iniciado? Os que se valem de vias superiores aos sentidos, os filósofos, cientistas, artistas, paranormais, etc., constituem uma minoria na extensa massa dos conhecentes na Terra”. 150
7.2.5 – Educação dos Sentimentos.
“Na consequência anterior, foi recomendada a educação dos sentidos, por corresponder ao estágio psicológicomoral da adolescência espiritual pelo qual transita a Humanidade terrena atualmente.
No entanto, o presente estágio é, ao mesmo tempo, a preparação da juventude espiritual, para a fase seguinte, na qual o móvel dominante das ações será o sentimento. Por isso mesmo, a par da educação dos sentidos, deverá desenvolver-se a dos sentimentos.
Em várias passagens anteriores, esse tema já foi tratado, no ponto de vista curricular, no aspecto metodológico, no enfoque disciplinar e, ainda, como fim dos fins da educação, etc. Agora, pela visão da interação sinérgica espiritossomática, colocamos em linha mais um argumento em favor da educação dos sentimentos: propiciar o advento da futura era da humanidade terrestre: a era do sentimento. ”151
7.2.6 – Percepção Extrasensorial e Educação
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149 EBY, Frederick. História da Educação Moderna, p. 389 -390. Editora Globo – Porto Alegre/RS. (nota do autor)
150 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 276 - 277.
151 Idem, p 277.
“Qual a relação psicopedagógica entre a educação dos sentidos e a percepção que se processa independente deles? A educação dos sentidos concorreria para o desenvolvimento da percepção extrassensorial? Ou teria de haver uma técnica específica para o despertamento dessa capacidade? Mas, haverá real necessidade de impulsioná-la? Qual seria? Para a educação, qual a necessidade?
Temos que considerar as duas teorias sobre o sentido do desenvolvimento da EPS (extra sensory perception). Alguns admitem que ela seja um resíduo ancestral em processo de desaparecimento, porque já esgotou a sua função necessária em passado remoto da raça humana. Vamos denominá-la de teoria regressiva. Outros teorizam, ao contrário, que se trata de uma faculdade que tende a desenvolver-se, porque necessária no futuro. Denominamo-la teoria progressiva. Somente segundo essa última a sua ativação seria justificada.
Ora, os Espíritos, quanto mais evoluídos, mais dotados são desses poderes inabituais152. Verificar-se-ia, então, a segunda teoria: a capacidade estaria em evolução, portanto suscetível de ativação pela educação. Mas, para nossa desorientação, esses mesmos dons que deveriam ser apanágio dos Espíritos de escol são ostentados por pessoas que não estão no mesmo grau de evolução superior. A correlação paranormalidade – moralidade ainda não foi verificada. Não seriam esses poderes provas reencarnatórias das quais fracassaram os superdotados? Vamos alinhar corretamente o nosso pensamento, exemplificando. Determinado Espírito atingiu certo grau de desenvolvimento espiritual que o capacitou à extra sensibilidade (teoria progressiva). Reencarnado, foi submetido à prova da utilização dessa energia, ao serviço do Espírito, na assistência caridosa ao próximo. O Espírito capitula ante a prova. Existe, então, o descompasso entre a evolução espiritual e o amor, o que é inconsistente. O descompasso só pode ser aparente. O Espírito não pode retrogradar (LE – Intr., VI), (LE – Q. 118, 193, 194a, 178a, 398a, 778). (GE – XI, 48). Apenas não passou pela nova prática. Como o estudante que domina determinada matéria de seu curso, mas não conseguiu provar esse domínio em exames formais, por razões que escaparam ao seu controle.
É verdade, estamos apenas conjecturando – com alguma racionalidade e observação da vida, todavia. Se corretas essas considerações, justificada está a educação para estimular a percepção extrassensorial nos educandos”.153
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152 Termo referido por CHARLES RICHET. (Nota do autor)
153 LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, p. 277 - 278.
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